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quinta-feira, maio 11, 2006

cd novo do Chico Buarque.

Bom, tá certo que eu sou muito fã do cara, mas devo admitir que o velho francisco já está caindo numas de se repetir gritantemente. Deste novo cd, a primeira música "subúrbio", por exemplo, lembra demais a primeira música do disco anterior, chamada "carioca". E notem que o nome da primeira música do disco anterior é o mesmo nome que dá título a este último trabalho (que coinscidência maluca). Estão lá a enumeração caótica de elementos do submundo, a mesma tonalidade e, o mais impressionante, mudanças de frases muito parecidas umas com as outras...acredito até que ele utilize os mesmo acordes, quer dizer esta prova ainda eu não avaliei. Será que foi proposital, tipo "carioca número 2" (como tem a cotidiano número 2, do Vinícius de Morais)?

Enfim, há, porém, neste cd um elemento novo na forma de composição. Se é claro que Chico tenta a todo custo não se repetir, isto se vê pela construção assimétrica da maioria das melodias e harmonias do trabalho. E esta assimetria pode parecer, num primeiro momento, algo enfadonho, mas logo depois de algumas atenciosas audições o ouvinte começa a perceber caminhos, estruturas e dimensões cada vez mais diversas nas canções. E isto acontece bastante com a surreal "outros sonhos", "porque era ela, porque era eu", "as atrizes" (uma homenagem genial as atrizes do cinema francês) e principalemente com a "bolero blues". Esta última, é preciso ouvir muito mais do que dez vezes para entrar no clima. Eu ouvi mais de dez vezes e valeu a pena no final...é uma das músicas mais labirínticas da mpb. Há também "imagina", a última parceria entre Tom e Chico, que na voz da Mônica Salmaso se transforma numa viagem para algum paraíso desonhecido.

Para o jornalista da Folha que disse que não há nenhum clássico no disco, eu aponto "sempre", cuja letra irei reproduzir aqui pra vocês, e "renata maria", única parceria entre Ivan Lins e Chico. O que posso dizer sobre esta última é que a química vingou, já que do Ivan Lins o que eu nunca gostei mesmo era das letras forçadas, lacuna agora preenchida com a precisão cirúrgica do Chico ("ela era ela no centro da tela daquela manhã"...não preciso dizer mais nada sobre esta "tela" de rimas internas). "Sempre" é um clássico, na minha opinião, do calibre de "futuros amantes", por exemplo, e a imagem do "gato aos pés da dona" é uma das mais inusitadas que eu já ouvi do velho Francisco.

Enfim, no geral a gente sempre acaba dizendo "porra, chico é chico", já que mesmo as canções mais fracas do cd, se comparadas com a mpb de hoje, são obras primas. Enfim, pra vocês "sempre":

SEMPRE

sempre
eu te contemplava sempre
feito um gato aos pés da dona
mesmo em sonho estive atento
para poder lembrar-te sempre
como olhando o firmamento
vejo estrelas que já foram
noite afora para sempre

o teu corpo em movimento
os seus lábios em flagrante
o teu riso, o teu silêncio
serão meus ainda e sempre

dura a vida alguns instantes
porém mais do que bastantes
quando cada instante é sempre.

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