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sexta-feira, novembro 17, 2006

Do tipo que se apaixona pela mais cobiçada do colégio.

Não consegui segurar: chorei no final. E no final eu não queria segurar mais lágrima alguma, por que se eu segurasse, era capaz de transbordar no fígado e no estômago a fúria daquele texto (muito embora, eu tenha bebido todas depois, sem misturar é claro). Eu falo de “Homens, Santos e Desertores” do Mario Bortolloto . Tive que disfarçar o olho vermelho, antes de dar um “oi” para o Marcelo e para o Marião depois do espetáculo. Explico.

Esta é uma peça que nos joga na cara o “inferno” do mundo contemporâneo e que ao mesmo tempo nos sussurra ao pé do ouvido “se não agüenta, por que veio?” Dois personagens: um alcoólatra já sem esperança alguma e um jovem sem perspectiva. Os dois travam uma batalha de nervos, destilando uma série de outros personagens podres e completamente desajustados. É a mãe que dá para todo o bairro, o pai que fugiu de casa, o padre pedófilo, o padre alcoólatra, o “bombadinho” descerebrado do colégio (que pode, neste exato instante, estar comendo a sua mãe), a mãe que se mata com um tiro. Enfim, toda uma galeria de figuras bizarras e dolorosamente humanas a esbarrar sem pena na frágil sensibilidade dos dois coadjuvantes. Mas se o mundo não é isto, um grande freak show humano com lanças de aço apontadas para as nossas cabeças, o que é então? Um conto de fadas? Um final feliz? Não.

É justamente neste ponto que a peça mais me tocou – não existe saída. O mundo é assim e enfrente-o sem autopiedade, sem se fazer de coitadinho, sem se acomodar na futilidade prazerosa que a artificialidade nos impõe dia após dia. E o Marião nos joga isto na cara durante toda a peça (entende por que eu saí meio atormentado depois?). Ele fala sobre alcançar o posto de “santidade”, ou seja, se assumir um excluído e dar a cara pra bater neste mundão velho de guerra. Não adianta se iludir: as pessoas não são do jeito que você pensa e ninguém vai passar a mão na sua cabeça quando a corda apertar no pescoço. Aliás, você não é mais um adolescente, vestido com uma camiseta do Metallica, como todos os outros "coleguinhas" da sua idade...
...O que? Você discorda? Ah, então você é do tipo que ainda se apaixona pela mais cobiçada do colégio, é isto? Só tenho uma coisa pra dizer para dizer pra você: veja, não só uma, como duas vezes "Homens, Santos e Desertores".


HOMENS, SANTOS E DESERTORES

Texto : Mário Bortolotto

Direção : Fernanda D´Umbra

Com Mário Bortolotto e Gabriel Pinheiro

No Auditório Glauco Flores de Sá Brito (Mini-Auditório do Teatro Guaíra)

Quinta a Sábado : 21h

Domingo : 20h

Ingressos : R$ 20,00

R$ 10,00 (Estudantes, Aposentados e Classe Teatral)

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