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terça-feira, junho 10, 2008

Gilson Camargo e Luiz Felipe Leprevost

Simplesmente genial a parceria "foto e texto" promovida pelo fotógrafo Gilson Camargo e pelo (entre outras coisas) poeta L.F Leprevost. Aqui, um pouco do resultado desta nova empreitada "foto x texto" dos dois. Para mais informações é só entrar no blog do Gil que é esse daqui http://www.gilsoncamargo.com.br/blog/



Claudete Pereira Jorge e Helena Portela na peça "final do mês"


9 de Junho de 2008 - por gil

De: “gilson camargo” gilson@gilsoncamargo.com.br
Para: felipeleprevost@terra.com.br
Data: Mon, 2 Jun 2008 14:30:20 -0300 (GMT+3)
Assunto: fim do mes 1
Olas.
Pra quem viu varias vezes o espetáculo certamente faltarão cenas e imagens incríveis.
Aí vão algumas das que consegui captar de primeira.
A medida em que as for “descobrindo”, vou enviando.
Aguardo o texto. O post inclusive pode ir sendo modificado depois de editado, portanto podemos construí-lo em processo.
Manda aí!
Abraço.
Gil.
www.gilsoncamargo.com.br/blog

Certo, Gil, belezinha tudo ali, já me interessei por uma dúzia delas, dá caldo sim, vou precisar uns dois dias pra produzir alguns textos, pensei coisas já, por exemplo, na foto em que a Clau segura o pepino, poderia ter a seguinte frase: todos nós estamos segurando o rojão… ou ainda, no momento em que ela beija o pepino, algo assim: no dos outros é refresco…

…slogans, misturados a textos mais longos… tentarei algo difícil, alguma análise mais profunda sobre a dramaturgia do França…


…alguma outra análise que destaque o brilhante trabalho de atriz que a Heleninha e a Clau fizeram, detalhes de ações e composição de personagens, tudo muito verdadeiro…


…mas vamos conversando… vá guardando os mails, por ventura, eles compõe o corpo do estudo no futuro breve… abraços… Leprevost.


Aí, velho… vai o texto… pode mexer, reparti-lo, colocar debaixo de cada foto… edite aí como quiser… grande abraço… L.

Cenas domésticas que somos incapazes de domesticar.
Vicissitudes, parece-me uma palavra adequada para a ocasião.
O que dá pra pensar é se a nossa atuação - dos fazedores de teatro - está vinculada ao teatro municipal, ou se é do teatro municipal, ou se o município ser este aqui é infame destino.
Claro que alguém pode chegar pra você e dizer: - Eu já trabalhei de graça naquele teu projeto.
Claro que você pode chegar assim manso no ouvido dessa pessoa e dizer: - E eu já paguei o teu salário quantas vezes?
Ambos também podem se xingar simultaneamente: - Você é um babaca.
- Não, você é que é um babaca.
A questão é que nunca é de graça, a paga não é dinheiro, isto é uma coisa, a outra é que sem dinheiro tambor não vai, são as complexidades e contradições do ofício.
A peça Final do Mês é sobre isso, mas esta não é a sinopse, quem quiser a sinopse que vá assistir a próxima montagem em agosto no Teatro Municipal, na menor sala dele.
Sim, é texto perfeito o do França, a interpretação sem igual de Claudete e Helena.
Mas a peça é sobre outra coisa além da peça, é sobre um processo nascido da convivência, ninguém ali foi contratado, comprado, ninguém ali inventou um projeto, ninguém ali enganou ninguém fazendo bem feitinha a burocracia, apenas tiveram o desejo de fazer teatro, o França ficou indo lá no Clube Claudete durante meses, bebendo vodca com ela, é o que a gente diz: Quer dirigir a Claudete? Tem que beber vodca com ela. Isso é o mesmo que dizer: - Quer fazer teatro? Tem que se comprometer com uns Exus.
Tá provado, não precisa de frescurada pra fazer teatro, a trupe França, Claudete, Helena e Reka (a iluminadora) pegaram uma sala qualquer no centro da cidade, num hotel antigo e promoveram um belo encontro semanal de pessoas que iam lá ouvir a contundência, não de uma ideologia, pois teatro não é sobre ideologias, mas a de uma estória, já que teatro é sobre estórias.
Hein Claudete?!, pareceu-me sempre que estômagos falam mais alto e reto que pepinos, embora tagarelem e muito a pepinada toda.
Devo avisar: eu sou um dissidente paralisado, assim como a personagem da filha, quem só enxergou uma garotinha mimada e fútil na personagem da filha, então não enxergou nada, não enxergou a sua falta de escolha diante da máquina moedora de esforço humano que está aí fora, contra a qual a garota se insurge sobremaneira, ou você acha que é uma mera piadinha o momento em que ela retorna dizendo ter assaltado um banco? Caralho! Ela assaltou um banco e foi aplaudida, e não poderia ser diferente, ou você está do lado dos banqueiros? Eu não.
Veja o que acabo de ler num ensaio do crítico teatral Kenneth Tynan sobre o trabalho de Bertolt Brecht: Ele “buscava um método pelo qual os processos econômicos pudessem ser efetivamente dramatizados; ele esperava que dinheiro e comida substituíssem um dia o poder e o sexo como temas principais do teatro. Na maioria dos escritores burgueses, disse ele, ‘o fato de o ato de ganhar dinheiro jamais ser objeto de suas obras faz com que suspeitemos que [...] esse seja na verdade o objetivo deles.” Há, evidentemente, certo fatalismo na criação de França, porém não se pode desconsiderar que a conjuntura social e política contemporânea, aliada a observação e reflexão, trouxeram Brecht até nós graças a sensibilidade desse dramaturgo e suas parceiras Claudete e Helena.
Parecia que pra alguns aquelas palavras entravam por um ouvido e saíam pelo outro.
Se é um grande negócio a peça Final do Mês? É.
A sua competência pra ser popular, qualidade rara no dias de tantos gênios contemporâneos, seus diálogos ligeiros, dando saltos velozes do naturalismo para o nonsense.
Não admito que alguém que esteja na frente de um mestre não o reconheça. Então alguém dirá: - Mas um mestre não precisa ser reconhecido. Claro que não, direi eu.
A peça Final do Mês afinal de contas é sobre uma ponte sobre a água, ou um apartamento na palma da mão, ou um navio de carga trazendo maços de cigarros.
O teatro de Alexandre França tem aquela ousadia dos grandes caras do teatro, faz a gente rir de nós mesmos, mostra que as escolhas que nos restam talvez não sejam suficientes, e assim como, sei lá, um Pirandello, que quase nos faz rasgar de tanta gargalhada, Alexandre França não é uma piada, embora colocar uma maçã em cena falando “você quer me comer, você quer me comer!” seja nos restituir o pecado original, de um tempo em que as maçãs, pobres maçãs, nos proibiam o Paraíso. Agora a gente come dinheiro e o Paraíso sempre está um passo em nossa frente, mas nunca o alcançaremos.

Luiz Felipe Leprevost

Ficha técnica
Texto e Direção: Alexandre França
Com Claudete Pereira Jorge e Helena Portela
Trilha: Carlito Birolli e Cauê Menandro - participação especial de Odacir Mazzarolo

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