corpos
O som do silêncio da rua
O ronco do computador
Velhos xerox empilhados num canto
Como um prédio virando cortiço
Um bairro jogado as traças
Bilhetes perdidos na estante
Outros tantos guardados no armário
E uma carta de amor inacabada
Escrita em dezessete de maio
De dois mil e cinco
Este pulmão de sopros mofados
E de suspiros e apnéia do sono
Formam a respiração do meu quarto
Logo uma falta de ar me consome
As coisas me engolem e me cospem
Num só movimento
Trato delas como o asfalto
Trata seus pombos
Não as alimento direito
Esqueço de suas funções
Me esqueço dentro delas
E só lá pelas quatro, no escuro
Me esqueço dentro de mim.
Não quero que cheguem perto
Dos corpos que enterrei.