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Blues Curitibano
quarta-feira, dezembro 24, 2008
segunda-feira, dezembro 22, 2008
Ocorrência
O que ocorre é que uma estranha textura de húmus percorre a superfície do pensamento o que ocorre é que uma nuvem de cimento e cal desaba concreto sobre o pensamento o que ocorre é que os acidulantes não percorrem a corrente sangüínea do pensamento eles dão gosto aos vazamentos destes vasos o ocorre é que o gosto de saliva não tem mais gosto de saliva para o pensamento o que ocorre é que o sabor da carne secou dentro do sistema digestivo o que ocorre é que um porta canetas antes era uma lata de refrigerantes o que ocorre é que a televisão é um diálogo de mão única o que ocorre é que a televisão não é um diálogo mas um condicionador o que ocorre é que os condicionadores deixam os meus cabelos mais oleosos o que ocorre é que as imagens pornográficas nunca me causaram arrepios na espinha o que ocorre é que você também pode completar as lacunas o que ocorre é que você pode continuar escrevendo com este início o que ocorre é que as lixas de unhas duram o tempo suficiente para que se perceba que elas são inúteis o que ocorre é que este texto é extremamente inútil o que ocorre é que é justamente nas lacunas impressas pela inutilidade que o pensamento pode se espalhar descansar repensar repensar repensar o que ocorre é que o meu pensamento tá folgado demais
domingo, dezembro 21, 2008
(para Aninha e Jaques)
Há um amigo de vocês
Que aprende a passos de tartaruga.
Sim, ele agüenta o mar e suas ondas
Sim, ele tenta não ser
Cegado pelo sol.
Todo dia este amigo volta da água
Pra contar com outros amigos
Que sabem que ele ainda
Não atravessou nenhum oceano.
O amigo chora quando entende
Que falou besteira
O amigo chora quando entende
Que atravessar oceanos
Talvez seja uma besteira
O amigo chora quando entende
Que a sua vaidade o afogou
Em besteiras.
Este amigo arrependido
Volta para o mar
Já no fim da madrugada,
Para enfim morrer
Afogado
Mas é justamente
Lá dentro, meus amigos,
Que ele respira.
quarta-feira, dezembro 17, 2008
As personagens passam um tempo olhando uma pra cara da outra, girando um isqueiro no centro de uma mesa (ou outra superfície qualquer)
A - Você não vai falar nada?
B - Não. Não quero falar
(pausa)
A - Eu nunca te pedi para fazer aquilo
B - Aquilo o que?
A - Aquilo...você sabe (apenas mexe os lábios)
B - Eu não fiz isto...
A – Como não?
B – Não fiz nada disso que você disse que eu fiz...
A – Eu disse?
(pausa)
B - você me forçou a contar uma coisa que eu não fiz
A - Claro que fez! Não seja hipócrita!
(pausa)
A – Desde que começamos a jogar o jogo da verdade aqui nesta (interrompendo B) Não fale mais nada a respeito...você jogou fora toda uma vida por causa de uma (apenas mexe os lábios) eu não consigo entender como uma pessoa como você que (apenas mexe os lábios) e depois conseguiu (apenas mexe os lábios) pode falar uma coisa daquelas pra mim...
B – Você me forçou a falar aquilo...
A – não! Você queria falar aquilo.
B – Você me obrigou!
A – Estava entalada na sua garganta
B – falou que iria contar que eu (apenas mexe os lábios)
(pausa)
A – Sim, eu poderia contar o seu segredinho...sua...
B – Não comece
A – Você é uma hipócrita mesmo...eu sabia que eu nunca poderia jogar o jogo da verdade com você
B - A única mentira que eu contei foi o que você me obrigou a contar...
A – Pare com este cinismo...
(pausa longa)
A – Por que você perguntou se eu já dei o cu?
B – Ué, jogo da verdade é pra isto, não é? Para constranger as pessoas...
segunda-feira, dezembro 15, 2008
De repente
Pessoas cantam nas ruas
Falam poemas, dançam,
Oferecem flores em forma de
Palavras
O dia escorre como um
Banho de cachoeira
De repente uma bomba
Estilhaços
Um anoitecer que
Chega às pressas
Um senhor fardado
Pedindo o RG, o CPF
O endereço completo
De repente lhe oferecem
Máscaras de oxigênio
De repente palavras
São justamente aquilo
Que não se pode
Falar
De repente já é outro dia
E tentamos a todo custo
Em meio aos cacos
Buscar um sentindo.
segunda-feira, dezembro 08, 2008
19:00 h - Monólogo: AS NOIVAS
Com: Helena Portela - Autor: Alexandre França - Direção: Verônica Rodrigues
19:45 h - Leitura do poema Sorex e Minustah
19:00 h - TEATRO
Na verdade não era o sinal de vai tomar…
Com Direção de Nina Rosa Sá, peça de Luiz Felipe Leprevost.
LEITURA POÉTICA - Poemas: Fernando Montalvão
Interpretação: Mara Mocrosky - Com: Lila Montalvão e Ronald Magalhães - Direção: Fernando Montalvão
19:00 h - APRESENTAÇÃO MUSICAL
Alexandre França – Anaís Monte Serrat Magalhães - Bárbara Kirchner – Eduardo Mércuri - Ilse de Freitas - Luiz Felipe Leprevost -Octávio Camargo - Ronald Magalhães -Thadeu Wojciechowski
ENTRADA GRATUITA
quinta-feira, dezembro 04, 2008
I
Fumar causa
câncer
de pulmão
II
Fumar causa
câncer de boca e
perda dos dentes
III
Fumar causa
câncer
de laringe
IV
Fumar causa
aborto
espontâneo
V
Fumar causa
impotência
sexual
VI
Esta necrose
foi causada
pelo consumo de
tabaco
VII
Ao fumar você inala
arsênico e naftalina
também usados contra
ratos e
baratas
VIII
Crianças que convivem com
Fumantes
têm mais asma,
pneumonia
sinusite e
alergia.
terça-feira, novembro 25, 2008
segunda-feira, novembro 10, 2008
quinta-feira, novembro 06, 2008
Me preocupa saber que
A frase “as pessoas morrem
De fome no mundo inteiro”
É há muito um clichê e
Que são lançados 70 milhões
De toneladas de gás carbônico
Na atmosfera todos os dias e
Que as grandes corporações (e
Até mesmo os Estados Unidos)
Não estão nem aí para
O futuro do planeta e
Principalmente
Me preocupa mais
do que tudo saber que
Uma população inteira acha
O máximo o jargão de auto ajuda
“Yes, we can”
sábado, novembro 01, 2008
"The Politics of ecstasy are real
Can't you feel them working
thru you
Turning night into day
Mixing sun w/the sea?"
Jim Morrison
"Os políticos do êxtase são reais
Você não sente o trabalho deles
Aí dentro
A noite revelando o dia
O sol misturado ao mar?"
(a tradução literal dos dois últimos versos seria mais ou menos assim: "transformando a noite em dia/ Misturando o sol com o mar?". Mas achei que ficaria mais poético evidenciar as ferramentas desta "política do êxtase", ao colocar os "resultados" dela e ainda insinuar ser a noite um dos "políticos do êxtase")
quarta-feira, outubro 29, 2008
segunda-feira, outubro 27, 2008
ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE UMA TRADUÇÃO
PALESTRA-RECITAL SOBRE A POESIA DE CHARLES BUKOWSKI
E LEONARD COHEN
COM
FERNANDO KOPROSKI
MÚSICOS CONVIDADOS:
ALEXANDRE FRANÇA
CARLOS MACHADO
Programação:
28/10 terça-feira 14:30-16:30
Palestra: a poesia de Charles Bukowski
Recital: poemas de Charles Bukowski traduzidos por Koproski
Música: Alexandre França
Local: Biblioteca Pública do Paraná - Auditório Paul Garfunkel
29/10 quarta-feira 14:30-16:30
Palestra: a poesia de Leonard Cohen
Recital: poemas de Leonard Cohen traduzidos por Koproski
Música: Carlos Machado
Local: Biblioteca Pública do Paraná - Auditório Paul Garfunkel
Promoção BPP
Rua Cândido Lopes, 133, Curitiba 3221-4900
sábado, outubro 25, 2008
Enchente
(Lique/ Amarildo Anzolin)
Vim de lá
Correndo, só pra te contar
Que o mar invadiu toda cidade
E a tempestade que virá, de lá
Na certa pode carregar os sonhos
Quanta água invade
Nem dá tempo de pensar
Me atirei no mar, onde o meu amor morreu
Só mágoa e eu...só mágoa e eu
Vem olhar!
Só vendo dá pra acreditar:
De amar, morreu a tranqüilidade
E há tempos há tardes em que não há
Lugar para o meu peito descansar
De tudo que me traz esta saudade
E essa vontade de lembrar
Quem me esqueceu
Me atirei no mar, onde o meu amor morreu
Só mágoa e eu...só mágoa e eu...
Virá, meu Deus! Do fundo do mar
Uma onda linda pra me salvar
E lavar a ferida que a vida tem
Que apagar.
quinta-feira, outubro 23, 2008
Um garoto apanhando feito
Carne na tábua há uma quadra de mim
Não um menino de rua como querem
Os que escrevem sinopses de dvd
Um garoto de classe média
Que poderia ser um menino de rua (aqui isto não importa tanto)
Com suas roupas escolhidas
Pela mãe
E seus gestos inspirados
No pai
Seus olhos são faróis do medo
Em uma rua escura e indiferente
Ele não pede ajuda apenas
Se encolhe em posição fetal
Na esperança de nascer com
Outra cara, em
Outra cidade, em
Outro hospital
Terminado o desfile de
Pontapés, socos, insultos e cuspes
Chego mais perto, dou-lhe a mão
Ele recusa dizendo “tá tudo bem”
Pergunto “quem eram estes caras?”
Ele diz “eram meus amigos”
Seu maxilar está torto, o rosto sangra,
Perdeu alguns dentes
Eu digo “eles não são seus amigos”
Ele diz “é, eu sei. Eles ERAM meus amigos”
O garoto sai destruído e aliviado
Pensando, acredito eu
“por que não morri de uma vez?”
vou para o bar da esquina
os agressores estão lá
bebendo e sorrindo
comemorando sei lá o que
e eu poderia mata-los
um por um com uma foice
se eu não tivesse nascido
tantas e tantas vezes se
eu não tivesse surrado
garotos da minha idade
na época em que surramos e
somos surrados
se eu não quisesse morrer
agora, ali, neste exato
instante.
Quinta-feira, Octávio Camargo (composição e violão),
Bárbara Kirchner (canto).
— Finnegans Wake (James Joyce) 3 fragmentos. Upturnpikepointandplace/Brekkek/Finn
Canções de Thadeu Wojciechowski, Octávio Camargo e Bárbara Kirchner.
1. Capitu
2. Vale de lágrimas
3. Porto de Antonina
4. Afinado
5. Tenho pela frente a vida inteira
6. Intranquilis
7. Vendaval
8. O assinalado
9. Mesmice
10. Língua madura
11. Porta-retrato
12. Lua cheia
13. Raiva destilada
14. O poeta
15. Fanfarrão
16. Plástica
Horário: 19h30.
Local: Casa Gomm, Rua Bruno Filgueira, 850
(final da quadra, virando à direita, sentido Rua Vicente Machado - Centro).
Ingresso gratuito.
segunda-feira, outubro 20, 2008
domingo, outubro 19, 2008
sábado, outubro 18, 2008
Negativo, capitão.
Quem anda pesquisando "garota reka" no google? Quem é idiota o suficiente para formular perguntas completas ao oráculo? Seria uma ferramenta de busca a melhor opção para se encontrar garotas de programa em cidades interioranas de estados do sudeste? Quando São Paulo se tornar Sampaulo (ah, se essa reforma gramatical fosse minha), esse país acaba (ou começa, num big gang bang bem brasileiro). Hoje havia um livro sobre a reforma gramatical no caixa da livraria; nove reais é o preço da nova língua. Alguém vai comprar? Eu não. Estou conformada em me tornar a tal velhinha do Clube da Hortência que insiste em pronunciar tremas, carregar textos com hífens necessários apenas para o meu próprio ego e achar tudo o máximo (leia-se má[c]-xi-mo). O má[c]ximo foi um diálogo surreal que ouvi hoje da janela de um dos cafés do centro da cidade: uma mulher (vamos chamá-la de Lúcia e estimar sua idade em 32 anos) tentava convencer um mendigo meio ébrio (Juvenal, 39 - que recurso mais revista Caras) a deixar a vida vadia, se reconciliar com a mulher e voltar para casa. Ele pedia dinheiro e tropeçava (na calçada e nas palavras) enquanto insistia que estava limpo e que a mulher havia o expulsado de casa por loucura dela e não por limites ultrapassados por ele. Lúcia, cansada das investidas de Juvenal (que a essa altura já começava a tentar tocá-la em um dos braços a cada frase e se inclinava cada vez mais na direção do seu rosto ao balbuciar coisas incompreendíveis), atravessou a rua, mandou o cara pastar e seguiu sua vida atravessando a rua. É só isso? Sim, eu não tenho muita paciência para descrever eventos reais (divagar de verdade é muito mais rico e interessante). Na verdade foi realmente interessante e, como estava sentada ao lado da janela, pude acompanhar algo em torno de 15 minutos que podem ser resumidos em:
Lúcia: _Volta pra casa, cara. Volta pra tua mulher.
Juvenal: _ Grsjhaj limão hajmussi.
Lúcia: _ Se reconcilie com ela. Tome um banho, guarde dois dias do dinheiro da pinga e leve flores!
Juvenal: _ Ela digidusma é uhngati o preipon cramunhão.
Lúcia: _ Toma tento! Larga essa vida que não leva ninguém a lugar nenhum, rapaz.
Juvenal: _ Eu vou, eu vou. Mas tergj eu só (arroto) preciso de um (outro arroto) trocado para o ônibus até a (resmungos) casa da muié.
Tive que rir da inocência dele crendo que alguém acreditaria nisso.
Lúcia riu. Eu ri. Juvenal arrotou e encostou no braço de Lúcia mais uma vez. Lúcia diz que está com pressa e se desvencilha de Juvenal; dou outro gole no café e peço uma fatia de Bolo de Rolo.
Mas, quem diabos pesquisou "garota reka" no google?
Mais?
www.muitoazeitepoucosal.blogspot.com
sexta-feira, outubro 17, 2008
O Albert é um dos grandes fotógrafos aqui da nossa cidade e agora está com um blog, no qual publica textos, fotos, resenhas, etc. Bem legal.
confiram
www.albertnane.blogspot.com
quinta-feira, outubro 16, 2008
Uma semente literária
A Kafka Edições, editora curitibana, lança hoje cinco livros e anuncia outros projetos, que contemplam reedições e traduções
Publicado em 16/10/2008 | Marcio Renato dos Santos
Um marco na história editorial do Paraná. Assim pode ser analisado o lançamento – na noite de hoje – da Coleção Antena, com cinco livros (confira a lista no quadro ao lado), publicada pela Kafka Edições, com recursos públicos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba – Mecenato Subsidiado. Motivos para um possível espocar de fogos são muitos. Primeiro, por colocar no mercado autores que se embrenham por veredas experimentais. Segundo, pelo fato de os livros se apresentarem em edições bem-acabadas que, inclusive, convidam à leitura. E, ainda, porque a editora anuncia novidades para um breve porvir.
A Kafka nasceu a partir de uma inquietação do escritor paulistano radicado em Curitiba Paulo Sandrini, há três anos. Naquele passado, ele decidiu publicar autores locais que, de outra forma, permaneceriam inéditos. Os esforços geraram dez "livrinhos" que eram vendidos, em média, por R$ 1,50. Na época, a editora ainda se chamava Kafka Edições Baratas (daí o porquê do reduzido valor das obras) e, entre os publicados, poetas locais como Fernando Koproski, Alexandre França, Jorge Barbosa Filho, Luiz Felipe Leprevost, além do próprio Sandrini – contista que já havia publicado O Estranho Hábito de Dormir em Pé (2003) e Códice d'Incríveis Objetos & Histórias de Lebensraum (2005).
Kafkianas
O que é o projeto:
A Kafka Edições põe no mercado, e para a comunidade (bibliotecas e escolas municipais), cinco títulos, bancados com recursos públicos da cidade de Curitiba. A Coleção Antena, a ser lançada na noite de hoje, é composta pelos seguintes livros:
> Jornal da Guerra Contra os Taedos, de Manoel Carlos Karam
> Acasos Pensados, de Luci Collin Osculum Obscenum, de Paulo Sandrini
> Inverno Dentro dos Tímpanos, de Luiz Felipe Leprevost
> Arquivo Morto, de Marcelo Benvenutti.
"Mas aquele projeto inicial não contemplava, por exemplo, a distribuição. Os livros circulavam de mão em mão ou apenas pelo correio", explica Sandrini, atual coordenador editorial da Kafka. Das "edições baratas" rumo a essa nova proposta, houve a modificação do formato dos livros (de pockets para o tamanho convencional) e, ainda, outro deflagrador: "O apoio oficial". Esses cinco títulos, recém-saídos da gráfica, tiveram tiragem individual de 1 mil exemplares – metade da tiragem será destinada à comunidade, seja para bibliotecas públicas e escolas municipais como contrapartida social. Individualmente, cada livro custa R$ 20. O kit, com os cinco títulos, tem desconto e sai por R$ 60.
Sandrini – uma espécie de faz-tudo na editora, da leitura crítica ao projeto gráfico. – salienta que a Coleção Antena pode ser observada pela confluência de gerações: de um juvenil Luiz Felipe Leprevost ao veterano Manoel Carlos Karam, morto ano passado. "A coleção, inclusive, presta uma homenagem ao Karam, que praticou uma literatura de qualidade e deixou muitos inéditos." Por falar em Karam, o próximo projeto da Kafka, já aprovado pela Lei Municipal, prevê a reedição de três obras do autor, todas esgotadas: Fontes Murmurantes (1985), O Impostor no Baile de Máscaras (1992) e Cebola (1987). "Também pretendemos viabilizar traduções." Nessa primeira empreitada da Kafka Edições, a Coleção Antena, Sandrini divide a coordenação editorial com a escritora e tradutora Luci Collin (que deverá colaborar com futuras traduções para o selo).
"É preciso salientar que, muito mais do que apenas editar um autor, um livro meu, por exemplo, a Kafka tem propostas literárias amplas, como essa Coleção Antena", diz Sandrini. A editora também tem a meta de se aproximar de outros centros. A coleção tem no catálogo inicial o livro Arquivo Morto, do escritor gaúcho Marcelo Benvenutti. "O meio editorial paranaense precisa desse movimento", comenta o editor, em tom de festa e já na expectativa dos projetos futuros.
Serviço
Lançamento da Coleção Antena, da Kafka Edições. Beto Batata Alto da XV (R. Prof. Brandão, 678), (41) 3262-0840. Dia 16, às 20 horas. Entrada franca.
quarta-feira, outubro 15, 2008
Bic
Beijo roubado é domínio público
meu fogo não tem dono
se encontro um isqueiro bic
no seu bolso
pode saber - é meu
e você nem percebeu
Caneta emprestada é um risco
do telefone na agenta vazia
se você encontrou uma bic
usada na sua bolsa
tomara que tenha tinta
Mas se estiver indo embora
Pode levar o isqueiro
e a caneta que eu roubei
só não me esqueça do lado de fora
não se esqueça de me levar também
cada pessoa é o que é
cada pessoa é o fogo que tem
Márcio Mattana, França e Terence Keller
segunda-feira, outubro 13, 2008
corpos
O som do silêncio da rua
O ronco do computador
Velhos xerox empilhados num canto
Como um prédio virando cortiço
Um bairro jogado as traças
Bilhetes perdidos na estante
Outros tantos guardados no armário
E uma carta de amor inacabada
Escrita em dezessete de maio
De dois mil e cinco
Este pulmão de sopros mofados
E de suspiros e apnéia do sono
Formam a respiração do meu quarto
Logo uma falta de ar me consome
As coisas me engolem e me cospem
Num só movimento
Trato delas como o asfalto
Trata seus pombos
Não as alimento direito
Esqueço de suas funções
Me esqueço dentro delas
E só lá pelas quatro, no escuro
Me esqueço dentro de mim.
Não quero que cheguem perto
Dos corpos que enterrei.
quarta-feira, outubro 01, 2008
(ler o texto do Leprevost sobre o assunto para entender melhor o que foi falado)
(do Blog do Gilson Camargo)
Demorei para responder a este comentário, por que eu fiquei sabendo que ele existia apenas ontem, ao ouvir uma conversa do Sálvio com a Helena. Sálvio, da próxima vez comenta no meu blog para eu saber, ok?
segunda-feira, setembro 29, 2008
Do blog do Solda
Flores de Aço com Chiris e Uyara Torrente
segunda-feira, setembro 22, 2008
quinta-feira, setembro 18, 2008
Blindness
Devastador. Um filme que atira o espectador a uma verdadeira catarse no final. Durante uma das cenas mais comentadas desta produção, ouvimos uma mulher da platéia gemer ao chorar. Tudo o que foi mostrado na tela foram insinuações sonoras e visuais, nada daquele exotismo erótico típico em filmes brasileiros mais antigos. Nada no filme é óbvio. É uma sacada visual atrás da outra, desde a fotografia pontuada pelo tom esbranquiçado, até a maneira como os “cegos” do filme olham o mundo: tudo por insinuações. A atuação de Mark Rufallo e de Julianne Moore é de um realismo que arrebata (lembrando a linha de direção de atores dos outros filmes de Fernando Meirelles). Quando saímos da sala de projeções, as pessoas que lá estavam limpavam as lágrimas com um olhar brilhante, procurando não comentar mais nada a respeito. “Ensaio Sobre a Cegueira” tem exatamente este efeito, ele nos leva a uma reflexão interna sobre a natureza humana, partindo da constituição de uma nova sociedade cega. Uma cegueira branca, como se o infectado nadasse num mar de leite. A história de Saramago nos impõe esta lógica infernal de “como seria se o mundo ficasse realmente cego”. E, pelo menos nesta história, o mundo acaba bem mal, com a corrupção e o desespero aflorando em diversos setores da nossa organização social. Esta história fala sobre tudo o que tentamos esconder dia após dia com a nossa capa capitalista; sobre aquilo que ninguém quer falar, pois incomoda e muito: o individualismo. O individualismo, hoje vigente em nossa sociedade, acaba nos cegando em vários momentos. Acabamos não vendo o que acontece ao nosso redor, talvez por que há muito nós impomos a nós mesmos esta cegueira individualista (subsidiada principalmente pelo consumismo). Preferimos o nosso conforto a confrontar qualquer espécie de adversidade social. Enfim, um filme necessário sobre uma história necessária. Se “Ensaio Sobre a Cegueira” não é tão bom quanto alguns críticos por aí pregam, pelo menos (o que já é muito) ele propaga uma história genial que ainda vai mexer com a cabeça de muita gente.
terça-feira, setembro 16, 2008
segunda-feira, setembro 15, 2008
domingo, setembro 14, 2008
Nunca havia experimentado a leitura de um livro que falasse de uma forma tão simples, seca e ao mesmo tempo profunda sobre a solidão e sobre a imobilidade que às vezes nos abate através da rotina e do acomodamento. “A arte de produzir efeito sem causa” fala sobre abandono, mas o leitor só se dá conta disto depois, com o escorrer das páginas. É só depois de se estar enterrado (como Junior também parece estar) e completamente envolvido pelo enredo que se percebe que aquele livro fala sobre solidão, abandono, falta de dinheiro, falta de perspectiva e, finalmente, inanição. Li numa noite. Numa sentada. Confesso que fiquei realmente obstinado pelo livro.
Enfim, depois disto estou curioso com relação à filmagem do livro “O natimorto”, produção que contará com a atuação do próprio Mutarelli e com a deslumbrante Simone Spoladore.
sábado, setembro 13, 2008
Não vou lhe dar a mão
E dizer que está tudo bem
Acho brega
Não vou dizer bom dia pra rua
E não vou lamentar o dia
Em que estive prestes a jogar
A mobília do meu quarto pelo bairro
Não quero que você participe disso
Não quero que você reviva “momentos”
Passeando descalça pelo asfalto
Não vou atravessar a chuva
Atrás de um gole de café expresso e tragos
De um cigarro de filtro vermelho
Não vou amortecer a realidade
Nunca grite “você me paga”
Às quatro da manhã
Não acorde os meus vizinhos
Não me ameace com uma 12
Não cuspa na minha cara
Nunca vou me machucar
Com seringas descartáveis
Esquecidas na sarjeta
Da frente do meu prédio.
sexta-feira, setembro 12, 2008
segunda-feira, setembro 08, 2008
quartinho dos fundos
No quartinho dos fundos
Uma montanha de jornais velhos,
Caixas de papelão, malas de viagem rasgadas,
Baús com tralhas e cacarecos,
Brinquedos quebrados,
Bonecos sem pernas, sem braços,
Livros esquecidos,
Enciclopédias.
Será que sou mais antigo
Do que tudo o que é inútil
aqui em casa?
Lá fora cimento, cal, pastilhas
Não mastigáveis,
Insetos verdes, mutantes,
Estranhas espécies do nosso meio
Apodrecido e com os pulmões
Entupidos de fumaça, fumaça, fumaça.
Aqui no meu quarto,
Só a minha cama.
O resto passa batido.
Qual o recorde de tempo
Passado numa cama de molas
Olhando para o teto
Num quarto iluminado apenas
Pela luz da rua?
sexta-feira, setembro 05, 2008
E na Gazeta do Povo...
Conversas de bar Nicole Zattoni/ Divulgação
Wellington e Jader Alves interpretam os dois amigos freqüentadores de botecos
Publicado em 05/09/2008
Há quem diga que o que falta à maioria dos dramaturgos brasileiros contemporâneos é a oportunidade de ver como seus textos se comportam sobre o palco – uma etapa fundamental de aprimoramento. O curitibano Alexandre França pode se considerar feliz nesse quesito. Pouco depois de Final do Mês e Um Idiota de Presente, uma terceira peça sua ocupa um teatro da cidade: Habitués – O Longo Caminho de Dois Freqüentadores de Boteco, com sessões aos sábados e domingos, às 21 horas, no Teatro João Luiz Fiani (Shopping Novo Batel).
O texto, um balanço de vida feito por dois amigos alcoolistas, saiu vencedor na categoria drama do 1º Concurso de Dramaturgia realizado pelo Teatro Lala Schneider. Nesta montagem, a direção fica a cargo de Marino Jr., que buscou referências no teatro do absurdo e do cinema noir.
quinta-feira, setembro 04, 2008
Dinheiro: o grande vilão em “Cinturão Vermelho”
domingo, agosto 31, 2008
HABITUÉS – O Longo Caminho de Dois Freqüentadores de Boteco
Texto de Alexandre França
Direção de Marino Jr.
Com Jader Alves e Wellington.
As venturas e desventuras de dois alcoólatras terminais que discutem suas vidas, amores e perdas na mesa de um bar.
Sábados e domingos às 21 horas no Teatro João Luiz Fiani (Shopping Novo Batel, na Rua Cel. Dulcídio, 517).
Ingressos: R$ 20,00 e R$ 10,00.
Em cartaz até 28 de setembro.
Mais informações www.teatrolala.com
Fone 3232-4499
APAREÇAM!
sexta-feira, agosto 08, 2008
no apartamente só
vejo a manhã passar
entre o tédio e o céu
eu tento respirar bem fundo
por um momento eu tento rir do mundo
quis rir com todo mundo
carlito canta smile
eu acompanho e choro
num jogo de ato falho
eu lembro de você sorrindo
eu calo mas por dentro eu rio
rio durante o aplauso
rindo a gente canta
cantando a gente grita
gritando a gente chama
aquilo que a tristeza explica
sorrindo no final das contas
rindo a gente irrita
vamos sorrir no três
pra não haver revés
a gargalhada em dois
é um quarteto em dez por doze
com longos solos de oboé
que ninguém leva a sério.
segunda-feira, julho 21, 2008
quinta-feira, julho 17, 2008
Uma mulher, que, convidada a um "jantar artístico" em homenagem ao famoso ator do Teatro Nacional e que faz até telenovela, percebe que está, na verdade, em uma reunião de talentos medíocres. Arrependida, reflete sobre sua vida e o meio que a cerca, sob a lembrança de uma grande amiga de todos, enterrada naquele mesmo dia.
10 de julho a 10 de agosto
Ingressos: R$14,00 e R$7,00
Casa do Damaceno - Rua 13 de Maio, 991 - inf.: 3223-3809
sexta-feira, julho 11, 2008
Homem de cinqüenta – Ele me disse que a senhora esperava o próximo dia com uma resignação de cachorro. Ele me disse que a senhora ficava na porta de casa, abanando o rabo, a espera de um pouco de atenção. Ele odiava cachorros. Ele me disse que a senhora esquecia o tempo, esquecia os dias, as semanas, os meses. Ele me disse que a senhora se esquecia. Ele me disse que sentia pena da senhora e que isto o machucava todos os dias. Ele me disse que a senhora vivia aprisionada entre as suas obrigações domésticas e que aquilo o aprisionava também, muito embora a vida dele parecesse mais “interessante”. Um café, uma torta de limão, pequenas trivialidades poderiam fazer a senhora chorar, pois aquilo possuía um outro significado: aquele significado que só pode ser compreendido pelas pessoas que se esquecem num canto do passado e que se sentem aprisionadas por esta sensação. A vida dele não era interessante. A vida dele se resumia a outras trivialidades que para a senhora poderiam parecer exóticas. A vida dele possuía uma gramática fácil de equívocos e desencontros, pois o amor que sentia pelos outros era novelesco, construído a partir de uma poética romântica que se diluía num copo ácido de realidade. Não conseguia amar uma pessoa como amava a senhora. Ele me disse que não sabia bem se o que sentia pela senhora era mesmo o amor entre um homem e uma mulher. Ele gostava muito da senhora. Ele queria proteger a senhora das coisas ruins e isto o aprisionava e também aprisionava a senhora. Ele me disse que o amor que sentia pela senhora era inteiro, mas que não podia acontecer, pois ele sentia uma aversão pelo corpo de qualquer mulher, até mesmo pelo corpo de sua melhor amiga. Ele me disse que precisava livrar a senhora dele. Ele não queria que a senhora sofresse como ele sofria, muito embora soubesse que o seu sofrimento era muito maior e incalculável. Ele não amava ninguém da forma que gostaria de amar. Ele possuía aquele sonho burguês da família feliz e aquilo também o aprisionava. Ele não amava ninguém e ele não queria que a senhora sentisse o mesmo pelo resto do mundo. Ele se apaixonou pela hipótese de afastamento. (pausa) Essa foi a última conclusão da sua vida. A única forma de livrar um ser humano da dependência de depender de outro ser humano: a morte.
quinta-feira, julho 10, 2008
quarta-feira, julho 09, 2008
espelho (para Amy Winehouse)
Num piso de cimento jaz
Meu medo, meu ócio, minha pena,
Dias em jejum, beijando ana na boca
Ouvindo ana falar “não toque em nada”
Sentindo pedras de sal em meu espírito
Rajadas de estimulantes em minha vontade.
Volto a minha cama de concreto
Perdendo os riscos que delineavam o mapa
Da minha aflição, dos meus limites.
Acordo e ouço ana me chamar
Para dentro do espelho
Trincado e distorcido
Do banheiro.
Ana me deixou
Sozinha
Com o espelho.
terça-feira, julho 08, 2008
E na Gazeta do Povo...
Canções sob baixas temperaturas
Músicos curitibanos apresentam suas composições durante o mês de julho do Wonka Bar. Alexandre França e Bárbara Kirchner são os primeiros
Publicado em 08/07/2008 | Luciana RomagnolliEsse impacto seria perceptível na música produzida aqui, por exemplo, e, se é que ele acontece de fato, sua conseqüência seria distanciar a identidade sonora da capital paranaense dos ritmos quentes mais comumente associados à “brasilidade”.
Divulgação
Ampliar imagem
Divulgação
Ampliar imagemAlexandre França canta faixas do disco A Solidão Não Mata, Dá a Idéia, além de inéditas
Bárbara Kircher apresenta parcerias com Octavio Camargo e Thadeu Wojciechowski
Sarcasmo
A primeira noite do evento, que começa hoje, promove o encontro do poeta, músico e dramaturgo Alexandre França com a cantora e compositora Bárbara Kirchner, ex-vocalista das bandas Zaius e Nefelibatas. “A poética daqui é diferente, a gente é mais sarcástico”, diz França, para quem a sonoridade local “é menos brasileira do que poderia ser”. “Isso não é bom ou ruim, é uma característica da música do sul”, explica.
Os dois artistas cantam 15 músicas, separadamente e em duo. Ao repertório, trazem composições que fizeram em parceria um com o outro, como “Admiravelmente em Forma”; canções do primeiro disco de França, A Solidão Não Mata, Dá a Idéia; cinco inéditas do poeta, que devem integrar seu segundo disco, previsto para ser lançado no ano que vem; além de criações de Bárbara Kirchner em dobradinhas com Octavio Camargo e Thadeu Wojciechowski, com quem ela gravou os discos independentes Língua Madura, Ciúmes de Horror e Nabuto Almada.
Na fila
Na próxima terça-feira (15), é a vez de Luiz Felipe Leprevost subir ao palco do Wonka Bar, acompanhado por Uyara Torrente, Diogo Zavadzki, Denis Mariano e Léo Fressato, em um espetáculo dirigido por Nina Rosa Sá (da companhia teatral Provisória). Nas semanas seguintes, o espaço recebe Carlito Birolli, Cauê Menandro e Troy Rossilho, entre outros músicos (leia mais no quadro).
Serviço
Composições de Inverno, com Alexandre França e Bárbara Kirchner. Wonka Bar (R. Trajano Reis, 326), (41) 3026-6272. R$ 5.
Escalação
O Wonka Bar promove o encontro de compositores curitibanos todas às terças-feiras de julho, no evento Composições de Inverno, que apresenta um panorama da música escrita na capital paranaense. Confira a programação:
Dia 8 – Alexandre França e Bárbara Kirchner
Dia 15 – Luiz Felipe Leprevost acompanhado por Uyara Torrente, Diogo Zavadzki, Denis Mariano e Léo Fressato. Direção de Nina Rosa Sá.
Dia 22 – Carlito Birolli e Cauê Menandro acompanhados por Iria Braga e Luana Godinho.
Dia 29 – Troy Rossilho acompanhado por Mazzar e Davi Sartori.
segunda-feira, julho 07, 2008
domingo, julho 06, 2008
Al Green
Cansado da existência
A gente acorda de ressaca
Liga na sessão da tarde
E espera por mais um final feliz
Acompanhado de uma coca dois litros
E um saco de batatas.
Crucificação e martírio.
Uma mandíbula de imagens
Fodendo o nosso cérebro
Eis que de repente
Alguns segundos de redenção:
O diretor do filme
Teve o bom senso
De colocar Al Green
Para tocar durante os créditos.
E eu acabo
Concordando
Com aquele patético final.
E talvez aquele seja
O único final possível
Para aquele patético filme.
Penso, entre um copo de refrigerante
E outro, entre uma batata
E outra,
Em colocar Al Green
Para tocar à noite
No meu quarto
Antes de dormir.
quinta-feira, julho 03, 2008
Você me enfurnou numa novela da globo
E agora eu espero uma brecha
A hora do comercial para sumir
E me redimir frente ao nosso universo
De trágicas futilidades e trágicos
Epitáfios de pára-choques de caminhão
Estou no limite entre a sonda estelar
E a molécula do chão
Prestes a explodir o próximo capitulo
O próximo final feliz
Ou a dormir acordado
Em todos os nossos
Episódios.
sábado, junho 28, 2008
terça-feira, junho 24, 2008
Olha, é a primeira vez que eu ganho primeiro lugar em algum concurso de literatura. Confesso que nessas horas a vaidade sobe um pouco a cabeça. Como diria a Reka "não me julguem". Enfim, mais informações é só clicar no link abaixo.
www.teatrolala.com
sábado, junho 21, 2008
Cá estava eu: pacífica, tranqüila e sem objeções na vida. Eis que de repente surge um besouro do tamanho da minha orelha e começa a me perseguir loucamente pelo quarto. Sim, querido, per-se-guir. Eu me jogava no chão e o filha-da-puta dava rasantes assustadoras, agulha-negra mesmo. Muahahaha, eu podia ouvir as malditas asas batendo, ver cada uma daquelas patinhas nojentas, a cara sanguinária do inseto. Foram segundos de desespero. Se não fosse a sacola da renner que prontamente enfiei em um dos meus braços para capturá-lo, provavelmente eu não estaria mais entre nós, Não matei o infeliz, por óbvio. Sou toda a favor dos direitos humanos dos insetos, portanto só estou mantendo ele refém na sacola renner-guantânamo com um nózinho para averiguar melhor a situação. Sério, foi apavorante. eu realmente me joguei no chão duas vezes.
Muahahaha eu definiria como um riso maléfico, normalmente resultado de enormes bules de café acompanhados de flashbacks coloridões-faber-castell-edição-luxo (resultado de uma adolescência de pH menor que sete, por assim dizer)
Não é minha culpa se moro no meio do mato e continuo lutando contra os insetos. Possuímos um tratado de paz com as aranhas, é verdade, mas como todo tratado, não é imune aos rebeldes e extremistas. Insetos são como Palestinos, entende? Digo, adoro os palestinos, sou a favor da criação de um Estado Palestino, até namorei um no colegial. Passávamos a tarde vendo filmes... Claro, era meio chato alugar fitas – aparentemente toda locadora nessa cidade exige comprovante de residência. Bem, isso não vem ao caso.
Enfim, era um besouro marrom mas, fique bem claro, em hipótese alguma se tratava de uma barata. Do alto dos meus (cof, cof) anos eu jamais ousaria ficar a somente uma sacola renner tamanho padrão (daquelas em que geralmente cabem duas camisas, uma calça e a nota fiscal) de distância de uma barata nojenta. Talvez o besouro fosse repugnante, entretanto, encaremos os fatos: talvez se tratasse de um besouro repugnante com uma família inteira de besouros repugnantes para alimentar. Sim, meu caro, imaginemos 3 filhos adolescentes repugnantes, uma esposa na menopausa repugnante e, por que não, um pulgãozinho marrento de estimação – sem mencionar a hipoteca do arbusto na praia.
No fim da contas não agüentei o peso de 3 besouros adolescentes repugnantes crescendo sem pai (um fazendo teatro, o outro morrendo num racha e a besoura-arquiteta casando com um besouro-empresário do batel), uma besoura na menopausa viciada em toda sorte de ervas “medicinais”... Sem mencionar o totó pulgãozinho abandonado por falta de recursos, que antes de virar sabão arrancaria sabe-lá-deus quantas cabeças de louva-deus inofensivos.
Não poderia dormir, jamais teria uma noite de sono tranqüila. Já me basta agüentar todas as noites a viúva chorona daquele cigarra que resolveu tirar um cochilo na dobradiça acobreada da minha venesiana. Olha, eu juro que estava escuro, eu tinha bebido um pouco além da conta, meus óculos estavam longe, o escorpião-fornecedor da besoura-menopausa havia passado aqui mais cedo... Eu juro não vi o seu marido ali! Quando ouvi o crocante-de-dar-água-na-boca do exoesqueleto dele já era tarde demais...
Sonoplastas, dica do dia: cigarras esmagadas em dobradiças acobreadas soam melhor do que seja lá o que vocês andam usando para fazer crocs nas propagandas de batata-chips.
Células-tronco, dona cigarra? Terapias alternativas? A senhora realmente acha que houve alguma espécie de negligência da minha parte? Acupuntura? Musicoterapia? Quanto tempo a senhora agüentaria trabalhar para manter um boêmio em estado vegetativo? Indenização? Aposentadoria por invalidez? Faça-me o favor! O advogado da senhora vai entrar em contato, é? Não perca seu tempo, aquele pernilongo charlatão não passa nem através das telas das minhas janelas, quem dera na Oab!
Alto lá! Desde quando insetos homópteros possuem células-tronco?
Não senhora, eu jamais... eu... eu jamais insinuei que seu falecido marido... eu jamais insinuei sobre a orientação sexual... Homóptero, sim. Homossexual, não.
Veja bem, já ouvi suas canções sobre os tempos de ninfa... tenho pleno conhecimento de que ele era o amor da sua vid... estéril? Bem, pelo que entendo isso lhe garantiu longevidade – compreendo que as fêmeas morrem após botarem os ovos (é, eu não sei conjugar “poer”)...
Bem, agora que me informei que somente cigarras macho emitem sons, e tendo em vista que Libras não é a minha praia, creio que devo parar de falar com a dona cigarra ou sobre a dona cigarra.
Dona besoura, essa erva que me recomendou é diurética?
Obrigada mestre La Fontaine por mais uma fábula-trauma.
O Ministério da Saúde deveria colocar avisos nas fábulas como faz nos cigarros.
O Ministério da Saúde adverte: crianças expostas a Jean de La Fontaine desenvolvem asma e problemas respiratórios.
O resultado de todas essas lindas fábulas contadas noite-após-noite-após-noite pelas nossas avós normalmente é um lindo garotinho rosáceo tomado pelas formigas assassinas no quintal daquela velha inconseqüente.
Avós são secularmente reconhecidas pela sua única função e objetivo de estragar o trabalho dos pais. Absolutamente natural e louvável, desde que a deseducação se dê na forma de miojo no café da manhã, estilingue, crueldade com animais, leite-com-manga, não obrigatoriedade de usar fio dental, canal pay-per-view sexy-hot-playboy-amateur-japanese-lesbian-gang-bang-anal liberado no quarto de visitas... o de sempre. Só, por favor, parem com as fábulas! Não se contentam em roubar nossos lugares no ônibus, no cinema, nas filas, nas filas do ônibus, nas filas de cinema, nas filas de filas? Precisam mesmo acabar com o bom-senso enfiado à pauladas na molecada por pais que, como eu, entendem a natureza sanguinária dos insetos?
O Ministério da Saúde deveria colocar avisos nas avós como faz nos cigarros.
O Ministério da Saúde adverte: esta avó possui mais de 4700 histórinhas tóxicas. Não existem níveis seguros para o consumo destas.
Isso me lembra que a minha cozinha está com um foco de formigas. Elas andam revoltadinhas desde que sacrifiquei algumas pelo bem maior carbonizando-as na boca de fritura do fogão com o intuito de observar as extremidades daquelas delicadas patinhas atingindo um sensacional tom rubro.
-Adoraria ter sapatos daquela cor. Scarpins 36-37, por favor, moço.
Pouca gente sabe, mas formigas são tão sujas quanto as baratas e alpinistas muito mais competentes. (Aviso aos navegantes: elas não se lambem como gatos, tampouco arrancam piolhos umas das outras à exemplo dos fellas primatas)
-Perfeito. Vou levá-los.
Ah, as baratas.
-Aceita Amex?
---Filho, pare de brincar no gramado da Teffé com os tatu-bola e venha aqui comigo.
Se deus quiser, baratas jamais cruzarão com piolhos.
-Ahn, tem como fazer em duas vezes? Ando meio apertada esse mês.
---Olha, filho, você está com lêndeas!
-Pois é, a dedetização não estava em meus planos financeiros. Dedetizou foi a minha conta bancária.
Oh, não! Eu achei que eram os amigáveis e simpatissíssimos piolhos sorvedores de sangue, mas são lêndeas de barata! Pente fino! Scarbin! Sauna! Máquina Zero!
Oh, não! Nada funciona! O que será aquilo? Um pássaro com uma bomba atômica? Um avião com uma bomba atômica? Céus! É o Mister-M com uma bomba atômica! Mas que diabos?!
(Cid Moreira:)
_E agora Mister M? Principe negro de todos os sortilégios.
Filho? Filho?
(Cid Moreira:)
E agora Paladino Mascarado, como é que você vai sair dessa?
Droga! Elas ainda estão vivas!
(Cid Moreira:)
_ Isto é um espanto!
Veja só, que belezinha, aquela ali perdeu a cabeça mas, ao contrário do meu garoto-piolhento-e-ranhento, sobreviverá mais onze dias sem ela – o que fazer com crianças humanas e sua incapacitante dependência de cabeças?
Bem, quem não tem mais filho, abraça a barata.
Vem cá com a mamãe, minha baratinha gosmenta... Você tem as minhas antenas mesmo, minha trufa... Dê um beijinho aqui, dê. Ah, entendo. Seus amigos estão olhando... Você tem vergonha de mim? Ok. Tudo bem. Sem problemas. Aliás, você já é um mocinho, já enfrentou as agruras de uma bomba atômica, tem a sobrevida limitada pelo que comeu antes da explosão pois perdeu a cabeça... Querido, você é adotado.
Como assim já sabia? Pediu para aquele viciadinho em pico do seu amigo mosquito roubar um pouco do meu sangue? Testou é? Eu não tenho sangue de barata?! Voa daqui, garoto insolente.
Ele só pode ter perdido a cabeça. Ah, as baratas. Nada é tão ingrato quanto filhos e baratas. Você os alimenta, enche de calor e umidade, e o que recebe em troca? Será que alguém se lembrou de averiguar como se sentiam os pais de Kafka?
Não. Não e não. Tudo errado. O quão cansativo é mencionar Kakfa e baratas?!
Falemos de kafta, prato típico árabe, delicioso. Um primor culinário que, curiosamente, quando esquecido dentro da cômoda do quarto pelo animal do meu filho, atrai baratas.
Vai um careta aí, mosquito? São lights sim. Ah, não quer aquele com as imagens horrendas dos seus amigos tailandeses ao lado daqueles ratos mafiosos? Ok. Acho que tenho outra carteira aqui. Fuma daquele com rolmops de criancinha?
Sabia que na Tailândia as pessoas comem toda sorte de insetos? Você acha justo? Achei que ficaria indignado... Como pode ser justo? Como assim, lá eles também comem toda sorte de criancinhas? Pois bem: é justo. Elas são saborosas? A culinária é mais desenvolvida que a humana? Im-pos-sí-vel, meu amigo.
Ferran Adriá e sua sofisticação babaca tri-estrelada em hipótese alguma será superado por invertebrados como vocês. Duvido que saibam fazer espuminha de peixe, azeitonas de gelatina, infusão assim e assado.
O que você quer dizer com isso? Que todas aquelas asinhas na nossa comida, todo aquele controle de insetos no que comemos, aquela porcaria de partes por milhão, é na verdade a triste realidade da segurança no trabalho? Milhares de mosquitinhos como você (bem, os de família... até onde sei exige-se exame toxicológio praquelas bandas) perdem asas, patinhas, cabeças e sabe-lá o que mais em subempregos nas nossas fábricas? Há uma máfia análoga à das pastelarias no brasil? Aqueles ratos! Você é uma mosquitinha? Mosquitinhos comem apenas frutinhas? É, minha querida, se eu fosse você, também me picaria.
Teria Noé coletado dois exemplares de cada inseto? Teriam os insetos invadido a arca com tochas nas mãos, exigindo seu lugar ao sol (ou chuva, que seja)? Posso imaginar os problemas causados pelos inconvenientes cupins naquele barcão de madeira. (Já repararam como madeira de demolição anda mais bem cotada que madeira da cruz?) Teria deus enviado junto de sua mensagem ao bom velhinho (ah, bons tempos sem fábulas) um grande balde para tratamento cupinicida na madeira? Os tamanduás ganhavam um quarto maior e o direito de repetir a sobremesa pelos seus préstimos como seguranças patrimoniais?
Uma questão que sempre me intrigou é a escolha, recrutamento ou puro seqüestro dos animais da arca. A meu ver, há uma considerável possibilidade de que certos animais não estivessem acreditando naquele cidadãozinho descompensado pregando por aí que o mundo viraria uma versão ainda mais acessível e popular do piscinão de ramos. Digo, se eu fosse uma taturana, e estivesse tranqüila no meu apê no 3º galho, bloco b do meu condomínio de árvores de luxo, ficaria no mínimo em dúvida na hora de comprar a causa de um humanozinho maltrapilho metido a agente turístico. Por que motivo eu largaria minha boa vida de solteira bem-sucedida ? Haveria uma razão plausível para simplesmente abandonar meus 41 dias de trabalho árduo na empresa de outdoors que fundei porque a senhora Noé colocou os cogumelos indicados pela dona besoura, sem querer, na espuminha de peixe dele? Pensando bem... tenho saúde, sou empreendedora, haverá uma carência de mercado na minha área no novo mundo. Tantas oportunidades para meu futuro império da poluição visual nas grandes cidades... E se, eu ajudasse o velhinho tãn-tãn? Posso colar cartazes por aí com um desenho dele, botar um chapéu nele, terninho... mas ele não pode parecer antiquado, devemos atrair os jovens, descolados e acima de tudo sexualmente ativos...preciso investir no figurino... estou imaginando listras, listras e cores... listras vermelhas, azuis, brancas e , estrelas (mulheres adoram estrelas). É isso aí, milhares de indivíduos de todas as espécies duelarão pelo primeiro pacote de viagens CVC da história! Tudo que preciso agora é de uma frase de impacto, malinhas-brinde amarelas-e-azuis com nosso símbolo e um slogan, algo que transmita a idéia de que os queremos, mas ao mesmo não transpareça nosso desespero e ânsia por recrutá-los. Eles não devem se sentir usados por deus para perpetuar a espécie quando ele poderia simplesmente tirar a bunda do sofá e trabalhar mais um dia para melhorar as coisas... Algo mais ou menos como: I want you!
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30 de Julho de 2008 às 5:46
Sim, vi Final do mês. Vexado, mas vi, deliciado com a trilha, competente às pampas, sobrando, aliás, mais econômica que devia, na opinião deste crítico, com muita razão desacreditado. Mas com a Caludete tudo dá. E a Helena? Que choque vê-la assim, completa. Oxalá, Oxum, sei lá meu pai, a moça é talento puro. Quanto ao texto, o recurso ἀπὸ μηχανῆς θεός, o autor sabe bem do que falo (segredo nosso), e há pontualidade nesse falar, ao contrário do que argumenta o poeta Leprevost, não o aproxima de Brecht (nem precisaria, mas um argumento eloqüente contra essa possibilidade é o ataque à atendente bancária, duplamente vencida), ao contrário, o lançaria à comedia burguesa inglesa, se obtivesse manter a fina ironia, mas descambando ao farsesco caricatural, nos coloca entre a possibilidade do novo e a lógica do desencontrado. Sem estudo ou exercício a arte não anda.
Viu Gil, mesmo você(s) me devendo e não pagando, prestigio o seu blog, por enquanto.
1 de Outubro de 2008 às 16:06
Olá. Só para contrapor o que foi dito pelo Sálvio, acredito que este “Deus ex machina” (que o Sálvio colocou em grego) esteja na síntese Hegeliana que se dá entre a mãe e a filha que é na verdade o dinheiro. Ou seja, o Deus ex maquina - se é que realmente ele existe no "final do mês", já que é um elemento da tragédia grega - estaria no fato das duas aceitarem dinheiro roubado no final da peça (fato este que, como um bom Deus ex machina grego, vem amarrar toda a história), e não no pepino, no assalto ao banco, já que estas outras cenas seriam reflexos patéticos da primeira, cuja lógica nonsense (que já vem de uma outra época da história do teatro - mas isto eu deixo como lição de casa para o amigo, vide o que ele falou no final do seu comentário “Sem estudo ou exercício a arte não anda”) abre um espaço tanto à crítica, quanto ao encantamento. A aproximação com Brecht estaria, basicamente, com o fato da peça falar sobre dinheiro e também com o fato da peça utilizar em vários momentos recursos Brechtianos (as quebras, a filha falar sobre ela mesma, utilizando, para isto, o “nós”). Acho que quando você contrapôs o argumento do Leprevost, você estava falando no sentido temático, certo? Ou, mais precisamente, quanto aos rumos que a história da peça nos leva? Neste caso, lembre-se que a mãe está TRABALHANDO para sustentar a filha, e o fato dela não ter mais dinheiro para tanto (e as conseqüências disto), é, sim, uma aproximação com Brecht. É claro que não estamos num período de guerras, e a peça não entra neste contexto. A mãe e a filha não são pessoas miseráveis, que se desdobram para ganhar dinheiro e então comprar o "pão nosso de cada dia". Mas elas estão prestes a se tornar. O fato da falta de dinheiro levar a mãe a roubar comida do supermercado, cá entre nós, é bem Brechtiniano. O ataque à atendente bancária é veementemente rechaçado pela mãe (quando ela fala “minha filha é uma facista, uma ditadora” ou quando ela diz “isto é um absurdo: assaltar um banco só por que a atendente lhe tratou mal”) e não celebrado como um ato heróico - tanto que o discurso da filha desemboca no dilema de “devolver ou não o dinheiro”, que por sua vez desemboca no Deus ex machina do final. As pessoas que alí estão no banco são tomadas pelo discurso da filha e pela situação de incômodo de ficar horas numa fila; elas não são agentes da extrema direita que vieram destruir o papel da atendente bancária na sociedade. O ataque à atendente, na verdade, é o estopim do trágico, é a paralisia da classe média frente ao mundo que está aí, pedindo pressa e produção. Acho que o amigo não entendeu a peça. Acho que o absurdo dela (o pepino, o assalto ao banco, a maçã conversar com a mãe, etc) não leva apenas ao riso fácil e ao mero entretenimento (como você propõe quando fala sobre “farsesco caricatural”), mas sim a um estranhamento que (pelo menos na ótica de muitos espectadores que vieram falar comigo) leva posteriormente à reflexão. Respeito sua opinião, Sálvio, até por que somos amigos, mas gostaria imensamente que você assistisse a peça de novo para levar em consideração alguns pontos, que pelo que eu percebo, você não levou. É isto. Grande abraço