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segunda-feira, setembro 29, 2008

Do blog do Solda

Flores de Aço com Chiris e Uyara Torrente

Chiris interpreta Dalva de Oliveira. A noite das atrizes abre com a grande Chiris Gomes no muito elogiado show baseado em seu CD sobre a obra de Dalva de Oliveira. Dalva é uma grande contadora de histórias e merece uma homenagem à altura de sua importância no cenário brasileiro. Toda a força e o drama da cantora e compositora pode ser visto atravéz da interpretação de Chiris, acompanhada pelos grandes músicos Camilo Carrara, violão, Eduardo Contrera, percussão e Helinho Brandão, baixo acústico. Uyara Torrente. No show "A Saudade Mata a Gente, Panaca", a atriz e cantora curitibana Uyara Torrente, interpreta canções de compositores curitibanos, como Alexandre França, Leo Fressato, Luiz Felipe Leprevost e Troy Rossillo. A premiada atriz consegue transportar toda a poesia presente nessas vozes do limbo que é a cidade de Curitiba, onde a poética se perde por não pertencer à uma metrópole, mas também não encontra eco em suas raízes provincianas. Entrada: R$10 e R$5 para estudantes. Wonka Bar : Trajano Reis, 326 fones 3026 6272 : 9142 0810.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Frase da semana

"Deus é tanto mais Deus quanto mais inacessível for (...)"
José Saramago
O Evangelho Segundo Jesus Cristo

quinta-feira, setembro 18, 2008

Blindness

Devastador. Um filme que atira o espectador a uma verdadeira catarse no final. Durante uma das cenas mais comentadas desta produção, ouvimos uma mulher da platéia gemer ao chorar. Tudo o que foi mostrado na tela foram insinuações sonoras e visuais, nada daquele exotismo erótico típico em filmes brasileiros mais antigos. Nada no filme é óbvio. É uma sacada visual atrás da outra, desde a fotografia pontuada pelo tom esbranquiçado, até a maneira como os “cegos” do filme olham o mundo: tudo por insinuações. A atuação de Mark Rufallo e de Julianne Moore é de um realismo que arrebata (lembrando a linha de direção de atores dos outros filmes de Fernando Meirelles). Quando saímos da sala de projeções, as pessoas que lá estavam limpavam as lágrimas com um olhar brilhante, procurando não comentar mais nada a respeito. “Ensaio Sobre a Cegueira” tem exatamente este efeito, ele nos leva a uma reflexão interna sobre a natureza humana, partindo da constituição de uma nova sociedade cega. Uma cegueira branca, como se o infectado nadasse num mar de leite. A história de Saramago nos impõe esta lógica infernal de “como seria se o mundo ficasse realmente cego”. E, pelo menos nesta história, o mundo acaba bem mal, com a corrupção e o desespero aflorando em diversos setores da nossa organização social. Esta história fala sobre tudo o que tentamos esconder dia após dia com a nossa capa capitalista; sobre aquilo que ninguém quer falar, pois incomoda e muito: o individualismo. O individualismo, hoje vigente em nossa sociedade, acaba nos cegando em vários momentos. Acabamos não vendo o que acontece ao nosso redor, talvez por que há muito nós impomos a nós mesmos esta cegueira individualista (subsidiada principalmente pelo consumismo). Preferimos o nosso conforto a confrontar qualquer espécie de adversidade social. Enfim, um filme necessário sobre uma história necessária. Se “Ensaio Sobre a Cegueira” não é tão bom quanto alguns críticos por aí pregam, pelo menos (o que já é muito) ele propaga uma história genial que ainda vai mexer com a cabeça de muita gente.

terça-feira, setembro 16, 2008

Maurício Pereira

Laerte

Meu amigo Paulo Ugolini mandou esta por e-mail. Genial.


segunda-feira, setembro 15, 2008

convites

Há convites aqui dentro,
Folder de loja, catálogo de lingerie
Materiais publicitários
Espalhados pelas gavetas,
Vão de cama, vão de porta, frestas,
Há velhos convites por aqui
Como baratas num deposito
Preciso dar um jeito nisto,
Preciso limpar o meu quarto
Como quem vai cometer uma chacina.

domingo, setembro 14, 2008

A arte de produzir efeito sem causa

Pequenos universos escondidos dentro de enclausurantes apartamentos do centro da cidade. O ar produzido pelo ar condicionado. As relações bizarras entre solitários. Tudo o que cabe em pequenos espaços. É disto (e sobre tudo o que vem disto) que trata o livro “a arte de produzir efeito sem causa” de Lourenço Mutarelli. Como em seus outros livros, aqui a história também se passa num micro universo: um apartamento no centro da cidade de São Paulo. Junior, depois de descobrir um terrível segredo que o levará a abandonar a mulher, o filho e o emprego ao mesmo tempo, resolve passar um tempo na casa do pai, que Mutarelli apelida de “Sênior” (recurso também utilizado em “Jesus Kid”. Neste caso também as personagens ganham apelidos a todo o momento). Lá ele conhece Bruna, uma estudante de artes que é supostamente observada por Sênior através de um buraco na parede. Sem dinheiro, sem emprego e sem nenhuma perspectiva, Junior não encontra saída, uma vez enterrado em sua rotina que se resume a goles de cafés, maços de cigarros e decidas no bar da frente de seu prédio. Ele é mastigado pelo ambiente e pelas lembranças atormentadoras de sua mulher e de uma bizarra traição.

Nunca havia experimentado a leitura de um livro que falasse de uma forma tão simples, seca e ao mesmo tempo profunda sobre a solidão e sobre a imobilidade que às vezes nos abate através da rotina e do acomodamento. “A arte de produzir efeito sem causa” fala sobre abandono, mas o leitor só se dá conta disto depois, com o escorrer das páginas. É só depois de se estar enterrado (como Junior também parece estar) e completamente envolvido pelo enredo que se percebe que aquele livro fala sobre solidão, abandono, falta de dinheiro, falta de perspectiva e, finalmente, inanição. Li numa noite. Numa sentada. Confesso que fiquei realmente obstinado pelo livro.

Enfim, depois disto estou curioso com relação à filmagem do livro “O natimorto”, produção que contará com a atuação do próprio Mutarelli e com a deslumbrante Simone Spoladore.

sábado, setembro 13, 2008

Casal apaixonado

Não vou lhe dar a mão
E dizer que está tudo bem
Acho brega
Não vou dizer bom dia pra rua
E não vou lamentar o dia
Em que estive prestes a jogar
A mobília do meu quarto pelo bairro
Não quero que você participe disso
Não quero que você reviva “momentos”
Passeando descalça pelo asfalto
Não vou atravessar a chuva
Atrás de um gole de café expresso e tragos
De um cigarro de filtro vermelho
Não vou amortecer a realidade
Nunca grite “você me paga”
Às quatro da manhã
Não acorde os meus vizinhos
Não me ameace com uma 12
Não cuspa na minha cara
Nunca vou me machucar
Com seringas descartáveis
Esquecidas na sarjeta
Da frente do meu prédio.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Plástico bolha e o terrorismo

As janelas do prédio a sua frente lembram um plástico bolha. Sim, aquele plástico constituído de várias bolhas utilizado para proteger objetos frágeis e que logo, nas mãos de uma criança, se torna um instrumento percussivo dos mais irritantes. A sensação imediata que se segue é a de que aquelas janelas poderiam ser estouradas, como as bolhas que foram estouradas agorinha mesmo pelas mãos de um pirralho qualquer, uma por uma, num movimento prosaico e ao mesmo tempo obstinado de tédio e apatia.

segunda-feira, setembro 08, 2008

quartinho dos fundos

No quartinho dos fundos
Uma montanha de jornais velhos,
Caixas de papelão, malas de viagem rasgadas,
Baús com tralhas e cacarecos,
Brinquedos quebrados,
Bonecos sem pernas, sem braços,
Livros esquecidos,
Enciclopédias.
Será que sou mais antigo
Do que tudo o que é inútil
aqui em casa?
Lá fora cimento, cal, pastilhas
Não mastigáveis,
Insetos verdes, mutantes,
Estranhas espécies do nosso meio
Apodrecido e com os pulmões
Entupidos de fumaça, fumaça, fumaça.
Aqui no meu quarto,
Só a minha cama.
O resto passa batido.

Uma questão:

Qual o recorde de tempo
Passado numa cama de molas
Olhando para o teto
Num quarto iluminado apenas
Pela luz da rua?

sexta-feira, setembro 05, 2008

E na Gazeta do Povo...

Conversas de bar

Nicole Zattoni/ Divulgação

Nicole Zattoni/ Divulgação / Wellington e Jader Alves interpretam os dois amigos  freqüentadores de botecos
Wellington e Jader Alves interpretam os dois amigos freqüentadores de botecos

Publicado em 05/09/2008

Há quem diga que o que falta à maioria dos dramaturgos brasileiros contemporâneos é a oportunidade de ver como seus textos se comportam sobre o palco – uma etapa fundamental de aprimoramento. O curitibano Alexandre França pode se considerar feliz nesse quesito. Pouco depois de Final do Mês e Um Idiota de Presente, uma terceira peça sua ocupa um teatro da cidade: Habitués – O Longo Caminho de Dois Freqüentadores de Boteco, com sessões aos sábados e domingos, às 21 horas, no Teatro João Luiz Fiani (Shopping Novo Batel).

O texto, um balanço de vida feito por dois amigos alcoolistas, saiu vencedor na categoria drama do 1º Concurso de Dramaturgia realizado pelo Teatro Lala Schneider. Nesta montagem, a direção fica a cargo de Marino Jr., que buscou referências no teatro do absurdo e do cinema noir.

quinta-feira, setembro 04, 2008

Cinturão Vermelho

Dinheiro: o grande vilão em “Cinturão Vermelho”

“Sempre há uma saída”. Esta frase, que em qualquer novela da globo ou mesmo em qualquer filminho High School da sessão da tarde pareceria um grande clichê, no filme “Cinturão Vermelho” de David Mamet se transforma em um hino contra a passividade e contra a corrupção. No filme, apesar de Mamet tratar claramente de mocinhos e bandidos, fica explícita a função do dinheiro (ou do excesso dele) nas relações sociais da alta classe de Hollywood. A boa intenção, a preocupação com o próximo, o amor que subsiste nas relações humanas, o afeto entre marido e mulher, tudo isto, no filme, é trocado pelo hedonismo que a utilização de grandes quantias de dinheiro proporciona. Uma das personagens, que na frente das câmeras de tv é considerado um herói do Vale Tudo, na realidade do filme é um indivíduo que não mede esforços para aumentar o que ele considera o seu “negócio”, ou seja, participar de lutas forjadas para lucrar, e bem, com o sistema de apostas. Ele é que deveria ser o “herói”. Ele é que deveria mostrar algo de redentor para os telespectadores. Mas ao invés disto, percebemos uma preocupação excessiva com o dinheiro e com o poder. Sempre estar no topo. Sempre mandar, nunca ser mandado. Sempre estar a um passo a frente do seu adversário. Para o verdadeiro “herói” do filme, Mike, um treinador de policiais na técnica do Jiu Jitso, estar a “frente do adversário” significa vencer adversidades, defender o que é seu de uma forma justa e honrada. A sua pureza é posta em cheque quando uma de suas técnicas para forçar seus alunos a enfrentar as adversidades é roubada pelos “bandidos” para se transformar num sistema fácil de manipulação de lutas. Isto é amplamente divulgado pela tv como uma “novidade” milenar usada pelos primeiros lutadores de artes marciais; um bom filão de vendas. Aliás, a televisão, neste filme, também tem um papel relevante. Tudo o que é mostrado nas “televisões” do filme é falso, armado: uma grande armadilha. Mamet, neste filme, parece lidar sempre com os duplos. O presente que o mestre dá ao seu aluno mais aplicado é uma faixa preta. O que um ator alcoólatra dá a este mesmo mestre que o salvou de uma briga de bar é um relógio de ouro. A amizade não se compra, nos diz Mamet. Neste filme cheio de simbologias, fica fácil perceber que o autor de "sucesso a qualquer preço" transforma o dinheiro no maior vilão da história. Mike terá que lutar contra grandes adversários para ser o grande herói no final. Mas o dinheiro parece sempre estar a um passo a mais, “comprando” quem for necessário para que o poder e a soberba subjulgue a boa vontade e honestidade da personagem principal. Um grito contemporâneo contra o vil metal: esta é sensação que eu tive ao assistir “Cinturão Vermelho”. Uma sensação de alívio, diga-se de passagem.

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