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terça-feira, dezembro 06, 2005

245 - 244 = 1

Rasguei as fotocópias da faculdade, as traças que acumulei no armário.
rasguei as partituras de violão erudito,
rasguei o poema não compreendido,
rasguei o que em mim era lixo,
agora que tenho certeza.

Rasguei as rosas que eram de papel,
rasguei o tempo de aluguel, o espaço de aluguel, a musa de aluguel,
o vento de inverno, o vento de ar-condicionado, a renite alérgica,
agora que tenho certeza.

Rasguei o chão nojento que eu pisava,
rasguei aquilo que me possuía sem me pedir licença,
rasguei os travesseiros desnivelados,
as notas baixas do colégio,
o padrão estético e moral,
agora que tenho certeza.

Rasguei principalmente o meu ar de ironia,
a minha cama fria,
a luz acesa para dormir,
o escuro para chorar,
a platéia para sorrir
a certeza de tudo,

agora que tenho certeza.

Rasguei como um animal
aquilo que uivava triste no estômago
e ainda soluça ao amanhecer,
pois rasgar
foi a única maneira de voltar
a minha velha certeza de nada
e ainda não te esquecer.

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