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sábado, julho 31, 2004

Poesia da semana

As aranhas

Nas casas em que as crianças morrem
Entram pessoas velhíssimas.
Sentam-se na ante-sala
A bengala entre os joelhos negros.
Escutam, balançam a cabeça.

Todas as vezes que a criança tosse
Suas mãos se agarram a seus corações
E formam grandes aranhas amarelas
E a tosse esgarça-se no canto dos móveis
Alçando-se, mole como uma borboleta pálida
E se choca contra o teto pesado.

Sustentam vagos sorrisos
E a tosse da criança pára
E as grandes aranhas amarelas
Descansam, trêmulas,
Sobre o cabo de buxo polido
Das bengalas, entre os joelhos duros.

Depois, quando a criança está morta
Levantam-se e partem para outra...

(Boris Vian)
(trad. Ruy Proença)

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