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sábado, junho 21, 2008

Inseticídio - texto da Reka (do blog "muito azeite, pouco sal")

Cá estava eu: pacífica, tranqüila e sem objeções na vida. Eis que de repente surge um besouro do tamanho da minha orelha e começa a me perseguir loucamente pelo quarto. Sim, querido, per-se-guir. Eu me jogava no chão e o filha-da-puta dava rasantes assustadoras, agulha-negra mesmo. Muahahaha, eu podia ouvir as malditas asas batendo, ver cada uma daquelas patinhas nojentas, a cara sanguinária do inseto. Foram segundos de desespero. Se não fosse a sacola da renner que prontamente enfiei em um dos meus braços para capturá-lo, provavelmente eu não estaria mais entre nós, Não matei o infeliz, por óbvio. Sou toda a favor dos direitos humanos dos insetos, portanto só estou mantendo ele refém na sacola renner-guantânamo com um nózinho para averiguar melhor a situação. Sério, foi apavorante. eu realmente me joguei no chão duas vezes.

Muahahaha eu definiria como um riso maléfico, normalmente resultado de enormes bules de café acompanhados de flashbacks coloridões-faber-castell-edição-luxo (resultado de uma adolescência de pH menor que sete, por assim dizer)

Não é minha culpa se moro no meio do mato e continuo lutando contra os insetos. Possuímos um tratado de paz com as aranhas, é verdade, mas como todo tratado, não é imune aos rebeldes e extremistas. Insetos são como Palestinos, entende? Digo, adoro os palestinos, sou a favor da criação de um Estado Palestino, até namorei um no colegial. Passávamos a tarde vendo filmes... Claro, era meio chato alugar fitas – aparentemente toda locadora nessa cidade exige comprovante de residência. Bem, isso não vem ao caso.

Enfim, era um besouro marrom mas, fique bem claro, em hipótese alguma se tratava de uma barata. Do alto dos meus (cof, cof) anos eu jamais ousaria ficar a somente uma sacola renner tamanho padrão (daquelas em que geralmente cabem duas camisas, uma calça e a nota fiscal) de distância de uma barata nojenta. Talvez o besouro fosse repugnante, entretanto, encaremos os fatos: talvez se tratasse de um besouro repugnante com uma família inteira de besouros repugnantes para alimentar. Sim, meu caro, imaginemos 3 filhos adolescentes repugnantes, uma esposa na menopausa repugnante e, por que não, um pulgãozinho marrento de estimação – sem mencionar a hipoteca do arbusto na praia.

No fim da contas não agüentei o peso de 3 besouros adolescentes repugnantes crescendo sem pai (um fazendo teatro, o outro morrendo num racha e a besoura-arquiteta casando com um besouro-empresário do batel), uma besoura na menopausa viciada em toda sorte de ervas “medicinais”... Sem mencionar o totó pulgãozinho abandonado por falta de recursos, que antes de virar sabão arrancaria sabe-lá-deus quantas cabeças de louva-deus inofensivos.

Não poderia dormir, jamais teria uma noite de sono tranqüila. Já me basta agüentar todas as noites a viúva chorona daquele cigarra que resolveu tirar um cochilo na dobradiça acobreada da minha venesiana. Olha, eu juro que estava escuro, eu tinha bebido um pouco além da conta, meus óculos estavam longe, o escorpião-fornecedor da besoura-menopausa havia passado aqui mais cedo... Eu juro não vi o seu marido ali! Quando ouvi o crocante-de-dar-água-na-boca do exoesqueleto dele já era tarde demais...

Sonoplastas, dica do dia: cigarras esmagadas em dobradiças acobreadas soam melhor do que seja lá o que vocês andam usando para fazer crocs nas propagandas de batata-chips.

Células-tronco, dona cigarra? Terapias alternativas? A senhora realmente acha que houve alguma espécie de negligência da minha parte? Acupuntura? Musicoterapia? Quanto tempo a senhora agüentaria trabalhar para manter um boêmio em estado vegetativo? Indenização? Aposentadoria por invalidez? Faça-me o favor! O advogado da senhora vai entrar em contato, é? Não perca seu tempo, aquele pernilongo charlatão não passa nem através das telas das minhas janelas, quem dera na Oab!

Alto lá! Desde quando insetos homópteros possuem células-tronco?

Não senhora, eu jamais... eu... eu jamais insinuei que seu falecido marido... eu jamais insinuei sobre a orientação sexual... Homóptero, sim. Homossexual, não.
Veja bem, já ouvi suas canções sobre os tempos de ninfa... tenho pleno conhecimento de que ele era o amor da sua vid... estéril? Bem, pelo que entendo isso lhe garantiu longevidade – compreendo que as fêmeas morrem após botarem os ovos (é, eu não sei conjugar “poer”)...

Bem, agora que me informei que somente cigarras macho emitem sons, e tendo em vista que Libras não é a minha praia, creio que devo parar de falar com a dona cigarra ou sobre a dona cigarra.

Dona besoura, essa erva que me recomendou é diurética?

Obrigada mestre La Fontaine por mais uma fábula-trauma.

O Ministério da Saúde deveria colocar avisos nas fábulas como faz nos cigarros.
O Ministério da Saúde adverte: crianças expostas a Jean de La Fontaine desenvolvem asma e problemas respiratórios.

O resultado de todas essas lindas fábulas contadas noite-após-noite-após-noite pelas nossas avós normalmente é um lindo garotinho rosáceo tomado pelas formigas assassinas no quintal daquela velha inconseqüente.

Avós são secularmente reconhecidas pela sua única função e objetivo de estragar o trabalho dos pais. Absolutamente natural e louvável, desde que a deseducação se dê na forma de miojo no café da manhã, estilingue, crueldade com animais, leite-com-manga, não obrigatoriedade de usar fio dental, canal pay-per-view sexy-hot-playboy-amateur-japanese-lesbian-gang-bang-anal liberado no quarto de visitas... o de sempre. Só, por favor, parem com as fábulas! Não se contentam em roubar nossos lugares no ônibus, no cinema, nas filas, nas filas do ônibus, nas filas de cinema, nas filas de filas? Precisam mesmo acabar com o bom-senso enfiado à pauladas na molecada por pais que, como eu, entendem a natureza sanguinária dos insetos?

O Ministério da Saúde deveria colocar avisos nas avós como faz nos cigarros.
O Ministério da Saúde adverte: esta avó possui mais de 4700 histórinhas tóxicas. Não existem níveis seguros para o consumo destas.

Isso me lembra que a minha cozinha está com um foco de formigas. Elas andam revoltadinhas desde que sacrifiquei algumas pelo bem maior carbonizando-as na boca de fritura do fogão com o intuito de observar as extremidades daquelas delicadas patinhas atingindo um sensacional tom rubro.

-Adoraria ter sapatos daquela cor. Scarpins 36-37, por favor, moço.

Pouca gente sabe, mas formigas são tão sujas quanto as baratas e alpinistas muito mais competentes. (Aviso aos navegantes: elas não se lambem como gatos, tampouco arrancam piolhos umas das outras à exemplo dos fellas primatas)

-Perfeito. Vou levá-los.

Ah, as baratas.

-Aceita Amex?

---Filho, pare de brincar no gramado da Teffé com os tatu-bola e venha aqui comigo.

Se deus quiser, baratas jamais cruzarão com piolhos.

-Ahn, tem como fazer em duas vezes? Ando meio apertada esse mês.

---Olha, filho, você está com lêndeas!

-Pois é, a dedetização não estava em meus planos financeiros. Dedetizou foi a minha conta bancária.

Oh, não! Eu achei que eram os amigáveis e simpatissíssimos piolhos sorvedores de sangue, mas são lêndeas de barata! Pente fino! Scarbin! Sauna! Máquina Zero!
Oh, não! Nada funciona! O que será aquilo? Um pássaro com uma bomba atômica? Um avião com uma bomba atômica? Céus! É o Mister-M com uma bomba atômica! Mas que diabos?!

(Cid Moreira:)
_E agora Mister M? Principe negro de todos os sortilégios.

Filho? Filho?

(Cid Moreira:)
E agora Paladino Mascarado, como é que você vai sair dessa?

Droga! Elas ainda estão vivas!

(Cid Moreira:)
_ Isto é um espanto!

Veja só, que belezinha, aquela ali perdeu a cabeça mas, ao contrário do meu garoto-piolhento-e-ranhento, sobreviverá mais onze dias sem ela – o que fazer com crianças humanas e sua incapacitante dependência de cabeças?

Bem, quem não tem mais filho, abraça a barata.

Vem cá com a mamãe, minha baratinha gosmenta... Você tem as minhas antenas mesmo, minha trufa... Dê um beijinho aqui, dê. Ah, entendo. Seus amigos estão olhando... Você tem vergonha de mim? Ok. Tudo bem. Sem problemas. Aliás, você já é um mocinho, já enfrentou as agruras de uma bomba atômica, tem a sobrevida limitada pelo que comeu antes da explosão pois perdeu a cabeça... Querido, você é adotado.

Como assim já sabia? Pediu para aquele viciadinho em pico do seu amigo mosquito roubar um pouco do meu sangue? Testou é? Eu não tenho sangue de barata?! Voa daqui, garoto insolente.

Ele só pode ter perdido a cabeça. Ah, as baratas. Nada é tão ingrato quanto filhos e baratas. Você os alimenta, enche de calor e umidade, e o que recebe em troca? Será que alguém se lembrou de averiguar como se sentiam os pais de Kafka?

Não. Não e não. Tudo errado. O quão cansativo é mencionar Kakfa e baratas?!

Falemos de kafta, prato típico árabe, delicioso. Um primor culinário que, curiosamente, quando esquecido dentro da cômoda do quarto pelo animal do meu filho, atrai baratas.

Vai um careta aí, mosquito? São lights sim. Ah, não quer aquele com as imagens horrendas dos seus amigos tailandeses ao lado daqueles ratos mafiosos? Ok. Acho que tenho outra carteira aqui. Fuma daquele com rolmops de criancinha?

Sabia que na Tailândia as pessoas comem toda sorte de insetos? Você acha justo? Achei que ficaria indignado... Como pode ser justo? Como assim, lá eles também comem toda sorte de criancinhas? Pois bem: é justo. Elas são saborosas? A culinária é mais desenvolvida que a humana? Im-pos-sí-vel, meu amigo.

Ferran Adriá e sua sofisticação babaca tri-estrelada em hipótese alguma será superado por invertebrados como vocês. Duvido que saibam fazer espuminha de peixe, azeitonas de gelatina, infusão assim e assado.

O que você quer dizer com isso? Que todas aquelas asinhas na nossa comida, todo aquele controle de insetos no que comemos, aquela porcaria de partes por milhão, é na verdade a triste realidade da segurança no trabalho? Milhares de mosquitinhos como você (bem, os de família... até onde sei exige-se exame toxicológio praquelas bandas) perdem asas, patinhas, cabeças e sabe-lá o que mais em subempregos nas nossas fábricas? Há uma máfia análoga à das pastelarias no brasil? Aqueles ratos! Você é uma mosquitinha? Mosquitinhos comem apenas frutinhas? É, minha querida, se eu fosse você, também me picaria.

Teria Noé coletado dois exemplares de cada inseto? Teriam os insetos invadido a arca com tochas nas mãos, exigindo seu lugar ao sol (ou chuva, que seja)? Posso imaginar os problemas causados pelos inconvenientes cupins naquele barcão de madeira. (Já repararam como madeira de demolição anda mais bem cotada que madeira da cruz?) Teria deus enviado junto de sua mensagem ao bom velhinho (ah, bons tempos sem fábulas) um grande balde para tratamento cupinicida na madeira? Os tamanduás ganhavam um quarto maior e o direito de repetir a sobremesa pelos seus préstimos como seguranças patrimoniais?


Uma questão que sempre me intrigou é a escolha, recrutamento ou puro seqüestro dos animais da arca. A meu ver, há uma considerável possibilidade de que certos animais não estivessem acreditando naquele cidadãozinho descompensado pregando por aí que o mundo viraria uma versão ainda mais acessível e popular do piscinão de ramos. Digo, se eu fosse uma taturana, e estivesse tranqüila no meu apê no 3º galho, bloco b do meu condomínio de árvores de luxo, ficaria no mínimo em dúvida na hora de comprar a causa de um humanozinho maltrapilho metido a agente turístico. Por que motivo eu largaria minha boa vida de solteira bem-sucedida ? Haveria uma razão plausível para simplesmente abandonar meus 41 dias de trabalho árduo na empresa de outdoors que fundei porque a senhora Noé colocou os cogumelos indicados pela dona besoura, sem querer, na espuminha de peixe dele? Pensando bem... tenho saúde, sou empreendedora, haverá uma carência de mercado na minha área no novo mundo. Tantas oportunidades para meu futuro império da poluição visual nas grandes cidades... E se, eu ajudasse o velhinho tãn-tãn? Posso colar cartazes por aí com um desenho dele, botar um chapéu nele, terninho... mas ele não pode parecer antiquado, devemos atrair os jovens, descolados e acima de tudo sexualmente ativos...preciso investir no figurino... estou imaginando listras, listras e cores... listras vermelhas, azuis, brancas e , estrelas (mulheres adoram estrelas). É isso aí, milhares de indivíduos de todas as espécies duelarão pelo primeiro pacote de viagens CVC da história! Tudo que preciso agora é de uma frase de impacto, malinhas-brinde amarelas-e-azuis com nosso símbolo e um slogan, algo que transmita a idéia de que os queremos, mas ao mesmo não transpareça nosso desespero e ânsia por recrutá-los. Eles não devem se sentir usados por deus para perpetuar a espécie quando ele poderia simplesmente tirar a bunda do sofá e trabalhar mais um dia para melhorar as coisas... Algo mais ou menos como: I want you!

Reka

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