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quarta-feira, janeiro 17, 2007

Paulo de Tharso

Na primeira viagem que fiz pra sampa com o Leprevost nós conhecemos um dos caras mais figuras de todos os tempos: o Paulo de Tharso, grande xadrinista e vocalista de rock. Descobri no blog do Mario Borttoloto que o cara, além de ser uma grande figura da Roosevelt, é poeta também e dos bons. Grande Paulo.

Minha Alma Pequena

Eu só queria ficar em paz.
Deitado, sob a sombra da árvore que eu não plantei.
Acariciando os cabelos da cabeça do filho que eu não fiz, e que estaria repousando sobre o meu peito.
Eu só queria dormir pra sempre.
À beira de um riacho, sob a sombra de um pessegueiro.
Sonhar com a Abissínia, mas voltar ao Egito de onde eu nunca deveria ter saído.
Eu só queria fazer uma revolução.
E matar todos os opressores da Palestina, de Israel, dos E.U.A, e matar os caras encapuzados da K.K.K
Eu queria traficar armas e drogas para abastecer de dólares e Euros todas as revoluções da África e do Cone Sul.
Eu queria ter ido para a Nicarágua, trabalhar nos campos e fazer guerrilha, quando aquela puta francesa me abandonou só, no Vidigal. Tinha um anúncio no jornal, pedindo voluntários. Mas eu tinha um show na semana seguinte, e não fui.
Eu queria ficar quieto, em um canto, chorando baixinho, escutando Cartola, bebendo até morrer.
Aprender a falar com os animais, como fazia Yan, um húngaro que foi caseiro no sítio de minha avó. Quando a tarde despencava, ele estalava a língua e balbuciava qualquer coisa, fazendo com que as galinhas voltassem para o poleiro.
Depois, eu evoluiria e aprenderia a falar com as plantas e com as pedras.
E depois.... Eu juro, me calaria para sempre.

Eu só queria um pouco de alegria
E continuar desafiando a polícia e apedrejar suas viaturas, como fiz outro dia. Só pra me lembrar.
E ir pra Havana beber rum ordinário e pedir ao Pedro Gutiérrez que me apresentasse àquelas mulatas, que bebem e trepam o tempo todo. Sem culpa.
Eu só queria um pouco de poesia negra num prato de Cachopa.

E não ter que me levantar todos os dias.
Pra não ter que encarar o sol podre e tentar me convencer de que tudo vale a pena.
Não vale! E minha alma não é pequena. Meu coração é que está apertado.
E não ler nunca mais os jornais, para constatar o que eu já sei desde meus 10 anos.
De que o mundo não tem jeito. De que tudo é uma brincadeira sem graça do criador.
Eu só queria que deixassem em paz, essa Terra. Essa puta com olhos abstratos, que continua germinando plantas e flores delicadas.

Paulo de Tharso

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