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quarta-feira, maio 05, 2004

Lembrança de um olhar verde

Acordei triste.
Mais uma vez durmo sem um beijo de boa noite.
A minha boca, sozinha, não fala.
O silêncio lava as mãos.

No verde da grama, no verde da toalha do buraco de fim de semana, no verde cor-de-rosa do meu sono, no verde dos seus olhos, no verde da sua mastigação, no verde do sumo da casca da tangerina não madura, no verde do céu radioativo dos seus braços, no verde do negativo de foto visto à luz do seu olhar, no verde do sangue envelhecido no estômago, no verde da sala de estar do bordel, no verde do banheiro em noite de festa, no verde do jardim da casa que nunca tive, no verde de alguém de coração verde, de circulação verde, de nebulosas ofuscando verdiniscências, do corrimão da lágrima verde, de solidão verde, de um dia sofrer verde, verde, apenas verde.

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