Daniel Castellano/Gazeta do Povo
“Gosto de escrever textos de teatro pela possibilidade de utilizar várias vozes, e também para inserir ruídos. Ver um texto encenado é como presenciar um mundo novo, um mundo que você criou. É indescritível”, afirma Alexandre França
O mal escondido nos corações dos homens
Aos 27 anos, o curitibano Alexandre França já publicou dois livros de poesia, gravou dois álbuns e conseguiu encenar três dos dez textos de teatro que escreveu
Publicado em 21/09/2009 | Marcio Renato dos SantosFrança, durante a entrevista, bebe uma dose de café a cada 14 minutos. Conta que é mais produtivo durante as madrugadas. No silêncio, sem interrupção
Caminha em cima de uma esteira escutando o álbum Five Leaves Left, de Nick Drake; fato inusitado, uma vez que a sonoridade do compositor inglês remete à introspecção, algo radicalmente diferente das músicas alegres que, em geral, estão associadas à prática de exercícios físicos. Na realidade, França gosta, e precisa, de estímulo musical. “Me faz bem.” Durante a alfabetização, já gostava mais da aula de música do que a de educação física.
Quando tinha 7 anos, a sua mãe; Maria Inês; o matriculou em um curso preparatório para a Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP). França formou-se em Publicidade, mas nunca atuou na área. Fez aulas de violão com Waltel Branco e Mário da Silva. As unhas de sua mão direita são compridas, como as de quem costumeiramente dedilha cordas de aço e nylon.
França tem um sorriso quase contínuo no rosto, mas a expressão não é sinônimo de alegria permanente. Ri, por exemplo, ao não entender por que o repórter da Gazeta do Povo pergunta a respeito de seu prato predileto. “Massa e carne”, responde, entre uma gargalhada e um franzir de cenho. Ri, também, diante de perguntas aparentemente sem objetivo, por exemplo: Qual a sua altura? “1,78 metro.” Qual o seu peso? “75 quilos.” Pretende sair do apartamento dos pais e morar sozinho? “Mas eu me dou bem com eles”, diz, com alguma convicção.
Ele acredita em karma, em lei de causa e efeito. “Tudo o que você faz, um dia volta pra você.”
Estranha que o repórter não tenha anotado nada no primeiro encontro, que aconteceu no Lucca Café, no Batel. E fica curioso ao ver as muitas anotações em bloco de papel durante o segundo encontro, dias depois, no Paço da Liberdade, no Centro.
O artista curitibano, também autor de dois livros de poesia, conta que amadureceu muito a partir do momento em que começou a conviver com profissionais mais experientes, como a atriz Claudete Pereira Jorge, de 55 anos, e o maestro e diretor de teatro Octávio Camargo, de 42. “Aprendi, mesmo de maneira indireta, que não preciso dar ‘carteirada’ e me exibir, exageradamente (como artista). Também passei a escutar e a respeitar mais o próximo.”
França cofia a barba com a mão esquerda, sorri e pede mais um café. “Gosto de temperatura amena, nem frio, nem calor. A temperatura de Curitiba está incrível, não é mesmo?”, pergunta, antes de se despedir. Sorri, com a boca; e com os olhos.
Trajetória
Saiba quais são as obras de Alexandre França
Livros de poesia
Mata-Borrão, Batom (2003) e Toda Mulher Merece Ser Despida (2005).
CDs
A Solidão Não Mata, Dá a Ideia (2006) e Música de Apartamento (2009).
Textos de teatro já encenados
Um Idiota de Presente (2006), Final do Mês (2007) e Habitués (2008).
Internet
Ele mantém o site alexandrefranca.com.br e o blog alexandrefranca.blogspot.com.
Para o Blog do Caderno G, França apresentou uma definição sobre a capital paranaense:
“Curitiba é uma rinite que tentamos, a todo custo, curar entre edredons e livros do Dostoiévski.”