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segunda-feira, maio 30, 2005

A arte do desencontro

Acordei no ap do Troy exatamente ao meio-dia. "Agora que me mandam para fora", pensei no exato momento em que entrei no expresso. Abro a porta de casa, meu irmão lava a louça do dia anterior: "bateu o recorde hoje, ein piá". Enfim, vou para o quarto, coloco um cd do Vinícius e ouço o verso que me faz acordar para a situação que estava a encarar-me de punho e sola. "Meu tempo é quando", "será, Vina?", perguntei ao poeta velho de guerra, já que eu tive a nítida impressão de que esquecia algo, afinal o meu tempo não é "quando" e geralmente eu confiro as horas pelo relógio do computador. Há muito que eu não lia os meus e-mails e que eu não entrava no orkut (um mês, acredito); isto significava um rombo entre mim e o mundo virtual. É como assistir a um filme e sair na metade para fazer o número dois. Perde-se o fio da meada, o desenlace e o climax da coisa. Primeiramente, abro a voz do Blues e de cara as letrinhas de um singelo comentário explodem na minha retina "chego em curitiba quinta-feira, no meio da sua boemia cabe mais uma cerveja? bêjus!" Nãããooooo, já passava das seis da tarde daquela maldita quarta-feira...isto mesmo, QUARTA-FEIRA, exatamente o dia que antecede a quinta, e eu não poderia fazer mais nada, já que eu não dei atenção ao comentário que deveria ser da segunda ou da terça. "Não Ju, a gente não vai tomar uma cerveja juntos, por que o idiota aqui não entrou na internet faz uma semana!!!!" Fiquei pensando como era conhecer uma blogueira de fora. Como era conhecer ao vivo uma pessoa que eu conhecia tão bem virtualmente. É só você entrar no blog de alguém para perceber que dentro de alguns posts está a personalidade de um indivíduo em forma de caracteres e idéias. E esta menina eu queria conhecer mesmo, já que além de transparecer uma enorme simpatia, alguns de seus posts possuiam um certo valor literário. Seus comentários também eram ótimos, já que instigavam a minha capacidade de argumentação e de interpretação de meus próprios textos. Assim, aquela tal Ju parecia entender muito bem o meu Blues e consequentemente a uma parte de mim. Eu parecia conhecer muito bem o blog dela também. Ambos conheciam o semblante virtual um do outro. Já era tarde demais. O blog dela demonstrava uma enorme empolgação com a viagem, ou seja, a sua "cara" virtual estava sorrindo para mim e para a minha cidade. Já a minha "cara" dormia tão profundamente, que parecia desprezar a felicidade dela. Fui para o Ponto Final conferir o aniversário do turco. No dia seguinte, espero a ligação da Ju em vão, provavelmente durante a viagem ela não leu o e-mail no qual eu havia escrito o meu telefone. Já era. A internet é um diabinho que lhe dá um corpo e um rosto virtual. Em troca, ela lhe pede que você entre todos os dias na rede, que sorva lágrimas através de comentários, que sorria através de posts, que se irrite com a demora do outro em digitar uma mensagem no msn. É como se alguém criasse uma alma para você. A minha alma virtual eu havia esquecido num canto. Como castigo, perdi a oportunidade de conhecer uma alma real. Tinha também o aniversário do Rodrigo "Mows" para ir (sábado, no Empório). Este sim eu conheci ao vivo, olhos nos olhos, aperto de mão e abraço de urso. Nem preciso dizer que ele me avisou da festa por e-mail.

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