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quinta-feira, dezembro 28, 2006

Último poema do ano (para Meilily)

Meu olhar de melancolia
Disparou com o óleo das lágrimas
Pelas paredes do largo da ordem
E ouviu as reclamações
Dos bêbados escorados nos
Tijolos mofados da pele
De um homem a declamar poemas
Meu olhar de melancolia
Borrou a maquiagem na
Garoa fina e pesada
Que o chumbo do céu nos provoca
E me deixou com um vazio no
Estômago quando sem grana
Pedi um pedaço de um
Prensado para um destes hippies
Que se dizia ator de teatro
Antes de ser por ideologia
Artista de rua
Meu olhar de melancolia
Deu tchau com a manga da blusa
Para o seu cheiro, para a sua pele
Para a sua voz, para o seu hálito
Quando lembrei que não era mais meu
O seu olhar melancólico

O meu olhar de melancolia
Fechou os seus olhos

quinta-feira, dezembro 21, 2006

pelos velhos tempos

Ok,
foi como aquele dia
em que o recepcionista do lascivo
e gemedor hotel Roma me ofereceu
por educação uma batata Pringles
e eu aceitei mesmo sabendo da bombástica
mistura entre o espinafre e o sabor churrasco.
Sem dúvida,
se parece muito com o dia
em que manchávamos de vinho tinto
os lençóis do hotel Bourbon, saindo
sem pagar e muitas vezes
sem as roupas íntimas.
Acha que eu não lembro
quando você usou o sangue da sua menstruação
para pintar “eu estive aqui” no espelho quebrado
da sala vip de uns destes lugares
iluminados com luz negra da cruz machado
acha que eu não sei
que hoje em dia o seu quarto
é o banco inteiramente descascado
da triste e solitária praça Tiradentes?

sábado, dezembro 16, 2006


Já está no ar o meu site www.alexandrefranca.com.br . Lá vocês poderão conferir as novidades sobre shows e eventos relacionados a minha pessoa. Lá também vocês receberão as informações sobre como comprar o cd "a solidão não mata, dá a idéia". Entre e divulgue para os amigos.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Alucinações


Um alucinado

Observando a alternância entre

O verde e o vermelho do semáforo

Com o imã da retina puxava uma só

Lágrima do seu olho esquerdo

E costurava com saliva

A pelugem macia que sobrava do pescoço

E brincava de par ou impar na superfície úmida

Do seu sexo e arrancava um sorriso rouco

Do seu minuto e meio de descanso


Um alucinado

Jogando paciência no nível expert

No intervalo que existe entre

O início do turno da manhã de uma empresa

E o horário de almoço.

Nina Simone

terça-feira, dezembro 05, 2006

teclando

Em minhas mãos
Minha mãe me oferece uma bomba
Da confeitaria das famílias
E me oferece um passeio a pé
Pela rua XV
Entre os ciganos da meia-noite
E os hippies com suas poesias
Contendo boas intenções
Em minhas mãos
As mãos de uma velhinha
Nas mãos de um velhinho
No banco da praça Tiradentes
Num dia claro de geada
Exala um suor antigo
Da temporada que nunca chega
Em minhas mãos
A garçonete do instinto Ritz
Toma um gole do café do cliente
E eu sinto o sabor da sua saliva
O sabor da sua maldade
O sabor da sua demissão
Em minhas mãos
O expresso mastiga a cabeça de um ciclista
E são as minhas mãos
Que retiram aquela cabeça
Do estômago da vermelha máquina de guerra
Usada como transporte
Em minhas mãos
Alguém chora baixinho
A incontrolável vontade
De beber um trago num chinês
Do centro
E eu sinto pontadas em minhas mãos
Pontadas no estômago
Pontadas de fúria
Pontadas de lágrimas
Como se eu sentisse em minhas mãos
A tachinha que alguém colocou
Na cadeira do isolado da escola
Como seu eu sentisse em minhas mãos
O congelamento de um membro
Quase necrosado
Como se eu sentisse em minhas mãos
A sensibilidade que há nas pétalas
Quando elas acenam com o vento
Para o outono dos meus olhos
Luana Vignon

E a caneta bic da Luana Vignon continua afiadíssima. Só tenho uma coisa a dizer: você é foda, guria.

ABRUTALHADOS

Chove torrencialmente
mas um cara tira cuidadosamente o lixo pra fora
e um outro vem do inferno
pra acender seu cigarro fuleiro na mesa mais triste do boteco.
enquanto isso há feridas que nunca cicatrizam
como um moleque que caminha incólume sob a chuva.
Há dias em que uma simples capa
não dá conta de esconder as nossas lágrimas.
Há dias em que eu sou apenas uma garota solitária
sentada na única mesa de um bar
assistindo idiotamente a um clipe do Bee Gees na TV.
Quase sempre a Rua Augusta é um lugar para as carapaças vazias
porque a vida é muita mais feia sobre os travesseiros.
A vida sangra
a vida verte inexoravelmente seu mijo quente sobre as nossas cabeças.
Na maior parte do tempo
eu sou aquela moça que ninguém nota
aquela uma
sozinha
hostil
embriagada
sonhando pontilhões que nunca se acabam.
Há dias em que a faixa branca no asfalto
é só uma armadilha.
Quase sempre somos atropelados.
Na maior parte do tempo
a gente segue carregando no bolso aquela última baga
a ponta de um infinito que não faz o menor sentido.

Luana Vignon

segunda-feira, dezembro 04, 2006


Meu amigo Douglas Kim está com um novo blog (nem tão novo assim, mas eu, com a minha lentidão, descobri só agora) que vale a pena ser visitado pela precisão dos posts (que já existia no blog anterior). Fora que ele escreveu uma coisa sobre mim que me deixou vermelho, no bom sentido da expressão. Valeu grande Kim.

"Um ser comum, desses que compra pão na padaria, deve ter parado em Drummond. Um ser um pouco menos comum, desses que come pão na padaria, deve ter parado em Leminski e Ana Cristina César. O ser incomum, desses que faz o próprio pão, deve apreciar o Alexandre França".

Douglas Kim

sábado, dezembro 02, 2006

enquanto

enquanto num velho toca-fitas
alguém coloca trouble man
do Marvin Gaye pra tocar
enquanto na via rápida
os carros, os pedestres e a garoa
fogem da polícia
enquanto num teatro do centro
um ator morre aplaudido
em cena
enquanto a minha pincher
de estimação se desespera
com a sua completa falta de visão
enquanto o bar da minha rua
ameaça fechar as portas
para o feriado
enquanto um casal de apaixonados
se separa com uma proposta
de casamento
enquanto alguém queima a língua
com a caneca de café fervendo
enquanto alguém queima a sobrancelha
acendendo um cigarro no fogão
enquanto alguém toma
o primeiro gole de cerveja do dia
do mês, do ano, da vida
enquanto eu digito um trabalho
de mil laudas que não é meu
enquanto eu digito imagens ao léu
eu paro cinco minutos
cinco minutos ao seu lado
sem querer
sem nem ao menos saber
quem você é

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