.

quinta-feira, setembro 04, 2008

Cinturão Vermelho

Dinheiro: o grande vilão em “Cinturão Vermelho”

“Sempre há uma saída”. Esta frase, que em qualquer novela da globo ou mesmo em qualquer filminho High School da sessão da tarde pareceria um grande clichê, no filme “Cinturão Vermelho” de David Mamet se transforma em um hino contra a passividade e contra a corrupção. No filme, apesar de Mamet tratar claramente de mocinhos e bandidos, fica explícita a função do dinheiro (ou do excesso dele) nas relações sociais da alta classe de Hollywood. A boa intenção, a preocupação com o próximo, o amor que subsiste nas relações humanas, o afeto entre marido e mulher, tudo isto, no filme, é trocado pelo hedonismo que a utilização de grandes quantias de dinheiro proporciona. Uma das personagens, que na frente das câmeras de tv é considerado um herói do Vale Tudo, na realidade do filme é um indivíduo que não mede esforços para aumentar o que ele considera o seu “negócio”, ou seja, participar de lutas forjadas para lucrar, e bem, com o sistema de apostas. Ele é que deveria ser o “herói”. Ele é que deveria mostrar algo de redentor para os telespectadores. Mas ao invés disto, percebemos uma preocupação excessiva com o dinheiro e com o poder. Sempre estar no topo. Sempre mandar, nunca ser mandado. Sempre estar a um passo a frente do seu adversário. Para o verdadeiro “herói” do filme, Mike, um treinador de policiais na técnica do Jiu Jitso, estar a “frente do adversário” significa vencer adversidades, defender o que é seu de uma forma justa e honrada. A sua pureza é posta em cheque quando uma de suas técnicas para forçar seus alunos a enfrentar as adversidades é roubada pelos “bandidos” para se transformar num sistema fácil de manipulação de lutas. Isto é amplamente divulgado pela tv como uma “novidade” milenar usada pelos primeiros lutadores de artes marciais; um bom filão de vendas. Aliás, a televisão, neste filme, também tem um papel relevante. Tudo o que é mostrado nas “televisões” do filme é falso, armado: uma grande armadilha. Mamet, neste filme, parece lidar sempre com os duplos. O presente que o mestre dá ao seu aluno mais aplicado é uma faixa preta. O que um ator alcoólatra dá a este mesmo mestre que o salvou de uma briga de bar é um relógio de ouro. A amizade não se compra, nos diz Mamet. Neste filme cheio de simbologias, fica fácil perceber que o autor de "sucesso a qualquer preço" transforma o dinheiro no maior vilão da história. Mike terá que lutar contra grandes adversários para ser o grande herói no final. Mas o dinheiro parece sempre estar a um passo a mais, “comprando” quem for necessário para que o poder e a soberba subjulgue a boa vontade e honestidade da personagem principal. Um grito contemporâneo contra o vil metal: esta é sensação que eu tive ao assistir “Cinturão Vermelho”. Uma sensação de alívio, diga-se de passagem.

Dezoito Zero Um no Facebook

Arquivo do blog