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quinta-feira, janeiro 20, 2005

A inveja rasga tão fundo que é difícil saber quando se está invejando ou cicatrizando. Nesta madrugada senti inveja de um grande amigo e percebi o quanto sou fraco: fiquei rendido na roda de Sísifo, a carregar uma culpa ordinária. O fato é que, burro de carga, dou mais valor a quem não tem o mínimo de consideração por mim em detrimento dos que me amam. Será pedir demais apenas um trocado de admiração. Será pedir demais que todos me amem. Será pedir demais uma noite de prazer ao lado da musa. Será pedir demais que a musa, depois de receber a sua oferenda musical, idolatre-me até o fim de seus dias. Um porre resolve uma parte do problema (escrever resolve um terço). Não ser admirado é padecer na “igreja dos bêbados” (como diria Cazuza) com um último trago de vômito-palavra a ser despejado no ar. Persigno-me com insinuações ao lavar as mãos no final. Dou tapas na cara da noite na esperança de que ela volte a ser como antes...antes dela falar “você é do caralho” (este “você” que não sou eu). Sou um ressentido e levo rancor para casa. Banho-me de rancor ao dormir com os anjos. Os anjos, óbvio, riem da minha cara. É fácil alguém lhe mostrar que você é mais um. Morrer aos poucos é uma forma de não parecer mais um. Matar-se é uma forma de desaparecer para aparecer. Sorte que eu ainda prefiro pensar que amanhã, ainda, será outro dia. E tem mais: sou leonino mesmo, meu bem...e daí?!

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