Goya - Dois Velhos Comendo
O obituário das nuvens é escrito pela tempestade, pelo jorro de sangue que circula no interior do significado da palavra chuva. O que de tempo entende o espaço quando este possui morte cerebral? O que nos desloca para o nada mostrando tudo, dizendo-nos “você já está no nada”? O barulho dos ponteiros possui uma harmonia desesperada com o apodrecimento do pensamento. A janela não nos mostra mais o mundo lá fora, ela nos fala “sim, você pode ficar pra sempre aqui dentro”. É o que queremos: usar a morte a nosso favor, a filantropia dos mortos-vivos, tiros em imagens que pareçam seres humanos. Por que o nosso mecanismo de morte nos pede vícios, venenos que nos façam lembrar do fim. Por que desejamos dormir sem saber que dormirmos. Sofrer sem saber que sofremos. Acordar sem saber que acordamos. Morrer sem saber que morremos. Por que lembrar da morte é uma necessidade básica. Uma necessidade que nos vasculha pela manhã a cutucar os sistemas do nosso corpo. E lembrar da morte é sempre lembrar do que fomos um dia. Do que poderíamos ter sido. Do que somos agora.