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quinta-feira, junho 19, 2008

Movimentos da praça Oswaldo Cruz

Uma sirene, que na verdade é um toque de celular
Acorda um grupo de pombos na praça Oswaldo cruz
Com o pretexto de chamar alguém para a conversa
Num canto de praça, ou na canaleta do expresso.
Nove da manhã e velhinhos esperam
Ser atropelados por estes expressos que
Voam como jatos de quinta categoria
Em busca de algum sentido para sua existência
Que não seja entulhar pessoas
Num espaço restrito de humor e
Humanidade.
Um prédio espera aquela esfera de demolição
(sim, aquela que a gente assiste nos filmes onde
alguma cena de ação se passa em
alguma construção ou demolição de
alguma construção
onde bandidos se escondem).
Dez da manhã, um jovem de uns
Vinte e pouco anos morre engolido por uma esteira elétrica
Depois de quatro horas ininterruptas de caminhada
Na esperança de perder numa só tacada
Vinte quilos de uma vida regrada a hamburgueres do Mc’ Donalds
E bolachas passatempo recheadas.
Dez e dez da manhã este mesmo jovem é encontrado
Ensanguentado e morto logo atrás daquela esteira elétrica
Pelos seus pais que desesperados gritam histéricos um “por que?”
Estranhamente gutural para os seus padrões vocais
Que sem querer e por um puro e simples movimento do vento
Acordam as pombas da praça Oswaldo cruz
Que comiam migalhas do pão francês de um velhinho
Destes que se matam em canaletas do expresso
Mas que hoje, magicamente, vislumbrou um futuro melhor
Ao dar de cara com um expresso que parou a sua jornada na velocidade da luz
Para dar passagem a este velho homem que prosaicamente catava
um pão francês do chão da canaleta do expresso
para dar de presente ao pombos do asfalto
que finalmente sumiram logo após este mesmo senhor
levantar seu olhar, do chão ao céu
com um pedaço de pão francês
em uma das mãos
e um celular nokia em outra.

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