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segunda-feira, agosto 08, 2005

pois ainda estamos no inverno.

Eu já temia isto há algum tempo, mas nunca pensei que poderia acontecer tão cedo: estou ficando sem ter o que dizer. É impressionante como estou sentido a minha fonte secar aos poucos. Já sei das minhas fórmulas, procedimentos e outras manhas para preencher o papel. Pensei que fosse a bebida; não era. Falta de leitura, também não. A última opção que me veio a tona foi o fato de eu não me apaixonar há mais ou menos uns dois anos. Seria este o motivo? No fundo, hoje o que faço é principalmente uma cópia do que eu fazia antes. Escrever se tornou muito fácil e muito difícil ao mesmo tempo. Fácil, pois em poucos dias posso confeccionar um novo-velho-livro de poemas, como quem martela pregos numa construção. Difícil por que é raro quando a poesia realmente original dá as caras. Digo original diante de tudo aquilo que eu já fiz. Pollock se matou justamente por isto: não ter mais o que pintar. Podem me chamar de romântico, piega ou qualquer coisa assim, mas antigamente costumava escrever motivado por paixões: seja a paixão por uma guria, por uma cerveja, por um cigarro, por um momento que fosse. Agora escrevo para lembrar do quanto é bom escrever. É patético, eu sei, mas o que eu poderia fazer nesta entre safra, como diria o leminski, me suicidar ali e voltar? O que eu posso ainda dizer é que um homem que foge dos seus chavões é um homem que foge de si mesmo. Não, não estou falando de livros; estou falando de homens. Consegue entender a diferença? Depois que deixei de lado um pouco a minha vaidade, passei a não ter vergonha dos meus chavões. Não me levo mais a sério. Não escrevo poemas para poetas. Escrevo poemas para o mundo (é chavão sim, e qual é o problema?). O que hoje me resta é esperar esta maldita manhã passar, esta maldita tarde passar, pois à noite, pelo menos, eu irei beber uma cerveja e olhar para as coisas e imaginar que por pelo menos alguns segundos a poesia ainda flui em meu sangue.

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