Homem de cinqüenta – Ele me disse que a senhora esperava o próximo dia com uma resignação de cachorro. Ele me disse que a senhora ficava na porta de casa, abanando o rabo, a espera de um pouco de atenção. Ele odiava cachorros. Ele me disse que a senhora esquecia o tempo, esquecia os dias, as semanas, os meses. Ele me disse que a senhora se esquecia. Ele me disse que sentia pena da senhora e que isto o machucava todos os dias. Ele me disse que a senhora vivia aprisionada entre as suas obrigações domésticas e que aquilo o aprisionava também, muito embora a vida dele parecesse mais “interessante”. Um café, uma torta de limão, pequenas trivialidades poderiam fazer a senhora chorar, pois aquilo possuía um outro significado: aquele significado que só pode ser compreendido pelas pessoas que se esquecem num canto do passado e que se sentem aprisionadas por esta sensação. A vida dele não era interessante. A vida dele se resumia a outras trivialidades que para a senhora poderiam parecer exóticas. A vida dele possuía uma gramática fácil de equívocos e desencontros, pois o amor que sentia pelos outros era novelesco, construído a partir de uma poética romântica que se diluía num copo ácido de realidade. Não conseguia amar uma pessoa como amava a senhora. Ele me disse que não sabia bem se o que sentia pela senhora era mesmo o amor entre um homem e uma mulher. Ele gostava muito da senhora. Ele queria proteger a senhora das coisas ruins e isto o aprisionava e também aprisionava a senhora. Ele me disse que o amor que sentia pela senhora era inteiro, mas que não podia acontecer, pois ele sentia uma aversão pelo corpo de qualquer mulher, até mesmo pelo corpo de sua melhor amiga. Ele me disse que precisava livrar a senhora dele. Ele não queria que a senhora sofresse como ele sofria, muito embora soubesse que o seu sofrimento era muito maior e incalculável. Ele não amava ninguém da forma que gostaria de amar. Ele possuía aquele sonho burguês da família feliz e aquilo também o aprisionava. Ele não amava ninguém e ele não queria que a senhora sentisse o mesmo pelo resto do mundo. Ele se apaixonou pela hipótese de afastamento. (pausa) Essa foi a última conclusão da sua vida. A única forma de livrar um ser humano da dependência de depender de outro ser humano: a morte.
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Blues Curitibano
sexta-feira, julho 11, 2008
Trecho da peça "velhos bons novos amigos"
Homem de cinqüenta – Ele me disse que a senhora esperava o próximo dia com uma resignação de cachorro. Ele me disse que a senhora ficava na porta de casa, abanando o rabo, a espera de um pouco de atenção. Ele odiava cachorros. Ele me disse que a senhora esquecia o tempo, esquecia os dias, as semanas, os meses. Ele me disse que a senhora se esquecia. Ele me disse que sentia pena da senhora e que isto o machucava todos os dias. Ele me disse que a senhora vivia aprisionada entre as suas obrigações domésticas e que aquilo o aprisionava também, muito embora a vida dele parecesse mais “interessante”. Um café, uma torta de limão, pequenas trivialidades poderiam fazer a senhora chorar, pois aquilo possuía um outro significado: aquele significado que só pode ser compreendido pelas pessoas que se esquecem num canto do passado e que se sentem aprisionadas por esta sensação. A vida dele não era interessante. A vida dele se resumia a outras trivialidades que para a senhora poderiam parecer exóticas. A vida dele possuía uma gramática fácil de equívocos e desencontros, pois o amor que sentia pelos outros era novelesco, construído a partir de uma poética romântica que se diluía num copo ácido de realidade. Não conseguia amar uma pessoa como amava a senhora. Ele me disse que não sabia bem se o que sentia pela senhora era mesmo o amor entre um homem e uma mulher. Ele gostava muito da senhora. Ele queria proteger a senhora das coisas ruins e isto o aprisionava e também aprisionava a senhora. Ele me disse que o amor que sentia pela senhora era inteiro, mas que não podia acontecer, pois ele sentia uma aversão pelo corpo de qualquer mulher, até mesmo pelo corpo de sua melhor amiga. Ele me disse que precisava livrar a senhora dele. Ele não queria que a senhora sofresse como ele sofria, muito embora soubesse que o seu sofrimento era muito maior e incalculável. Ele não amava ninguém da forma que gostaria de amar. Ele possuía aquele sonho burguês da família feliz e aquilo também o aprisionava. Ele não amava ninguém e ele não queria que a senhora sentisse o mesmo pelo resto do mundo. Ele se apaixonou pela hipótese de afastamento. (pausa) Essa foi a última conclusão da sua vida. A única forma de livrar um ser humano da dependência de depender de outro ser humano: a morte.
Homem de cinqüenta – Ele me disse que a senhora esperava o próximo dia com uma resignação de cachorro. Ele me disse que a senhora ficava na porta de casa, abanando o rabo, a espera de um pouco de atenção. Ele odiava cachorros. Ele me disse que a senhora esquecia o tempo, esquecia os dias, as semanas, os meses. Ele me disse que a senhora se esquecia. Ele me disse que sentia pena da senhora e que isto o machucava todos os dias. Ele me disse que a senhora vivia aprisionada entre as suas obrigações domésticas e que aquilo o aprisionava também, muito embora a vida dele parecesse mais “interessante”. Um café, uma torta de limão, pequenas trivialidades poderiam fazer a senhora chorar, pois aquilo possuía um outro significado: aquele significado que só pode ser compreendido pelas pessoas que se esquecem num canto do passado e que se sentem aprisionadas por esta sensação. A vida dele não era interessante. A vida dele se resumia a outras trivialidades que para a senhora poderiam parecer exóticas. A vida dele possuía uma gramática fácil de equívocos e desencontros, pois o amor que sentia pelos outros era novelesco, construído a partir de uma poética romântica que se diluía num copo ácido de realidade. Não conseguia amar uma pessoa como amava a senhora. Ele me disse que não sabia bem se o que sentia pela senhora era mesmo o amor entre um homem e uma mulher. Ele gostava muito da senhora. Ele queria proteger a senhora das coisas ruins e isto o aprisionava e também aprisionava a senhora. Ele me disse que o amor que sentia pela senhora era inteiro, mas que não podia acontecer, pois ele sentia uma aversão pelo corpo de qualquer mulher, até mesmo pelo corpo de sua melhor amiga. Ele me disse que precisava livrar a senhora dele. Ele não queria que a senhora sofresse como ele sofria, muito embora soubesse que o seu sofrimento era muito maior e incalculável. Ele não amava ninguém da forma que gostaria de amar. Ele possuía aquele sonho burguês da família feliz e aquilo também o aprisionava. Ele não amava ninguém e ele não queria que a senhora sentisse o mesmo pelo resto do mundo. Ele se apaixonou pela hipótese de afastamento. (pausa) Essa foi a última conclusão da sua vida. A única forma de livrar um ser humano da dependência de depender de outro ser humano: a morte.
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