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segunda-feira, março 27, 2006

de olhos abertos

eu costumava dormir
na fronha encardida de nicotina
depois de uma última dose de bebida com refrigerante
lençol amarrotado, iluminação precária
como um esmalte descascado verde-limão.
eu dormia e completava o dia com missas internas
de solidão e raiva
eu dormia em ventres e vulvas desconhecidas
e cheirava a suor e creme de menta
e cuspia conhaque e engolia o café de cerveja
e bolacha maizena.
eu dormia e me encontrava entre pernas não depiladas
mãos umedecidas e roupas íntimas ainda por lavar
sonhos de estrela nos pôsteres pregados na parede
e um mundo riscado a força
no piso de taco do quarto.
eu dormia de olhos abertos.
ao som de "fio de cabelo" no rádio e "try a little tenderness" na cabeça.
arrebentando os fios de eletricidade do cérebro
compondo versos para ninar prostitutas.
eu dormia de olhos abertos.
eu dormia de olhos abertos.

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