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quinta-feira, janeiro 27, 2005

Sopros orientais

Em coma, os sonhos de ontem à noite esperam o roncar da garganta, o rugir dos ferros podres da alma. Louca, tirava a sua, a minha, a roupa de tudo que encontrava. Dava-me tapas na cara, soluços de amores perdidos. Suas vontades não deixavam recado de batom. No quarto éramos nós dois. Você dormia e eu ali: a espera do sutil toque da gorda e suja mosca-morte. As 7:30 da matina eu morria. No inferno a encontrei, meu bem...
...e ardia e não dava tempo nem de dizer “adeus”.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Para Luiz Felipe Leprevost

A sua alma depende de muitas máscaras para me assustar. Quando sua pele descasca e decalca a esperança de livrar-se de mim é que reconheço um colo de amizade em seu olhar. Ao beber gole por gole do seu porre, duvido de mim e ponho um ou dois versos a chorar (a desperdiçar tinta preta nos afluentes da ressaca, no arquivo morto da vida). Vaidoso como o poeta que já nasceu póstumo, tem a sagacidade de um aposentado ranzinza na mesa do bar (mas sem as rugas, sem rancores ou culpas no falar). Você é um na mesa, outro na cadeira, outro ainda no chão. Você é um tufão de excentricidades inconseqüentes. Você, sem querer, mede as conseqüências. O mundo, sem querer, o respeita. Você é você em todos os seus personagens:

talvez, por isto seja impossível o imitar.

sábado, janeiro 22, 2005

Um copo d’água, uma maçã, um tédio. Sem beber, sinto-me um professor de ensino fundamental esperando os alunos terminarem a prova. O meu passatempo preferido em tempos de lei seca é criar e descobrir esconderijos. Atualmente, tento criar um colo a cada bar que eu passo. Um beijo de língua dá a mesma sensação de “não preciso viver mais nada” da cachaça. Hoje será mais um dia da água.
Espero que alguma abençoada mulher me deixe bêbado.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

A inveja rasga tão fundo que é difícil saber quando se está invejando ou cicatrizando. Nesta madrugada senti inveja de um grande amigo e percebi o quanto sou fraco: fiquei rendido na roda de Sísifo, a carregar uma culpa ordinária. O fato é que, burro de carga, dou mais valor a quem não tem o mínimo de consideração por mim em detrimento dos que me amam. Será pedir demais apenas um trocado de admiração. Será pedir demais que todos me amem. Será pedir demais uma noite de prazer ao lado da musa. Será pedir demais que a musa, depois de receber a sua oferenda musical, idolatre-me até o fim de seus dias. Um porre resolve uma parte do problema (escrever resolve um terço). Não ser admirado é padecer na “igreja dos bêbados” (como diria Cazuza) com um último trago de vômito-palavra a ser despejado no ar. Persigno-me com insinuações ao lavar as mãos no final. Dou tapas na cara da noite na esperança de que ela volte a ser como antes...antes dela falar “você é do caralho” (este “você” que não sou eu). Sou um ressentido e levo rancor para casa. Banho-me de rancor ao dormir com os anjos. Os anjos, óbvio, riem da minha cara. É fácil alguém lhe mostrar que você é mais um. Morrer aos poucos é uma forma de não parecer mais um. Matar-se é uma forma de desaparecer para aparecer. Sorte que eu ainda prefiro pensar que amanhã, ainda, será outro dia. E tem mais: sou leonino mesmo, meu bem...e daí?!

terça-feira, janeiro 18, 2005

Temporada bipolar

Pólo positivo

As nuvens,
As baforadas de respiração do céu
Como as pétalas já pisadas pelo fluxo
A formar um firmamento vermelho no cimento.
Estou jogado as camas que o dia cria:
O mar, a areia, o mato, as folhas.
Como travesseiro,
Uso o céu que a noite toma
Para florescer estrelas.


Pólo negativo

Mais um dia perdido
Rendido nesta sarjeta
Pela sua ausência imbecil
Pensei em chuva
Choveu
Pensei em blues
Tocou, negro e servil
Meu coração acompanhava
A batida do seu
Sua mão apertava e ensinava a minha
Os ritmos do seu corpo no cio.
Agora são minhas as lágrimas que caem mortas
E refletem a lua no final da melodia
O céu dormia em cima da minha cabeça
Ao apagar das estrelas você foi embora
Sem apagar meus olhos com um beijo
Você nunca me quis e eu sofro escrevendo
O dia morreu e eu ainda não sei enterrar os restos
De tudo o que aconteceu
Não sei amar quando estou com medo
Não sei amar a vida quando a morte mente que é você
O meu último segredo.

Voltei! Tentarei atualizar mais este blog...acho que é isto, certo?

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