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quarta-feira, janeiro 09, 2008

na rua

“alguém o traiu”
diria algum morador da sua cabeça
eu diria que este poema
hoje não vira música
por que é ao mesmo tempo
muito fácil e constrangedor
se ferir em praça pública.
os cães domesticados
do nosso bairro
vão um a um latindo
cada vez mais alto
a cada passo da chuva
a cada chute no ar
a cada pedra rolada
dos nossos sapatos
até que uma sinfonia dramática
de desespero e buzina de carro
tome conta dos nossos tímpanos
mas
por que os vira-latas imundos
de noites mal dormidas e chutes na bunda
dormem tranqüilos em seus latões
de lixo, em suas casinhas de papelão
em seus becos ensopados de medo
e angustia?
“espere o momento certo”
diria algum morador na sua cabeça

é mais difícil morrer
sozinho
do que morrer
na rua.

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