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quinta-feira, setembro 16, 2004

A pulga, que implantou no lóbulo da minha orelha esquerda, deu-me insônia. Dormir muito é para os talentos que esquecem o resto do dia e perseguem a si mesmos na cama. Não quis dormir, deixei-me de lado em função da sua impaciência em me fazer pensar em você. Escrever sobre outra coisa (que não seja você) exige uma força física incomum. Sem querer, esbarrei na sobremesa que expus para o consumo logo depois da siesta. Uma parte desabou na minha mão, como a nuvem que chove para desabar. A outra caiu resignada a ser esquecida. Sem querer lambi aquele suor doce, como um adolescente que lambe a própria pele ao pensar em outra. Ouvi claramente o som da minha pele. A sobremesa ainda sussurrava para o inseto: “eu sei que você quer me comer, devagar e sempre”.

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