.

segunda-feira, março 28, 2005

Páscoa Feliz

Oi. Sou eu de novo, meu bem. Passei aqui para desejar feliz páscoa...
(silêncio constrangedor)
...tá, tá bom: passei aqui por que eu gostaria de falar aquelas coisas engraçadas que um imbecil desprezado falaria para o objeto de desejo e consumo. Vá tomar no...bem no meio do seu...
(silêncio novamente)
...poxa, liguei dezenas de vezes e sempre dá nesta maldita secretária. O que é? Cuspindo no prato que comeu, é? Pois saiba, meu querido, que esta páscoa foi ótima para mim. E por que não seria, ein?
Eu me atolei de chocolate!!!

sábado, março 26, 2005

De você eu quero a casca, o que ainda quebra, os pedaços afiados que fazem do sangue confeite. Quero a calçada sem gente, o passo do seu desprezo, a sua percepção alterada e inocente. Toda lâmpada estilhaçada, estrelas queimadas, lua com sorriso sem dente. De você eu quero a fumaça, o que evapora depois de um cigarro, um pigarro incessante, uma voz corrosiva. De você eu quero um “eu te amo”. Uma mentira de amigo, a vela do parente morto, aquilo que o seu ego sente depois de torrado inteiro o seu corpo e, claro, a sua mente.

quinta-feira, março 24, 2005

Escuta, porque eu faria um poema pra você?
(pergunto vermelho, com uma voz avermelhada)
Pois a cada dia de guerra
entre as palavras mais belas,
um verso passa vivo por você.
Assim o sangue corre para coagular o que não foi dito.

Na minha cabeça,
vejo você me olhar, me tocar e me mostrar o que em mim eu esqueci.
A raiva chora, soluça solidão e eu silencio sozinho.
Aqui começa a ilusão,
A poesia
E as coisas natimortas que deixei de falar.

Eu faço um poema para calar
E para olhar o azul da chuva.
Para lembrar que o som dela
Seria a sua mão em meus cabelos.
Para sarar a minha falta de insônia.
Para formar um par em toda dança.
Para dançar solitário na presença da minha vergonha.
Por que de outra forma eu não consigo gostar tanto
Por que de outra forma um simples gostar não poderia ser chamado de amor.

Por que no poema eu posso amar em qualquer canto.

segunda-feira, março 21, 2005

enquanto dormem as estrelas

Andei alguns quilômetros para achar este presente pra você. Se não gostou, ande mais alguns para me reencontrar. Tenho sono, amor, não consigo gravitar mais ao seu redor. Já descobri tantas estrelas, elas não brilham mais meus olhos. Estrela em você já virou lugar comum, negócio. Você estava lá quando eu liguei a sua nova estrela, esta lua vermelha que não pára de me olhar? Pois eu a vi, amor, como antigamente, sorrindo um sorriso branco, como a luz do velho e bom luar.

quarta-feira, março 16, 2005

máculas do dia anterior (para Jorge Barbosa)


Vi o inimigo apanhando uma briga no rosto de um amigo. O patético serviu em meu corpo. O silêncio serviu de consolo. O olhar do bar era a minha vergonha de ver um amigo sangrando e de não ter papel ou verso branco para estancar o meu medo. Toda a briga que vejo é um motivo para a vida tirar uma com a minha cara. Toda porrada que levo não vem da luta que, por ventura, comprei.


Porém, doem no baço e na minha alma de otário todos os socos que eu não dei.

quinta-feira, março 10, 2005

volei no bilhar


É impressionante. Sempre que eu encontro o cara, rola um poema a quatro mãos. Ontem fui tomar uma cerveja com o Fernando Koproski no Noel (barzinho de sinuca) e contei a ele que novamente eu estava apaixonado. A namorada dele, a Ingrid, cansada de um dia inteiro de trabalho, dá a sacada: "ai, eu não queria acordar". E eu corto: "a partir de hoje não acordo, enquanto não amanhecer em meu quarto, você". O Fernando desenvolveu o jogo: "você não irá tatuar teu corpo no lençol, escrever com a tua pele o que não me deixa em paz". Depois da sexta cerveja, cometemos o poema inteiro.


A partir de hoje não acordo
enquanto não amanhecer em meu quarto
você
não irá mais tatuar teu corpo no lençol
escrever com a tua pele o que não me deixa em paz
irá sim sorrir
a todo verso
uma boca a mais para rimar com sol
pois todo beijo seu
será o que um sonho traz: cama, mesa e banho
tudo o que acalma a carne
tudo o que da nossa chama
chama-se casal.


Alexandre França, Fernando Koproski e Ingrid

sábado, março 05, 2005

Planos de poesia barata

Talvez eu dê uma passada lá no café cultura. O Samuel descreveu bem o lugar com o poema abaixo, que me deu saudades daquelas noites e da cerveja com calabresa, cavaco e tamborim.


culatra café cultura


o rito cultura
o tiro culatra


e com movimentos ensandecidos
apunhalavam a canetadas
(tragos de chopp mordidas na calabresa)
as paredes imaculadamente brancas
que não mereciam


eu não mereço, ninguém merece
o café é cultura
parede é cultura
mas a comida é barata
(mordidas na calabresa)
e a poesia punhal na parede



também



Samuel Araujo

sexta-feira, março 04, 2005

Se for para me matar, vou me atirar pela janela só para ver se neste meio tempo eu penso em alguém. Se eu pensar em mim mesmo é por que valeu a pena morrer. Mas se eu pensar em você não. Quantos poemas perdidos jogados pela janela. Quantas boas noites mal dormidas jogadas pela janela. Quantas chuvas, que choram e aplaudem a minha insônia, jogadas pela janela. Quantos nomes, ainda não mastigados pelo amor, jogados pela janela. Quantos infernos, paraísos, purgatórios, ainda não vividos e jogados pela janela.

Se eu morresse, quanta vida não teria passado pela minha janela?

quarta-feira, março 02, 2005

ops!

Alguém aí leu o post abaixo? Se leram, saibam que aquilo alí não era eu. Eu devia estar possuído por alguma força malígna engolidora de verdades, que geralmente age nas proximidades do Batel (ou, se for no Rio de Janeiro, Leblon, ou ainda, se for em São Paulo, Jardins). O fato é que ontem voltei bruscamente ao mundo dos tristes enfadonhos depois de ouvir uma simples e direta frase: "me diverti muito com você, França!". Não direi o autor deste verso a reboco, já que o considero muito (os dois: o verso e a pessoa que o declamou em meus ouvidos) e também sei que a pouca idade nos dá esta possibilidade de sermos cruéis numa dimensão diferente da do mundo dos adultos "felizes". Antes de jorrar mais um pouco de comida estragada, gostaria de tecer algumas breves considerações a respeito deste espaço. Considero este blog uma espécie de terapia, ou seja, eu entro aqui e falo o que EU quiser, quando EU bem entender e da maneira que EU quiser. Sim, este daqui é o lugar onde EU mais gosto de ser EU demasiadamente EU. Voltando ao ocorrido. Bom, estava nas proximidades da Reitoria quando aceitei ter com alguns bons amigos num bar chamado come-come. Papo vai, papo vem, quando de repente vejo brilhar os olhos daquela criatura (sim, aquela da frase em questão). Os olhos brilhavam tal como brilha a lataria de um opalão em dia de domingo, aquela pessoa estava prestes a me atropelar tão "sem querer" quanto um caminhão. Percebi aquele olhar, justamente pelo fato de já o tê-lo. Já incomodei e já fui muito incomodado na minha vida, muito embora o tenha feito com 13 ou 14 anos, diferentemente da figura, que já possui fartos 22 anos. "É França, você já beijou tal pessoa", entoava o gajo numa espécie de hino de moer o resto da minha noite. Ele repetia tal refrão tão exaustivamente que eu já não sabia nem do porquê da existência da linguagem, já que as pessoas poderiam se comunicar falando umas com as outras numa espécie de ode ao amor eterno: "Oi, você já beijou tal pessoa hoje? Sim e você já beijou? Quem, a tal pessoa?" e assim ad infinitum. A grande verdade é que eu estava pouco me fodendo se ele insinuava isto, ou seja, se eu beijei a tal pessoa. O que me incomodava era a vontade da criança me incomodar, a vontade de me ridicularizar, a vontade de me ver por baixo, a vontade de possuir vontade através do poder de foder com um semelhante (no caso, eu). O mais incrivel é que o guri possuia as mesmas táticas de guerrilha que eu, em minha época de piá. Assim, ele usava de tudo, desde do famoso "estou brincando, não é fulana?" que claro, é usado com uma testemunha de apoio tático (geralmente mulher, para causar maior impacto no alvo-masculino escolhido) . E a destruidora frase "admita, admita que você fez". Esta última frase merece um comentário especial pelo fenômeno que causa. Repare que quando a pessoa pede para você afirmar determinada coisa, ela o está pressionando de uma forma algoz, já que uma afirmação é definitiva quando falada em público. Ainda mais em uma mesa de bar com cinco pessoas, se tal frase for dita da maneira certa, um silêncio cortará o coração do atingido e o forçará a dizer, pelo simples fato deste silêncio-abismo entre ele e a platéia existir. Não gosto de hipócritas. Acho um golpe sujo a pessoa se utilizar , não desta última frase cortadora de cabeças, mas sim da primeira: "estou brincando...". Porra, admita que não está brincando e sim alimentando o seu maldito ego de infeliz e egoísta que todos somos. Admita que você está pouco se fodendo para o que o seu semelhante está sentido naquele momento. Jogue limpo. Bom, foi o que o meu "querido" adversário fez ao falar "me diverti muito com você, França". Enfim, foi o que eu NÃO fiz quando me questionaram "não vai pagar a conta?"

Dezoito Zero Um no Facebook

Arquivo do blog