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segunda-feira, janeiro 14, 2008

Morre a mãe da poesia "maldita" curitibana: Bia de Luna.



Morreu na madrugada de ontem Bia de Luna, uma das grandes poetas aqui desta cidade cinzenta. E é com muito pesar que eu falo sobre isto, já que a Bia era também minha amiga. Conheci a Bia em 2001 (ou 2002) no bar Sal Grosso, no largo da ordem, apresentada pelo o Luiz Felipe (te devo esta, picareta) e a imagem que sempre me vem à cabeça era de uma pessoa que doava o seu corpo, os seus pensamentos, única e exclusivamente à poesia. Eu sempre disse que a figura da Bia era o poema maior, a Bia era a própria poesia. Quando eu a conheci, tive a impressão de cumprimentar "a lua" (ou a luna), com todas as atribuições magnificas que um astro que vive numa dimensão diferente da nossa pode ter. A Bia não vivia na mesma dimensão que nós. Ela, muitas vezes, mergulhava na sua poética e afundava a mente por entre os labirintos nevrais que o seu escuro calabouço de pensamentos produzia. Nas conversas que eu tive a oportunidade de ter com a Bia, ela sempre me falou da adoração que ela tinha pela poesia e pela ofício de escrever. Não gosto nem de lembrar do nosso último encontro no bar Kappele em que a Bia, empolgada em me reencontrar, começou a escrever um poema pra mim e, com muita tristeza naqueles olhos caídos, me entregou um bilhete escrito "Alexandre, me desculpe. Não consigo escrever. Acho que não sou mais poeta". Depois de ficar completamente sem jeito, fui reclamar da sua postura "como assim, a grande Bia de Luna não é mais poeta?": tarde de mais. Bia já havia saído pela porta da "direita com muito cuidado". Só agora eu entendo este bilhete, este aviso. Bia sentiu a poesia dentro dela denfinhando, assim como ela também estava. A Bia não aguentaria mais viver sem a coisa que ela mais adorava no mundo: a poesia. Mas de uma coisa eu tenho certeza, a poesia que ela produziu na gente, esta não vai embora nunca. Bia, vai com Deus minha amiga - você merece ir em paz. A saudade, a gente dá um jeito.


Três poemas de Bia de Luna

Escrevo e não escrevo
lento.

E você, cara, que vive a crédito,
em débito com o sol e a lua
crescente.
não pense em impunidade.

No conta-gotas que mata tua sede
Há dor e descrédito e
No que te alimenta há tédio e
Veneno.

Não te quero em amenidades,
que são somente consolo.

E a tua chance
É nos igualarmos
Nas incertezas do subsolo.

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Do que fui
Restou o tremor
Do medo dos olhos
Dos talhes e atalhes
E uma esperança paralítica.

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Restei estanque
pelo espancamento da alma.
Lacrei em tanques o sangue
e a uma cigana
Meus olhos bordados
Entregaram a história
De duas pupilas dilatadas
No centro de uma iris sem borda.

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