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terça-feira, dezembro 07, 2004

Entrevista com Amarildo Anzolin
Confiram a entrevista com um dos grandes nomes da nova geração de poetas curitibanos hoje em voga. Amarildo Anzolin fala sobre o seu novo livro, sobre a crise de valores no meio literário e sobre a sua paixão pela sua própria poesia.

Amarildo, você se encaixaria em alguma geração poética ou movimento poético?

Lancei meu primeiro livrinho de poemas (Co-lapso) em 1995. Se seguirmos a definição de Haroldo de Campos, eu faço parte do período “pós-utópico”. Se não me enquadro na estética de Haroldo, acredito comungar (juntamente com outros poetas) de uma “geração” pós-vanguardas, o que não anula o caráter e o desejo da experimentação, mas sem uma veia dialético-ideológica.

A geração que hoje atua no universo poético de Curitiba, dá conta do recado quanto à qualidade poética?

Sim. Existem alguns bons poetas, entre os quais eu me incluo.

Na sua opinião, o que faltaria para a poesia Curitibana ser efetivamente lida por aqui e pelo Brasil?

Você parece insinuar ser contrário à minha opinião anterior. De qualquer forma, uma efetivação de leitura, é um problema brasileiro. Muitas vezes não conhecemos autores de outras praças. O caso de Curitiba é que depois do Leminski e do Dalton não surgiu um escritor tão marcante para o âmbito nacional. Já historicamente, enquanto os modernistas paulistanos deglutiam e vomitavam soluções, aqui ainda se fazia um simbolismo tardio. Em linhas gerais, o povo curitibano é refratário, mas os autores também têm culpa nisso.

Qual é a sua relação com a música? É diferente fazer uma letra de música e fazer um poema para publicação?

Minha ligação mais estreita com a música, em termos práticos, é o fato de ter poemas musicados ou ainda “letrar” melodias de parceiros. A diferenciação e a caracterização entre letra e poema é, até certo ponto, desnecessária. Para um texto poético ter aspecto de letra, deve apresentar um ritmo adequado, uma cadência (coisa que a poesia impressa muitas vezes também tem). Já o “poema”, tem que apresentar um tônus, uma materialidade, sutilezas, coisa que muitas letras possuem. Como você vê, são argumentos frágeis para um (volto a dizer, desnecessário) embate letra x poema. Antes se confundem e se alimentam; interagem.

O que há de diferente entre “eu também” (o seu mais recente livro/cd) e os seus trabalhos anteriores?

Vinha de uma experiência exuberante e de maior fôlego, o Única coisa (cd/vídeo/livro), com uma verdadeira estrepolia gráfica, inclusive. Além de a parte sonora apresentar canções, oralizações, peças sutis, outras mais arrojadas. Eu também traz uma leveza, um “peso leve”. 95% dos poemas são estruturados em margem esquerda. O cd (em que radicalizei) não apresenta canções, mas peças orais, com forte trabalho de pesquisa. A “música” aparece como elemento estrutural, em algumas peças sonoro-poéticas. No mais, a parte lírica é mantida.

Você já fez poesia concreta? “eu também” estaria pousando seus poemas num terreno concreto?

Sim. Meus dois primeiros livros (Co-lapso, 1995 e Igual, 1998) apresentam alguns poemas “concretos”, visuais. Única coisa (2000), com intersecções sonoro-imagéticas, fica nesse terreno, bem como exposições de poemas visuais, vídeos, performances etc. Eu também, como grande parte da minha produção, apresenta textos de maior fôlego - muito distante do espírito minimalista da poesia concreta -, e também a minha veia lírica e expressionista, o que me afasta do ideário concreto. Sem falarmos que o concretismo é um movimento dos anos 50.... Na verdade, o que minha poesia tem é concretude, qualidade que todo bom poema deve ter.

Qual a sua opinião com relação às revistas literárias atualmente publicadas no Brasil?

A grande maioria se repete nos editoriais. Rola muita politicagem, no melhor estilo “toma lá, da cá”. Acho que se perdeu um pouco do espírito (ainda válido, acredito) da função da revista de literatura, que é a de publicar autores fora do eixo das editoras, para com isso poder escoar a produção emergente. De maneira geral, não me agradam as revistas, com exceção da londrinense Coyote, séria, densa, isenta e honesta.

O que acaba falando mais alto na hora de se escrever um poema: a forma ou a idéia poética?

Para mim, a idéia. Desenvolvo um poema me valendo, de forma aberta, de todas (as melhores) possibilidades para realizá-lo. O que estiver à mão em termos de tecnologia (sempre a favor, aliando horizontes, nunca aprisionando), sentimento, memória, invenção, mentira, e até uma certa parcela de cinismo, se for o caso, sem me preocupar com um “estilo” como fim único.

Como você definiria o seu estilo?

Em parte, acho que respondi acima. Não apresento uma linha bem definida. Às vezes sou high tech, às vezes mais lírico.

Agora você deverá fazer uma pergunta ao entrevistador.

Como você definiria o meu estilo?
Resposta: Agora você me pegou, ein! Hummmm...digamos que você tem um estilo "Anzolin" de escrever, certo? Às vezes high tech, às vezes mais lírico.

Finalmente, fale o que você gostaria de falar, mas que, por incompetência minha não teve a oportunidade.

Gostaria que você tivesse tocado no assunto da relação entre os poetas. O público em geral, considera os vates acima de mumunhas e questiúnculas, mas na prática, no dia a dia, no vis-à-vis não é nada assim. Acontecem boicotes, puxadas de tapete, tentativas de eliminação. É uma burrice tamanha, pois tem tanta gente fazendo bons trabalhos, que é impossível, como querem alguns, se sobressair amordaçando os outros. Nesse ponto, sou completamente egoísta e egocêntrico: só me preocupo com a minha poesia.

Aguardem. Logo publicarei a resenha do livro "eu também" de Amarildo Anzolin.

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