.

sexta-feira, junho 19, 2009

Manhã

Sol muito sol
Manhã de muito sol
Me despedindo das manhãs
Voltarei para a noite pesada
Coisa para poucos notívagos.
Amizades reatadas, corações reconstruídos.
A cadela aqui de casa
Já foi operada e passa bem
(inflamação no útero, coisa séria)
A minha imaginação também
Já foi operada e passa bem
(inflamação no ego, coisa chata)
A nova peça começa a ganhar corpo.
Os livros se multiplicando
Novos amigos na área
Enfim
Boas condições climáticas
Para o uso
Do solo.

segunda-feira, junho 15, 2009

Tom Jobim, Edu Lobo e Chico Burque

Eu ainda viajo neste som. Sempre vou viajar.

sábado, junho 13, 2009

Portishead

sexta-feira, junho 12, 2009

Fúria


Pollock

Peguei minha fúria nos braços
E com uma neurose afiada, protegi
Seus frágeis tentáculos de toda
E qualquer conciliação, de toda
E qualquer boa vontade, da azeda
Filantropia que nos alimenta o espírito
Da falta de delírio, de toda falta de delírio
Amei minha fúria com a garganta corroída
De tédio, apatia e esperança
Abracei e beijei minha fúria
Com a mesma docilidade que tem
A criança ao abraçar um cão feroz
Me atirei novamente em sua sinfonia
De gritos e rasgos e traumas e cicatrizes
Me atirei no abismo de pânico que vive
Dentro da gente, como o mofo
Que mora nos pálidos cantos do nosso quarto
Eu fui este abismo um dia
Eu sou a fúria que agora tenho em meus braços
Como tenho a respiração enquanto durmo
Como tenho o tempo parado a um palmo de distancia
Enquanto amo e beijo e fodo a minha fúria
Hoje sei, quebrando o bar que existe aqui dentro
Quebrando os porta-retratos que existem aqui dentro
Quebrando os pratos, rasgando as roupas, mijando pela janela
Estourando as placas, as lâmpadas, os postes, os carros das ruas
Que existem aqui dentro,
Hoje eu sei
Minha fúria não tem limites
Quando a tomo nos braços.

sábado, junho 06, 2009

Sobre o amor

Marcel Duchamp - Nu descendo uma escada


O percurso dos prédios em minha mente faz revelar a circulação sanguínea do seu mundo. Sua manhã, sua tarde, sua noite. O seu assombro diante do abismo que somos nós e que são todos que estão ao nosso redor. O seu corpo entre a dobra do tempo e o risco do espaço, este objeto amorfo se desfazendo em pequenos acidentes vasculares no meu cérebro. O que dizer das seqüelas que a nossa relação nos causa, um apego impenetrável, um andar sem juízo, um cuidado excessivo com tudo o que não nos abrace, com tudo o que nos causa perigo imediato: comentários, insinuações, venenos e ferrões sociais. Quanto mais sinto a facilidade em te amar, mais sinto a dificuldade em me manter vivo a carregar esta dádiva. O que a torna inescapável? Por que o amor nos cobra o preço? Por que eu sinto que o nosso abraço mesmo desesperado nos salva do desespero que é a vida,


que é sentir esta angústia de suicídio e salvamento, de troca e solidão?

sexta-feira, junho 05, 2009

Janis Joplin


a única com um overdrive nas cordas vocais!

quinta-feira, junho 04, 2009

Vinicius de Moraes


Vinicius e Tom

Pátria Minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."


Texto extraído do livro "Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 383.

quarta-feira, junho 03, 2009

Frio

Está frio aqui dentro

Frio: a sensação de vazio que a gente sente diante da desolação

Não, eu quis dizer que aqui dentro, aqui na sala, nos quartos, na cozinha, no banheiro está frio

A geada do olhar contaminando os órgãos do corpo

Você não entendeu, estou falando de temperatura

Sim, o impulso vital se acabando, se esvaindo pelo ralo da depressão

Pare de pensar em você, estou falando do clima da cidade

O reflexo da nossa falta de esperança: uma cidade submersa em gelo

O que eu quero dizer é: você não está com frio?

Hoje Curitiba me abraçará com seus braços de gelo

Eu vou embora se você não parar de falar desta forma

É a chuva esvaziando as ruas, borrando as cores das luminárias

Estou indo embora e você não vai falar nada?

Um peito congelado, um coração autista, boquiaberto, sem palavras para descrever

Um quarto cheio de congelamentos.


Dezoito Zero Um no Facebook

Arquivo do blog