
Myriam Muniz e Guta Stresser no filme "Nina" de Heitor Dhalia
Sentada na calçada ela
Espera um ônibus que
Nunca chega.
Masca seu chicletes com
A imprecisão da britadeira.
Procura em sua mochila
Caderno, lápis, borracha:
Desenhando o tempo passa
Como o sono passa a hora
De acordar.
No papel
As nuvens chovem,
Os olhos choram,
A tempestade
A tempestade grita
E os prédios ao redor derretem
Braços de concreto, pessoas sonolentas
Caem pouco a pouco pelas
Frestas, bocas e narizes
Da gigante moradia.
As cores agora
Em preto e branco.
O ponto de espera
Vira sua festa de gala.
Ela entra e sai do salão
Como a mãe que diariamente
Busca seu filho na escola.
Seu mundo é um mundo que acaba
Entre um ônibus e outro;
A espera é seu esteio
Anoitece e ela
Prefere dormir
Ali mesmo
Usando o caderno
Como travesseiro