Barulhos do fim
Morri suave, aqui do décimo oitavo andar
Um inseto que morre sem querer
Sem que a morte toque seu ombro esquerdo
Janela fechada na cara
Com as asas intactas
Braços cruzados no peito
E a esquadrilha da fumaça a resgatar
Nossas curvas de pensamento.
Morri distante e impreciso
Curitiba sorrindo no canto
Do olho de um vira-latas sarnento
Majestosamente alterado por
Surras mentais e remédios vencidos
Morri engasgado,
Vaidade rasgando o estômago
Fazendo do ódio performance
Teatro para o povo
Uma multidão de ninguéns
A aplaudir meu último salto.
Morri como se deve morrer
Um planeta
Definhando em minha terra estéril
A espera do messias
A espera de Deus
A espera da recepcionista
Telefonista, balconista, caixa de supermercado
A espera de uma explicação do gerente
Do político, do coronel, da mãe, do pai, dos irmãos, dos amigos
A espera do telefonema
Na hora exata.
Ninguém comentou o fato.
Morri no instante da pausa
Sem que nenhum vizinho saísse
Incomodado de casa.