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sexta-feira, dezembro 10, 2004

Toda mulher merece ser despida. O corpo em exposição agressiva: a transformação das cores em uma só cor da pele. As dobras em confluência com as pregas do espaço. As curvas entortando as arestas da mente, da libido. Toda mulher merece ser despida. Os seios a mercê da boca. O sabor do mundo a mercê de seu leite. O balsamo para a rotina pingando gota a gota nos poros da retina masculina. Toda a mulher merece ser despida. Assim como as peles de todas as coisas merecem ser tocadas.

terça-feira, dezembro 07, 2004

Entrevista com Amarildo Anzolin
Confiram a entrevista com um dos grandes nomes da nova geração de poetas curitibanos hoje em voga. Amarildo Anzolin fala sobre o seu novo livro, sobre a crise de valores no meio literário e sobre a sua paixão pela sua própria poesia.

Amarildo, você se encaixaria em alguma geração poética ou movimento poético?

Lancei meu primeiro livrinho de poemas (Co-lapso) em 1995. Se seguirmos a definição de Haroldo de Campos, eu faço parte do período “pós-utópico”. Se não me enquadro na estética de Haroldo, acredito comungar (juntamente com outros poetas) de uma “geração” pós-vanguardas, o que não anula o caráter e o desejo da experimentação, mas sem uma veia dialético-ideológica.

A geração que hoje atua no universo poético de Curitiba, dá conta do recado quanto à qualidade poética?

Sim. Existem alguns bons poetas, entre os quais eu me incluo.

Na sua opinião, o que faltaria para a poesia Curitibana ser efetivamente lida por aqui e pelo Brasil?

Você parece insinuar ser contrário à minha opinião anterior. De qualquer forma, uma efetivação de leitura, é um problema brasileiro. Muitas vezes não conhecemos autores de outras praças. O caso de Curitiba é que depois do Leminski e do Dalton não surgiu um escritor tão marcante para o âmbito nacional. Já historicamente, enquanto os modernistas paulistanos deglutiam e vomitavam soluções, aqui ainda se fazia um simbolismo tardio. Em linhas gerais, o povo curitibano é refratário, mas os autores também têm culpa nisso.

Qual é a sua relação com a música? É diferente fazer uma letra de música e fazer um poema para publicação?

Minha ligação mais estreita com a música, em termos práticos, é o fato de ter poemas musicados ou ainda “letrar” melodias de parceiros. A diferenciação e a caracterização entre letra e poema é, até certo ponto, desnecessária. Para um texto poético ter aspecto de letra, deve apresentar um ritmo adequado, uma cadência (coisa que a poesia impressa muitas vezes também tem). Já o “poema”, tem que apresentar um tônus, uma materialidade, sutilezas, coisa que muitas letras possuem. Como você vê, são argumentos frágeis para um (volto a dizer, desnecessário) embate letra x poema. Antes se confundem e se alimentam; interagem.

O que há de diferente entre “eu também” (o seu mais recente livro/cd) e os seus trabalhos anteriores?

Vinha de uma experiência exuberante e de maior fôlego, o Única coisa (cd/vídeo/livro), com uma verdadeira estrepolia gráfica, inclusive. Além de a parte sonora apresentar canções, oralizações, peças sutis, outras mais arrojadas. Eu também traz uma leveza, um “peso leve”. 95% dos poemas são estruturados em margem esquerda. O cd (em que radicalizei) não apresenta canções, mas peças orais, com forte trabalho de pesquisa. A “música” aparece como elemento estrutural, em algumas peças sonoro-poéticas. No mais, a parte lírica é mantida.

Você já fez poesia concreta? “eu também” estaria pousando seus poemas num terreno concreto?

Sim. Meus dois primeiros livros (Co-lapso, 1995 e Igual, 1998) apresentam alguns poemas “concretos”, visuais. Única coisa (2000), com intersecções sonoro-imagéticas, fica nesse terreno, bem como exposições de poemas visuais, vídeos, performances etc. Eu também, como grande parte da minha produção, apresenta textos de maior fôlego - muito distante do espírito minimalista da poesia concreta -, e também a minha veia lírica e expressionista, o que me afasta do ideário concreto. Sem falarmos que o concretismo é um movimento dos anos 50.... Na verdade, o que minha poesia tem é concretude, qualidade que todo bom poema deve ter.

Qual a sua opinião com relação às revistas literárias atualmente publicadas no Brasil?

A grande maioria se repete nos editoriais. Rola muita politicagem, no melhor estilo “toma lá, da cá”. Acho que se perdeu um pouco do espírito (ainda válido, acredito) da função da revista de literatura, que é a de publicar autores fora do eixo das editoras, para com isso poder escoar a produção emergente. De maneira geral, não me agradam as revistas, com exceção da londrinense Coyote, séria, densa, isenta e honesta.

O que acaba falando mais alto na hora de se escrever um poema: a forma ou a idéia poética?

Para mim, a idéia. Desenvolvo um poema me valendo, de forma aberta, de todas (as melhores) possibilidades para realizá-lo. O que estiver à mão em termos de tecnologia (sempre a favor, aliando horizontes, nunca aprisionando), sentimento, memória, invenção, mentira, e até uma certa parcela de cinismo, se for o caso, sem me preocupar com um “estilo” como fim único.

Como você definiria o seu estilo?

Em parte, acho que respondi acima. Não apresento uma linha bem definida. Às vezes sou high tech, às vezes mais lírico.

Agora você deverá fazer uma pergunta ao entrevistador.

Como você definiria o meu estilo?
Resposta: Agora você me pegou, ein! Hummmm...digamos que você tem um estilo "Anzolin" de escrever, certo? Às vezes high tech, às vezes mais lírico.

Finalmente, fale o que você gostaria de falar, mas que, por incompetência minha não teve a oportunidade.

Gostaria que você tivesse tocado no assunto da relação entre os poetas. O público em geral, considera os vates acima de mumunhas e questiúnculas, mas na prática, no dia a dia, no vis-à-vis não é nada assim. Acontecem boicotes, puxadas de tapete, tentativas de eliminação. É uma burrice tamanha, pois tem tanta gente fazendo bons trabalhos, que é impossível, como querem alguns, se sobressair amordaçando os outros. Nesse ponto, sou completamente egoísta e egocêntrico: só me preocupo com a minha poesia.

Aguardem. Logo publicarei a resenha do livro "eu também" de Amarildo Anzolin.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

As Cecílias do Rio de Janeiro

Chego ao Rio de Janeiro. No fundo, através da porta de vidro automática, apenas uns óculos escuros me esperam. Como manda a tradição dos encontros entre “França e Luiz Felipe Leprevost”, Luff (apelido carioca), parecia estar na entrega do Oscar para me buscar no aeroporto. Claro, com aquele jeitão dele: camisa velha dos tempos de adolescente, bermuda, chinelos havaianas e um cabelo muito, mas muito comprido mesmo. Contava-me as novidades do Rio, sempre com movimentos largos, característicos de sua afobada poesia. Chegando ao seu ap (que, por ironia do destino, fica em cima de um bar) eu já conhecia - ou pelo menos já imaginava conhecer - a figura de uma linda mulher chamada Cecília. Era Cecília para lá, era Cecília para cá, e que “você tem de conhecer a Cecília” acolá. Enfim, um carnaval de Cecílias boiando nas rasas, porém sinceras, águas de nossas conversas. Cansado de uma viagem de conexões, na qual se espera até três horas para pegar o próximo vôo, com a consciência preguiçosa aceito caminhar ao redor da Lagoa, na companhia do jornalista Paulo Polzonoff. No começo, apenas reclamo, mas no final, apesar das minhas coxas estarem assadas pelo atrito constante entre elas (sim, não é só a minha barriga que está crescendo) e dos meus ouvidos ainda estarem danificados pela pressão de um vôo entre São Paulo e Rio de Janeiro, adorei o passeio e revigorado, com os pulmões brevemente limpos, brindei o último passo com uma água de coco. O jornalista em questão comandava a compra das três águas de coco: “a primeira é dele (eu)...ele está precisando mais”. Polzonoff, que sempre julguei ser um chato, parecia-me um tio-moleque vaidoso, daqueles que adoram ensinar os sobrinhos a empinar pipas. Demonstrou possuir uma doçura diferente das venenosas linhas de seus ataques literários. Pensava eu: “quem diria que o autor do texto sobre o Mirisola ‘o cancro e o pus’ seria um cara tão gente fina...e quem diria que ele esteja me recebendo tão bem”. Dias depois, em Santa Teresa (o bairro que mais gostei no Rio) comendo uma feijoada num ótimo lugar chamado “bar do mineiro” o Polzonoff, para mim, era apenas Paulo.

Começa a anoitecer e a minha paixão pelo Rio de Janeiro começava a amanhecer. Aquelas montanhas todas, o Corcovado, o cristo, as águas, a boca banguela da Guanabara, todas as ladeiras: no limiar entre a noite e o dia, tudo atingia uma coloração de “arrombar retinas”, como diria o Chico Buarque (que infelizmente, não avistei em nenhum canto da cidade maravilhosa). Depois de alguns chopes numa churrascaria no Baixo Gávea, o Luff dá uma idéia: “França, e se o cristo se atirasse do Corcovado”. Pronto! Surgia a nossa primeira parceria no Rio de Janeiro. Fomos para casa, fechamos a música e os nossos olhos. O outro dia nos esperava com mais duas figuras brilhantes: Felipe e Sandro. O primeiro, devido a sua discrição asmática, parecia não ir muito com a minha cara (impressão que, posteriormente, demonstraria estar completamente equivocada) o outro era mais falante, ria com uma ironia benigna de quem sabe atacar pelos flancos de pseudointelectuais. Parecia aderir mais ao estilo marginal, ao qual me acostumei aqui em Curitiba. Conversei mais com o Sandro, em função da minha preguiça de conhecer e embarcar na do outro. Luff observava e aguardava o momento de fechar os trilhos da noite. Já passava das 4 da manhã e resolvemos embromar os últimos minutos da nossa pugna etílica num boteco próximo a área turística mais adorada pelo “homem branco”: Copacabana. Não poderia faltar era uma briga entre “França e Luiz Felipe”. Brigamos a valer. Mandamos um ao outro calar a boca e emburramos, deixando Sandro um pouco sem graça, porém empolgado com a drástica reação de dois indivíduos que definitivamente não levam desaforo para casa. Em Copacabana, entre putas e turistas albinos, a televisão sussurrava em nossos ouvidos: “Não precisamos de benção, temos a publicidade”. Pronto! Antes de dormir, mais uma música para o repertório.

Acho que dois ou três dias depois rolou a festa na casa da Cecília (sim, aquela do começo do texto). Sem conhecer ninguém, com um pretensioso violão nas costas, fui adentrando no ap de Cecília. O Luff já havia falado tanto sobre a menina que, confesso, fiquei ansioso em conhece-la. Surge então uma mulher, cabelos longos, com uma espécie de bata que ressaltava de uma forma furiosa as suas longas pernas: “e aí, você toca violão”. “Deve ser a Cecília”, pensei. “Sim, toco”. Trocamos meia dúzia de palavras. Simpática pra caramba. “É...o Luiz Felipe tem razão!!”. Fiquei durante uma hora dividido entre as pernas, o papo da suposta Cecília e a vista maravilhosa que dava para o Corcovado. De repente eis que a menina dá um grito incisivo em direção a cozinha “Ciça, vamos fazer uma caipira”. Enfim, a suposta Cecília (que até aquele momento correspondia ao relato empolgado do Luff) era na verdade Aline, uma menina “isssperrrta” que até um violão arranhou, num pout-porri no mínimo diferente, que misturava Alceu Valença com The Police. Conversei com todo mundo do lugar, empolgado com a reação das pessoas e embriagado com o clima festivo do ap, com destaque para um rapaz chamado Diego, que com certeza foi quem melhor desenvolveu um papo comigo lá no Rio. Conversei horas com Diego, alternando os temas: de Wittgeinstein à Tom Zé, o cara tinha saliva para tudo. Conversei com todo mundo menos...sim, menos com a tal Cecília. Simplesmente, neste dia, não consegui trocar nem um “a” com a menina, em função de um excesso de álcool no sangue dela e no meu. O único contato foi quando, num momento maravilhoso, a Cecília (a verdadeira), Aline e mais uma moça, que agora eu não me lembro do nome, começaram a dançar, numa espécie de ciranda de apartamento, que, devido às caipirinhas tomadas, lembrava a dança das bacantes. “Só falta uma cabra ser sacrificada” pensava. A Cecília da festa, a não ser pela inegável beleza física, não se parecia com a Cecília do Luff e, por conta disto, fiquei, de certa forma, frustrado pelo meu engano. E o pior de tudo é que não era só o Luff que elogiava a tal Cecília não, era a festa inteira: “a Ciça é do caralho” entoavam os integrantes deste encontro. “Nem acho!” pensava eu, secretamente.

Se não visitei mais da metade das livrarias do Rio, dei uma passada nas principais: Livraria da Travessa, Argumento, Letras e Expressões, etc. Foi na Travessa que o Felipe (aquele, com a discrição asmática) surpreendeu a mim e ao Luff, ao nos apresentar uma das meninas mais simpáticas e belas da viagem. “Gente, esta aqui é a Ana...mas não se empolguem não, que ela é lésbica”. A Ana, séria e compenetrada na continuação da farsa: “pô Felipe, também não precisa falar na cara...o que eles vão pensar”. O Felipe, naquele momento, ao invés de demonstrar a sua discrição asmática do outro dia, demonstrava uma falta de ar “siniiistra”, fruto de longas horas de trabalho e de balada. Acabamos num hospital. Próximo aos bares da Cobal, onde o pessoal das redondezas, depois do expediente, pára para relaxar com uma estranha bebida, que mistura cerveja, limão, sal e gelo, paramos o carro. Foi um dos grandes momentos da viagem, por dois motivos: o primeiro é que era inevitável, na espera do nosso colega ser atendido, conversar longamente com aquela mulher maneiríssima que era a Ana. E o segundo é que o Luff, em alguns segundos de devaneio, ao fingir ser médico, começava uma discussão com a plantonista a respeito da validade do exame feito no nosso caríssimo asmático. Estava tudo bem: a falta de ar era devido ao estresse, bastando, então, uma boa noite de sono para ser sanada. Fomos para casa, com a Ana na cabeça e com uma expectativa de encontra-la mais vezes no Rio. Para o meu amigo eterno apaixonado Luff, agora, além da Cecília, tinha também a Ana.

Nos últimos 4 dias de viagem, ocupei-me em ler um ensaio de José Miguel Wisnik sobre um conto de Machado de Assis. Wisnik nos explica que o conto de Machado em questão pode ser dividido em vários momentos, análogos a estilos musicais. Acredito que a minha viagem também. Teve o momento Maxixe, representado pela cena em que eu e Luff conhecemos a Ana. O momento Polca, representado pela festa na casa da Cecília. O momento Sonata, no qual, em uma peça de teatro maravilhosa chamada “O que diz Molero”, encontrávamos a atriz Marieta Severo. E finalmente o momento Réquiem, representado pelo último dia de viagem. No conto, este último momento é o de maior desengano por parte da personagem, que, em suma, almeja compor grandes peças eruditas, mas acaba sempre compondo polcas populares. E foi, justamente, no último dia, que se esclareceu que a Cecília, que o Luff durante a viagem inteira me descrevia, era verdadeira. Saímos para tomar café, eu e o Luff, já sem assunto para compartilhar e com um desânimo de fim de feira. Tomávamos os nossos expressos de maneira sorumbática, esperando o tempo passar. Eis que liga a Cecília e o Luff se agita, como o mar alto agitando ondas na presença inevitável da lua. “França, peraí que é a Cecília”. Com a voz mais mansa do mundo: “alô, estamos aqui tomando um cafezinho...venha então...isto...aqui no Leblon”. Cecília chega e de cara resolve mudar de lugar: “este lugar não é muito interessante”. Obedecemos à ordem da moça e começamos a andar pelo Leblon simplesmente a procura de um lugar conveniente para a exigente musa do Luff. Nestes minutos, acontecia uma coisa impressionante, ao mesmo tempo em que o tema principal do meu Réquiem começava a se configurar. Aquela Cecília era muito parecida com a Cecília descrita pelo Luff. “Nossa, ela é legal mesmo”. A cada passo, Cecília desencadeava assuntos, teses, indicações de livros, filmes e gracejos de todo tipo. Sempre rindo, sempre argumentando, sempre sendo a Cecília. Desde instalar uma revolução artístico-cultural no Rio de Janeiro, à me deixar à vontade, reconhecendo o fato de eu ser o hóspede de todos os assuntos abordados, Cecília constituía um universo único, que merecia ser fotografado de todos os ângulos. Foi o que o Felipe (aquele do pulmão sem ar) fez, depois de nos encontrar em uma padaria ali próxima, ao chegarmos à livraria Argumento. Com uma máquina digital, Felipe respirava através da imagem da Cecília. O que, diga-se de passagem, o deixou muito mais simpático. A impressão de antipatia havia esmorecido. Felipe, na verdade, era bem parecido com a Cecília. Sempre articulando, sempre rindo, sempre argumentando, sempre sendo o Felipe. Apaixonei-me por aquelas duas figuras e prometi um reencontro, num tchau estranho, melancólico até: os dois pegando um ônibus para casa e eu impressionado com o fato de só os terem realmente conhecido no último dia da minha viagem. No dia seguinte, no caminho para o aeroporto, um trânsito violento começava a gorar a minha expectativa de voltar para Curitiba. Aquelas figuras maravilhosas povoavam a minha lembrança e me deixavam com a noção de que o Rio de Janeiro vale muita a pena. A praia, apesar de cinzenta, parecia-me também acenar. Dei tchau para tudo o que eu julgava carioca. O tema do meu réquiem tocava na minha mente em forma de verso: “A melhor coisa de Curitiba, é sentir saudades de Curitiba”.

segunda-feira, novembro 29, 2004

INACREDITÁVEL!!!

Meu projeto foi aprovado! SIM, PESSIMISTAS DE PLANTÃO: APROVADO!!!
iiiiiiirrrraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

sábado, novembro 13, 2004

Estou aproveitando as manhãs. Semana passada eu não sabia mais o que era a luz das 8:00. É revigorante, mesmo sabendo que o sol, voando baixo na minha cara, não tem a mínima pretensão de me agradar. Ele é rasante porque, de manhã, estimula a acordar...o sol não é para vagabundos, até hoje de manhã, que senti um calor de férias...

quinta-feira, novembro 11, 2004

NEWS

Enfim, a Fundação Cultural não deu resposta alguma a respeito do recurso que protocolei para a reavaliação do meu projeto. Alguns já me falaram: esquece! Parte para outra! Fazer o que, né?!Como já disse para o Luiz Felipe, agora estou cultivando Bonsais para treinar a minha paciência. Mas vamos ao que interessa:
1 - Em breve, farei um texto crítico sobre o novo livro de Amarildo Anzolin, "eu também", e postarei aqui no blog.
2 - Postarei também uma entrevista com o Amarildo.
3 - Vocês conhecem a música "Mão e Luva" do Pedro Luís??? Porra, foi uma das coisas mais singelas que eu já ouvi este ano! Meilily, pagu-gótica das noites do largo, esta vai pra você.

Mão e Luva
dia de chuva
tão triste e tão bom
no espelho um recado de batom de uva
era um fruto feliz
da noite passada
você foi embora
acordei e nada
(agora cantem comigo)
Luva e mão, mão e luva
vamos passear de guarda-chuva
mão e luva, luva e mão
nosso encontro parecia a perfeição
vamos voltar o relógio
fotografar os segredos
quero você como um credo
vamos nos dar privilégios
meu sol
pingos na calçada
sou só chuva e lágrimas
vem já
antes que anoiteça
tecer noites e páginas.
Pedro Luís

Pedro Luís, se estiver lendo, sou seu fã. Sim, tiete mesmo.

hummm, como diria o Cláudio: BUSHIT!

segunda-feira, novembro 08, 2004

Poema da semana

Há tempos, queria publicar esse poema da Adília Lopes, mas sabe como é...a preguiça é foda. Enfim, foi um dos que mais me marcou este ano. Lá vai:

DOIS CASOS CITADOS POR
CHRISTIAN LACROIX

Uma freira
passou a vida
a passajar
tom sobre tom
o mesmo avental
azul escuro

Um funcionário público
coleccionou
a vida inteira
a publicidade
que lhe metiam
na caixa do correio

Adília Lopes

domingo, novembro 07, 2004

Hoje a tarde tem samba com Troy no Era Só o que Faltava. É a sensação do momento na cidade e eu estarei lá. A propósito, peguei a mania de criar comunidades inúteis no orkut, a última foi: "Ninguém merece" é irritante!
Pensei em criar outras do tipo:
"só se for agora" por quê?
Nunca mais vi.
Adoro um espelho.
e etc ("e etc" também seria uma comunidade)

Fiquem agora com a descrição da última caixa de papelão inútil.

"Você que não atura a expressão 'ninguém merece', chegou a sua vez de dizer o tanto que você odeia ouvir estas duas malditas palavras!!! Como assim "ninguém merece"? Porra, você sabe se o seu vizinho, o seu mané do bar, a caixa do supermercado do seu bairro, a atendente e o gerente do banco, o presidente da república, o seu pai, a sua mãe por acaso não merecem?"

quarta-feira, novembro 03, 2004

para a minha consciência

Se você não calar a boca agora,
eu faço você engolir este sol.

De quebra,
acabo com a sua família de dúvidas,
constrangimentos e aflições.

Se você não calar,
mastigarei este céu
e lhe farei engasgar estrelas apagadas
que não são vistas à luz do próximo gole.

Você não deve nada pra mim.
Vá embora com o seu argumento de realidade.
Leve todas as palavras que eu não quero,
todo o meu alfabeto de infelicidade.

sexta-feira, outubro 29, 2004

Para a formação do casal

Cada janela é um olho que abre apenas quando precisa de luz. Os joelhos dos altares dobram as nossas preces. As cortinas abraçam o ar para desembaraçar memórias. Nada melhor do que estalar lembranças em dias de chuva. Ouço o formigueiro de letras a desatar extravagâncias nos ouvidos. Considero todo casal de sílabas que o dia nos devota a cada minuto. Tomei um banho de poesia ao visitar a sua casa e hoje, especialmente, não precisarei da palavra.

Não precisar da palavra é uma esperança para aqueles que ainda não aprenderam a criar flores.

quinta-feira, outubro 28, 2004

queria a sensação de poema acabado todos os dias, toda hora, todo instante.
pronta para ouvir?

Como se você não soubesse, que há anos eu procuro um atalho em você. E busco partes separadas de mim, um copo de uísque, três pedras de gelo, um trago. Como se você não soubesse, que detesto dar tchau. Prefiro que você me dispense calada, com a alma rouca de tanto gritar. Ocultando marcas, dando voz a outros pedaços do corpo. Como se você não soubesse, que eu me submeteria a falar “eu te amo” e não lutaria contra a sua vontade. Trairia a minha própria poesia. E ainda deslocado de toda a sua espinha, teria a certeza idosa deste mendigo que sou: esta minha sina, que por acaso não me sabia, foi a minha maior metáfora.

terça-feira, outubro 26, 2004

As vozes de “Cinco Marias”

Depois de um debate sobre transgressão na literatura, resolvi conversar com o poeta e jornalista gaúcho Fabrício Carpinejar sobre este negócio arriscado de se fazer poemas. De cara e na cara, Fabrício solta: “poesia é como briga de rua, se você não der o primeiro soco...”. Acredito que este fator “rua” se revele em “Cinco Marias” (Bertrand Brasil, 123 páginas, R$ 14,00 em média). Carpinejar, neste livro, está sempre a dar o primeiro soco. O leitor não escapa, afinal as vozes-poemas colocadas nestas páginas são tão tocantes como um hematoma que parece não sarar. Em um poema após o outro, uma nova faceta de mulher transborda em versos. As vozes, ali colocadas, aparentam ter atingido um alto relevo. Fabrício conseguiu a mágica de tornar tangíveis as vozes humanas.

O livro conta a trajetória da poetisa Maria de Fátima Ossian, que junto com suas quatro filhas, enterram o marido no quintal de casa acreditando enterrar a sua biblioteca. Partindo deste mote, a alma das “Marias” é colocada ao léu de questões voltadas ao universo da própria mulher, dos relacionamentos familiares e do choque entre o mundo masculino e feminino. O que fica é a luminosidade da sensibilidade feminina, entoada em “refrões” do tipo: “Os homens nunca vão entender”. Assim, é a partir da morte da “biblioteca”, que transparecem lembranças experimentadas intensamente, culminando com uma pedra em cima do “livro-memória” (o homem) que “não sobe com a água”.

Em “Cinco Marias” o poeta atingiu uma maturidade própria daqueles que já possuem uma larga experiência no ofício poético. Após ter lançado cinco títulos, Fabrício aperfeiçoou o seu modo de escrita ao deixar apenas o essencial. A sonoridade do verso fica a deriva da “idéia” poética. O que fica é um material mais orgânico, “limpo” do excesso de rimas e de extravagâncias espaciais na página. Para o leitor, o acesso ao cerne do que é dito fica muito mais fácil e direto. Ao ler “Cinco Marias” é notável a sensação de conversa que os poemas transmitem a todo instante.

Talvez por este motivo que, ao ler este livro, me senti como um manipulador de vozes. Cada voz, uma peça de um jogo de malabares, que ora estava ao alcance da mão, ora estava no ar, esperando a vez de ser agarrado, acariciado, protegido. Entre versos de tez robusta como “Diante do prado,/ardo imensa”, passando por rasteiras poéticas como “a vida recusa principiantes”, até versos quase aforísticos do tipo “a vida segue sendo a declaração do nada” ou “Fazer as coisas pela metade,/ é a minha maneira de termina-las”, o livro transcorre em um desequilíbrio emocional próximo ao de alguém que passou por uma tragédia. E ainda, como um malabarista amador, muitas vezes o leitor não tem a devida noção de qual voz-poema ele abarcará em sua mente. Isto é proposital, afinal são “as marias” que estão ali, ou seja, poderia ser qualquer mulher. Carpinejar usa, com propriedade, todo o seu cabedal de recursos poéticos para dar voz não só a uma mulher, mas “à mulher” (aqui colocada, quase, como uma entidade).

Apenas uma das vozes, de textura especial, transparece uma personalidade distinta, num imperativo doce (muitas vezes despretensioso), acalentador e ao mesmo tempo inquietante: trata-se da mãe das personagens. Ela (a “Maria-mãe”) dará, de certa maneira, o norte da narrativa poética (neste caso, propositalmente fragmentada) por ter uma presença fulminante em cada aparição. É como ouvir a voz da sua própria mãe e ter a sensação de que se esta obedecendo a alguma coisa. A engenhosidade do livro é clara e o fato das Marias enterrarem a biblioteca do “varão” (ao invés do corpo) dá a nítida noção do que o leitor tem ao alcance das mãos: um ventre feminino inteiro, pronto para ser explorado.

sábado, outubro 23, 2004

AVISO


Acabei o primeiro canto do meu extenso poema "Sutura". Logo registrarei e o colocarei no ar, aqui no Blues Curitibano.


obs: acabar este primeiro canto de dez páginas,
foi como um banho de mar
e a sua pretensão de lavar a alma.

quarta-feira, outubro 20, 2004

Luiz Felipe Leprevost...não suma!!! O povo daqui quer ter notícias suas. Mande um e-mail, uma carta, um sinal de fumaça.

terça-feira, outubro 19, 2004

"Laranja madura, na beira da estrada, tá bichada oh zé...oh, tem marimbondo no pé".

Que saudades de me apaixonar. Que saudades que eu tenho de ser brega em ocasiões oficiais. Que saudades de desobedecer a estética. Que saudades de não ler porra nenhuma. Que saudades de gostar do que eu escrevo. Que saudades de viver ao meu lado mesmo estando do lado de alguém.

sexta-feira, outubro 01, 2004

É estranho a natureza nos impor esta condição de acordar todos os dias. Hoje fiquei preso a uma xícara de café e a borra era a minha barba de franco envelhecimento. Na verdade, comprei a minha passagem para a ociosidade. Bem feito para mim e para os livros que serão lidos por mim. A minha prosa poética está crescendo como nunca. O rasgo que esta "sutura" está fazendo na minha rota diária é impressionante. É bom inventar recortes nesta grande sala de aula. À noite desfaço os nós das minhas secreções. À noite as coisas são encaixadas pelo desencaixe. À noite os fluídos do olhar incidem mais rasgos a serem suturados.

quinta-feira, setembro 30, 2004

Terminei de ler as "Cinco Marias" do Carpinejar de forma definitiva. Agora, o adotarei como livro de cabeceira para o desenvolvimento do texto crítico que há meses eu prometi. Mas enquanto eu não o termino, leiam a entrevista que eu fiz com o autor da frase: "poesia é como briga de rua, se você não der o primeiro soco..."
O meu projeto não foi aprovado, mas nem tudo está perdido!

Nunca passou pela minha cabeça não estar neste momento não trabalhando no meu amado, sonhado e pensado cd de músicas próprias. Anos de estudo. Anos aguentando tendências. Anos replicando o que realmente não merecia. Anos imaginando poder colocar as idéias em ordem não-alfabéticas. Anos pensando em algo que hoje vejo não ser. Schopenhauer (vendo deste ângulo obtuso de um leitor caduco, o nome deste cara parece o de um shopping no qual eu costumava jogar sinuca na época de cursinho) falava sobre a Vontade como uma entidade multiplicadora...que me desculpem os fãs do Shopping, mas parece que a nossa estrutura social é quase igual a estrutura do reino animal. E esta Vontade de nada adianta quando colocada cara a cara (a Vontade tem cara?) com a refração dos fatos que a gente acredita acontecerem de forma certeira e imediata. O fato é o punho da Vontade. Só que este punho é involuntário. A gente nunca sabe quando será engolido. A gente nunca sabe de fato quem são os nossos inimigos. Sei, agora, que homens não choram (eeee clichê). Mas no meu caso, eu não choro por saber que chorar agora é perda de tempo. Me passa pela cabeça uma idéia: Zaratustra realmente acreditava no que ele falava? Tudo leva a crer que não (que bom que é ter um blog e poder escrever o que quiser). E para falar a verdade, eu nunca me senti tão objetivo em toda a minha vida. Amo o verso que diz: "tem gente que vive chorando de barriga cheia". É...eu me sinto muito mais um super-homem ouvindo um verso destes do que lendo um livro que acreditei por anos ser o livro da minha vida. Se estou indignado? Sim. Mas como tudo na vida é multifacetado, comunico aos meus leitores que estou trabalhando arduamente numa prosa poética de pelo menos umas cento e poucas páginas. O nome será "sutura" e conta a tragetória de um linguísta-poeta que tenta escrever um poema que contenha o tempo (a entidade). Como ele faz isto? Por enquanto eu não abrirei o jogo. Afinal de contas, quem não gostaria de dominar o tempo?

domingo, setembro 26, 2004

Sono, muito sono é o que eu sinto o dia inteiro...será que ler o "nascimento da tragédia" duas vezes seguidas durante a semana é algum sintoma de uma doença rara?

terça-feira, setembro 21, 2004

Convite

Não há estrelas no céu
E me permito dormir na rua.
Outros olham
Criam asas em garrafas de fogo
Queimam casas
Gritam mares.
Uns choram filhos,
Matam as pazes;
Tocam oásis em almas tristes
E eu procuro estrelas onde não há cantares.
Procuro para não dormir
E não penar apetecido.

Já de dia, escavo com os poros
O lume saboroso do meio-dia
E os dedos corroboram em irem para fora.
Outras vozes, coisas de plástico, envolvem o que deve acordar no final da tarde.
A cor cospe fogos de fulgor no céu.
Olho outros.
Finjo estático a última estátua de desamor.
Me atrevo a encontrar um ponto luminoso no azul.
No preto, me encontro a afogar-me profundamente no roxo.
As estrelas partem, e explodindo as células do meu corpo
Um néon bordô rabisca a noite
ENTRE
ENTRE
ENTRE

segunda-feira, setembro 20, 2004

Receber um panfleto na rua é como receber um “não” de alguém: a gente logo joga fora. Mas a gente nunca sabe se o “não” salvaria o nosso dia de ser atropelado pela falta de palavras. A incerteza é sempre mais um comunicado da vida.

sexta-feira, setembro 17, 2004

para os irmãos daquela época 80

Ruas recheadas de corantes diversos:
Um carro amarelo, um carro preto, um carro azul...
...quem lá em cima está colecionando mattbox?

quinta-feira, setembro 16, 2004

A pulga, que implantou no lóbulo da minha orelha esquerda, deu-me insônia. Dormir muito é para os talentos que esquecem o resto do dia e perseguem a si mesmos na cama. Não quis dormir, deixei-me de lado em função da sua impaciência em me fazer pensar em você. Escrever sobre outra coisa (que não seja você) exige uma força física incomum. Sem querer, esbarrei na sobremesa que expus para o consumo logo depois da siesta. Uma parte desabou na minha mão, como a nuvem que chove para desabar. A outra caiu resignada a ser esquecida. Sem querer lambi aquele suor doce, como um adolescente que lambe a própria pele ao pensar em outra. Ouvi claramente o som da minha pele. A sobremesa ainda sussurrava para o inseto: “eu sei que você quer me comer, devagar e sempre”.

quarta-feira, setembro 15, 2004

Uma faísca da cervical, uma centelha de imagem refletida. Velho, devo ser como todos os cães que não saem para passear, aposentam as mandíbulas, o rosnado. Guardam a língua para acariciarem a si mesmos, partes do interior que nunca foram retocadas. Velho, devo ser como todo o animal, que é presa daqueles que o amam.

terça-feira, setembro 14, 2004

Tire a blusa como se fosse abrir um presente de aniversário.
O seu presente.
Tire a calcinha como se fosse abrir a boca da risada desesperada.
Tire a pele, deixe aberto o resto das dobraduras do origami do seu corpo.
Descasque o meu pau como as dobradiças da noite descascam o silêncio.
Me engole devagar, enquanto eu me esqueço no canto do travesseiro amassado.

segunda-feira, setembro 13, 2004

Jurava estar escrevendo naquele tempo. Um meio tempo esquisito de setembro. Jurava que o frio não me descrevia e fui tragado pelas decisões do céu. Deitar no chão, refletir sobre o clima, esvaziar o concreto com nuvens colhidas à tarde. Desperdiçar o tempo com estrelas de luzes raspadas pela palavra gasta. Dormir é um isqueiro de sonhos, acender os olhos é tragar a alma nas noites de solidão.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Bilhetes na parede – todos em branco.
A minha vida encurtou o silêncio
Dos recados.

quinta-feira, agosto 26, 2004

O jogo de xadrez do debate
– sempre tenha a mais para destilar
uns doze ou treze argumentos-jogada
(ou quantos a cabeça aguentar na rodada).

Não salvar as alterações de um texto é deixar o computador rir da sua cara. Escrever algo melhor é decepcionar o que já morreu nas entranhas da máquina. Deixar-se levar pelas alterações espontâneas do dia faz do corpo águas calmas. Morrer nas ondas é afogar-se em raiva alheia. Magoar-se é buscar a respiração num ambiente rarefeito. Desesperar-se por não conseguir respirar é desenvolver um texto novo com o silêncio. Perder a fúria da falta de poesia é acostumar a mente a conversar com um computador sem teclado.

quarta-feira, agosto 25, 2004


Meu pai me disse que há uma certa semelhança entre o rodolfo e o alexandre frança...será??

(CLIQUE NA FIGURA PARA VÊ-LA AMPLIADA)

terça-feira, agosto 24, 2004

Um pano de chão para lavar a varanda é como um lenço para secar o rosto. As lajotas da casa de praia enrugam seus braços a cada temporada. Racham as certezas de mais uma visita. Quem consegue encher a barriga com os restos do que já foi vivo? As diferenças surgem no tato da semelhança. A arvore busca as pernas que lhe falta ao dispensar a pele seca. O rosto busca uma expressão a mais ao soltar as lágrimas do olho.

segunda-feira, agosto 23, 2004

As paredes da minha vida nunca foram pintadas de branco.
Pintar de preto a mente de alguém é como escrever num muro já pichado.
Pintar a mente de alguém com a cor dos olhos,
colorir a retina preta com as cores das palavras não faladas.

sexta-feira, agosto 20, 2004

Homenagem aos mestres (discurso feito ontem na minha formatura de comunicação)

Palavras, imagens, cores, símbolos, maquiagens, sonhos, estereótipos. São muitos os recursos utilizados pela publicidade para estimular os homens ao consumo. A comunicação, em pouco tempo, descobriu que poderia transformar o olhar, os costumes e a opinião de toda uma sociedade ao demonstrar, em canais apropriados, atitudes virtuais de realidades paralelas quase tangíveis, muito embora distintas da realidade do tato e do cotidiano maçante que todos somos obrigados a enfrentar. Fazer com que o ser social dobre o pescoço da mente para observar uma outra realidade (a realidade do produto) nunca foi uma tarefa fácil. Assim como não é fácil a tarefa do mestre, este ocupado em ensinar a realidade do conhecimento. Arrisco dizer que parte do mundo acadêmico caminha paralelamente ao universo da publicidade. No sentido de que muitas idéias são vendidas de várias formas pelas mais diferentes pessoas. E pessoas são vendidas aos alunos através de diversas titulações que muitas vezes não dizem respeito ao real caráter destes indivíduos. Assim como existe o sabão que lava mais branco, existe também o mestre mais phd ou mais doutor. Aviso: esta homenagem não é destinada a estas pessoas. Esta homenagem vai para os verdadeiros mestres, mas quem são os verdadeiros mestres? São aqueles que pela generosidade inerente à sabedoria do aprender nos ensinam os caminhos do nosso próprio conhecimento. Os que apenas empurram idéias, vendem idéias...Também arrisco dizer...São na verdade publicitários, como agora nós somos. O personagem Trapo, de Cristóvão Tezza, por exemplo, em poucas palavras parece configurar a idéia que hoje gostaria de passar ao fazer esta homenagem em nome da salamestre. Escrevia Trapo ao filho que ainda não havia nascido:
“O mundo é cheio de conselheiros, de ciganas, de agouros, de sábios e de deuses.
Sempre alguém quererá fazer de ti um molde repetido
Sempre alguém terá a verdade à mão
Sempre alguém tentará vender um Formulário Infalível
Um Caminho certo
Um remédio contra a caspa
Mas o melhor de tudo é comer pipoca
Na arquibancada do Circo Real Madri
De lonas remendadas
Que se instalou na esquina
O resto é contigo”.
Em nome da salamestre...muito obrigado por tudo, verdadeiros mestres.

quarta-feira, agosto 18, 2004

Vou deixar você ir embora
assim
como eu deixo o dia passar.

terça-feira, agosto 17, 2004

caixa de e-mails de um tempo virtual

Você sabe que na minha cabeça
>você existe quando abre os meus sonhos com a boca?
>Pois o seu valor se revela para mim quando você abre alguma coisa
>sua:
>a sua boca
>o seu sorriso
>os seus olhos
>Eu gosto de falar de valor desta forma.
>Os diamantes não têm o mesmo valor depois que se aprende a beber.
>Eu tenho muito valor quando a bebo até a última poça de beleza.
>A curva que os seus olhos fazem depois da meia-noite abraça as
>minhas vontades, como o irmão abraça as dúvidas do mais novo,
>minutos antes deste dormir.
>O cigarro nas suas mãos será sempre uma batuta na mão de quem deseja
>orquestrar o agora.
>O seu corpo será sempre uma dúvida que eu abraçarei com cautela.
>O seu rosto será sempre uma certeza que eu abraçarei com violência.
>A violência de tipos como eu está em escrever como um cego que toca
>vorazmente as texturas de uma imagem que nunca será.
>A sua violência está em fazer-me melhor por me fazer acreditá-la.
>Por acreditar em quem fabrica imagens que serão.
>A minha amargura está na impressão de decepção que os olhos de um
>irmão mais velho às vezes traz.
>Acreditar em alguém é uma obra não acabada, assim como a solidão
>inventada pela dúvida é a não aceitação da obra.
>Perguntar demais estraga a pintura, assim como arrumar demais um
>poema maquia a poesia.
>Eu acredito em você como acredito que eu existo. O existir se revela
>na descoberta. O não existir se esconde em sentimentos ruins.
>Eu existo por que são em poucos que acredito, pois nas mãos da
>descoberta esta a flor do acreditar.
>A beleza da sua boca, dos seus olhos, do seu pescoço, do seu sorriso
>é egoísta quando quer me comover.
>Quando eu lhe queria, só um sabor de tempo derretido escorreu entre
>os meus dentes. A forma que o espaço impõe se encolheu sem o tempo
>com a sua fria forma sólida.
>Quando surrei o meu rosto com o meu capricho de tê-la para mim, só
>uma impressão de fim de guerra me ninou no final da luz.
>Você é linda até quando quer ser feia.
>Por enquanto eu me contento com está descoberta
>E existo.

segunda-feira, agosto 16, 2004

Fingir amolece os ossos da mente. Se lhe enganei ao me interpretar na cena, esqueça, mas não perdoe o momento de cabeça baixa. Quebre na minha cara esta coisa frágil chamada engano. Na calçada, o vidro das coisas despedaçadas sente medo de ser visto. Não gosta de ser pego desfigurado. Pegar um caco na mão pode cortar, assim como corta olhar para o que não quer ser observado. Minha carteira de cigarros acabou e eu até pensei em me esconder com a ajuda de estilhaços. Ser uma outra pessoa é uma forma que o fogo utiliza para amolecer aqueles que não querem ser carbonizados pelo o espelho da rotina.
A palavra sem inspiração
é a voz da falta de respiração.
(ai, dia vazio do cão)

sábado, agosto 14, 2004

depois da festa (para todos que jantaram comigo ontem)

Ser pesado nas palavras,
a chuva
hospedada na roupa do mendigo.
Chorar o orvalho de um desconhecido e estourar tímpanos
como se estoura bexigas nas festas de domingo.
Não lamentar a preguiça,
deitar em tudo que merece não ser mais.
Esquecer que se sabe escrever
preferir o sono de sonhos aos versos.

Ser o que se acorda no papel
rabiscado de silêncio

quinta-feira, agosto 12, 2004

Comer uma fruta de gesso é sentir nos dentes a espessura da decepção.
O corpo de um dia desperdiçado é branco como estátua.

Hoje engoli uma semana inteira ao dispensar você
E senti nos olhos o sabor de uma cegueira
Branca.

quarta-feira, agosto 11, 2004

Metáfora da semana (em homenagem a bia de luna)


“music passes, emblematic
Of life and how you cannot isolate a note of it
And say it is good or bad.
You must
Wait till it’s over”.
(Jonh Ashbery)
As cordas do sol. Enforca-me com as cordas do sol. Por que o sol esquenta a garganta e eu já cansei de esquentá-la com palavras.
Como o plástico incomoda com a sua duração, a terra adormece a espera de durar. Lembrar é um ofício de artesão, criar lembranças é para os mestres artesões. As lembranças acreditam na sua duração. Assim como a rocha desmancha com a pressão, os dedos doem com a pressão das articulações (a ronquidão do tempo). Meu coração acordou hoje mal, com hematomas de pressões diversas de criadores de passados.

Hoje meu coração não dormiu e esperou a minha vontade de artesão para pulsar.

terça-feira, agosto 10, 2004

Hoje, 10 de agosto, é dia do cachorro mais louco (ou do leão mais vaidoso).
Hoje é dia do meu aniversário!
Parabéns para mim!

segunda-feira, agosto 09, 2004

A tela azul do corredor do paraíso (paraíso nenhum). Vermelha é a estrada para o campo de colher memórias, extrair faíscas de tempo. Na caneta da simplicidade bélica dos passos, o murmúrio acionado pela desilusão, a força das mãos ao erguer um filho recém nascido, a carreira de solidão que as migalhas do trabalho forçado nos dá. Neste corredor, as coisas servem para mergulhar olhares. Destilar citoplasma das pálpebras cerradas. O cinto aperta o céu com força, enquanto as estrelas assustadas fogem dos fuzis empunhados pelos sóis dos mundos. A corrente de ouro que a luz do quarto esconde não é feita para coroar ninguém.
Nenhum mar
no corredor do inferno
agüenta o calor
que o medo provoca de manhã.

Esta turma vai ficar para a história! Samuel, Tibério, eu (com um bigodinho de chicano da fronteira), Troy, Gersinho, Luiz Felipe (agora no Rio), Vicente (com seu chapéu de seresteiro da lapa) e Edson Falcão (poeta maior, agora desligado do mundo, porém conectadíssimo à namorada). Vixi, esta foto foi tirada no lançamento do meu livro nas livrarias curitiba. Ou o tempo é apressado para certas coisas...ou sou eu a noiva a, vagarosamente, me aprontar para o mundo.
Embaçar os vidros da casa e depois embaçar os espelhos. Não deixar o foco das coisas trespassar a pele de dentro. Embaçar as luzes. Não deixar que os passos dos raios de suas carnes atravessem os meus livros. Beijar a boca das paredes. Demonstrar afeto ao colo da casa. Sujeitar as dobras do corpo ao papel, imprimir as estruturas que compõe o percurso do tato. Atravessar o seu sexo, atear poder em seu avesso solitário. Consumir célula a célula, não deixar migalhas de células.

Refazer o existir com as mãos.

sexta-feira, agosto 06, 2004

Na pinta da pedra, no ponto final, no gole de coca, no pingo do “i”, no último zero, à meia noite, no código de barras,
um universo pedindo fim.

quinta-feira, agosto 05, 2004

messenger - metralhadora.

zumbi diz:
e daeh guria...blz?
dane diz:
entao, pulei da cama e fui pra facul assistir a aula de escultura da ligia borba (ex mulher o otavio camargo), e puta merda, foi alucinante
dane diz:
sai super feliz e contente (era +- meio dia) e fui ao banco, ver se um cheque havia sido descontado ( a recisao do aluguel do meu ex apê) e sacar uma grana pra viajar
dane diz:
abri a bolsa, tirei a carteira ( que nem tinha mta grana, mas todos os meus documentos....), peguei o cartao e imprimi o extrato
dane diz:
foi entao que eu vi que a bela senhora tinha descontado o cheque antes do combinado, e ele voltou
zumbi diz:
vixi
dane diz:
enfurecida, fui falar com o gerente pra ver o que aconteceria pois o distinto ser humano nao mora em ctba... fiquei um tempo falando com ele, tentando achar uma solução
dane diz:
resolvi transferir uma grana de outra conta para a minha, ( a conta conjunta q eu tenho com a mamae), quando fui procurar a carteira...
dane diz:
cad~e
dane diz:
cadê?!
dane diz:
putz, voltei la no caixa e olha só... ela não estava lá...
zumbi diz:
nossa!
dane diz:
o gerente, um garoto SUPER atencioso, nao deu a minima, o que me deixou mais irada
dane diz:
ninguem naquela porra daquele banco se prontificou a ajudar, ou sei lá...
dane diz:
o einstein, fez entao uma colocação brilhante, que eu deveria bloquear o cartao de credito... feito isso, ele disse, olha dani, como se fosse intimo .... acho melhor voce ir na delegacia fazer um b.o....
dane diz:
dai pronto, mil coisas na minha cabeça...
zumbi diz:
nossa!
dane diz:
meu pai viajando, delegacia, tá mais aonde?? e mesmo que soubesse, iria como, andando???
dane diz:
ligar pra casa nao rolava, sem credito na porra do telefone, nem um tostao pra pegar onibus... e putz, como que eu nao ia viajar?
dane diz:
fui andando pela rua, olhando nas latas de lixo pra ver se nao encontrava...
dane diz:
mandei msg pro rafa, pra carla, pro ewandro, pro andre...
dane diz:
o rafa ligou, tava indo pro trabalhar e tava sem carro, a carla e o resto da galera nem deram sinal de fumaça...
dane diz:
dai eu comecei a pensar.... sinais e tal....
dane diz:
será que é pra eu ir? será que não é um sinal, tipo premonição? você vai e acontece uma desgraça..???
dane diz:
de repente, olho uma coisa roxa...
dane diz:
o cabelo de uma cartomante sentada na praça...
dane diz:
cheguei pra ela, ei, você vê o futuro?
dane diz:
ela disse que sim....
dane diz:
olhei pra baixo e fiz cara de cachorro que caiu da mudança... você cobra?
dane diz:
ela disse que sim
dane diz:
nao quer fazer uma caridade pra alguem desesperado?
dane diz:
desculpe minha filha, nao faço caridadade...
dane diz:
mesmo assim eu expliquei o que tinha acontecido, mas a preocupação nao era exatamente achar a carteira, e sim, se isso significava um "nao va para sao paulo"...
dane diz:
ela ouviu e enquanto resmungava alguma coisa o celular tocou e era minha mae
dane diz:
contei a historia toda, ela ficou - com razao - furiosa e nao ajudou em muito
dane diz:
continuei olhando os lixeiros da osorio, e o celular toca de novo
dane diz:
daniele? sim, sou eu...
dane diz:
um minuto, passou a ligação...
dane diz:
oi, aqui é o wesley, eu achei sua carteira....
dane diz:
ufaaaaaaaaaaaaaaaaa
zumbi diz:
wesley...q nome esquisitíssimo
dane diz:
entao, eu tô aqui no centro cirurgico, hospital do trabalhador...
dane diz:
como assim?? voce vai ser operado??
dane diz:
nao nao, voce pode vir aqui e me procurar, fica no portao...
dane diz:
pensei eu, enfim... vamo lá.
dane diz:
passei pela cartomante de novo, ela me olhou, eu cheguei bem perto, olhei pra ela
dane diz:
VOCE DEVIA PENSAR MELHOR ANTES DE DIZER QUE NAO FAZ CARIDADE
dane diz:
dai ela ficou brava, olhou pra mim
dane diz:
E VOCE DEVIA PENSAR ANTES DE TIRAR SUAS PROPRIAS CONCLUSOES

dane diz:
putz...
dane diz:
eu estava aqui orando por voce, fazendo o rosario nao sei do que, e mais ainda uma oração pro santo tal... e começou a orar de novo....
dane diz:
que ser imundo que eu sou....
dane diz:
pedi desculpas.... dei um abraço nela e ficou tudo bem....
dane diz:
mas foi muito loco... suanita, o nome dela, cara, a mulher tinha uma energia muito forte, e eu me senti forte tambem
dane diz:
dai, me liguei que tinha no bolso da jaqueta aqueles cartoes vale transporte, e peguei o onibus pra ir no centro cirurgico...
dane diz:
no caminho encontrei um amigo caminhando na republica, e depois vi uma senhora carregando uma sacola, alias, duas, que eu queria muito comprar... essas sacolas de feira toda colorida...
dane diz:
fiquei feliz de ver a sacola, de ter trocado energia com a tal cartomante...
dane diz:
dai cheguei no hospital... aquele climao...
dane diz:
fui na recepção... oi, por favor, o wesley do centro cirurgico
dane diz:
ele ligou pra lá, me deu um adesivo e disse, desce
dane diz:
fui andando pelos corredores, sentindo o cheiro da dor daquelas pessoas,
dane diz:
todas com aparencia cansada, triste, desiludida
dane diz:
o hospital sujo, precario... dai lembrei que queria ser medica
dane diz:
lembrei do quanto eu queria sentir um pouco daquele sofrimento
dane diz:
quis fica ali, quis fazer tudo de novo, quis jogar tudo pro alto
dane diz:
pensei o quanto minha arte era inutil,
dane diz:
ai passou um bebe dentro da incubadora, e eu pensei o quanto eu sou inutil
dane diz:
porque nao vou definir minha arte antes que aquele bebe saia da incubadora, ou que ele morra
dane diz:
senti raiva de mim, raiva do mundo tao injusto com as pessoas, raiva do dinheiro, do trabalho, daquela gente pobre, doente
dane diz:
parei na porta do centro cirurgico, e fiquei olhando os medicos, com aquelas roupinhas azuis e toquinhas brancas
dane diz:
do lado um lixeiro com luvas sujas de sangue
dane diz:
e mulheres sentadas, com seus corpos chorando e aquele olhar que fazia o enterro
dane diz:
pensei que merda
dane diz:
esse povo morrendo e eu esperando o wesley trazer minha carteira
dane diz:
e algo mais talvez
dane diz:
de repente alguem abre a porta de plastico
dane diz:
toquinha branca, rosto suado, cansado,
dane diz:
o roupa azul suja de sangue, as maos molhadas
dane diz:
oi daniele
dane diz:
oi... é obrigada por me ligar...
dane diz:
de nada, virou as costas e entrou
dane diz:
fui andando em direção a saida remoendo tudo isso
dane diz:
e querendo me recolher na minha ignorancia
dane diz:
dei aquela ultima olhada naquelas pessoas e sai
dane diz:
vim caminhando devagar, pensando na suanita, no cabelo roxo
dane diz:
pensei na viagem, na sacola que eu queria
dane diz:
fui olhando as lojas, as vitrines
dane diz:
uma loja de embalagens vendia o tecido, que na real é nylon, do qual a sacola é feita...
dane diz:
oi, voce tem sacolas desse tecido, sacolas de feira?
dane diz:
nao, mas tem uma loja ai pra frente que vende um monte de bagulho e lá deve ter...
dane diz:
bah, a sacola que eu quero... fiquei animada...
dane diz:
passei atras do terminal do portao, um cara muito loco cantando
dane diz:
noite cumprida, muié bandida, nao sei se gosto dela, nao sei se fico cum ela...
dane diz:
me parti de dar risada...
dane diz:
a cena, muito hilaria,
dane diz:
o cara com o carrinho de catar papel, super empolgado,
dane diz:
tampava o ouvido com uma mao, como aqueles que procuram se ouvir pra nao errar o tom....
dane diz:
e fala da tal noite cumprida e da muie bandida
dane diz:
fui rindo e andando
dane diz:
dai vejo uma faixa, na frente de um restaurante
dane diz:
sexta do espeto com moda de viola
dane diz:
porra, moda de viola, fiquei imaginando aqueles senhores distintos bebendo, comendo e tocando a tal moda de viola
dane diz:
senti vontade de ir la, conhecer aquelas pessoas, levar a suanita junto
dane diz:
lembrei da serenata que voce fez pra ana, pensei em fazer uma pra suanita
dane diz:
andei, andei, andei feito estatua...
dane diz:
chega entao a tal loja de badulaques, e cara a sacola estava lá!!
dane diz:
linda ...
dane diz:
fiquei olhando a sacola, imaginando carregar meus materiais de pintura nela
dane diz:
ei vim pra casa,
zumbi diz:
pq vc ao invéz de pintar vc não escreve?
dane diz:
e lembrei que as vezes a vida fica so passando como ferro que so passa
dane diz:
escrever...
dane diz:
mas acabei de escrever um monte pra ti
zumbi diz:
mas então, o cara te devolveu a carteira?
dane diz:
sim
zumbi diz:
pô, vc escreve bem ein...acho a vc deveria escrever...acho q o seu talento é escrever
zumbi diz:
se vc montasse um desses blogs acho q seria um sucesso
zumbi diz:
por q vc não começa a escrever mais a sério
zumbi diz:
tipo, para escrever um livro, ou sei lá
dane diz:
nossa, elogios vindos da sua pessoa sao uma honra!
dane diz:
é, quem sabe...
dane diz:
acho que sou afim de montar um blog
dane diz:
quando voltar de sampa eu faço isso
zumbi diz:
faça mesmo...eu seria um leitor seu
dane diz:
ok...
dane diz:
farei
zumbi diz:
e ontem ein...q piração...foi uma das melhores noites q eu passei com alguém
dane diz:
digo o mesmo
dane diz:
foi muito bom, muitoooo bom
zumbi diz:
digo o mesmo
dane diz:
me da um beijo entao
zumbi diz:
beijo no msn não tem graça...só ao vivo...mas, posso dizer q gostaria muuuito de te um beijo
zumbi diz:
muuuuuuuuuuuito
dane diz:
que pira
dane diz:
to tomando cachaça...
dane diz:
uma isaura que sobrou da minha "festinha" na casa di bel
zumbi diz:
hummm...dilicia!!!
dane diz:
so falta acender um cigarro e ir pintar
zumbi diz:
heheheheh...ou escrever
dane diz:
pode ser
dane diz:
mas vem ca, serio mesmo... nao ta tirando uma onda com a minha cara??
zumbi diz:
claro q não né...estaria tirando se eu falasse q vc deveria pintar pq vc pinta pra caralho sendo q eu nunca vi os seus quadros
dane diz:
enfim, nao foi isso q eu queria ouvir... vc podia estar tirando pq eu escrevi muito
dane diz:
e uma pessoa pode escrever muito, e escrever muito
dane diz:
ou escreve muito e escrever lixo
zumbi diz:
vc não pode querer ouvir de mim só coisas q vc esta a fim de ouvir...vc tem q entender as coisas q eu falo, no bom sentindo das significações, pq as coisas q eu falo não são para te incomodar no mal sentindo...vc não pode ser tão egoista a ponto de querer ouvir só o q vc quer ouvir...as vezes eu falo as coisas e não penso se as pessoas vão levar para um lado ruim, enfim, eu gostei do q vc escreveu
zumbi diz:
...fora alguns lugares comuns q é normal de quem gosta de admirar as coisas belas da vida
dane diz:
nao
dane diz:
precisa
dane diz:
se
dane diz:
alterar
zumbi diz:
mas é claro q eu li o q vc escreveu com a intenção de saber o q aconteceu...acontece q vc relatou tudo isto de uma forma tão apaixonada q eu me empolguei e falei q vc deveria escrever
dane diz:
tudo bem...
dane diz:
voltemos a cadeira
dane diz:
picasso dizia isso
dane diz:
eu pinto tudo
dane diz:
mas sempre vejo a cadeira

curto e grosso (em homenagem ao Cacaso, a Ana Cristina César e ao Chacal)

I

O silêncio da rua é o ronco
por que enquanto dorme a noite
há carros ainda acordados.

II

Já pensou em não casar comigo?
Pensei isto agora.

quarta-feira, agosto 04, 2004

Com a cor do tijolo construí uma morada para a minha timidez. No muro alguém pichou que me amava. Não conheço a pessoa, mas me apaixonei pelo corpo pichado. As pessoas que dão a possibilidade de serem rasuradas suportam as palavras mais pesadas.

Ainda relutei em pintar no branco um “eu também”.

terça-feira, agosto 03, 2004

Deitado em sua pele.
Deitado em todas as peles.
Deitado em mim.
Deitado em mim.

segunda-feira, agosto 02, 2004

É uma necessidade do sol queimar-se a cada fiapo de tempo. O meu corpo não tem esta necessidade, mas a deseja. A saliva das coisas amarga ou adoça de acordo com o humor do espaço. A areia não decide nada sobre o seu próprio corpo, as imagens não decidem em quais olhos irão parar. Os meus sentimentos pertencem a uma parte de mim sobre a qual não posso atear fogo. O meu destino não me pertence, assim como não pertence ao fogo a vontade de queimar.

Queimar é para os poucos que ignoram as provas do existir.

sábado, julho 31, 2004


Eu de uma forma expressionista (adorei a brincadeira juju)
Poesia da semana

As aranhas

Nas casas em que as crianças morrem
Entram pessoas velhíssimas.
Sentam-se na ante-sala
A bengala entre os joelhos negros.
Escutam, balançam a cabeça.

Todas as vezes que a criança tosse
Suas mãos se agarram a seus corações
E formam grandes aranhas amarelas
E a tosse esgarça-se no canto dos móveis
Alçando-se, mole como uma borboleta pálida
E se choca contra o teto pesado.

Sustentam vagos sorrisos
E a tosse da criança pára
E as grandes aranhas amarelas
Descansam, trêmulas,
Sobre o cabo de buxo polido
Das bengalas, entre os joelhos duros.

Depois, quando a criança está morta
Levantam-se e partem para outra...

(Boris Vian)
(trad. Ruy Proença)

sexta-feira, julho 30, 2004

Naquela altura de árvore é que eu conseguia me ver abrir as folhas dos dentes. Arrastar os brinquedos depois da tarde de quintal é uma cruz que se carrega sorrindo. As costelas dos bichos, quando estes se espreguiçam, sorriem. Os insetos, quando batem as asas para fazerem barulho, sorriem. O doce, quando depõe o amargo, espera outro gosto para sorrirem juntos. Eu ando sem gosto, textura indefinida, por isto sozinho eu sorrio de tudo que eu provo. O asfalto sorri para o sol quando ele nasce. Eu sorrio para a lua quando ela me deflagra. Eu sorrio para a poesia quando ela me esconde da lua. Eu sorrio para o mundo quando ele percebe que está sendo observado. Eu faço o meu corpo sorrir quando tenho a nítida sensação de que ele não existe.

quinta-feira, julho 29, 2004

A mosca que masquei de sobremesa, a mesa posta para os gafanhotos do céu da boca, a plantação de sangue da minha língua, a terra molhada de lágrimas da minha retina, as unhas amarelas de tanto fumar, o sabor de húmus das ondulações do ar, o meu corpo se espreguiça ao torcer as porções nervosas que ainda não sentem, o umbigo mostra a língua para os que não me admiram, os besouros do fígado aplaudem o próximo gole, as minhas pernas não andam como pede as joaninhas dos coágulos do cérebro, as formigas que rodam as esquinas do estômago, a aorta vomita medo a todo instante, o jardim de fel das cozinhas dos rins, as nódoas das paredes do que ainda não aderiu, as corcovas de espanto do intestino grosso, a morada do escuro no meu corpo interno.

Encarei o avesso com álcool e pedi mais uma porção de aranhas para o jantar.

 

Depois de encarar o avesso, nenhum veneno em meu corpo conseguiu vingar.



quarta-feira, julho 28, 2004

Como construir o céu em dia de estrelas?

segunda-feira, julho 26, 2004

Sempre numa cadeira de rodas, trabalho sem ao menos cumprimentar a calçada. Urge ser o computador e transformar pedras em faíscas de imagens. Na cozinha, o café é um metal usado. Enferrujar faz parte deste trabalho. Pulsar o coração a hora que quiser é uma virtude que se aprende quando se tolera todo tipo de óleo.

quarta-feira, julho 21, 2004

Os móveis encobertos pela capa plástica são noivas à espera de um altar.
Os tacos do piso rabiscado pelos movimentos de um tempo que nunca foi meu.
A casa cimentada por um olhar fechado.
Os livros quietos nas caixas da mudança.
Resolvi encaixotar-me em mim.
 
(Luis Alceu, isto aí que eu acabei de cometer foi inspirado pela nossa conversa de ontem. Se por ventura ler, um forte abraço.)

segunda-feira, julho 19, 2004

Eu não sirvo para você, eu sirvo para o mundo, por que o mundo ainda me aguarda e você nunca me aguardou. Eu não espero o melhor momento, eu faço. Se for para perder eu perco, se for para ganhar eu ganho, se for para entender eu entendo. Nunca fui bem tratado, com honrarias e pétalas de rosas no ar do meu destino. Assim, eu não paro, não pela esperança da glória, mas pela convicção do próximo momento.
 
Se o amor me enganou é por que eu precisei ser enganado.

sexta-feira, julho 16, 2004

Acho que os versos a seguir definem bem o que aconteceu ontem.
 
"A vida leva e traz.
A vida faz e refaz.
será que quero achar
sua expressão mais simples?"
 
(josé miguel wisnick)

quinta-feira, julho 15, 2004

Sou como a chuva quando as pessoas não querem se molhar nela.

(eu e bruno oliveira)
desculpa esfarrapada à alguem que gosto demais (isto em menos de um mês)

Odiava chegar em casa atrasado. O meu horário era marcado pelas piscadelas que as sombras usavam para distrair meu sono. Chegava atrasado e perdia o final do desmaio. Chegava atrasado e me perdia. Atrasava a minha vida com desleixos atrasados, com observações atrasadas, com sentimentos atrasados. Chegar atrasado implicava em mimeografar tudo que foi vivido na noite. A noite tem uma hora para acabar e eu percebo quando ela me deixa sozinho. Eu sei quando a sua sombra não mais me distrai. Daí eu me submeto às cavernas artificiais de luz pela metade. É a partir da tristeza que a felicidade se revela plenamente. Hoje senti o meu edredom como quem sente a mão esquentar na água da torneira. A minha pele agradecia à minha suavidade programada. A lua, muitas vezes, me esnobava e hoje a olhei como quem olha para o sol a procura do seu real contorno.
"O mundo caquinho de vidro
tá cego do olho
tá surdo do ouvido"

(andré abujamra)

Pior que, no final das contas, a gente sabe por que nos tratam mal.

terça-feira, julho 13, 2004

Robert Lowell é sempre de arrepiar.

"They had died
when time was open-eyed"
(Robert Lowell)


será que eu vou tomar jeito só quando morrer?
Ainda me falta uma falta de respiração...
Marcelão, saca essa letra do Cazuza. Acho que responde as nossas inquietações (ou as minhas) de ontem. A maneira como ele procura "alcançar" a moça da poesia tem tudo a ver com a maneira com que alguns artistas buscam alcançar a arte. Ou como você disse que eles tentam alcançar. Se você estiver lendo, um grande abraço.

Blues do Iniciante

Eu traço tantos planos
Brilhantes
Antes de te ganhar num salto mortal de iniciante
Na pirraça de te ter

Por enquanto
Por enquanto

Eu miro o índio que eu sou
No teu ser e alcanço
Viagens tão óbvias
Loucuras tão sóbrias
De um iniciante
De um iniciante
De um iniciante

Aprendiz das piscinas
Tão tingidas de escuro
Aonde peixe safo eu nado até você
Até o teu mundo
Que eu também procuro
Nesse quarto sem luz
Nessa ausência de tudo
Se prepara, eu to loki
Só precisa de um toque
De um iniciante.
De um iniciante
De um iniciante

Eu faço tantos planos...

(Cazuza)
A minha solidão hoje sorriu diferente, ela doeu meu choro contindo. A minha solidão foi surpreendente, me mostrou o que eu sou quando estou comigo. Hoje chorei como quem caminha para casa. Sou aquele cara interessante, a viver com a solidão do lado, a cumprimentar os outros sentimentos de longe. A me achar bonito nos outros. Hoje a solidão me machucou, pois revelou a sua doença de permanecer para sempre nos meus olhos. A solidão me falou baixinho no ouvido as minhas dúvidas. A solidão foi cruel esta noite, ela me contou o que eu sou nos mínimos detalhes. Eu não quero isto para ninguém. Não façam como eu, não levem em consideração o que a solidão fala. Pois eu hoje ouvi a solidão e acreditei que eu não servia para nada. A solidão não mata, dá a idéia. A minha solidão se diz minha amiga, mas me faz dormir num lugar sujo com um ser humano solitário. A solidão mora em quem ela quer. As pessoas não tem a escolha de rejeitá-la. A solidão come o nosso melhor pedaço, espera os outros comerem a carniça da alma. A nossa solidão não tem calma, lambe o prato até o suco da vontade. A solidão que eu tenho eu não recomendo para ninguém, até por que foi eu quem a criou. A solidão não demora em narrar-nos o momento. A solidão nos causa sofrimento sem querer.

A solidão adulta permanece acordada, mesmo quando dormir é inevitável.

segunda-feira, julho 12, 2004

Falo com todas as partes do meu corpo, assim como a minha boca configura o objeto que eu quiser no mundo. A minha opinião insiste em dizer as palavras que sustentam a argamassa da minha argumentação. As minhas palavras existem para serem faladas...
...mas qual palavra tem dono?

sexta-feira, julho 09, 2004

para quem não tenho mais vontade de dizer que gosto

Gosto de falar palavras assim como gosto de beijar bocas. Não tenho medo da rua em dia de chuva. Escorro em todos os lados de Curitiba assim como escorro em todas as paredes que serão construídas no papel. As bocas todas esperam serem beijadas. As palavras esperam serem faladas há todo momento.

quinta-feira, julho 08, 2004

                   

                   

                   

                   

                   

                  diz













                   

                  Poema antigo hoje dedicado à parte dadaísta da exposição “sonhando de olhos abertos”.



quarta-feira, julho 07, 2004

Uma linguagem que corte o fôlego. Rasante, talhante, cortante. Essa deve ser a linguagem do poeta.

Uma linguagem de aços exatos, de relâmpagos afiados, de agudos incansáveis, de navalhas reluzentes.

Uma dentadura que triture o eu-tu-ele-nós-vós-eles.

Um vento de punhais que desonre as famílias, os templos, as bibliotecas, os cárceres, os bordéis, os colégios, os manicômios, as fábricas, as academias, os cartórios, as delegacias, os bancos, as amizades, as tabernas, a revolução, a caridade, a justiça, as crenças, os erros, a esperança, as verdades... a verdade!

Octavio Paz
sugestões para ontem

Dobro paredes e construo atalhos sem deixar migalhas. O chão do seu espaço não aceita buracos, mas se deixa engolir. As cordas de cipó da sua saliva, o suco do meu raciocínio, o copo e o bar: invento a cada piscada uma vontade de fumar. A raspa verde do musgo das minhas velharias cega os caminhos dos períodos. Beijar é um ofício inerente ao abraço. O cheiro dos momentos não envelhece. Estar com a pessoa do lado é igual à espera de estar com esta pessoa do lado. Andar com uma pessoa do lado é sobreviver aos labirintos do toque.

Dormir depois de encontrar quem se gosta é saber observar as coisas dentro de um sonho.
mudanças

Ontem à noite, o amigo Luis Alceu me alertou para o tom farmacêutico da palavra “epiderme” devidamente despencada na minha última canção. Decidi trocá-la por “o amargo e o doce”. A conversa rendeu Lulo. E a música ficou mais bamba que a gente voltando para casa.

terça-feira, julho 06, 2004

Bicho cabeludo a procura da clausura do casulo, de madrugada cuspi um futuro de borboletas. Bicho cabeludo pisando o chão como quem a passos largos pisa no próprio coração, prendi com os lábios as arestas das coisas. Bicho cabeludo ingênuo na caixa de fósforos da criança, queimei junto com o cigarro. Bicho cabeludo com úlcera de tanto tomar tempo, perdi os cabelos em função do espaço. Bicho cabeludo, queimo as carcaças enquanto não coloco a minha vontade no seu corpo. Feio e cabeludo, rumino as texturas de plástico do trabalho. Ontem eu não dormi, pois engoli minha cabeça como quem engole a vontade do sono em função de um beijo de boa noite.
Poema do dia (depois de uma madrugada inteira escrevendo monografia de administração)

O Relógio

Quem é que sobe as escadas
Batendo o liso degrau?
Marcando o surdo compasso
Com sua perna de pau?
Quem é que tosse baixinho
Na penumbra da ante-sala?
Por que resmunga sozinho?
Por que não cospe e não fala?

Por que dois vermes sombrios
Passando na face morta.
E o mesmo sopro contínuo
Na frincha daquela porta?

Da velha parede triste
No musgo roçar macio:
São horas leves e tenras
Nascendo do solo frio.

Um punhal feria o espaço...
E o alvo sangue a gotejar,
Deste sangue os meus cabelos
Pela vida hão de sangrar.

Todos os grilos calaram
Só o silêncio assobia;
Parece que o tempo passa
Com a sua capa vazia.

O tempo enfim cristaliza
Em dimensão natural;
Mas há demônios que arpejam
Na aresta do meu cristal.

No tempo pulverizado
Há cinzas também da morte:
Estão serrando no escuro
As tábuas da minha sorte.

Joaquim Cardozo

segunda-feira, julho 05, 2004

Na chuva, as pedras sorriem para a umidade dos passos. A rua molhada espera molhar quem nela pisa. Dia de chuva, as coisas se voltam a paralisar os movimentos da paisagem. Hoje, as coisas mudaram o rumo das palavras. Se não chover quando eu voltar do trabalho, um poema irá encharcar os objetos ao redor.

domingo, julho 04, 2004

Os blogs estão saindo da tela. O primeiro braço a invadir quem quer que seja será lançado pela editora barrancuda. Quando chegar em Curitiba, valerá a pena conferir.

sexta-feira, julho 02, 2004

O sorriso de uma pessoa é a lambida que um cão dá em seu dono. No seu caso não há dono de ninguém, só você a esparramar o branco dos dentes no meu rosto. No acordar das cores do estalo dos seus olhos, me acostumo a afundar. Ter um novo amor a cada semana é afundar as horas no espaço. Você é a única de um mês.

A saliva do carinho de um cão é sagrada.

terça-feira, junho 29, 2004

A poça que fica da água não tomada é como a saliva que sobra de um beijo, espera ser engolida um dia. A tristeza da evaporação está na falta que a lágrima faz em um rosto.

A felicidade está no poder de não perceber o que ficou incompleto.

segunda-feira, junho 28, 2004

Entrevista com Carpinejar

Hoje é um dia muito especial para o Blues Curitibano. Acho que vocês imaginam por que. Fabrício Carpinejar, um dos maiores poetas da sua geração, concedeu essa entrevista para vocês. Sem mais delongas, vamos ao que interessa.

O que a poesia representa na sua vida? Você escreve sobre a sua vida, sobre o mundo, sobre os objetos à sua volta, sobre tudo isto, enfim, sobre o que a sua poética fala?

Minha poesia fala das distrações, das observações desatentas, dos ruídos que são uma espécie de voz. O poema é como um rádio entre duas estações. Parece apenas barulho, mas na verdade é uma outra sintonia. É necessário apenas se aproximar, duvidar que somos a realidade, somos a tentativa da realidade. Minha boca tem os músculos do ouvido.

O que você tem a dizer a respeito da sua forma poética? Ela estaria na contramão da forma com a qual a maioria dos escritores está escrevendo?

Há um autor francês, Gautier, que dizia que a forma poética não pode ser um sapato frouxo, que serve para todo pé. Não me preocupo com a forma, mas com o que a faz caminhar. O que faz a forma caminhar é o pulmão. Procuro o rigor da espontaneidade. Penso em meus poemas como conversas derradeiras, fluviais, feitas com a mesma coerência secreta de alguém que conta segredos. Poema se respira mais do que se lê. É oxigênio para o leitor não reduzir sua memória ao que viveu, porém ao que aconteceu em sua imaginação.

No seu último livro “cinco marias” senti em algumas das poesias ali apresentadas, uma forte influência do pensamento heideggeriano. Fale um pouco da influência que você tem da filosofia e o que ela representa na sua poesia e na sua vida.

Poema é feito para incomodar, inquietar, desacomodar lugares-comuns. É agilidade que só a comoção pode incutir. Eu fui criado para pensar o avesso, a filosofia do trivial. Morei grande parte de minha vida ao lado de um terreno baldio. Sabia pela visita das aves o que havia acontecido no local. Não adianta somente fazer enxergar a música no poema, cabe fazer pensar o desejo. Eu habito a linguagem como quem não aprendeu a falar. Minha ignorância é abençoada. Duvido até do meu nascimento.

Qual sua opinião sobre a literatura feita hoje no Brasil?

O Brasil tem que se salvar do Brasil. Não se preocupar em produzir uma literatura brasileira, mas fazer literatura apenas, para ser lida em qualquer idioma, em qualquer tempo.

Você diariamente escreve no blog que há no seu site. Gostaria que você falasse a respeito desta forma de apresentação de textos. Como é escrever no blog e como é escrever para uma publicação editorial? Para você, qual é a importância dos comentários que são feitos no seu blog?

Eu escrevo no blog mais para ler o leitor do que a mim mesmo (risos). Acho que há toda uma narrativa feita no espaço dos comentários, mostrando que não há recepção passiva. Toda palavra já é intervenção, interferência, fome. Utilizo aquele espaço para não o utilizar. Não é um fim, mas um destino. Apresento crônicas, poemas em prosa, confundo o que vi e imaginei para não me aposentar em juízos. Há ali várias séries: minha infância não atravessa a rua sozinha ou o homem não é o mesmo, mesmo que se repita. A internet permite o convívio, o medo alegre do desconhecido.

O que é uma boa poesia, na sua ótica?

Boa poesia é aquele texto que a gente nem repara que foi escrito, parece que apenas pensamos em voz alta. É conciliar imagem, música e idéias. Quanto mais invisível o poeta, melhor o poema.

No seu blog há um texto a respeito de Curitiba. Como um curitibano chato que sou, gostaria que você falasse a sua opinião sobre a cidade e (não poderia perder a oportunidade) sobre Paulo Leminski.

Leminski é da mesma linha de um Quintana: o poeta que não se leva a sério, porque tem mais coisas para fazer. Ambos encontraram o encanto no desencanto. São autocríticos vaidosos. Adoram se destruir como um elogio. Sobre Curitiba, deixo um texto:

Um careca em Curitiba

Curitiba é cinza. Como um terno azul dobrado. Cidade que muda seu tempo de repente, ficando somente entre a neblina e o nublado. Curitiba é Jamil Snege, mas ele já tinha ido, com seu medo bem antigo de chuva. Não foi avaro, não deixou bilhete de suicida, mas uma estante que nos permite atravessar a velhice sem enganos. Jamil não viveu a velhice para criá-la. Morreu lutando, com sua predileção pelos pálidos, pelos cabides de roupas mal passadas, por aqueles que nasceram em desavença, por aqueles que têm uma única nota para atravessar a imensidão de um dia.

Dos dias da semana, Curitiba é domingo. As mulheres parecem não rir. Não é fácil furtar um riso. Encolhidas, fazem com que o outro seja insignificante perto delas. Elas acertam comigo: eu sou mesmo insignificante. Curitiba é uma cidade inventada para se correr, mas o engarrafamento não deixa. As ruas usam roupas de grávida, largas e diagonais. Os ônibus contam com preferência para abrir as artérias. Paga-se passagem no terminal. Não dá para passar debaixo na roleta ou descer por trás. Isso mata a infância sem querer. As pessoas esquadram o vazio, introvertidas. São funcionais, não perdem atenção com informações desnecessárias. Nada parece ser importante o suficiente para que elas possam sair de casa (ou de si mesmas). Ser caseiro em Curitiba é uma missão. Amigos se encontram se forçados por visita de família distante. Encomendar uma pizza é obrigatório como levar o cachorro para passear. Quem escolhe Curitiba nunca adere de paixão. Não vi nenhum adesivo como "Eu amo Curitiba" nos carros ou em lojas. É um amor discreto, platônico, que não se declara nem sob tortura. Curitibano só começa a ser valorizado se fizer sucesso fora. Morar em Curitiba é ficar a duas quadras das convicções. Não é possível se sentir inteiramente no seu território, nem fora dele. Cidade de autores, não de leitores. Ninguém vai parar um escritor e solicitar um autógrafo, ainda que seja Paulo Coelho. Residir em seus limites é exercitar a invisibilidade. Sinto atração pelas suas dificuldades de relacionamento, mas levaria mais do que minha literatura para investigá-la. A cidade é bonita e fosca quando se atravessa as sinaleiras. Equilibrada, ordenada em excesso, perfeita a ponto do caminhante pensar que ele é o erro. É doce, mas com licor dentro. O rio Belém espia com seus obituários e velhos conhecidos, pouco compreendendo o que aconteceu. Passa receoso de incomodar e reprime suas histórias. Curitiba é uma cidade além de si. Os moradores esnobam obediência ecológica. Não pisam na grama e nas certezas. De acordo com Cristovão Tezza, as obras em Curitiba foram feitas para caber num selinho: Jardim Botânico, Ópera do Arame, Museu Niemeyer. Lerner viciou a fórmula, envolvida em verde, água e estruturas metálicas e de vidro. O modelo é sempre igual, transposto de bairro. Japoneses e chineses aparecem das moitas para fotografar. Nunca encontrei tantos parques arborizados de nuvens. Poucas bicicletas, o hábito é fazer caminhadas e leves corridas. A casa de Dalton Trevisan é cinza como Curitiba. Fechada para dentro. Nunca abre as janelas. Ele mora numa esquina. As corruíras são correias de seus telhados. Anônimas como as pombas. E rápidas.

Agora, como de costume, você deverá fazer uma pergunta ao entrevistador.

Tua poesia é uma forma de agradecer “quem te fez menos feliz”?

Resposta: Minha poesia não agradece a ninguém. Não agradeço escrevendo, mas sim com os músculos do rosto quando estes espremem o que não precisa compor a minha felicidade. A poesia que atualmente escrevo é feita para amanhecer retinas. Isto, para mim, não é uma forma de agradecer alguém, mas sim agradecer o mundo por ele existir e não parar de existir. E existir significa desenhar por cima de um desenho. Quem vive sem poesia, perdeu de desenhar toda a paisagem que o papel esperava conter para não ser mais um. Quem me fez menos feliz, hoje tento não hospedar em mim. Pois não são os que me fizeram assim que querem roncar na minha lembrança, mas o próprio passado configurado em boca e verbo que tenta me encher até me explodir. Tento escrever a partir do que sou agora e não do que eu já fui um dia. Mesmo quando falo do passado, falo através do que sou no exato momento que escrevi. A minha poesia sou eu. Escrevo para mostrar o que sou predestinado a mostrar. Não faz muito tempo, costumava a escrever através das notas de rodapé do meu passado infeliz. Aquilo era para acalmar meu ego. Destilar os desafetos do passado é uma forma de se esconder. Acredito que hoje acontece tanta coisa na minha vida que merece ser assinada, que o meu passado triste perdeu o lugar na fila. Hoje, quando escrevo, penso demais nos leitores. Eu quero que as pessoas amanheçam ao lado da minha poesia. As pessoas nos reconhecem, Fabrício, como um dono reconhece o seu cachorro (há anos perdido na cidade). O nosso olhar está ali, assim como o nosso jeito de chorar. A minha poesia não agradece. A minha poesia obedece ao fluxo que o mundo impôs às pessoas que respeitam o existir de uma forma plena.


sexta-feira, junho 25, 2004

Estrangulo a vaidade se for preciso. Se ela não fala, eu ligo as coisas boas em mim. Assim, dou partida as correntes de ferro da minha circulação e a beijo. A boca é a entrada dos sentidos. A língua, a descarga elétrica das noções. Não cuspo no asfalto em que pisei. Na volta, enfeito o caminho com o conteúdo de uma garrafa de vodka. Depois da nossa noite não precisaria mais beber,

o chão da rua bocejava a procura de um gole de álcool jogado fora.

quarta-feira, junho 23, 2004

Durmo de bruços nos nossos dias. Olho para cama como olhava para o espelho d’água do asfalto. Quando me vejo deitado, quando sei que está sentada relando a mão na minha coxa, quando o céu cair e eu não ficar sabendo, estarei de bruços me submetendo à você. À noite, a vida não foi feita para ficar sabendo de alguma coisa. À noite, a vida foi feita para nos distrair e para não ser de qualquer vida. O sexo nunca foi vida, na noite nada tem vida própria. A noite é uma vida invejosa que suga as outras para sobreviver.

terça-feira, junho 22, 2004

A palavra amor tem a mesma gravidade do arrependimento. Hoje em dia não dá mais para dizer que se ama, assim como não dá mais para dizer que se pegou gripe. O medo de amar está na vontade de se afastar daquilo que é doente. O medo de falar está na velhice mal acabada que se desenvolveu na infância. A boca não dá tréguas ao infeliz que não sabe amar. A boca fecha portas ao mal amado. Nada pode ser pior do que não escutar a voz da pessoa que se ama. É na cor do tom da voz que se sabe quando se mente ou não. Desconhecer a realidade é ser um analfabeto das imagens do mundo. Não admitir que se é amado é perseguir a si mesmo num mundo analfabeto. Não amar é ser um analfabeto em sentir tudo.

segunda-feira, junho 21, 2004

Depois do almoço

É preciso escrever em todas as folhas da paisagem. Sujar o espaço com o tempo e com o verbo. Apagar com letras as cores dos conteúdos. É preciso tomar a água do seu fruto. Engolir a seco cada pedaço de imagem. Dormir em cima de tudo, encaixar a cabeça sobre o que já nasceu. É preciso morrer no próximo minuto e tornar célebre o momento da palavra. É preciso esquecer as horas e desenhar o percurso da velhice. Amar as suas marcas, entender o grito da pele. É preciso deitar depois do almoço e fazer a digestão do mundo através de um filtro de sonhos.

sexta-feira, junho 18, 2004

tempestade em copo d'água

Você some como some o azul da água ao tirar o copo da foto. A realidade úmida do molhado não tem cor. Por isto, aqui na chuva, fecho os olhos para ver suas cores. Quando acaricio o tapete da minha pele um caminho de tempo rasga o pavio da noite. Hoje acendi o cigarro com o sopro de um estalo de nuvens.

quinta-feira, junho 17, 2004

gripe

Media com os olhos as coisas do mundo, hoje meço com o sabor. Com o meio-amargo das palpitações dos músculos de sentir. Eu encontrei uma janela aberta na noite quando olhei sua boca. E fechava a veneziana olhando suas pálpebras serrarem. Cavava buracos no seu ego. Escondia minha força de guindaste ali, no amontoado de barro dos seus sonhos. Erguia, pedaço a pedaço, cada lado da minha vontade. Quando aprendi a dizer “eu te amo”, tive a idéia de suicídio. Quando aprendi a entrar em você, tive a idéia de só matar uma parte de mim. Só a carne minha que era você valia a pena. E como podar as ilusões em noites de outono? É como esperar o inverno na frente do papel. É como chorar em silêncio a trilha do último momento. É como filmar o seu rosto e apagar a fita
na esperança de um único segundo ao vivo.

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