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quinta-feira, setembro 18, 2008

Blindness

Devastador. Um filme que atira o espectador a uma verdadeira catarse no final. Durante uma das cenas mais comentadas desta produção, ouvimos uma mulher da platéia gemer ao chorar. Tudo o que foi mostrado na tela foram insinuações sonoras e visuais, nada daquele exotismo erótico típico em filmes brasileiros mais antigos. Nada no filme é óbvio. É uma sacada visual atrás da outra, desde a fotografia pontuada pelo tom esbranquiçado, até a maneira como os “cegos” do filme olham o mundo: tudo por insinuações. A atuação de Mark Rufallo e de Julianne Moore é de um realismo que arrebata (lembrando a linha de direção de atores dos outros filmes de Fernando Meirelles). Quando saímos da sala de projeções, as pessoas que lá estavam limpavam as lágrimas com um olhar brilhante, procurando não comentar mais nada a respeito. “Ensaio Sobre a Cegueira” tem exatamente este efeito, ele nos leva a uma reflexão interna sobre a natureza humana, partindo da constituição de uma nova sociedade cega. Uma cegueira branca, como se o infectado nadasse num mar de leite. A história de Saramago nos impõe esta lógica infernal de “como seria se o mundo ficasse realmente cego”. E, pelo menos nesta história, o mundo acaba bem mal, com a corrupção e o desespero aflorando em diversos setores da nossa organização social. Esta história fala sobre tudo o que tentamos esconder dia após dia com a nossa capa capitalista; sobre aquilo que ninguém quer falar, pois incomoda e muito: o individualismo. O individualismo, hoje vigente em nossa sociedade, acaba nos cegando em vários momentos. Acabamos não vendo o que acontece ao nosso redor, talvez por que há muito nós impomos a nós mesmos esta cegueira individualista (subsidiada principalmente pelo consumismo). Preferimos o nosso conforto a confrontar qualquer espécie de adversidade social. Enfim, um filme necessário sobre uma história necessária. Se “Ensaio Sobre a Cegueira” não é tão bom quanto alguns críticos por aí pregam, pelo menos (o que já é muito) ele propaga uma história genial que ainda vai mexer com a cabeça de muita gente.

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