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quinta-feira, outubro 26, 2006

não vou atender o telefone (para Bukowski)

enquanto uma britadeira
de gelo e copo
trava uma guerra sangrenta
contra o silêncio do meu quarto,
um cachorro poodle,
abandonado por seus donos,
tenta uma investida contra
um mendigo sem dono
e sem cachorro.
agora mesmo
enquanto o mendigo
termina de assar este cão branco e mimado
eu tenho um medo canino
de que aquelas pessoas
estendam as suas patéticas e previsíveis mãos
para mim.
e tenho pesadelos
com mães solteiras
me perseguindo pela manhã cinza
de Curitiba
com gordos bebês de colo
com caras gordas de desgosto
exatamente com a minha cara de desgosto
com feias varizes nas pernas
com os seios caídos, com as mãos calejadas, com manchas escuras no rosto,
com uma música brega no fundo,
com uma forçada alegria
de programa de auditório.
estes dias mesmo
uma mulher me ligou me dizendo:
- gostaria de convidá-lo
para um mesa de discussões aqui na universidade
- não participo de mesa de discussões.
- então o senhor não gosta de ser testado?
não falei o que me veio na mente,
esta gente é perigosa,
sem dúvida ela planejava
o meu apedrejamento
em praça pública.

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