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segunda-feira, setembro 28, 2009

Gina - a nova peça da Dezoito Zero Um



Alexandre França e Maia Piva
Foto: Reka Ross Kloss


Amor e ódio contemporâneos

A peça “Gina”, que estréia dia 7 de outubro no Mini Auditório do Teatro Guaira, tem como ponto de partida a obsessão da personagem título por homens mais jovens, para falar sobre as relações amorosas na contemporaneidade.

No monólogo, interpretado pela atriz Maia Piva, Gina, uma senhora no auge de seus cinqüenta anos, se apaixona pelos namorados da filha de vinte, e, através deste sentimento, acaba construindo universos imaginários, onde as relações humanas acabam adquirindo um aspecto distorcido.

Segundo Maia Piva, a jovem atriz de trinta e três anos, o maior desafio para execução de “Gina” é o fato da personagem ser mais velha, “minha maior preocupação era atingir a profundidade necessária para dar vida a uma mulher de cinquenta anos”.

Alexandre França, autor e diretor da peça, conta que “Gina” partiu da idéia de falar sobre amor de uma maneira inusitada, “Gina é o símbolo do desgaste que o romantismo sofreu com o passar dos anos. A personagem luta para sobreviver ao tédio da vida contemporânea através de relação platônicas que nunca são consumadas”.

A trilha, assinada pelo pianista Davi Sartori, pontua o tom retrô do espetáculo, ao retomar temas antes interpretados por cantoras como Edith Piaf e Maysa. A peça, que utiliza poucos elementos em cena, é focada no texto e na atriz, “não utilizamos outros recursos que não estejam intimamente ligados à atriz e ao texto. Para falar de amor, nada melhor do que uma peça que se aproxime do público da forma mais humana possível”, conta Alexandre França.


Serviço

Gina

Com Maia Piva
Texto e direção: Alexandre França

De 7 à 18 de outubro de 2009

Quarta à sábado às 21 horas
e domingo às 19 horas.

Local: Mini Auditório do Teatro Guaira

Ingressos: R$ 10,00 inteira e R$ 5,00 meia

segunda-feira, setembro 21, 2009

Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Daniel Castellano/Gazeta do Povo / “Gosto de escrever textos de teatro pela possibilidade de utilizar várias vozes, e também para inserir ruídos. Ver um texto encenado é como presenciar um mundo novo, um mundo que você criou. É indescritível”, afirma Alexandre França
“Gosto de escrever textos de teatro pela possibilidade de utilizar várias vozes, e também para inserir ruídos. Ver um texto encenado é como presenciar um mundo novo, um mundo que você criou. É indescritível”, afirma Alexandre França

O mal escondido nos corações dos homens

Aos 27 anos, o curitibano Alexandre França já publicou dois livros de poesia, gravou dois álbuns e conseguiu encenar três dos dez textos de teatro que escreveu

Publicado em 21/09/2009 | Marcio Renato dos Santos

Ainda era lua cheia de setembro, portanto, antes do dia 11, quando Alexandre França foi, sem ter provocado, agredido verbalmente por uma mulher em um bar curitibano. Ele sorriu, permaneceu em silêncio e, acompanhado da namorada, saiu do estabelecimento comercial. Foi, em seguida, para dentro do quarto do apartamento onde vive, no 18º andar de um prédio, no Batel. Fez uma canção, com letra e música, ainda sem título, sobre o acontecimento. Aos 27 anos, costuma traduzir as “marcas da maldade” em alguma forma de arte.

França, durante a entrevista, bebe uma dose de café a cada 14 minutos. Conta que é mais produtivo durante as madrugadas. No silêncio, sem interrupção, nem ligações telefônicas, já escreveu dez textos para teatro. Três deles foram encenados. Afirma que pode fazer esboços até mesmo pela manhã. Acorda, geralmente, depois das 10 horas. Não costuma demonstrar mau humor, nem se tiver o sono interrompido. Não fala mal de ninguém. “Do inimigo, a gente não pronuncia o nome.” Gosta, como ele mesmo diz, de manter um clima agradável ao redor de uma mesa, com os vários interlocutores com quem dialoga.

O lado sombrio da existência, a tristeza e temas não agradáveis ganham espaço em sua produção ficcional. A peça Final do Mês, de 2007, fala do drama brasileiro, sobretudo da classe média, que não consegue chegar ao dia 30, nem mesmo ao dia 23, com dinheiro no bolso ou na conta bancária. Já elaborou reflexões sobre as impossibilidades amorosas, o que se evidencia em meio às 15 faixas do álbum A Solidão Não Mata, Dá a Ideia, de 2006. Problematizou, mesmo que indiretamente, as transformações recentes de Curitiba, resultado do crescimento populacional, no CD recém-lançado Música de Apartamento. “O encontro dos temas se dá na minha vida, no que sinto, em como vejo e percebo o mundo.”

Caminha em cima de uma esteira escutando o álbum Five Leaves Left, de Nick Drake; fato inusitado, uma vez que a sonoridade do compositor inglês remete à introspecção, algo radicalmente diferente das músicas alegres que, em geral, estão associadas à prática de exercícios físicos. Na realidade, França gosta, e precisa, de estímulo musical. “Me faz bem.” Durante a alfabetização, já gostava mais da aula de música do que a de educação física.

Quando tinha 7 anos, a sua mãe; Maria Inês; o matriculou em um curso preparatório para a Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP). França formou-se em Publicidade, mas nunca atuou na área. Fez aulas de violão com Waltel Branco e Mário da Silva. As unhas de sua mão direita são compridas, como as de quem costumeiramente dedilha cordas de aço e nylon.

França tem um sorriso quase contínuo no rosto, mas a expressão não é sinônimo de alegria permanente. Ri, por exemplo, ao não entender por que o repórter da Gazeta do Povo pergunta a respeito de seu prato predileto. “Massa e carne”, responde, entre uma gargalhada e um franzir de cenho. Ri, também, diante de perguntas aparentemente sem objetivo, por exemplo: Qual a sua altura? “1,78 metro.” Qual o seu peso? “75 quilos.” Pretende sair do apartamento dos pais e morar sozinho? “Mas eu me dou bem com eles”, diz, com alguma convicção.

Ele acredita em karma, em lei de causa e efeito. “Tudo o que você faz, um dia volta pra você.”

Estranha que o repórter não tenha anotado nada no primeiro encontro, que aconteceu no Lucca Café, no Batel. E fica curioso ao ver as muitas anotações em bloco de papel durante o segundo encontro, dias depois, no Paço da Liberdade, no Centro.

O artista curitibano, também autor de dois livros de poesia, conta que amadureceu muito a partir do momento em que começou a conviver com profissionais mais experientes, como a atriz Claudete Pereira Jorge, de 55 anos, e o maestro e diretor de teatro Octávio Camargo, de 42. “Aprendi, mesmo de maneira indireta, que não preciso dar ‘carteirada’ e me exibir, exageradamente (como artista). Também passei a escutar e a respeitar mais o próximo.”

França cofia a barba com a mão esquerda, sorri e pede mais um café. “Gosto de temperatura amena, nem frio, nem calor. A temperatura de Curitiba está incrível, não é mesmo?”, pergunta, antes de se despedir. Sorri, com a boca; e com os olhos.

Trajetória

Saiba quais são as obras de Alexandre França

Livros de poesia

Mata-Borrão, Batom (2003) e Toda Mulher Merece Ser Despida (2005).

CDs

A Solidão Não Mata, Dá a Ideia (2006) e Música de Apartamento (2009).

Textos de teatro já encenados

Um Idiota de Presente (2006), Final do Mês (2007) e Habitués (2008).

Internet

Ele mantém o site alexandrefranca.com.br e o blog alexandrefranca.blogspot.com.

Para o Blog do Caderno G, França apresentou uma definição sobre a capital paranaense:

“Curitiba é uma rinite que tentamos, a todo custo, curar entre edredons e livros do Dostoiévski.”


sexta-feira, setembro 18, 2009

Otávio Linhares



Cena escrita para o Núcleo de Dramaturgia - Sesi - PR

Cena 3

Alguém sentado em frente à TV. Entra 1.

1 – Não acho que se você ficar sentado aí o dia inteiro as coisas vão melhorar.
De fato, não vão melhorar.
Tenho certeza que não.

(silêncio)

1 – Já pensou em dar uma olhada nos classificados?
Hoje é domingo.

(silêncio)
(1 sai / pausa / 1 volta)

1 – Parou de chover.

(1 pára olhando Alguém)
(1 sai)
(entra 2)

2 – Eu acho que se você ficar sentado aí o dia inteiro as coisas vão melhorar.
De fato, vão melhorar.
Tenho certeza que sim.

(silêncio)

2 – Já pensou em dar uma olhada no canal 12?
Hoje é domingo.

(silêncio)
(2 sai / pausa / 2 volta)

2 – Ainda está chovendo.

(2 pára olhando Alguém)
(2 senta)
(1 volta)

1 – Não acho que se vocês ficarem sentados aí o dia inteiro as coisas vão melhorar.
De fato, não vão melhorar.
Tenho certeza que não.

(silêncio)

1 – Já pensaram em dar uma olhada nos classificados?
Hoje é domingo.

(silêncio)
(1 sai / pausa / 1 volta)

1 – Parou de chover.

(1 pára olhando Alguém)
(1 sai)
(entra 3)

3 – Eu não acho que se vocês...
Alguém e 2 – Pshhhhh!!!!

(silêncio)
(3 senta)
(1 entra)

1 – Não acho que as coisas vão melhorar.
Tenho certeza que não.

(silêncio)

1 – Já pensaram?

(pausa)

1 – Hoje é domingo.

(silêncio)
(1 sai / pausa / 1 volta dentro da TV)

1 – Parou de chover.

(Alguém, 2 e 3 se olham / Alguém muda de canal)

1 – Conheci Flávia no baile. Dancei a noite inteira. Guardei a fotografia no bolso e fui pra casa a pé.

(Alguém muda de canal)

1 – A minha primeira bicicleta eu ganhei quando eu tinha cinco anos. A minha primeira ladeira, quinze minutos depois. O primeiro machucado, vinte e cinco minutos depois da minha primeira ladeira. O meu primeiro namorado não lembra meu nome.

(2 levanta e bate na TV)

1 – Sarah levantou e foi passar o café. Abriu o armário e separou duas xícaras. Janela aberta, cheiro de pão fresco, toalha de cetim e torradas com manteiga. No rádio, Gardel rasga um coração sozinho.

(2 bate na TV violentamente)

1 – Dentro do táxi, Osvaldo lê mensagens em seu celular. Pensando que nesse momento estava atualizando seus sentimentos, ficou cabisbaixo e não viu o que realmente se passava pelo mundo.

(3 sai / 2 continua batendo na TV / Alguém briga com o controle / A TV muda de canal freneticamente fazendo barulhos industriais e atordoantes por um tempo bem longo)
(silêncio / pausa)
(barulho de serra elétrica / sangue e vísceras jorram para fora da TV)
(um apresentador de programa de auditório sai da TV empunhando uma serra elétrica e corre atrás de todos / decapita-os / as cabeças ficam caídas no sofá)

(1 entra limpando a sujeira)

1 – Não acho que se vocês ficarem sentados aí o dia inteiro as coisas vão melhorar.
De fato, não vão melhorar.
Tenho certeza que não.

(silêncio)

BLACKOUT

Linhares

terça-feira, setembro 15, 2009

Turbulência

Perdão, amigo
Te levei para um abismo
Um inferno particular
Onde os vampiros dão
Boas vindas
As mulheres não são
Tão lindas
E a memória
Que apaga os dias, as horas
Nos esquece só
No fundo de um bar.

Por que agora é tão triste
Não ver o sol?

A escuridão nos cegou, amigo
E as sombras que rodam rodam
Fritam nossas idéias
Que não são mais nossas
Que não são mais
De ninguém.

Que fundo falso,
Blefe ou mágica
Nos faz acreditar
No amor que não existe?

Qual rumo tomar
Depois da casa de aço
Que construímos
Em cima de tudo?

terça-feira, setembro 08, 2009

Nick Drake
André Mehmari e Ná Ozzetti
Ego

O sol está caindo
Sobre nossas cabeças.
Irritado,
Ele mirou o astro maior
Em minha cara.

E aja protetor solar,
Suor, calor, moleza, depressão,
Depressão, depressão, depressão.

Era o que Ele queria:
A minha solidão
Mesmo que a humanidade
Falecesse comigo
Perdida



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