Marcel Duchamp - Nu descendo uma escada
O percurso dos prédios em minha mente faz revelar a circulação sanguínea do seu mundo. Sua manhã, sua tarde, sua noite. O seu assombro diante do abismo que somos nós e que são todos que estão ao nosso redor. O seu corpo entre a dobra do tempo e o risco do espaço, este objeto amorfo se desfazendo em pequenos acidentes vasculares no meu cérebro. O que dizer das seqüelas que a nossa relação nos causa, um apego impenetrável, um andar sem juízo, um cuidado excessivo com tudo o que não nos abrace, com tudo o que nos causa perigo imediato: comentários, insinuações, venenos e ferrões sociais. Quanto mais sinto a facilidade em te amar, mais sinto a dificuldade em me manter vivo a carregar esta dádiva. O que a torna inescapável? Por que o amor nos cobra o preço? Por que eu sinto que o nosso abraço mesmo desesperado nos salva do desespero que é a vida,
que é sentir esta angústia de suicídio e salvamento, de troca e solidão?