Último poema do ano (para Meilily)
Meu olhar de melancolia
Disparou com o óleo das lágrimas
Pelas paredes do largo da ordem
E ouviu as reclamações
Dos bêbados escorados nos
Tijolos mofados da pele
De um homem a declamar poemas
Meu olhar de melancolia
Borrou a maquiagem na
Garoa fina e pesada
Que o chumbo do céu nos provoca
E me deixou com um vazio no
Estômago quando sem grana
Pedi um pedaço de um
Prensado para um destes hippies
Que se dizia ator de teatro
Antes de ser por ideologia
Artista de rua
Meu olhar de melancolia
Deu tchau com a manga da blusa
Para o seu cheiro, para a sua pele
Para a sua voz, para o seu hálito
Quando lembrei que não era mais meu
O seu olhar melancólico
O meu olhar de melancolia
Fechou os seus olhos
.
Blues Curitibano
quinta-feira, dezembro 28, 2006
quinta-feira, dezembro 21, 2006
pelos velhos tempos
Ok,
foi como aquele dia
em que o recepcionista do lascivo
e gemedor hotel Roma me ofereceu
por educação uma batata Pringles
e eu aceitei mesmo sabendo da bombástica
mistura entre o espinafre e o sabor churrasco.
Sem dúvida,
se parece muito com o dia
em que manchávamos de vinho tinto
os lençóis do hotel Bourbon, saindo
sem pagar e muitas vezes
sem as roupas íntimas.
Acha que eu não lembro
quando você usou o sangue da sua menstruação
para pintar “eu estive aqui” no espelho quebrado
da sala vip de uns destes lugares
iluminados com luz negra da cruz machado
acha que eu não sei
que hoje em dia o seu quarto
é o banco inteiramente descascado
da triste e solitária praça Tiradentes?
Ok,
foi como aquele dia
em que o recepcionista do lascivo
e gemedor hotel Roma me ofereceu
por educação uma batata Pringles
e eu aceitei mesmo sabendo da bombástica
mistura entre o espinafre e o sabor churrasco.
Sem dúvida,
se parece muito com o dia
em que manchávamos de vinho tinto
os lençóis do hotel Bourbon, saindo
sem pagar e muitas vezes
sem as roupas íntimas.
Acha que eu não lembro
quando você usou o sangue da sua menstruação
para pintar “eu estive aqui” no espelho quebrado
da sala vip de uns destes lugares
iluminados com luz negra da cruz machado
acha que eu não sei
que hoje em dia o seu quarto
é o banco inteiramente descascado
da triste e solitária praça Tiradentes?
sábado, dezembro 16, 2006
Já está no ar o meu site www.alexandrefranca.com.br . Lá vocês poderão conferir as novidades sobre shows e eventos relacionados a minha pessoa. Lá também vocês receberão as informações sobre como comprar o cd "a solidão não mata, dá a idéia". Entre e divulgue para os amigos.
quinta-feira, dezembro 14, 2006
Alucinações
Um alucinado
Observando a alternância entre
O verde e o vermelho do semáforo
Com o imã da retina puxava uma só
Lágrima do seu olho esquerdo
E costurava com saliva
A pelugem macia que sobrava do pescoço
E brincava de par ou impar na superfície úmida
Do seu sexo e arrancava um sorriso rouco
Do seu minuto e meio de descanso
Um alucinado
Jogando paciência no nível expert
No intervalo que existe entre
O início do turno da manhã de uma empresa
E o horário de almoço.
terça-feira, dezembro 05, 2006
teclando
Em minhas mãos
Minha mãe me oferece uma bomba
Da confeitaria das famílias
E me oferece um passeio a pé
Pela rua XV
Entre os ciganos da meia-noite
E os hippies com suas poesias
Contendo boas intenções
Em minhas mãos
As mãos de uma velhinha
Nas mãos de um velhinho
No banco da praça Tiradentes
Num dia claro de geada
Exala um suor antigo
Da temporada que nunca chega
Em minhas mãos
A garçonete do instinto Ritz
Toma um gole do café do cliente
E eu sinto o sabor da sua saliva
O sabor da sua maldade
O sabor da sua demissão
Em minhas mãos
O expresso mastiga a cabeça de um ciclista
E são as minhas mãos
Que retiram aquela cabeça
Do estômago da vermelha máquina de guerra
Usada como transporte
Em minhas mãos
Alguém chora baixinho
A incontrolável vontade
De beber um trago num chinês
Do centro
E eu sinto pontadas em minhas mãos
Pontadas no estômago
Pontadas de fúria
Pontadas de lágrimas
Como se eu sentisse em minhas mãos
A tachinha que alguém colocou
Na cadeira do isolado da escola
Como seu eu sentisse em minhas mãos
O congelamento de um membro
Quase necrosado
Como se eu sentisse em minhas mãos
A sensibilidade que há nas pétalas
Quando elas acenam com o vento
Para o outono dos meus olhos
Em minhas mãos
Minha mãe me oferece uma bomba
Da confeitaria das famílias
E me oferece um passeio a pé
Pela rua XV
Entre os ciganos da meia-noite
E os hippies com suas poesias
Contendo boas intenções
Em minhas mãos
As mãos de uma velhinha
Nas mãos de um velhinho
No banco da praça Tiradentes
Num dia claro de geada
Exala um suor antigo
Da temporada que nunca chega
Em minhas mãos
A garçonete do instinto Ritz
Toma um gole do café do cliente
E eu sinto o sabor da sua saliva
O sabor da sua maldade
O sabor da sua demissão
Em minhas mãos
O expresso mastiga a cabeça de um ciclista
E são as minhas mãos
Que retiram aquela cabeça
Do estômago da vermelha máquina de guerra
Usada como transporte
Em minhas mãos
Alguém chora baixinho
A incontrolável vontade
De beber um trago num chinês
Do centro
E eu sinto pontadas em minhas mãos
Pontadas no estômago
Pontadas de fúria
Pontadas de lágrimas
Como se eu sentisse em minhas mãos
A tachinha que alguém colocou
Na cadeira do isolado da escola
Como seu eu sentisse em minhas mãos
O congelamento de um membro
Quase necrosado
Como se eu sentisse em minhas mãos
A sensibilidade que há nas pétalas
Quando elas acenam com o vento
Para o outono dos meus olhos
Luana Vignon
E a caneta bic da Luana Vignon continua afiadíssima. Só tenho uma coisa a dizer: você é foda, guria.
ABRUTALHADOS
Chove torrencialmente
mas um cara tira cuidadosamente o lixo pra fora
e um outro vem do inferno
pra acender seu cigarro fuleiro na mesa mais triste do boteco.
enquanto isso há feridas que nunca cicatrizam
como um moleque que caminha incólume sob a chuva.
Há dias em que uma simples capa
não dá conta de esconder as nossas lágrimas.
Há dias em que eu sou apenas uma garota solitária
sentada na única mesa de um bar
assistindo idiotamente a um clipe do Bee Gees na TV.
Quase sempre a Rua Augusta é um lugar para as carapaças vazias
porque a vida é muita mais feia sobre os travesseiros.
A vida sangra
a vida verte inexoravelmente seu mijo quente sobre as nossas cabeças.
Na maior parte do tempo
eu sou aquela moça que ninguém nota
aquela uma
sozinha
hostil
embriagada
sonhando pontilhões que nunca se acabam.
Há dias em que a faixa branca no asfalto
é só uma armadilha.
Quase sempre somos atropelados.
Na maior parte do tempo
a gente segue carregando no bolso aquela última baga
a ponta de um infinito que não faz o menor sentido.
Luana Vignon
E a caneta bic da Luana Vignon continua afiadíssima. Só tenho uma coisa a dizer: você é foda, guria.
ABRUTALHADOS
Chove torrencialmente
mas um cara tira cuidadosamente o lixo pra fora
e um outro vem do inferno
pra acender seu cigarro fuleiro na mesa mais triste do boteco.
enquanto isso há feridas que nunca cicatrizam
como um moleque que caminha incólume sob a chuva.
Há dias em que uma simples capa
não dá conta de esconder as nossas lágrimas.
Há dias em que eu sou apenas uma garota solitária
sentada na única mesa de um bar
assistindo idiotamente a um clipe do Bee Gees na TV.
Quase sempre a Rua Augusta é um lugar para as carapaças vazias
porque a vida é muita mais feia sobre os travesseiros.
A vida sangra
a vida verte inexoravelmente seu mijo quente sobre as nossas cabeças.
Na maior parte do tempo
eu sou aquela moça que ninguém nota
aquela uma
sozinha
hostil
embriagada
sonhando pontilhões que nunca se acabam.
Há dias em que a faixa branca no asfalto
é só uma armadilha.
Quase sempre somos atropelados.
Na maior parte do tempo
a gente segue carregando no bolso aquela última baga
a ponta de um infinito que não faz o menor sentido.
Luana Vignon
segunda-feira, dezembro 04, 2006
Meu amigo Douglas Kim está com um novo blog (nem tão novo assim, mas eu, com a minha lentidão, descobri só agora) que vale a pena ser visitado pela precisão dos posts (que já existia no blog anterior). Fora que ele escreveu uma coisa sobre mim que me deixou vermelho, no bom sentido da expressão. Valeu grande Kim.
"Um ser comum, desses que compra pão na padaria, deve ter parado em Drummond. Um ser um pouco menos comum, desses que come pão na padaria, deve ter parado em Leminski e Ana Cristina César. O ser incomum, desses que faz o próprio pão, deve apreciar o Alexandre França".
Douglas Kim
sábado, dezembro 02, 2006
enquanto
enquanto num velho toca-fitas
alguém coloca trouble man
do Marvin Gaye pra tocar
enquanto na via rápida
os carros, os pedestres e a garoa
fogem da polícia
enquanto num teatro do centro
um ator morre aplaudido
em cena
enquanto a minha pincher
de estimação se desespera
com a sua completa falta de visão
enquanto o bar da minha rua
ameaça fechar as portas
para o feriado
enquanto um casal de apaixonados
se separa com uma proposta
de casamento
enquanto alguém queima a língua
com a caneca de café fervendo
enquanto alguém queima a sobrancelha
acendendo um cigarro no fogão
enquanto alguém toma
o primeiro gole de cerveja do dia
do mês, do ano, da vida
enquanto eu digito um trabalho
de mil laudas que não é meu
enquanto eu digito imagens ao léu
eu paro cinco minutos
cinco minutos ao seu lado
sem querer
sem nem ao menos saber
quem você é
enquanto num velho toca-fitas
alguém coloca trouble man
do Marvin Gaye pra tocar
enquanto na via rápida
os carros, os pedestres e a garoa
fogem da polícia
enquanto num teatro do centro
um ator morre aplaudido
em cena
enquanto a minha pincher
de estimação se desespera
com a sua completa falta de visão
enquanto o bar da minha rua
ameaça fechar as portas
para o feriado
enquanto um casal de apaixonados
se separa com uma proposta
de casamento
enquanto alguém queima a língua
com a caneca de café fervendo
enquanto alguém queima a sobrancelha
acendendo um cigarro no fogão
enquanto alguém toma
o primeiro gole de cerveja do dia
do mês, do ano, da vida
enquanto eu digito um trabalho
de mil laudas que não é meu
enquanto eu digito imagens ao léu
eu paro cinco minutos
cinco minutos ao seu lado
sem querer
sem nem ao menos saber
quem você é
terça-feira, novembro 28, 2006
desolador e esclarecedor (versão final)
É desolador e esclarecedor
O cachorro roubando do velho
O resto da barra de cereal
A vontade de misturar bebidas
Para dizer umas verdades
A corrida de fórmula 1
Sem nenhum grave acidente
É desolador e esclarecedor
O dente roxo de vinho tinto
O dedo amarelo de nicotina
O vermelho daquilo
Que não é sangue
O azul daquilo
Que não é céu
O verde daquilo
Que não é mato.
É desolador e esclarecedor
O lacre do iogurte
Não abrir com um simples toque
Uma droga de um desenho animado
Não conter violência por ser educativo
Assistir esta droga
Só para conhecer o final
É desolador e esclarecedor
O resultado da loteria
O resultado de uma pesquisa no google
Sobre você mesmo
O resultado de um teste de gravidez
O resultado de um exame de vista
É desolador e esclarecedor
Reencontrar o amigo de infância
Que um dia o traiu
Reencontrar o primeiro amor
Que não sabe quem você é
E nunca irá saber
Reencontrar o primeiro livro
Que você leu na vida
O primeiro verso que mudou a sua vida
Mas que agora, estranhamente
Não faz tanta diferença
É desolador e esclarecedor
A tendinite do pianista
A amnésia de um poeta
O transtorno obsessivo
De conferir se a porta do banheiro
Esta realmente fechada
O prato cheio de uma anoréxica
É desolador e esclarecedor
Uma grávida chorando
Na fila do supermercado
Alguém chamando pelo pai
No meio de uma festa junkie
Uma senhora mostrando a foto dos netos
Hoje com mais de trinta anos.
É desolador e esclarecedor
O cachorro roubando do velho
O resto da barra de cereal
A vontade de misturar bebidas
Para dizer umas verdades
A corrida de fórmula 1
Sem nenhum grave acidente
É desolador e esclarecedor
O dente roxo de vinho tinto
O dedo amarelo de nicotina
O vermelho daquilo
Que não é sangue
O azul daquilo
Que não é céu
O verde daquilo
Que não é mato.
É desolador e esclarecedor
O lacre do iogurte
Não abrir com um simples toque
Uma droga de um desenho animado
Não conter violência por ser educativo
Assistir esta droga
Só para conhecer o final
É desolador e esclarecedor
O resultado da loteria
O resultado de uma pesquisa no google
Sobre você mesmo
O resultado de um teste de gravidez
O resultado de um exame de vista
É desolador e esclarecedor
Reencontrar o amigo de infância
Que um dia o traiu
Reencontrar o primeiro amor
Que não sabe quem você é
E nunca irá saber
Reencontrar o primeiro livro
Que você leu na vida
O primeiro verso que mudou a sua vida
Mas que agora, estranhamente
Não faz tanta diferença
É desolador e esclarecedor
A tendinite do pianista
A amnésia de um poeta
O transtorno obsessivo
De conferir se a porta do banheiro
Esta realmente fechada
O prato cheio de uma anoréxica
É desolador e esclarecedor
Uma grávida chorando
Na fila do supermercado
Alguém chamando pelo pai
No meio de uma festa junkie
Uma senhora mostrando a foto dos netos
Hoje com mais de trinta anos.
segunda-feira, novembro 27, 2006
Paris, Texas
revendo o clássico do Wim Wenders, me veio uma idéia para um poema. Havia esquecido como a Nastassja Kinski é bonita. Havia esquecido do rítmo desolador do roteiro. têm coisas que devem ser revisitadas todo ano.
atropelamento
(para Sam Shepard)
da janela uma luneta:
alguém procura uma lua,
uma estrela, um brilho
qualquer no quarto ou na rua.
na canaleta do expresso
um guri de bicicleta
abre os seus braços e grita
"sem as mãos" durante um metro.
ele me atropela ao ser
atropelado e eu durmo
acordado sem querer
e o cara da luneta
que me queria pelado
chora comigo um choro
bêbado e desgovernado.
revendo o clássico do Wim Wenders, me veio uma idéia para um poema. Havia esquecido como a Nastassja Kinski é bonita. Havia esquecido do rítmo desolador do roteiro. têm coisas que devem ser revisitadas todo ano.
atropelamento
(para Sam Shepard)
da janela uma luneta:
alguém procura uma lua,
uma estrela, um brilho
qualquer no quarto ou na rua.
na canaleta do expresso
um guri de bicicleta
abre os seus braços e grita
"sem as mãos" durante um metro.
ele me atropela ao ser
atropelado e eu durmo
acordado sem querer
e o cara da luneta
que me queria pelado
chora comigo um choro
bêbado e desgovernado.
sábado, novembro 25, 2006
Lindsey Rocha
E ontem tive o prazer de ouvir na voz da própria Lindsey os poemas do seu livro "Nervuras do silêncio". Muito bom mesmo. Sem dúvida, este é um dos grandes livros de poemas da cidade. Só que o que eu mais gostei no livro foi a dedicatória completamente poética que a Lindsey fez pra mim. Valeu guria! Saiba que você ganhou um amigo.
Dedicatória da Lindsey
A você,
Alexandre,
pelo silêncio precioso
que permeia as novas
amizades.
beijos
Lindsey Rocha
24/11/06
quinta-feira, novembro 23, 2006
Legião Urbana
Da sacada vejo quieto
Um bando de adolescentes
Com um violão tocando alto
Coisas da Legião Urbana
E daqui eu me pergunto
Sobre a condição humana
Exercícios de linguagem
Idéias pra quem reclama
Será que eles me entendem
Sussurrando um mantra sujo
Rogando praga no escuro
Será que eles entendem que
Estou parado bem no fluxo
De pessoas inocentes
Atirando
para todos os lados?
Da sacada vejo quieto
Um bando de adolescentes
Com um violão tocando alto
Coisas da Legião Urbana
E daqui eu me pergunto
Sobre a condição humana
Exercícios de linguagem
Idéias pra quem reclama
Será que eles me entendem
Sussurrando um mantra sujo
Rogando praga no escuro
Será que eles entendem que
Estou parado bem no fluxo
De pessoas inocentes
Atirando
para todos os lados?
sexta-feira, novembro 17, 2006
Do tipo que se apaixona pela mais cobiçada do colégio.
Não consegui segurar: chorei no final. E no final eu não queria segurar mais lágrima alguma, por que se eu segurasse, era capaz de transbordar no fígado e no estômago a fúria daquele texto (muito embora, eu tenha bebido todas depois, sem misturar é claro). Eu falo de “Homens, Santos e Desertores” do Mario Bortolloto . Tive que disfarçar o olho vermelho, antes de dar um “oi” para o Marcelo e para o Marião depois do espetáculo. Explico.
Esta é uma peça que nos joga na cara o “inferno” do mundo contemporâneo e que ao mesmo tempo nos sussurra ao pé do ouvido “se não agüenta, por que veio?” Dois personagens: um alcoólatra já sem esperança alguma e um jovem sem perspectiva. Os dois travam uma batalha de nervos, destilando uma série de outros personagens podres e completamente desajustados. É a mãe que dá para todo o bairro, o pai que fugiu de casa, o padre pedófilo, o padre alcoólatra, o “bombadinho” descerebrado do colégio (que pode, neste exato instante, estar comendo a sua mãe), a mãe que se mata com um tiro. Enfim, toda uma galeria de figuras bizarras e dolorosamente humanas a esbarrar sem pena na frágil sensibilidade dos dois coadjuvantes. Mas se o mundo não é isto, um grande freak show humano com lanças de aço apontadas para as nossas cabeças, o que é então? Um conto de fadas? Um final feliz? Não.
É justamente neste ponto que a peça mais me tocou – não existe saída. O mundo é assim e enfrente-o sem autopiedade, sem se fazer de coitadinho, sem se acomodar na futilidade prazerosa que a artificialidade nos impõe dia após dia. E o Marião nos joga isto na cara durante toda a peça (entende por que eu saí meio atormentado depois?). Ele fala sobre alcançar o posto de “santidade”, ou seja, se assumir um excluído e dar a cara pra bater neste mundão velho de guerra. Não adianta se iludir: as pessoas não são do jeito que você pensa e ninguém vai passar a mão na sua cabeça quando a corda apertar no pescoço. Aliás, você não é mais um adolescente, vestido com uma camiseta do Metallica, como todos os outros "coleguinhas" da sua idade...
...O que? Você discorda? Ah, então você é do tipo que ainda se apaixona pela mais cobiçada do colégio, é isto? Só tenho uma coisa pra dizer para dizer pra você: veja, não só uma, como duas vezes "Homens, Santos e Desertores".
HOMENS, SANTOS E DESERTORES
Texto : Mário Bortolotto
Direção : Fernanda D´Umbra
Com Mário Bortolotto e Gabriel Pinheiro
No Auditório Glauco Flores de Sá Brito (Mini-Auditório do Teatro Guaíra)
Quinta a Sábado : 21h
Domingo : 20h
Ingressos : R$ 20,00
R$ 10,00 (Estudantes, Aposentados e Classe Teatral)
Não consegui segurar: chorei no final. E no final eu não queria segurar mais lágrima alguma, por que se eu segurasse, era capaz de transbordar no fígado e no estômago a fúria daquele texto (muito embora, eu tenha bebido todas depois, sem misturar é claro). Eu falo de “Homens, Santos e Desertores” do Mario Bortolloto . Tive que disfarçar o olho vermelho, antes de dar um “oi” para o Marcelo e para o Marião depois do espetáculo. Explico.
Esta é uma peça que nos joga na cara o “inferno” do mundo contemporâneo e que ao mesmo tempo nos sussurra ao pé do ouvido “se não agüenta, por que veio?” Dois personagens: um alcoólatra já sem esperança alguma e um jovem sem perspectiva. Os dois travam uma batalha de nervos, destilando uma série de outros personagens podres e completamente desajustados. É a mãe que dá para todo o bairro, o pai que fugiu de casa, o padre pedófilo, o padre alcoólatra, o “bombadinho” descerebrado do colégio (que pode, neste exato instante, estar comendo a sua mãe), a mãe que se mata com um tiro. Enfim, toda uma galeria de figuras bizarras e dolorosamente humanas a esbarrar sem pena na frágil sensibilidade dos dois coadjuvantes. Mas se o mundo não é isto, um grande freak show humano com lanças de aço apontadas para as nossas cabeças, o que é então? Um conto de fadas? Um final feliz? Não.
É justamente neste ponto que a peça mais me tocou – não existe saída. O mundo é assim e enfrente-o sem autopiedade, sem se fazer de coitadinho, sem se acomodar na futilidade prazerosa que a artificialidade nos impõe dia após dia. E o Marião nos joga isto na cara durante toda a peça (entende por que eu saí meio atormentado depois?). Ele fala sobre alcançar o posto de “santidade”, ou seja, se assumir um excluído e dar a cara pra bater neste mundão velho de guerra. Não adianta se iludir: as pessoas não são do jeito que você pensa e ninguém vai passar a mão na sua cabeça quando a corda apertar no pescoço. Aliás, você não é mais um adolescente, vestido com uma camiseta do Metallica, como todos os outros "coleguinhas" da sua idade...
...O que? Você discorda? Ah, então você é do tipo que ainda se apaixona pela mais cobiçada do colégio, é isto? Só tenho uma coisa pra dizer para dizer pra você: veja, não só uma, como duas vezes "Homens, Santos e Desertores".
HOMENS, SANTOS E DESERTORES
Texto : Mário Bortolotto
Direção : Fernanda D´Umbra
Com Mário Bortolotto e Gabriel Pinheiro
No Auditório Glauco Flores de Sá Brito (Mini-Auditório do Teatro Guaíra)
Quinta a Sábado : 21h
Domingo : 20h
Ingressos : R$ 20,00
R$ 10,00 (Estudantes, Aposentados e Classe Teatral)
quinta-feira, novembro 16, 2006
O poeta Rodolfo Jaruga teve a idéia de juntar os poetas aqui da nossa cidade para que eles exercitassem à sério a forma do soneto. Vários deles já estão participando (Rodrigo Madeira, Jaques Brand, Paulo Bearzoti...). O resultado disto você encontra no site Sonetos Curitibanos. Eu já estou preparando alguns sonetos para mandar pra lá. Fora isto, Jaruga também me dedicou este belo poema de cair o queixo. Valeu Rodolfo!
PAISAGEM FRANCA
Para Alexandre França
Caminha a multidão coesa, sem
pressa, pela rua xv. As cinzas
espessas da garoa eterna cobrem
a minha roupa exausta. Um pouco antes
que anoiteça, quando os olhos não lêem
as entrelinhas da vida, porém
advinham a morte nos vultos que
atravessam a rua, resoluto,
eu saco o meu revólver inquieto
do casaco e aos ares prendo fogo.
Os vultos se desesperam e fogem
num tumulto semelhante ao de meu
polaco peito. Mas o vazio segue
insepulto e ninguém vem me acalmar.
Rodolfo Jaruga
Curitiba, 15 de novembro de 2006.
terça-feira, novembro 14, 2006
Texto do Leprevost que estará no meu site
Numa bosta de luau promovido por garotinhos cagões
Não é que ele só queira escrever umas canções tristes. O fato é que ele só consegue fazer dessa maneira, com tristeza. Sei que ele era a fim de dar porrada num bando de play-boys babacas que freqüentavam o cursinho pré-vestibular do Colégio Positivo. Sei do desprezo dele pelas patys que circulam ali pelo Shopping Cristal. Então é por isso que ele derruba a munheca naquele violão. Por isso e porque ele adora a noite curitibana com toda sua neblina característica, com todas aquelas pessoas vestidas com sobretudo preto bebendo vinho Campo Largo e fazendo merda no calçadão do Largo da Ordem. Só que o cara não é tosco, ele estudou música clássica, ele estudou violão com o maestro Waltel Branco, caralho, não foi qualquer um que teve esse privilégio. Só que mesmo assim ele prefere enfiar a porrada naquele violão, o mesmo que presenciei uma vez voar e passar raspando por uma fogueira igualmente nervosa numa bosta de luau promovido por garotinhos cagões lá na praia do Condomínio Atami. Naquele dia o maluco vomitou sangue, literalmente, e a partir de então minha má influência havia tomado conta da sua vida. Quer saber? Foda-se. Com toda areia e outras tantas sujeiras ele continuou tocando aquele violão desesperado. Meses depois o violão continuava comprometido, saía areia de tudo que é lugar. Acho que aquele violão nunca mais foi limpo, acho que ninguém teve a manha de passar um paninho nele. Porra, tô querendo dizer o seguinte: Que bom que o violão do França foi sujo por muito tempo. Que bom que a voz dele é uma voz meio estragada já naturalmente e piorada com maços de Malboro e garrafas de conhaque. Foi você, Bróder, que me ensinou que a solidão não mata, só dá a idéia. Isso bem antes do teu disco existir. O que posso dizer? Teu álbum é belo e triste, belo porque triste. E quem quiser degustá-lo tem que saber que por trás duma estudada docilidade virá o veneno sinistro corroendo a garganta, incendiando a traquéia, revirando o estômago. E como resultado final, inevitavelmente sentirá os olhos nublarem.
Luiz Felipe Leprevost
Rio de Janeiro - Baixo Leblon
07/11/2006 - 00:28 horas
Numa bosta de luau promovido por garotinhos cagões
Não é que ele só queira escrever umas canções tristes. O fato é que ele só consegue fazer dessa maneira, com tristeza. Sei que ele era a fim de dar porrada num bando de play-boys babacas que freqüentavam o cursinho pré-vestibular do Colégio Positivo. Sei do desprezo dele pelas patys que circulam ali pelo Shopping Cristal. Então é por isso que ele derruba a munheca naquele violão. Por isso e porque ele adora a noite curitibana com toda sua neblina característica, com todas aquelas pessoas vestidas com sobretudo preto bebendo vinho Campo Largo e fazendo merda no calçadão do Largo da Ordem. Só que o cara não é tosco, ele estudou música clássica, ele estudou violão com o maestro Waltel Branco, caralho, não foi qualquer um que teve esse privilégio. Só que mesmo assim ele prefere enfiar a porrada naquele violão, o mesmo que presenciei uma vez voar e passar raspando por uma fogueira igualmente nervosa numa bosta de luau promovido por garotinhos cagões lá na praia do Condomínio Atami. Naquele dia o maluco vomitou sangue, literalmente, e a partir de então minha má influência havia tomado conta da sua vida. Quer saber? Foda-se. Com toda areia e outras tantas sujeiras ele continuou tocando aquele violão desesperado. Meses depois o violão continuava comprometido, saía areia de tudo que é lugar. Acho que aquele violão nunca mais foi limpo, acho que ninguém teve a manha de passar um paninho nele. Porra, tô querendo dizer o seguinte: Que bom que o violão do França foi sujo por muito tempo. Que bom que a voz dele é uma voz meio estragada já naturalmente e piorada com maços de Malboro e garrafas de conhaque. Foi você, Bróder, que me ensinou que a solidão não mata, só dá a idéia. Isso bem antes do teu disco existir. O que posso dizer? Teu álbum é belo e triste, belo porque triste. E quem quiser degustá-lo tem que saber que por trás duma estudada docilidade virá o veneno sinistro corroendo a garganta, incendiando a traquéia, revirando o estômago. E como resultado final, inevitavelmente sentirá os olhos nublarem.
Luiz Felipe Leprevost
Rio de Janeiro - Baixo Leblon
07/11/2006 - 00:28 horas
segunda-feira, novembro 13, 2006
Imperdível - Marcelo Montenegro amanhã no Wonka Bar
E amanhã, para quem gosta de poesia, o grande poeta Marcelo Montenegro estará apresentando o seu trabalho dentro do projeto "porão loquax", junto com Rubens K no baixo e Carlão na guitarra. O evento começa às 22:00 horas e como eu sempre digo, a minha sombra já está esperando a poesia do Marcelo lá no Wonka bar (rua trajano reis, 326). APAREÇAM
sexta-feira, novembro 10, 2006
Leprevost no Rio
Para o pessoal aqui de Curitiba que está com saudades do mamute mutante mais querido das redondezas da Cruz Machado, aqui vai um vídeo do Leprevost detotando um clássico dos iconoclastinhas: "variação bipolar do humor" (que também está no cd "a solidão não mata, dá idéia" que será lançado em breve)
Variação bipolar do humor
(Luiz Felipe Leprevost/ Alexandre França)
Do alto do Corcovado
O Cristo se atirou
Rachou a cara no asfalto
Aliviado sangrou
Não era fé que ele tinha
Não era nem pela paz
Também não era amor
- então o que ele tinha?
Variação bipolar do humor.
Picharam que ele era bicha
No altar de pedra sabão, irmão
Era uma rixa antiga
Entre o pecado e o perdão.
Para o pessoal aqui de Curitiba que está com saudades do mamute mutante mais querido das redondezas da Cruz Machado, aqui vai um vídeo do Leprevost detotando um clássico dos iconoclastinhas: "variação bipolar do humor" (que também está no cd "a solidão não mata, dá idéia" que será lançado em breve)
Variação bipolar do humor
(Luiz Felipe Leprevost/ Alexandre França)
Do alto do Corcovado
O Cristo se atirou
Rachou a cara no asfalto
Aliviado sangrou
Não era fé que ele tinha
Não era nem pela paz
Também não era amor
- então o que ele tinha?
Variação bipolar do humor.
Picharam que ele era bicha
No altar de pedra sabão, irmão
Era uma rixa antiga
Entre o pecado e o perdão.
quinta-feira, novembro 09, 2006
pirraça
estou com uma vontade
de dar uns tiros no ar
para acalmar a multidão
e me embrenhar no seu colo
babando mágoa de criança
e de me arrastar pelo seus pêlos
fazendo gestos obscenos
para os que ficam para trás.
uma vontade de enfileirar
todos os suicidas que pretendem se atirar
de um prédio e me divertir
empurrando um por um
ou melhor, me divertir dando motivos suficientes
para que eles finalmente pulem.
uma vontade de voltar a dar tiros no ar
mesmo não havendo mais multidão
só para que alguém me acalme.
estou com uma vontade
de dar uns tiros no ar
para acalmar a multidão
e me embrenhar no seu colo
babando mágoa de criança
e de me arrastar pelo seus pêlos
fazendo gestos obscenos
para os que ficam para trás.
uma vontade de enfileirar
todos os suicidas que pretendem se atirar
de um prédio e me divertir
empurrando um por um
ou melhor, me divertir dando motivos suficientes
para que eles finalmente pulem.
uma vontade de voltar a dar tiros no ar
mesmo não havendo mais multidão
só para que alguém me acalme.
quarta-feira, novembro 08, 2006
gripe II
entre
o emparedamento
de prédios partidos,
depredados e pichados.
entre
o guarda-roupa mofado
e úmido.
entre
livros velhos,
desfolhados, despetalados,
grifados com caneta piloto.
Eu ouço a minha música,
a melodia líquida
da minha circulação
e escuto a rua
aplaudir com seus apitos,
gritos e gestos
o réquiem rouco que dedilho
em poucos acordes azuis
derramados do meu umbigo.
Por dormir neste asfalto,
por deixar mensagens de amor neste asfalto,
por ser assaltado neste asfalto,
eu percorro o cárcere
dos órgãos do meu corpo
e o que eu encontro é o sol
cinza.
Estou suado
e com vontade de mergulhar neste asfalto.
Estou vazio
e com vontade
de que alguém
mergulhe em mim.
entre
o emparedamento
de prédios partidos,
depredados e pichados.
entre
o guarda-roupa mofado
e úmido.
entre
livros velhos,
desfolhados, despetalados,
grifados com caneta piloto.
Eu ouço a minha música,
a melodia líquida
da minha circulação
e escuto a rua
aplaudir com seus apitos,
gritos e gestos
o réquiem rouco que dedilho
em poucos acordes azuis
derramados do meu umbigo.
Por dormir neste asfalto,
por deixar mensagens de amor neste asfalto,
por ser assaltado neste asfalto,
eu percorro o cárcere
dos órgãos do meu corpo
e o que eu encontro é o sol
cinza.
Estou suado
e com vontade de mergulhar neste asfalto.
Estou vazio
e com vontade
de que alguém
mergulhe em mim.
sexta-feira, novembro 03, 2006
poema da semana
não escreve aqui quem sabe de tudo
o que você quer, o que você sabe, nada
apenas quero daquele que é mudo
dizer o que acha dessa palhaçada
o ritmo vale mais que a métrica e a rima
pois a métrica é salão e a rima cozinha
tudo que a inteligência dizima
é fato a mim e idéia de fato minha
você, que é devorador da comida alheia
que se serve do talento de outro prato
preste atenção: seu sangue não vai mudar de veia
se você não criar pra você um novo braço
Marcos Prado
não escreve aqui quem sabe de tudo
o que você quer, o que você sabe, nada
apenas quero daquele que é mudo
dizer o que acha dessa palhaçada
o ritmo vale mais que a métrica e a rima
pois a métrica é salão e a rima cozinha
tudo que a inteligência dizima
é fato a mim e idéia de fato minha
você, que é devorador da comida alheia
que se serve do talento de outro prato
preste atenção: seu sangue não vai mudar de veia
se você não criar pra você um novo braço
Marcos Prado
quinta-feira, novembro 02, 2006
sábado, outubro 28, 2006
intimidação
já estou imaginando
o que se passa na cabeça
de uma pessoa como esta
na fila do cinema, atrás de mim
a me cutucar com o dedo indicador
até furar o tecido da pele
até incomodar os órgãos adormecidos do corpo
até provocar a minha ira nietzschiana
até que eu não durma à noite com medo
dos insetos que não foram convidados
para a festa silenciosa do meu sono.
ela deve pensar:
"ele me reconhece
ele me quer por perto,
ele sabe que gosta de mim"
daí eu me pergunto:
quem a quer por perto?
daí eu me respondo:
o mundo não é uma máquina de perguntar
eu não estou fazendo este poema
pra você nem pra ninguém
eu posso muito bem
não estar pensando em nada
neste exato instante
eu posso planejar o seu assassinato
mas eu não lhe dei esta intimidade
já estou imaginando
o que se passa na cabeça
de uma pessoa como esta
na fila do cinema, atrás de mim
a me cutucar com o dedo indicador
até furar o tecido da pele
até incomodar os órgãos adormecidos do corpo
até provocar a minha ira nietzschiana
até que eu não durma à noite com medo
dos insetos que não foram convidados
para a festa silenciosa do meu sono.
ela deve pensar:
"ele me reconhece
ele me quer por perto,
ele sabe que gosta de mim"
daí eu me pergunto:
quem a quer por perto?
daí eu me respondo:
o mundo não é uma máquina de perguntar
eu não estou fazendo este poema
pra você nem pra ninguém
eu posso muito bem
não estar pensando em nada
neste exato instante
eu posso planejar o seu assassinato
mas eu não lhe dei esta intimidade
quinta-feira, outubro 26, 2006
não vou atender o telefone (para Bukowski)
enquanto uma britadeira
de gelo e copo
trava uma guerra sangrenta
contra o silêncio do meu quarto,
um cachorro poodle,
abandonado por seus donos,
tenta uma investida contra
um mendigo sem dono
e sem cachorro.
agora mesmo
enquanto o mendigo
termina de assar este cão branco e mimado
eu tenho um medo canino
de que aquelas pessoas
estendam as suas patéticas e previsíveis mãos
para mim.
e tenho pesadelos
com mães solteiras
me perseguindo pela manhã cinza
de Curitiba
com gordos bebês de colo
com caras gordas de desgosto
exatamente com a minha cara de desgosto
com feias varizes nas pernas
com os seios caídos, com as mãos calejadas, com manchas escuras no rosto,
com uma música brega no fundo,
com uma forçada alegria
de programa de auditório.
estes dias mesmo
uma mulher me ligou me dizendo:
- gostaria de convidá-lo
para um mesa de discussões aqui na universidade
- não participo de mesa de discussões.
- então o senhor não gosta de ser testado?
não falei o que me veio na mente,
esta gente é perigosa,
sem dúvida ela planejava
o meu apedrejamento
em praça pública.
enquanto uma britadeira
de gelo e copo
trava uma guerra sangrenta
contra o silêncio do meu quarto,
um cachorro poodle,
abandonado por seus donos,
tenta uma investida contra
um mendigo sem dono
e sem cachorro.
agora mesmo
enquanto o mendigo
termina de assar este cão branco e mimado
eu tenho um medo canino
de que aquelas pessoas
estendam as suas patéticas e previsíveis mãos
para mim.
e tenho pesadelos
com mães solteiras
me perseguindo pela manhã cinza
de Curitiba
com gordos bebês de colo
com caras gordas de desgosto
exatamente com a minha cara de desgosto
com feias varizes nas pernas
com os seios caídos, com as mãos calejadas, com manchas escuras no rosto,
com uma música brega no fundo,
com uma forçada alegria
de programa de auditório.
estes dias mesmo
uma mulher me ligou me dizendo:
- gostaria de convidá-lo
para um mesa de discussões aqui na universidade
- não participo de mesa de discussões.
- então o senhor não gosta de ser testado?
não falei o que me veio na mente,
esta gente é perigosa,
sem dúvida ela planejava
o meu apedrejamento
em praça pública.
Comentários
então, minha gente, tirei os comentários aqui do blues, mas não a possibilidade de comentar. se alguém quiser fazer algum comentário (crítica, elogio, pentelhação, escracho, etc...) mande um e-mail para alexandregfranca@hotmail.com devidamente identificado, beleza? É isto.
terça-feira, outubro 24, 2006
Um cara
Tem um cara aí em cima
Tocando uma reforma
Com um martelo de aço
Pregando pequenas reproduções de Picasso
Nos buracos da encanação.
Ele me irrita profundamente
Cravando pregos em machucados
Que parecem buracos
Mas que são apenas a má-digestão
Do dia seguinte.
Tem um cara aí em cima
Que deu uma reviravolta
Ouvindo Paulo Vanzolini
Num bar de rodoviária
Com um copo de cerveja quente
Esbravejando para os vira-latas
E repetindo a frase “eu posso”.
Agora
Ele não cansa de bater
Uma vitamina pela manhã
Agora
Ele não cansa de escutar
Músicas de relaxamento.
Tem um cara aí em cima
Que me quer morto
Por que eu critiquei o Oswaldo Montenegro
Por que a sua mãe me deu mole no elevador
Por que ele não pode mais
Ter um copo de vodka nas mãos.
Tem um cara aí em cima
Que quando eu reclamo
Ele só sabe me chamar de bêbado.
Tem um cara aí em cima
Tocando uma reforma
Com um martelo de aço
Pregando pequenas reproduções de Picasso
Nos buracos da encanação.
Ele me irrita profundamente
Cravando pregos em machucados
Que parecem buracos
Mas que são apenas a má-digestão
Do dia seguinte.
Tem um cara aí em cima
Que deu uma reviravolta
Ouvindo Paulo Vanzolini
Num bar de rodoviária
Com um copo de cerveja quente
Esbravejando para os vira-latas
E repetindo a frase “eu posso”.
Agora
Ele não cansa de bater
Uma vitamina pela manhã
Agora
Ele não cansa de escutar
Músicas de relaxamento.
Tem um cara aí em cima
Que me quer morto
Por que eu critiquei o Oswaldo Montenegro
Por que a sua mãe me deu mole no elevador
Por que ele não pode mais
Ter um copo de vodka nas mãos.
Tem um cara aí em cima
Que quando eu reclamo
Ele só sabe me chamar de bêbado.
segunda-feira, outubro 23, 2006
sábado, outubro 21, 2006
mais uma vez
estou dentro de alguém
como se eu olhasse
uma amiga no olho
e pensasse "estamos no fim".
mais uma vez
tirei sarro do amor
como quem atormenta
o irmão casula
e me rendi a lei de uma mó
que enforca e quente circula
idéias televisivas
em nossa mente-classe-média.
mais uma vez, amiga
você reconheceu que nenhuma luz
foi acesa ou apagada
e que nós precisamos de nós dois
numa célula um-ao-outro
onde o claro e o escuro não existem
onde se nasce mais de uma vez
e se morre carne
por dentro.
este cheiro asséptico
de preservativo
é mais uma chuva imprevista
do outono desprevenido
da depressão pós ressaca
do marca-passo dos dias.
mais uma vezestou dentro de alguém
como se eu olhasse
uma amiga no olho
e pensasse "estamos no fim".
mais uma vez
tirei sarro do amor
como quem atormenta
o irmão casula
e me rendi a lei de uma mó
que enforca e quente circula
idéias televisivas
em nossa mente-classe-média.
mais uma vez, amiga
você reconheceu que nenhuma luz
foi acesa ou apagada
e que nós precisamos de nós dois
numa célula um-ao-outro
onde o claro e o escuro não existem
onde se nasce mais de uma vez
e se morre carne
por dentro.
segunda-feira, outubro 16, 2006
Texto de apresentação do livro dos Iconoclastinhas.
O povão é grande mas não é dois?
Músicos tocam juntos, poetas escrevem e como poesia pode ser qualquer coisa, até conversa entre pessoas inteligentes, o França e o Leprevost resolveram levar alguns leros. Olhem bem, os dois iconoclastinhas são aqueles ali no fundo do bar. Estão ali há horas, bebendo e fumando. Só param pra rir. E pra mijar. O magro e o gordo, asterisco e obelisco, duas antenas captando, raptando idéias, conceitos, ícones, delírios, fantasias, pequenas epopéias do cotidiano e colocando no papel. Flashs, eles não perdem um. Parece que estão ligados a tudo e a todos. Epa!... essa frase é minha ... ladrões... ah...então é assim?! Remixar a vida, cortes, edição, a contribuição milionária de todos os erros? A genialidade que soma o que somos e faz a multiplicação dos milagres? A vida reinventada, o perfil inédito através do que é fútil? Pode ser, mas pode ser também que seja mais do que pó de ser. O que eu sei é que eles se apropriaram do discurso simbolista de Curitiba e como bons iconoclastinhas partiram pra destruição das imagens.
Sim, foram eles, você não sabia? As provas? Estão todas aqui reunidas. E cada poema deste livro deve ir a julgamento popular. Afinal, eles estão falando de nós. Sim, não há dúvidas. Atentem para o coloquial dos versos, é nosso esse tom, é isso que dizemos todos os dias. Esses dois incorporaram o povão, meteram o bedelho na nossa vida e cutucaram a ferida com vara curta e grossa. Nossos segredos, fraquezas, mesquinharias, pequenas hipocrisias, para esses poetas não passam de matéria-prima. Isso não pode ficar assim. Ou pode e deve?
Leia com atenção, cada detalhe, minúcia, delícia, lágrima, riso, toda maravilha, miséria, é uma imagem do nosso espelho, que eles, sem dó nem piedade, estão quebrando. E não adianta colar os cacos, se você fizer isso, vai dançar; e eles, rindo da tua cara, certeza, vão requebrar.
Antonio Thadeu Wojciechowski
Poeta e compositor.
terça-feira, outubro 10, 2006
Primeiro canto do poema "mordendo a língua"
I
O dia em que o Diabo fez uma proposta a um velho Lingüista.
O meu quarto de brinquedos.
Livros de cores diversas contrastam
Com montanhas de xerox.
Nada melhor para digitar do que ler.
Entrar em ritmo.
Mentir para si mesmo.
O coração em banho-maria me viu dormir
E agora sabe dos meus truques de escrever.
Da sacada,
Olho para os prédios:
O céu agora é uma peça de encaixar.
Tolice!
A madrugada em minha casa tornou-se uma velha.
Nada se completa.
Abro a geladeira e as suas mechas geladas também são idosas.
Olhar para o iogurte que será tomado
é olhar para as próprias estruturas movediças do interior do corpo.
Adeus cigarros,
Adeus cafezinhos de fim de tarde,
Adeus chope com os amigos,
Adeus madrugadas não dormidas:
O meu conteúdo está inteiro minado pelos costumes.
Ainda tento entender a minha vaidade de escrever um poema que contenha o tempo.
Uma vaidade sim! Isto pouco tem a ver com o meu passado.
Babo todo tempo do mundo no pasto mal cheiroso do meu passado.
E que se dane!
Meu organismo apenas processa a pastosa e fácil massa de resíduos,
Ditos saudáveis pelas revistas semanais
De inutilidades. E que se dane!
Ponho-me a caminhar pelo baixo batel e descortino anos de impertinência.
Nada passou batido nesta máquina de fotos:
Poses, trocadilhos e nomes,
Pousaram os braços em minhas letras.
E eu solto o latido neste final de voz.
Não economizo as cordas vocais.
Mando tudo para todos os lugares e
Me acostumo a indecisão do todo.
A vida não exporta a alegria aos outros seres.
Se é ser,
que se faça por si mesmo.
Nada parece adiantar a falta de viço que as articulações impõem a necessidade de lembrar (ou de não lembrar de nada).
É velhaca a luz que nos dá a liberdade de escolha.
Ela existe para enfeitar paisagens e buracos
Os buracos que formamos no decorrer da vida.
Buracos como os outros idênticos e pasteurizados buracos que a vida nos impõe.
Alçapões enferrujados usados para pegar a nós mesmos
Na esperança de se obter um pedaço da alma
Para se experimentar antes da manhã seguinte.
Engraçado me lembrar agora destes jantares.
Na lembrança do meu jantar de formatura,
até os cristais me parecem familiares e quebradiços.
Podem quebrar ao menor grito ou manifestação de agora.
É o que acontece. Que se dane o rosto inteiramente cortado.
Talhado com a compostura que uma farsa destas merece.
O que me deixa encantado é a beleza da descompostura
que um copo cica me provocava.
Encantava-me a descompostura que a aurora recebia os meus.
E eu admirava a sonoridade da panela de pressão.
O que na manhã era maravilhoso era ler o jornal e desmaterializá-lo em função da imagem humana.
Hoje, vejo exaustivamente televisão na tentativa de me tele-transportar a um tempo que já não é mais o meu.
O que de fato fica,
são estes entalhes de fanfarrice que a vida nos permite.
Deixo o tempo brincar com as incrustações de suas páginas-pele.
E me descubro um bloco de notas amarelo.
Cada nota uma ruga sutil
A reverberar a existência
Ou a falta dela.
O que guardar nestas velhas caixas?
Por que não desarrumei a mudança?
Ainda meus documentos pesam nestes compartimentos imunes a qualquer culpa.
A minha culpa,
A culpa que eu insisto em ter e reter no passar de capítulos.
A forma barroca de controlar tudo isto
Está nas manchas que a minha mão ostenta como troféu de uma velhice
Quase acabada.
É como uma corrida no deserto
Onde multidões de grãos de areia
Acompanham as formas de existir, inexistir e desistir.
O que me importa agora as oposições?
Se mais uma vez a vida me faz falta.
A minha vida se comporta como um pai que
É sempre uma lacuna
Por trocar os seus
pelas viagens.
Um copo de água,
Um copo de canetas,
Um copo de solidão agora desaba as lágrimas
Que há tempos eram entornadas para dentro.
Transbordar é a face feliz de um rio.
Sou um rio que corre relativamente satisfeito com o que foi realizado.
Um rio morno e limpo por que esquecido.
Depender da metáfora
Foi o meu maior erro.
Muitas vezes
Viver sem em nada pensar
é uma maneira prática de apagar os erros.
Seria idiotice me confundir com um destes velhos móveis?
A minha consciência esta completamente mofada.
Já estou automatizado, mesmo aqui escrevendo este poema,
Que é na verdade uma charla mal construída. Logo você se tocará do tempo que perdeu! Pois este poema contém, pelo menos, o seu tempo perdido.
E isto é um entidade.
Ser uma entidade já não parece um júbilo,
Mas uma sangria de velhas imagens reutilizadas.
Eu me reutilizo na preguiça do existir.
Faço as mãos darem as mãos às minhas mãos.
Troco o andar pelo andor da tarde.
Desperto o vegetal em mim.
O vegetal que sempre pousou leve em mim.
E se eu morresse mais cedo?
Se eu dependesse do antes da minha carência?
Este descontrole me envolve
E descubro que a perda do senso
Revigora a vontade de existir.
A luz do dia não soa ao cair da tarde das almas.
Como é perder a alma?
Pois eu conto a você como é deter uma alma.
Matar dá esta impressão.
A impressão do nada como um objeto.
O nada como um sabor.
O nada como o quente e frio.
O nada com braços e pernas: a morte.
Há de se ter olhos suficientes para ver todas as mortes andarem.
Todas as mortes se cumprimentarem.
O meu livro de recortes de jornal me acalenta em insônias como estas.
Remonto o dia com as notícias que quero.
Sou ranzinza, preciso deste mimo.
Este sufoco que eu impus a minha respiração.
Quero a paz do afogado
Que finalmente fez parte do mar.
Quero fazer parte de algo e descansar.
Dormir.
A mãe abre a porta
Para conferir se o filho já chegou
Existo por alguns segundos
Por um fiapo de admiração
Será fácil perceber
Que estou morrendo?
Ligo a televisão.
Em todos os lugares eu ligo a televisão.
Nos bares e lanchonetes,
Nas feiras de artesanatos,
No aeroporto internacional,
Antes de dormir
Eu ligo a televisão e dou boa noite a minha solidão.
Não é a toa que este dia rime com solidão,
Pois ainda lembro de você quando sem querer
A novela liga a televisão do fim de meus dias.
E quantas tardes desperdiçadas com tratados e coisas mortas.
Não é necessário falar meu bem,
Eu ainda durmo com a falta de seu calor em minha cama e com o som da televisão ligada.
A oposição que sinto crescer nestes horários:
A minha vida e a sua morte.
É a fabula que tento reproduzir nas beiradas do crepúsculo, esta esperança de um ontem que não acontecerá. E tudo isto por que eu a amo. Amo todas as nossas coisas e amo morrer em paz para a encontrar a sós.
Nada mais justo do que o tempo me dar a mão.
Caminhemos nesta ciranda, amor.
Já é chegada a hora do tempo desinteressar.
Na rua de baixo já sou uma sombra idosa.
Invento uma bela velhice para demonstrar em meu quarto.
Nada do que havia escrito, nada do que havia falado cabe nestas lacunas de pele.
Sobre as moedas do troco eu me jogo e esbravejo: um gole desta xícara de nada.
E tomo, engulo o nada como chumbo em calda.
Sobrevivo como um piolho-de-cobra a deriva no assoalho do pensamento mortal.
O que quer que eu dirija?
Um carro, uma moto, a filosofia inteira?
É distribuir beijos na chuva esta poesia
É catar pingos de lua esta poesia
É envelhecer com os pregos esta poesia
É ser a ferrugem esta poesia
É sobrar no alto dos restos solares esta poesia
É embebedar as estrelas esta poesia
É confessar a morte já anunciada esta poesia
É perceber que nada atrapalha o fluxo de tudo existir nesta poesia.
Ah, noites de curvas imperfeitas e sábios beberrões
Ah, claridade de vento do ventilador de teto
Ah, média requentada na barriga do velho esclerosado
Ah, multidão de sem-tetos que batem a minha porta, que infestam a minha rua.
Eu estou completamente tomado pela cafeína, cocaína, nicotina, pela tinta de qualquer vício.
Me iluda mais um pouco, leitor imaginário.
Pois sou esta sombra que baila de parque à parque
Destilando o seu incomodo
Acumulando desgosto e alterando o fluxo deste adubo de vida.
Sou eu que faço você sorrir do desgosto do mendigo.
E eu gosto do gosto de todos os gostos amargos
E eu já acostumei a língua a esta ilha de flores encarniçadas
Boto o chapéu e saio a procura da amada.
Quem não teve a amada, quem não a possuiu?
Vem cá que eu o conto como é o gosto de pele e o mostro o porquê do amargo.
É esta cidade que eu vejo do alto.
Combustão de carros e cores, ferrolhos abertos, campainhas em surto frenético de rebeldia, os tímpanos pegando o fogo de prometeu, os tímpanos deitados em fogos de musas esquecidas, loucas, Cassandras perdidas no asfalto deste pensamento senil e ardiloso, um ranço de bebida falsificada, uma corisa incandescente, os lábios tortos de chicletes, balas, doces, desinfetantes bucais, água boricada, chacina em massa dos senhores da morte, dos meus companheiros Mortes.
Limpo estas intenções com o pano das pálpebras e a vejo, ainda com vinte anos, lambendo as carnes da ampla carne do tempo, pois eu ainda a tenho, e a venero, e a condeno a ser minha, como minha é esta poesia que já é das coisas, do mundo, do universo e das pessoas, dos animais invertebrados e vertebrados, pois eu te amo e é de todo ser humano provar certas coisas no cemitério, em qualquer enterro, em qualquer velório, sou esta carpideira de língua absorta e nojenta e asquerosa, pois eu não a tenho e não há outra forma de não anunciar a minha velhice escrota, esta caminhada louca para o nada, pois me resta pouco e pouco é o que alimenta as vértebras, a falta de osteoporose, a renite alérgica, a desculpa esfarrapada, a vergonha de não ter absolutamente nada a dizer diante do mar, diante de um espirro de Deus, frente à oposição que me faz o que sou, frente ao que me faz dizer “não me deixe sozinho, amor, não me deixe”.
A balança anuncia: cento e poucos quilos.
A minha alma era tão magra, seus cachos espaçosos.
Tive a coragem de chorar e de não chorar quando necessário.
Vê esta ferida debaixo dos olhos?
É uma das lágrimas que secou solitária, porém fescenina.
Não criei meninas em meu peito, soprei cabelos de mulheres,
Soprei verdadeiras feridas.
A varanda abre seus braços, me larga na respiração do mundo e ainda assim espero respirar o perfume de uma flor suburbana de quintal.
Um desejo derradeiro, talvez.
A minha frenologia do frenético:
Grito e assalto o eco das equações impossíveis,
De tudo o que não irei descobrir,
Pois a vida é também este render-se no rendez-vouz do infinito descobrir.
Acabou e vou dormir e nada mais de descobrir, descortinar, desbraguilhar, desatarrachar, desenfrear, desarmar.
Não se contenta em apenas existir, velho chato?
Não! Milhões de vezes Não! Gosto de negar; negar me dá poder de me afirmar frente à estes idiotas sem consciência e dor.
Não, pois tenho a minha dor que sei muito bem como cultivar.
Quer simplesmente vomitar o passado para fora?
Ter as idéias depositadas em cada célula do corpo?
Ser o mestre Yoda de todas as gerações
Que não sabem ainda a que ponto um ego pode inflar?
Neste caso,
nado com os gregos rumo a alguma guerra;
O destino é um inimigo visceral,
Não me rendo a Guerra nas Estrelas,
Remonto a Ilíada.
não se engane com esta certezinha de dor que você já tem.
O destino é um vírus que o mata sem saber por quê.
Envelheça.
Envelheça de uma vez.
Mas ainda me vejo,
doido e nu pelas ruas da cidade que sempre me desprezou.
Eu gosto do desprezo como quem gosta de mosquitos a rodar por uma suculenta bolsa de sangue noite afora.
Por que eu mesmo agora rezo para que me ataquem as moscas e as pessoas com suas asas pegajosas.
Eu não desprezo mais a dor, eu a quero.
Gostosa e fogosa pela minha pele enrugada e muito pouco saudável.
Pois sou mesmo esta língua a corrompê-la pelos vãos destas sarjetas de mulher.
Sou mesmo estas notas que Bach destila com uma sabedoria de messias.
Sou mesmo este sol que ofusca a mente em dias de eclipse.
Venha galopar neste louco alucinado que sonha com garrafadas e mais garrafadas de ejaculação sobre a sua face sem dor e arrependimentos.
Pois você é a dor.
Pois é assim que gozarei a parte final da minha desastrosa comédia romântica.
Gozando na sua boca, nos seus pensamentos, na sua falta de dor, de remendas e band-aids.
Venha dor,
Vamos macular o que sempre sonhamos macular, querida dor.
Vamos acordar este ódio que há tanto tempo ficou reprimido na sala 1 dos nossos corpos chamada “sociedade”.
E vamos sim beber até arrotarmos o arrependimento de Deus.
Vamos nos espalhar feito praga a influenciar jovens e crianças.
Vamos chamar a polícia sem motivo algum,
o hospício, o inferno, todos os infernos...
...ahahahahahah, mas de que me adianta isto agora,
Sou uma figura deplorável mesmo.
Anos e mais anos escrevendo sonetos e agora
Do nada
Querendo dar uma de libertário contemporâneo.
Só faltava eu estar escrevendo esta porcaria em inglês.
Ah, universidade, com seus nefelibatas de pensamentos pré-fabricados,
Ah, positivismo de gaveta, máscara fútil de ideal capitalista.
Ah, o dinheiro e o seu cheiro de buceta lavada.
Ah, o licor de tudo que é pago.
Ah, a minha vida que quer ser paga em três vezes se possível para demorar mais.
Ah, caça-niqueis chamado amor.
Engulo quantas balas halls for preciso, amor, e desativo todas as senhas que o corpo possui para te ter.
E venerarei todas as pedras que combinam com os seu signo, seu rosto, seu dia, seu eu.
Pois debaixo da cama ainda sobra um pouco de ego,
Em segundos deflagramos este maravilhoso chaveiro-ego
E nos adoramos até dizer chega e trepamos de lado, você rebolando feito uma louca atrevida e completamente depravada, com o pescoço torto a pedir os meus lábios, o meu ego, a minha fala e o meu falo.
E você vai se submeter assim como eu
Com todo o prazer, também.
E deixaremos de viver: comer, banho, acordar, dormir, trabalhar, falar, comentar, obedecer.
Nós já sabemos o caminho, amor. Por que não seguimos?
Eu a engulo e você me engole. Pois eu já conheço o seu delicioso sabor de mulher.
Chega de vitamina C, Xenical e Viagra: nós só precisamos nos engolir.
Atirar as nossas roupas pela janela e desvendar o segredo do guardador de carros.
O segredo da antena circular.
O segredo da vendedora de bilhetes.
Da vendedora de chicletes.
Ah meu amor, só precisamos repetir este gesto exaustivamente até sentirmos este nosso roçar de objetos soar a última melodia das nossas vidas.
Pois o meu quarto já não tem mais chão e nem teto,
Apenas esta sua pele suada, respingando dúvidas e mais dúvidas.
E retratos da juventude a conversar com esta sua cabeça insaciável.
A minha identidade amarelecida, uma foto do Sebastião Salgado,
A pobreza maquiada ao alcance da minha mão de velho imbuído de tola compaixão.
E...
...de que adianta? De que? De que adianta dominar todas as técnicas poéticas? Todas? Adianta dominar? Dominar Dominar Dominar. De que? Todas elas? De que? De que adianta dominar todas as técnicas poéticas? Adianta? Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar. De que adianta dominar todas as técnicas poéticas?
Se quem esta falando não é você,
É sua vaidade.
É a minha pura vaidade destilada e branca.
Já passa das três, a fome bate como tombo na sarjeta.
Eu, por vaidade, não vou comer.
Não quero.
A minha vontade tem de ser maior que a minha gula.
E será.
O cheiro do desodorante já demonstra as horas que passei escrevendo sobre mim.
Não posso mais falar sobre mim, senão estouro de vez.
E como mastigo fundo os órgãos do meu espírito.
Isto, funcionando como se o resto não importasse.
E talvez não importe mesmo.
Agora choro e me arrepio com a lágrima que escorre pelo meu rosto
Até, subitamente cair em minha mão direita.
Estou aliviado, a cada verso o meu passado parece fazer as pazes comigo.
Como se o meu inferno finalmente apagasse o seu fogo.
É o que realmente sinto: estar sendo inteiramente puro com o meu passado.
A raiva, assim como a solidão, sente um pesado sono
Em tardes como esta.
Irei limpar as minhas gavetas, faz tempo que não faço isto.
Meu quarto perdeu o rumo, o sentido.
Tudo espalhado e fedido como um verdadeiro chiqueiro.
Preciso espelhar a minha atual condição mental:
A de alguém que fez as pazes com o passado.
Não foi truque ou logro de qualquer espécie:
Aos poucos sinto conhecer o meu passado
E sinto como aprendo a entende-lo e principalmente,
Não julga-lo.
Hum...mas nada que você não me instigue.
Eu sei que passarei mais 48 horas escrevendo ininterruptamente,
Eu sei que o seriado 24 horas sairá do ar,
Eu sei que as noites e os dias pareceram iguais
E irretocáveis,
Eu sei que uma geração inteira ficará órfão do seriado 24 horas,
Meu corpo perderá o restante do seu viço,
O laivo de juventude que poderia subsistir em mim
Se perderá a cada clicada neste teclado cheio de dentes
A me mastigar a cada minuto, segundo ou coisa que o valha,
Pois já começo a sentir a presença dele...
...é isto mesmo a sua presença
que me incomoda.
A geração 24 horas cairá e, se eu não morrer, talvez me sinta menos idoso.
Ah, eu sei
eu só tenho a sensação que o meu passado mudou,
mas eu não sei de verdade, não tenho esta plena consciência,
coisa que me deixaria, sim, poderoso e menos vaidoso,
já que conviver com esta artificial vaidade que me toma,
me enforca a cada verso, a cada digitação, não me agrada,
me envelhece cada vez mais, a minha pele parece não aderir mais a minha carne
aos meus ossos, já que esta música, incessante e triunfal nada diz respeito ao meu passado.
Ele nunca mudará. Nunca.
O trato foi que eu conseguiria mudar o passado.
Ah, desgraçado.
Ah, só por que eu domino o tempo não quer dizer que eu conseguirei mudar o meu passado.
Então é isto?
Ora, por que tal tortura?
Estilete, gilete, navalha, bisturi, de que mais você precisa?
Vai me dizer que você precisa de versos?
Só tenho que rir de você, a me perscrutar com estes olhos vermelhos e chapados de demônio arrependido.
Ainda não sei como o chamar, ser ansioso.
Seria pelo nome mais abjeto? Satã, é você a me acariciar o dorso?
Eu conheço as suas mentiras de moleque,
O seu papo, a sua lentidão de fala, de boca e de língua.
Pois eu o odeio e não perdôo os seus atos.
A sua enganação
A sua maquiagem borrada.
Tenho 70 anos
E talvez hoje,
Falar meu nome seja o meu maior verso.
Acredito que a multiplicação de mariposas no meu lar
Seja as palmas que eu esperava de Deus ou de algo que me espera chegar.
Mas vejo, Diabo, que você me fez a melhor proposta.
Se eu conseguir conter o tempo com um poemaTerei o maior prazer de mudar o que eu quiser no meu passado.
I
O dia em que o Diabo fez uma proposta a um velho Lingüista.
O meu quarto de brinquedos.
Livros de cores diversas contrastam
Com montanhas de xerox.
Nada melhor para digitar do que ler.
Entrar em ritmo.
Mentir para si mesmo.
O coração em banho-maria me viu dormir
E agora sabe dos meus truques de escrever.
Da sacada,
Olho para os prédios:
O céu agora é uma peça de encaixar.
Tolice!
A madrugada em minha casa tornou-se uma velha.
Nada se completa.
Abro a geladeira e as suas mechas geladas também são idosas.
Olhar para o iogurte que será tomado
é olhar para as próprias estruturas movediças do interior do corpo.
Adeus cigarros,
Adeus cafezinhos de fim de tarde,
Adeus chope com os amigos,
Adeus madrugadas não dormidas:
O meu conteúdo está inteiro minado pelos costumes.
Ainda tento entender a minha vaidade de escrever um poema que contenha o tempo.
Uma vaidade sim! Isto pouco tem a ver com o meu passado.
Babo todo tempo do mundo no pasto mal cheiroso do meu passado.
E que se dane!
Meu organismo apenas processa a pastosa e fácil massa de resíduos,
Ditos saudáveis pelas revistas semanais
De inutilidades. E que se dane!
Ponho-me a caminhar pelo baixo batel e descortino anos de impertinência.
Nada passou batido nesta máquina de fotos:
Poses, trocadilhos e nomes,
Pousaram os braços em minhas letras.
E eu solto o latido neste final de voz.
Não economizo as cordas vocais.
Mando tudo para todos os lugares e
Me acostumo a indecisão do todo.
A vida não exporta a alegria aos outros seres.
Se é ser,
que se faça por si mesmo.
Nada parece adiantar a falta de viço que as articulações impõem a necessidade de lembrar (ou de não lembrar de nada).
É velhaca a luz que nos dá a liberdade de escolha.
Ela existe para enfeitar paisagens e buracos
Os buracos que formamos no decorrer da vida.
Buracos como os outros idênticos e pasteurizados buracos que a vida nos impõe.
Alçapões enferrujados usados para pegar a nós mesmos
Na esperança de se obter um pedaço da alma
Para se experimentar antes da manhã seguinte.
Engraçado me lembrar agora destes jantares.
Na lembrança do meu jantar de formatura,
até os cristais me parecem familiares e quebradiços.
Podem quebrar ao menor grito ou manifestação de agora.
É o que acontece. Que se dane o rosto inteiramente cortado.
Talhado com a compostura que uma farsa destas merece.
O que me deixa encantado é a beleza da descompostura
que um copo cica me provocava.
Encantava-me a descompostura que a aurora recebia os meus.
E eu admirava a sonoridade da panela de pressão.
O que na manhã era maravilhoso era ler o jornal e desmaterializá-lo em função da imagem humana.
Hoje, vejo exaustivamente televisão na tentativa de me tele-transportar a um tempo que já não é mais o meu.
O que de fato fica,
são estes entalhes de fanfarrice que a vida nos permite.
Deixo o tempo brincar com as incrustações de suas páginas-pele.
E me descubro um bloco de notas amarelo.
Cada nota uma ruga sutil
A reverberar a existência
Ou a falta dela.
O que guardar nestas velhas caixas?
Por que não desarrumei a mudança?
Ainda meus documentos pesam nestes compartimentos imunes a qualquer culpa.
A minha culpa,
A culpa que eu insisto em ter e reter no passar de capítulos.
A forma barroca de controlar tudo isto
Está nas manchas que a minha mão ostenta como troféu de uma velhice
Quase acabada.
É como uma corrida no deserto
Onde multidões de grãos de areia
Acompanham as formas de existir, inexistir e desistir.
O que me importa agora as oposições?
Se mais uma vez a vida me faz falta.
A minha vida se comporta como um pai que
É sempre uma lacuna
Por trocar os seus
pelas viagens.
Um copo de água,
Um copo de canetas,
Um copo de solidão agora desaba as lágrimas
Que há tempos eram entornadas para dentro.
Transbordar é a face feliz de um rio.
Sou um rio que corre relativamente satisfeito com o que foi realizado.
Um rio morno e limpo por que esquecido.
Depender da metáfora
Foi o meu maior erro.
Muitas vezes
Viver sem em nada pensar
é uma maneira prática de apagar os erros.
Seria idiotice me confundir com um destes velhos móveis?
A minha consciência esta completamente mofada.
Já estou automatizado, mesmo aqui escrevendo este poema,
Que é na verdade uma charla mal construída. Logo você se tocará do tempo que perdeu! Pois este poema contém, pelo menos, o seu tempo perdido.
E isto é um entidade.
Ser uma entidade já não parece um júbilo,
Mas uma sangria de velhas imagens reutilizadas.
Eu me reutilizo na preguiça do existir.
Faço as mãos darem as mãos às minhas mãos.
Troco o andar pelo andor da tarde.
Desperto o vegetal em mim.
O vegetal que sempre pousou leve em mim.
E se eu morresse mais cedo?
Se eu dependesse do antes da minha carência?
Este descontrole me envolve
E descubro que a perda do senso
Revigora a vontade de existir.
A luz do dia não soa ao cair da tarde das almas.
Como é perder a alma?
Pois eu conto a você como é deter uma alma.
Matar dá esta impressão.
A impressão do nada como um objeto.
O nada como um sabor.
O nada como o quente e frio.
O nada com braços e pernas: a morte.
Há de se ter olhos suficientes para ver todas as mortes andarem.
Todas as mortes se cumprimentarem.
O meu livro de recortes de jornal me acalenta em insônias como estas.
Remonto o dia com as notícias que quero.
Sou ranzinza, preciso deste mimo.
Este sufoco que eu impus a minha respiração.
Quero a paz do afogado
Que finalmente fez parte do mar.
Quero fazer parte de algo e descansar.
Dormir.
A mãe abre a porta
Para conferir se o filho já chegou
Existo por alguns segundos
Por um fiapo de admiração
Será fácil perceber
Que estou morrendo?
Ligo a televisão.
Em todos os lugares eu ligo a televisão.
Nos bares e lanchonetes,
Nas feiras de artesanatos,
No aeroporto internacional,
Antes de dormir
Eu ligo a televisão e dou boa noite a minha solidão.
Não é a toa que este dia rime com solidão,
Pois ainda lembro de você quando sem querer
A novela liga a televisão do fim de meus dias.
E quantas tardes desperdiçadas com tratados e coisas mortas.
Não é necessário falar meu bem,
Eu ainda durmo com a falta de seu calor em minha cama e com o som da televisão ligada.
A oposição que sinto crescer nestes horários:
A minha vida e a sua morte.
É a fabula que tento reproduzir nas beiradas do crepúsculo, esta esperança de um ontem que não acontecerá. E tudo isto por que eu a amo. Amo todas as nossas coisas e amo morrer em paz para a encontrar a sós.
Nada mais justo do que o tempo me dar a mão.
Caminhemos nesta ciranda, amor.
Já é chegada a hora do tempo desinteressar.
Na rua de baixo já sou uma sombra idosa.
Invento uma bela velhice para demonstrar em meu quarto.
Nada do que havia escrito, nada do que havia falado cabe nestas lacunas de pele.
Sobre as moedas do troco eu me jogo e esbravejo: um gole desta xícara de nada.
E tomo, engulo o nada como chumbo em calda.
Sobrevivo como um piolho-de-cobra a deriva no assoalho do pensamento mortal.
O que quer que eu dirija?
Um carro, uma moto, a filosofia inteira?
É distribuir beijos na chuva esta poesia
É catar pingos de lua esta poesia
É envelhecer com os pregos esta poesia
É ser a ferrugem esta poesia
É sobrar no alto dos restos solares esta poesia
É embebedar as estrelas esta poesia
É confessar a morte já anunciada esta poesia
É perceber que nada atrapalha o fluxo de tudo existir nesta poesia.
Ah, noites de curvas imperfeitas e sábios beberrões
Ah, claridade de vento do ventilador de teto
Ah, média requentada na barriga do velho esclerosado
Ah, multidão de sem-tetos que batem a minha porta, que infestam a minha rua.
Eu estou completamente tomado pela cafeína, cocaína, nicotina, pela tinta de qualquer vício.
Me iluda mais um pouco, leitor imaginário.
Pois sou esta sombra que baila de parque à parque
Destilando o seu incomodo
Acumulando desgosto e alterando o fluxo deste adubo de vida.
Sou eu que faço você sorrir do desgosto do mendigo.
E eu gosto do gosto de todos os gostos amargos
E eu já acostumei a língua a esta ilha de flores encarniçadas
Boto o chapéu e saio a procura da amada.
Quem não teve a amada, quem não a possuiu?
Vem cá que eu o conto como é o gosto de pele e o mostro o porquê do amargo.
É esta cidade que eu vejo do alto.
Combustão de carros e cores, ferrolhos abertos, campainhas em surto frenético de rebeldia, os tímpanos pegando o fogo de prometeu, os tímpanos deitados em fogos de musas esquecidas, loucas, Cassandras perdidas no asfalto deste pensamento senil e ardiloso, um ranço de bebida falsificada, uma corisa incandescente, os lábios tortos de chicletes, balas, doces, desinfetantes bucais, água boricada, chacina em massa dos senhores da morte, dos meus companheiros Mortes.
Limpo estas intenções com o pano das pálpebras e a vejo, ainda com vinte anos, lambendo as carnes da ampla carne do tempo, pois eu ainda a tenho, e a venero, e a condeno a ser minha, como minha é esta poesia que já é das coisas, do mundo, do universo e das pessoas, dos animais invertebrados e vertebrados, pois eu te amo e é de todo ser humano provar certas coisas no cemitério, em qualquer enterro, em qualquer velório, sou esta carpideira de língua absorta e nojenta e asquerosa, pois eu não a tenho e não há outra forma de não anunciar a minha velhice escrota, esta caminhada louca para o nada, pois me resta pouco e pouco é o que alimenta as vértebras, a falta de osteoporose, a renite alérgica, a desculpa esfarrapada, a vergonha de não ter absolutamente nada a dizer diante do mar, diante de um espirro de Deus, frente à oposição que me faz o que sou, frente ao que me faz dizer “não me deixe sozinho, amor, não me deixe”.
A balança anuncia: cento e poucos quilos.
A minha alma era tão magra, seus cachos espaçosos.
Tive a coragem de chorar e de não chorar quando necessário.
Vê esta ferida debaixo dos olhos?
É uma das lágrimas que secou solitária, porém fescenina.
Não criei meninas em meu peito, soprei cabelos de mulheres,
Soprei verdadeiras feridas.
A varanda abre seus braços, me larga na respiração do mundo e ainda assim espero respirar o perfume de uma flor suburbana de quintal.
Um desejo derradeiro, talvez.
A minha frenologia do frenético:
Grito e assalto o eco das equações impossíveis,
De tudo o que não irei descobrir,
Pois a vida é também este render-se no rendez-vouz do infinito descobrir.
Acabou e vou dormir e nada mais de descobrir, descortinar, desbraguilhar, desatarrachar, desenfrear, desarmar.
Não se contenta em apenas existir, velho chato?
Não! Milhões de vezes Não! Gosto de negar; negar me dá poder de me afirmar frente à estes idiotas sem consciência e dor.
Não, pois tenho a minha dor que sei muito bem como cultivar.
Quer simplesmente vomitar o passado para fora?
Ter as idéias depositadas em cada célula do corpo?
Ser o mestre Yoda de todas as gerações
Que não sabem ainda a que ponto um ego pode inflar?
Neste caso,
nado com os gregos rumo a alguma guerra;
O destino é um inimigo visceral,
Não me rendo a Guerra nas Estrelas,
Remonto a Ilíada.
não se engane com esta certezinha de dor que você já tem.
O destino é um vírus que o mata sem saber por quê.
Envelheça.
Envelheça de uma vez.
Mas ainda me vejo,
doido e nu pelas ruas da cidade que sempre me desprezou.
Eu gosto do desprezo como quem gosta de mosquitos a rodar por uma suculenta bolsa de sangue noite afora.
Por que eu mesmo agora rezo para que me ataquem as moscas e as pessoas com suas asas pegajosas.
Eu não desprezo mais a dor, eu a quero.
Gostosa e fogosa pela minha pele enrugada e muito pouco saudável.
Pois sou mesmo esta língua a corrompê-la pelos vãos destas sarjetas de mulher.
Sou mesmo estas notas que Bach destila com uma sabedoria de messias.
Sou mesmo este sol que ofusca a mente em dias de eclipse.
Venha galopar neste louco alucinado que sonha com garrafadas e mais garrafadas de ejaculação sobre a sua face sem dor e arrependimentos.
Pois você é a dor.
Pois é assim que gozarei a parte final da minha desastrosa comédia romântica.
Gozando na sua boca, nos seus pensamentos, na sua falta de dor, de remendas e band-aids.
Venha dor,
Vamos macular o que sempre sonhamos macular, querida dor.
Vamos acordar este ódio que há tanto tempo ficou reprimido na sala 1 dos nossos corpos chamada “sociedade”.
E vamos sim beber até arrotarmos o arrependimento de Deus.
Vamos nos espalhar feito praga a influenciar jovens e crianças.
Vamos chamar a polícia sem motivo algum,
o hospício, o inferno, todos os infernos...
...ahahahahahah, mas de que me adianta isto agora,
Sou uma figura deplorável mesmo.
Anos e mais anos escrevendo sonetos e agora
Do nada
Querendo dar uma de libertário contemporâneo.
Só faltava eu estar escrevendo esta porcaria em inglês.
Ah, universidade, com seus nefelibatas de pensamentos pré-fabricados,
Ah, positivismo de gaveta, máscara fútil de ideal capitalista.
Ah, o dinheiro e o seu cheiro de buceta lavada.
Ah, o licor de tudo que é pago.
Ah, a minha vida que quer ser paga em três vezes se possível para demorar mais.
Ah, caça-niqueis chamado amor.
Engulo quantas balas halls for preciso, amor, e desativo todas as senhas que o corpo possui para te ter.
E venerarei todas as pedras que combinam com os seu signo, seu rosto, seu dia, seu eu.
Pois debaixo da cama ainda sobra um pouco de ego,
Em segundos deflagramos este maravilhoso chaveiro-ego
E nos adoramos até dizer chega e trepamos de lado, você rebolando feito uma louca atrevida e completamente depravada, com o pescoço torto a pedir os meus lábios, o meu ego, a minha fala e o meu falo.
E você vai se submeter assim como eu
Com todo o prazer, também.
E deixaremos de viver: comer, banho, acordar, dormir, trabalhar, falar, comentar, obedecer.
Nós já sabemos o caminho, amor. Por que não seguimos?
Eu a engulo e você me engole. Pois eu já conheço o seu delicioso sabor de mulher.
Chega de vitamina C, Xenical e Viagra: nós só precisamos nos engolir.
Atirar as nossas roupas pela janela e desvendar o segredo do guardador de carros.
O segredo da antena circular.
O segredo da vendedora de bilhetes.
Da vendedora de chicletes.
Ah meu amor, só precisamos repetir este gesto exaustivamente até sentirmos este nosso roçar de objetos soar a última melodia das nossas vidas.
Pois o meu quarto já não tem mais chão e nem teto,
Apenas esta sua pele suada, respingando dúvidas e mais dúvidas.
E retratos da juventude a conversar com esta sua cabeça insaciável.
A minha identidade amarelecida, uma foto do Sebastião Salgado,
A pobreza maquiada ao alcance da minha mão de velho imbuído de tola compaixão.
E...
...de que adianta? De que? De que adianta dominar todas as técnicas poéticas? Todas? Adianta dominar? Dominar Dominar Dominar. De que? Todas elas? De que? De que adianta dominar todas as técnicas poéticas? Adianta? Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar Dominar. De que adianta dominar todas as técnicas poéticas?
Se quem esta falando não é você,
É sua vaidade.
É a minha pura vaidade destilada e branca.
Já passa das três, a fome bate como tombo na sarjeta.
Eu, por vaidade, não vou comer.
Não quero.
A minha vontade tem de ser maior que a minha gula.
E será.
O cheiro do desodorante já demonstra as horas que passei escrevendo sobre mim.
Não posso mais falar sobre mim, senão estouro de vez.
E como mastigo fundo os órgãos do meu espírito.
Isto, funcionando como se o resto não importasse.
E talvez não importe mesmo.
Agora choro e me arrepio com a lágrima que escorre pelo meu rosto
Até, subitamente cair em minha mão direita.
Estou aliviado, a cada verso o meu passado parece fazer as pazes comigo.
Como se o meu inferno finalmente apagasse o seu fogo.
É o que realmente sinto: estar sendo inteiramente puro com o meu passado.
A raiva, assim como a solidão, sente um pesado sono
Em tardes como esta.
Irei limpar as minhas gavetas, faz tempo que não faço isto.
Meu quarto perdeu o rumo, o sentido.
Tudo espalhado e fedido como um verdadeiro chiqueiro.
Preciso espelhar a minha atual condição mental:
A de alguém que fez as pazes com o passado.
Não foi truque ou logro de qualquer espécie:
Aos poucos sinto conhecer o meu passado
E sinto como aprendo a entende-lo e principalmente,
Não julga-lo.
Hum...mas nada que você não me instigue.
Eu sei que passarei mais 48 horas escrevendo ininterruptamente,
Eu sei que o seriado 24 horas sairá do ar,
Eu sei que as noites e os dias pareceram iguais
E irretocáveis,
Eu sei que uma geração inteira ficará órfão do seriado 24 horas,
Meu corpo perderá o restante do seu viço,
O laivo de juventude que poderia subsistir em mim
Se perderá a cada clicada neste teclado cheio de dentes
A me mastigar a cada minuto, segundo ou coisa que o valha,
Pois já começo a sentir a presença dele...
...é isto mesmo a sua presença
que me incomoda.
A geração 24 horas cairá e, se eu não morrer, talvez me sinta menos idoso.
Ah, eu sei
eu só tenho a sensação que o meu passado mudou,
mas eu não sei de verdade, não tenho esta plena consciência,
coisa que me deixaria, sim, poderoso e menos vaidoso,
já que conviver com esta artificial vaidade que me toma,
me enforca a cada verso, a cada digitação, não me agrada,
me envelhece cada vez mais, a minha pele parece não aderir mais a minha carne
aos meus ossos, já que esta música, incessante e triunfal nada diz respeito ao meu passado.
Ele nunca mudará. Nunca.
O trato foi que eu conseguiria mudar o passado.
Ah, desgraçado.
Ah, só por que eu domino o tempo não quer dizer que eu conseguirei mudar o meu passado.
Então é isto?
Ora, por que tal tortura?
Estilete, gilete, navalha, bisturi, de que mais você precisa?
Vai me dizer que você precisa de versos?
Só tenho que rir de você, a me perscrutar com estes olhos vermelhos e chapados de demônio arrependido.
Ainda não sei como o chamar, ser ansioso.
Seria pelo nome mais abjeto? Satã, é você a me acariciar o dorso?
Eu conheço as suas mentiras de moleque,
O seu papo, a sua lentidão de fala, de boca e de língua.
Pois eu o odeio e não perdôo os seus atos.
A sua enganação
A sua maquiagem borrada.
Tenho 70 anos
E talvez hoje,
Falar meu nome seja o meu maior verso.
Acredito que a multiplicação de mariposas no meu lar
Seja as palmas que eu esperava de Deus ou de algo que me espera chegar.
Mas vejo, Diabo, que você me fez a melhor proposta.
Se eu conseguir conter o tempo com um poemaTerei o maior prazer de mudar o que eu quiser no meu passado.
Ao pegar como ponto de partida o tema da solidão, o poeta e compositor Alexandre França tece, em seu primeiro CD de canções, um painel da vida noturna, desde os seus personagens mais célebres, como a prostituta e o músico de bar (retratados nas músicas “Neurótico cantor de boteco” e “Ela”), até os seus coadjuvantes, como os estudantes universitários descritos na música “Reitoria”.
Com um estilo ácido e direto de escrever letras, Alexandre não perdoa os defeitos e manias de seus personagens, que acabam, através de um antilirismo, adquirindo contornos humanos bem próximos à realidade. Inspirado em compositores que vão de Lupicínio Rodrigues a Arrigo Barnabé, este cd é uma releitura contemporânea do tema “noite”, que foi tão recorrente na mpb do passado, e que hoje está praticamente esquecido.
Os arranjos do cd foram confeccionados para, no total, doze instrumentistas - dos sopros (trompete, trombone, clarinete, clarone), passando pelos instrumentos de base (bateria, percussão, piano, baixo, guitarra), até as cordas (violino, viola, violoncelo) - formando assim uma ampla gama de possibilidades e “cenas” sonoras, dando ainda uma cara orquestral para o trabalho.
“A solidão não mata, dá a idéia” conta com a produção musical e com os arranjos de Gilson Fukushima, guitarrista do Grupo Fato (um dos grupos mais importantes da cidade) e também com a participação de músicos de renome internacional, como Endrigo Bettega, Sérgio Albach, Sérgio Justen e Guilherme Romanelli. Há também a participação especial da atriz Claudete Pereira Jorge declamando um poema do autor.
sábado, outubro 07, 2006
Parceria nova
O Leprevost, o Troy e o Ivan Justen que se cuidem, pois arrumei um novo parceiro de canções: o Guilherme Diniz, mais conhecido como Diniz na noite curitibana. Só pra vocês sentirem o aroma da perpétua...
Dançando na chuva
você fugiu pelo tubo do expresso
te persegui com a caloi cross
era dia de jogo, eu gritava
você fingia não ouvir minha voz
de repente garoava no asfalto
e derrapava aqui dentro sua fuga
deixei de lado aquela bicicleta
me sentindo em "dançando na chuva"
cantava "sing in the rain" pras pessoas
ninguém entendia a minha arte
fui atropelado na hora do rush
às sete horas da tarde.
frança e diniz
O Leprevost, o Troy e o Ivan Justen que se cuidem, pois arrumei um novo parceiro de canções: o Guilherme Diniz, mais conhecido como Diniz na noite curitibana. Só pra vocês sentirem o aroma da perpétua...
Dançando na chuva
você fugiu pelo tubo do expresso
te persegui com a caloi cross
era dia de jogo, eu gritava
você fingia não ouvir minha voz
de repente garoava no asfalto
e derrapava aqui dentro sua fuga
deixei de lado aquela bicicleta
me sentindo em "dançando na chuva"
cantava "sing in the rain" pras pessoas
ninguém entendia a minha arte
fui atropelado na hora do rush
às sete horas da tarde.
frança e diniz
quinta-feira, setembro 28, 2006
Capa do CD e download
Seguinte queridíssimos do meu coração, já arrumei a página do myspace e todas as 4 músicas já podem ser baixadas. Isto mesmo: se você quiser você pode fazer o download das 4 canções do meu primeiro cd (valeu o comentário do post abaixo...eu não havia percebido que não dava para fazer o download). Ah, e também coloquei as letras pra vocês cantarem junto comigo (heheheh)
O lançamento foi adiado de novo. Ficará para final de novembro ou começo de dezembro (isto que dá fazer as coisas de última hora). Bom, enquanto isto vejam o que vocês acham da capa do cd.
Seguinte queridíssimos do meu coração, já arrumei a página do myspace e todas as 4 músicas já podem ser baixadas. Isto mesmo: se você quiser você pode fazer o download das 4 canções do meu primeiro cd (valeu o comentário do post abaixo...eu não havia percebido que não dava para fazer o download). Ah, e também coloquei as letras pra vocês cantarem junto comigo (heheheh)
O lançamento foi adiado de novo. Ficará para final de novembro ou começo de dezembro (isto que dá fazer as coisas de última hora). Bom, enquanto isto vejam o que vocês acham da capa do cd.
segunda-feira, setembro 25, 2006
Mp3 do meu novo cd
Já está disponível no Myspace 4 músicas em mp3 do meu primeiro cd "a solidão não mata, dá a idéia" que será lançado no final de outubro (se tudo der certo, é claro). Não tem desculpa: é entrar neste link www.myspace.com/alexandrefranca ouvir as músicas e DIVULGAR O MÁXIMO POSSÍVEL, ok?! E não esqueçam de dizer a opinião de vocês sobre as canções.
quinta-feira, setembro 21, 2006
Ninguém
não me encha o saco vizinho
eu quero ficar sozinho
pois me viro em cinco
quando me sinto meu
um "eu" inteiro e vivo
eu tenho muito asco
quando no sábado
o telefone grita
não insista
não sou pra ninguém
de ninguém, com ninguém, em ninguém
sem obrigação com ninguém
sem liberação de ninguém
apenas eu posso me machucar
sou eu o ditador da minha vida
não me encha o saco vizinho
eu quero ficar sozinho
pois me viro em cinco
quando me sinto meu
um "eu" inteiro e vivo
eu tenho muito asco
quando no sábado
o telefone grita
não insista
não sou pra ninguém
de ninguém, com ninguém, em ninguém
sem obrigação com ninguém
sem liberação de ninguém
apenas eu posso me machucar
sou eu o ditador da minha vida
terça-feira, setembro 19, 2006
quinta-feira, setembro 14, 2006
Vocês conhecem o Paulo Bearzoti Filho?
Então, o Paulo além de ser um estudioso de...bom, de tudo, ele também é um grande poeta. Nesta última terça, no porão Loquax, Bearzoti nos brindou com esse genial soneto "culinário", onde ele utiliza o pseudônimo Clódia - mesmo nome utilizado pelo poeta latino Catulo para se referir à poeta grega Safo - para falar da sua musa.
A certa dama que ironizou a culinária do Poeta
OK, Clódia. Batatas, beterrabas
E nabos não lhe dão água na boca,
Feijão sem cheiro com cebola pouca,
Sardinhas, rabanetes e goiabas.
De fato em meu cardápio tu te acabas.
Sem doces, toda a vida é um bate-boca,
Quitutes, bombocados, porra-louca,
Delícias, ovos moles, moças, babas.
Mas devo confessar que não me queixo.
O triste passadio de arroz e água
Me deixa sempre em gana de outras gulas.
Em ti só vejo frutas e verduras,
Que espalho sobre a mesa tal salada
E crua como toda e lambo os beiços.
Paulo Bearzoti Filho
sexta-feira, setembro 08, 2006
diálogo sobre o clima curitibano
eu digo - esta cidade é um mofo.
ela diz - que exagero.
eu digo - é sério, posso visualizar o meu pulmão inteiro verde com pintas cinzas de mofo.
ela diz - você e as suas visões.
eu digo - Curitiba, sem dúvida, é uma cidade com renite.
ela diz - você e estas figuras de linguagem.
eu digo - o meu ap está mofando, meus livros estão mofando, minha roupa está mofando...tudo está espirrando bem aqui na minha cara.
ela diz - estou começando a ter alergia disto tudo.
eu digo - viu, até você está mofando.
eu digo - esta cidade é um mofo.
ela diz - que exagero.
eu digo - é sério, posso visualizar o meu pulmão inteiro verde com pintas cinzas de mofo.
ela diz - você e as suas visões.
eu digo - Curitiba, sem dúvida, é uma cidade com renite.
ela diz - você e estas figuras de linguagem.
eu digo - o meu ap está mofando, meus livros estão mofando, minha roupa está mofando...tudo está espirrando bem aqui na minha cara.
ela diz - estou começando a ter alergia disto tudo.
eu digo - viu, até você está mofando.
quinta-feira, setembro 07, 2006
Dois clássicos da minha geração: “tudo que eu não sei sobre o amor” e “ode mundana”.
Estes dias reli o grande livro “ode mundana” do meu amigo-de-fé-irmão-camarada Luiz Felipe Leprevost e simplesmente me veio uma estranha conexão com outro livro de um outro amigo-de-fé-irmão-camarada Fernando Koproski. É que um dos melhores retratos da humanidade hoje eu encontrei em “ode mundana”, com toda a sua solarização de elementos escatológicos, sexuais e rancorosos. Como um neo-pessoa, Luiz Felipe se ataca a todo momento, de forma derramada e ao mesmo tempo crua, com estes painéis sombrios, onde o mundo é enrabado sempre; utilizando um “tu” bem lusitano nas colunas sustentadoras da obra. Pois bem, “tudo o que eu não sei sobre o amor” (outro grande livro) é o extremo oposto. É uma espécie de neo-lirismo de sonoridade azul, meio Neruda, onde são utilizados elementos do nosso tempo (como bala halls de cereja, lista telefônica, etc), neste caso, as cores que recobrem a obra não gritam, mas sussurram.
A ligação é a seguinte: é que em ambas as obras eu encontrei um rótulo do tipo “neo-alguma-coisa”, e eu me lembro bem de um papo que eu tive com o Tibério sobre revisitar estilos e épocas (capa polifônica que misturava Nietzsche, Adorno e Taiguara) . Estas revisitas seriam naturais num processo de renovação artística e intelectual, muito embora atualmente isto se de em demasia. Hoje há uma proliferação de manuais e almanaques sobre épocas passadas, vivemos numa nostalgia pasteurizada pela industria cultural. Eu digo que estes dois livros são clássicos da minha geração (como se eu fosse muito velho, tsc, tsc, tsc) por que fogem a um esquema turístico de simplesmente visitar o passado como objeto exótico. Uma coisa sim eu acharia genial (e é bem capaz que um dos dois autores citados tenha um dia esta idéia): um neo-homero, ou um neo-virgilio. Bom, um neo-camões nós podemos encontrar no também grande livro do poeta Marcelo Sandman, “criptógrafo amador”, onde o autor descreve em versos camonianos uma noite frustrada entre drogas, sexo e polícia. Não podemos esquecer também do Glauco Matoso e dos seus sonetos geniais com remela no nariz
No entanto, acredito que estas duas obras específicas (“ode mundana” e “tudo que eu não sei sobre o amor”) encontraram um meio termo entre o frio calculismo acadêmico e a alienação pop. Embora Leprevost carregue em temas mundanos (e às vezes até pornográficos) há uma poética complexa e única, na qual a única saída é a da lúgubre contemplação frente a um retrato caótico e lamacento. Koproski, por sua vez, admite a sua não compreensão: há em “tudo o que eu não sei sobre o amor” um retrato sobre algo que se demonstra um incompreendido, onde todos os nomes do amor morrem em vermelho.
Estes dias reli o grande livro “ode mundana” do meu amigo-de-fé-irmão-camarada Luiz Felipe Leprevost e simplesmente me veio uma estranha conexão com outro livro de um outro amigo-de-fé-irmão-camarada Fernando Koproski. É que um dos melhores retratos da humanidade hoje eu encontrei em “ode mundana”, com toda a sua solarização de elementos escatológicos, sexuais e rancorosos. Como um neo-pessoa, Luiz Felipe se ataca a todo momento, de forma derramada e ao mesmo tempo crua, com estes painéis sombrios, onde o mundo é enrabado sempre; utilizando um “tu” bem lusitano nas colunas sustentadoras da obra. Pois bem, “tudo o que eu não sei sobre o amor” (outro grande livro) é o extremo oposto. É uma espécie de neo-lirismo de sonoridade azul, meio Neruda, onde são utilizados elementos do nosso tempo (como bala halls de cereja, lista telefônica, etc), neste caso, as cores que recobrem a obra não gritam, mas sussurram.
A ligação é a seguinte: é que em ambas as obras eu encontrei um rótulo do tipo “neo-alguma-coisa”, e eu me lembro bem de um papo que eu tive com o Tibério sobre revisitar estilos e épocas (capa polifônica que misturava Nietzsche, Adorno e Taiguara) . Estas revisitas seriam naturais num processo de renovação artística e intelectual, muito embora atualmente isto se de em demasia. Hoje há uma proliferação de manuais e almanaques sobre épocas passadas, vivemos numa nostalgia pasteurizada pela industria cultural. Eu digo que estes dois livros são clássicos da minha geração (como se eu fosse muito velho, tsc, tsc, tsc) por que fogem a um esquema turístico de simplesmente visitar o passado como objeto exótico. Uma coisa sim eu acharia genial (e é bem capaz que um dos dois autores citados tenha um dia esta idéia): um neo-homero, ou um neo-virgilio. Bom, um neo-camões nós podemos encontrar no também grande livro do poeta Marcelo Sandman, “criptógrafo amador”, onde o autor descreve em versos camonianos uma noite frustrada entre drogas, sexo e polícia. Não podemos esquecer também do Glauco Matoso e dos seus sonetos geniais com remela no nariz
No entanto, acredito que estas duas obras específicas (“ode mundana” e “tudo que eu não sei sobre o amor”) encontraram um meio termo entre o frio calculismo acadêmico e a alienação pop. Embora Leprevost carregue em temas mundanos (e às vezes até pornográficos) há uma poética complexa e única, na qual a única saída é a da lúgubre contemplação frente a um retrato caótico e lamacento. Koproski, por sua vez, admite a sua não compreensão: há em “tudo o que eu não sei sobre o amor” um retrato sobre algo que se demonstra um incompreendido, onde todos os nomes do amor morrem em vermelho.
domingo, agosto 27, 2006
Os iconoclastinhas em MP3
e para quem não pode conferir os fabulosos e extraordinários Iconoclastinhas no Kappele Pub, o Alexandre Nero disponibilizou algumas raríssimas gravações da incomparável dupla em seu auge. Sempre lembrando: os Iconoclastinhas não concedem entrevistas.
terça-feira, agosto 22, 2006
Gabriela Marcondes
sobremesa de eternidade
poetas são abutres
dos próprios desejos
mastigam com binóculos
os próprios medos
gabriela marcondes
para ler mais alguns poemas da Gabriela, entre no site http://www.germinaliteratura.com.br/gmarcondes.htm
sobremesa de eternidade
poetas são abutres
dos próprios desejos
mastigam com binóculos
os próprios medos
gabriela marcondes
para ler mais alguns poemas da Gabriela, entre no site http://www.germinaliteratura.com.br/gmarcondes.htm
segunda-feira, agosto 21, 2006
álbum de figurinhas
ele diz - não compro mais a figura do marginal bêbado
eu digo - e eu não compro mais a figura do gênio poliglota
ele diz - não compro mais a figura do doente depressivo
eu digo - e eu não compro mais a figura do poeta de currículo
ele diz - não compro mais a figura do hedonista viciado em drogas
eu digo - e eu não compro mais a figura do ganhador de prêmios
ele diz - não compro mais a figura do internado no hospício
eu digo - e eu não compro a figura de quem faz um "estudo sobre..."
ele diz - simplesmente não compro mais nada desta corja
eu digo - e quem disse que eu compraria?
ele diz - não compro mais a figura do marginal bêbado
eu digo - e eu não compro mais a figura do gênio poliglota
ele diz - não compro mais a figura do doente depressivo
eu digo - e eu não compro mais a figura do poeta de currículo
ele diz - não compro mais a figura do hedonista viciado em drogas
eu digo - e eu não compro mais a figura do ganhador de prêmios
ele diz - não compro mais a figura do internado no hospício
eu digo - e eu não compro a figura de quem faz um "estudo sobre..."
ele diz - simplesmente não compro mais nada desta corja
eu digo - e quem disse que eu compraria?
sábado, agosto 19, 2006
velu frost-nive de anãs a vis
Vocês se lembram do desafio que eu havia proposto há alguns posts atrás, de que eu daria 10 reais para quem decifrasse o verso acima? Pois então, a própria autora do verso (Jussara Salazar) me mandou a "tradução", não apenas deste verso, mas do poema inteiro em questão. Para a minha surpresa, a "tradução" é na verdade um belo poema (na minha opinião, muito mais legível e expressivo do que o original...aliás fiz uma experiência e tirei o "velu frost-nive de anãs a vis", acho que melhorou ainda mais). Bom, quanto aos 10 reais que eu prometi Jussara...posso deixar na conta?
: Sphinx :
: Esfinge (decifra-me ou te devorarei)
: Esfinge (decifra-me ou te devorarei)
Helena conduzia as cabras
Uma mulher caminha
anoite solitude
na solidão da noite
na solidão da noite
conduzia o ovo hybris
caminha e carrega sua história incerta
e o oceano
e carrega o mar
por constelar o céu
por refletir as estrelas
que volantim circundando
que qualquer um rodeando
via no lunarium temor vacivo
via na lua seu medo do vazio
velu frost-nive de anãs a vis
da pele fria-neve de anãs vis-a vis
a saber um dia
pelo que se soube um dia
saltou
pulou
no púrpura límpido
em um vermelho claro e sangrento.
Jussara Salazar
______________________________________________
agora só poema-tradução sem o tal verso:
: Esfinge (decifra-me ou te devorarei)
Uma mulher caminha
na solidão da noite
caminha e carrega
sua história incerta
carrega o mar
por refletir as estrelas
carrega o mar
por refletir as estrelas
qualquer um que passa
vê na lua seu medo do vazio
pelo que se soube
vê na lua seu medo do vazio
pelo que se soube
um dia pulou
em um vermelho claro e sangrento.
em um vermelho claro e sangrento.
Jussara Salazar
quinta-feira, agosto 17, 2006
Vocês conhecem o Rodrigo Madeira?
Pois é: um dos melhores poetas que eu já li. Já havia lido alguns textos do cara numa oficina de poesia ministrada pelo Koproski, mas antes de ontem, no porão loquax, o Rodrigo superou qualquer espectativa. Numa homenagem ao Paulo leminski, Madeira foi destaque ao declamar esse sensacional poema:
Ao meu assassino
há muito equívoco nesta
cidade
sobre a morte de paulo leminski.
morreu de bebida, de curitiba,
de harakiri e o diabo!
deixe-me dizer-lhe:
leminski está morto e fui eu
que o matei.
era tardinha, sete de junho
de 89, na esquina do stuart.
eu tinha apenas dez anos de idade.
abracei-o no golpe de faca
e só largaria
depois que ele se largasse. olhou-me,
excepcionalmente, com olhos de
cachorro manso e disse: "quem é vivo
sempre desaparece".
sorriu-me como se eu morresse.
nem perguntou
por quê sabia que aquilo
era obra de um tigre...
hoje entendo a razão
de não ter cabido um "sinto muito,
poeta!"
é a ordem natural das coisas.
leminski também matou seu touro
e voltou pra casa de mãos novas
comigo
acontecerá o mesmo.
não fiz nem 28 anos e já espero
o golpe de meu vingador.
tenho esta impressão
de que ele virá da direita,
sabendo que sou canhoto em tudo.
morro de medo do menino que
fala sozinho, possível poeta,
da menina que penteia os cabelos
no vento (será poeta?),
do adolescente no expresso
que lê a ilíada em pé.
morro de medo, morro de medo,
mas não há jeito, é certo como o sábado.
na esquina de casa,
na saída do barbeiro,
na volta da banca,
na fila do banco,
num estacionamento
de supermercado, ele estará
a minha espera.
inevitável que seja.
em algum lugar da cidade
meu assassino está nascendo.
escute daqui alguns anos estas palavras:
"tudo bem,
cara, eu entendo! perdoe-se como me perdoei,
ou não escreverá sequer um verso.
apenas interceda em meu favor para que eu seja
enterrado em meu bar preferido.
só isso. os poetas merecem ser emparedados
em seu boteco eletivo, assim como as aves
devem ser sepultadas no ar.
o botequineiro saberá rezar minha missa."
não há jeito,
é certo como o sábado:
tal qual as putas de outros tempos,
o poeta cora seu rosto com sangue.
o sangue de outros poetas
Rodrigo Madeira
_________________________________________
até me arrepia ao reler. então meu caro Corona (se você estiver lendo este post), quem sabe não é a hora de editar este grande poeta, ein?
quarta-feira, agosto 16, 2006
Beber é fácil (para o amigo Ivan Justen sobre a noite de ontem)
o silêncio é uma arma branca
se aparecerem com uma branca
fita, ri e prende fôlego
pois ele é uma arma branca
mesmo com um 38 ou com uma 45
é um vício alguém se fuder pelos outros
o silêncio é uma arma branca
se você é ferido ao dar a outra face
lembre-se: ele morreu asfixiado
e você, um sacana, simplesmente
olhou para o gênio e em silêncio
quebrou a lâmpada
o silêncio é uma arma branca
se aparecerem com uma branca
fita, ri e prende fôlego
pois ele é uma arma branca
mesmo com um 38 ou com uma 45
é um vício alguém se fuder pelos outros
o silêncio é uma arma branca
se você é ferido ao dar a outra face
lembre-se: ele morreu asfixiado
e você, um sacana, simplesmente
olhou para o gênio e em silêncio
quebrou a lâmpada
segunda-feira, agosto 14, 2006
diálogo em noite frustrada
Ela diz - eu sou um redemoinho de sentimentos e sensações, uma alma pronta para alçar vôos cada vez mais profundos por entre os galhos rotos que a vida nos impõe, pois esta é a minha vida, um rio transbordando e transbordando e transbordando um céu de sentimentos múltiplos, de cores nunca antes vistas queimando o que é diáfano e lacrimoso.
Eu digo - você está carente.
Ela diz - você nunca vai entender o que se passa nesta alma-fênix de mulher rasgada pelas artimanhas ferinas da vida, já que esta sua forma machista de impor a sua opinião será sempre uma barreira entre esta represa tórrida de sentimentos, que sou eu, e esta sua mania irritante e reducionista de limitar todo e qualquer assunto que diga respeito à mim.
Eu digo - você está carente.
Ela diz chorando - você nunca vai me entender. você com este seu ar de pseudo-intelectual, com este cigarro entre os dedos, com este brilho irritante no olhar. sabe o que mais, você é um bêbado, eu nunca deveria ter me envolvido com um tipo escroto como você, já que você, com esta sua enpafiazinha de moleque, nunca irá entender uma mulher de verdade, uma pantera desvairada no cio dos mais puros e impuros sentimentos, uma estrela cadente do eterno brilho da sexualidade feminina de um fera em extinção
Eu digo - você já não está falando coisa com coisa
Ela diz - e o que você entende disso, seu merdinha?
Eu digo - me dá um abraço?
sábado, agosto 12, 2006
cidade-renite
aqui na cidade-renite com dentes cariados de
gente friorenta de crack
aqui neste mar cinza de cinzas de cigarro
e solidão enlatada em postos de conveniências
aqui enconstado em uma mensagem de amor
brilhantemente brega
no muro do cemitério municipal
aqui consumindo o resto da ausência
que o silêncio nos leva de aviãosinho até a boca
aqui carente de crenças de templos em templos
procurando um colo de pedra um abraço de gesso
faz tempo eu tento encerrar o assunto
aqui na cidade-renite espirrando respostas
costurando a vida
com os retalhos da morte
costurando a vida
com os retalhos da morte
com os retalhos mofados da morte
da cidade-renite
aqui na cidade-renite com dentes cariados de
gente friorenta de crack
aqui neste mar cinza de cinzas de cigarro
e solidão enlatada em postos de conveniências
aqui enconstado em uma mensagem de amor
brilhantemente brega
no muro do cemitério municipal
aqui consumindo o resto da ausência
que o silêncio nos leva de aviãosinho até a boca
aqui carente de crenças de templos em templos
procurando um colo de pedra um abraço de gesso
faz tempo eu tento encerrar o assunto
aqui na cidade-renite espirrando respostas
costurando a vida
com os retalhos da morte
costurando a vida
com os retalhos da morte
com os retalhos mofados da morte
da cidade-renite
sexta-feira, agosto 11, 2006
Aniversário
Eis que convido alguns amigos (mais especificamente, Gugão, Troy e Helena) para tomar uma cerveja no PF e ninguém aparece. Claro que os amigos de sempre do Ponto Final estavam lá: Drica, Diniz, Samuel...enfim, toda a cambada. De repente, para a minha surpresa, surge Gilson Fukushima...porra, Fukushima, a última pessoa que eu esperava que fosse aparecer no Ponto Final...Fukushima, se você por acaso ler este post, saiba que você subiu no meu conceito.
segunda-feira, agosto 07, 2006
LEITURA PÚBLICA DA PEÇA ‘TUA PASSIVIDADE ME EMBRUTECE’
DE – LUIZ FELIPE LEPREVOST
Com os atores Gabriel Gorosito e Renata Hardy
Onde?
Solar do Rosário
Rua Duque de Caxias, nº 04, Largo da Ordem
CURITIBA-PR
Quando?
08.08.06 – Terça – feira – 20h30
Sinopse de TUA PASSIVIDADE ME EMBRUTECE
Tua Passividade Me Embrutece é a primeira incursão do poeta Luiz Felipe Leprevost em dramaturgia. Resultado de um estudo que alia diálogos cotidianos de um casal com um discurso poético de imagens ousadas. A história se passa em Gélida, cidade inventada pelo autor que contém coincidentemente referências não explícitas à cidade de Curitiba, onde o dramaturgo nasceu e vive.
O ator Gabriel Gorosito interpreta o personagem Ele, um cara obcecado por uma garota que o despreza quando o admira e se entrega de olhos fechados, mordendo os lábios, ao mesmo tempo em que se prepara pra dar o bote. Renata Hardy faz Ela, personagem antítese, ou complementar (como preferirmos) de Ele. A relação entre os dois pode ser considerada um tipo de ódio que vem engarrafado, um antídoto que é tomado em doses homeopáticas, ou seja, uma ampola pra cada um dos atos.
O que a trama de Leprevost discute é a impossibilidade do amor. Logo nas epígrafes da peça, a chave do todo nos versos de Cazuza “O teu amor é uma mentira / Que a minha vaidade quer” e de Gonçalo M. Tavares “é uma probabilidade raríssima: / as mulheres amarem / homens que as amam.”
Com características autobiográficas e diálogos retirados de conversas e conflitos reais entre o autor e a atriz pra quem a peça é dedicada, Tua Passividade Me Embrutece acaba sendo um estudo profundo e sensível sobre as facetas da paixão. Levando em conta esse tema recorrente em toda a literatura universal, mais as artimanhas de estilo e forma, a obra de Leprevost, extremamente original, pode ser considerada um inteligente e delicioso pretexto pra poesia.
DE – LUIZ FELIPE LEPREVOST
Com os atores Gabriel Gorosito e Renata Hardy
Onde?
Solar do Rosário
Rua Duque de Caxias, nº 04, Largo da Ordem
CURITIBA-PR
Quando?
08.08.06 – Terça – feira – 20h30
Sinopse de TUA PASSIVIDADE ME EMBRUTECE
Tua Passividade Me Embrutece é a primeira incursão do poeta Luiz Felipe Leprevost em dramaturgia. Resultado de um estudo que alia diálogos cotidianos de um casal com um discurso poético de imagens ousadas. A história se passa em Gélida, cidade inventada pelo autor que contém coincidentemente referências não explícitas à cidade de Curitiba, onde o dramaturgo nasceu e vive.
O ator Gabriel Gorosito interpreta o personagem Ele, um cara obcecado por uma garota que o despreza quando o admira e se entrega de olhos fechados, mordendo os lábios, ao mesmo tempo em que se prepara pra dar o bote. Renata Hardy faz Ela, personagem antítese, ou complementar (como preferirmos) de Ele. A relação entre os dois pode ser considerada um tipo de ódio que vem engarrafado, um antídoto que é tomado em doses homeopáticas, ou seja, uma ampola pra cada um dos atos.
O que a trama de Leprevost discute é a impossibilidade do amor. Logo nas epígrafes da peça, a chave do todo nos versos de Cazuza “O teu amor é uma mentira / Que a minha vaidade quer” e de Gonçalo M. Tavares “é uma probabilidade raríssima: / as mulheres amarem / homens que as amam.”
Com características autobiográficas e diálogos retirados de conversas e conflitos reais entre o autor e a atriz pra quem a peça é dedicada, Tua Passividade Me Embrutece acaba sendo um estudo profundo e sensível sobre as facetas da paixão. Levando em conta esse tema recorrente em toda a literatura universal, mais as artimanhas de estilo e forma, a obra de Leprevost, extremamente original, pode ser considerada um inteligente e delicioso pretexto pra poesia.
terça-feira, agosto 01, 2006
olho fixo pra cegueira da parede e de repente Vinícius de Morais no som aqui de casa cantando rouco rouco bem rouco mesmo depois de uma ampola de Dimple essa coisinha mais linda (é a melhor versão que eu conheço dessa canção):
nature boy
There was a boy
A very strange, enchanted boy
They say he wandered very far
Very far, over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he
And then one day,
One magic day he passed my way
While we spoke of many things
Fools and Kings
This he said to me…
The greatest thing you’ll ever learn
Is just to love and be loved in return.
A very strange, enchanted boy
They say he wandered very far
Very far, over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he
And then one day,
One magic day he passed my way
While we spoke of many things
Fools and Kings
This he said to me…
The greatest thing you’ll ever learn
Is just to love and be loved in return.
(ainda estou aprendendo a ser triste. um dia, quem sabe. segurar o choro, que a parte mais fácil, eu já consigo).
sábado, julho 29, 2006
quarto
estou enfurnado novamente
entre a minha cadela sarnenta
e o edredom sufocado pelo olor
de nicotina da noite.
vou procurar outra posição
para deitar em outra posição
nos meus sonhos em outra posição
na região dos pesadelos em outra posição
dos desertos dos nadas de outras tantas posições
de dormir e dormir e dormir.
a vida não está satisfeita comigo
e eu insisto no silêncio tétrico
dos galhos quase secos da minha circulação
e insisto em sorrir em fotos de família
e em beijos que não são dados com a boca.
eu insisto em coisas natimortas:
tenho a certeza de que nada
sobreviveria entre os meus braços.
estou enfurnado novamente
entre a minha cadela sarnenta
e o edredom sufocado pelo olor
de nicotina da noite.
vou procurar outra posição
para deitar em outra posição
nos meus sonhos em outra posição
na região dos pesadelos em outra posição
dos desertos dos nadas de outras tantas posições
de dormir e dormir e dormir.
a vida não está satisfeita comigo
e eu insisto no silêncio tétrico
dos galhos quase secos da minha circulação
e insisto em sorrir em fotos de família
e em beijos que não são dados com a boca.
eu insisto em coisas natimortas:
tenho a certeza de que nada
sobreviveria entre os meus braços.
quarta-feira, julho 26, 2006
resultado do encontro de ontem na casa do Polaco da Barreirinha, Antonio Thadeu Wojciechowski:
as melhores idéias tive mijando
cagando ou andando
necessidades fisiológicas
são descarga pro tutano
o mijo bate na água
e a água bate na bunda
você sabe quando
Antonio Thadeu Wojciechowski, Alexandre França, Luiz F. Leprevost
70 VIVER MELHOR
solte o animal, bicho
não sufoque a fera
que vive em você
ela é uma brasa, mora
de aluguel alternativo
não sou do tempo do onça
cutuco com vara curta a nova era
não sou da galera do arena e nem do PMDB
sou do LSD
as mina livre não são puta
Sócrates levou a vida
tomando cicuta
Antonio Thadeu Wojciechowski, Alexandre França, Luiz F. Leprevost
tenho um coração tão frio
a tristeza é uma alegria
sorte dela soltar lágrimas
em toda dor que resistia
será que minha lágrima é hemorragia
sangue velho que fluía
nas veias da canção que nascia
da barriga de uma tristeza
aberta sem anestesia
Antonio Thadeu Wojciechowski, Alexandre França, Luiz F. Leprevost
EVANGELHO PUNK
meu amor, daqui pra frente
tudo vai ser para sempre
o passado acaba de repente
e o futuro não existe simplesmente
não, não, o futuro não existe simplesmente
não, não, o futuro não existe simplesmente
o presente vem de embrulho
tem que fazer um esforço hercúleo
pro ano não acabar em julho
e o resto do tempo eu ficar pagando os juros
não, não, desse jeito o futuro não existe
não, não, desse jeito o futuro não existe
viver é melhor que pagar
a minha cova não adianta hipotecar
na pança dos vermes pode vir me cobrar
Antonio Thadeu Wojciechowski, Alexandre França, Luiz F. Leprevost
COSTURA PRA FORA
meu reflexo está comprometido
quando te vi, você já estava intrometida
e tão metida
você costurava pra fora, meu amor
e as suturas de dentro
me deixaram em carne-viva
o médico tem seu diploma
mas deus, deus é que opera
antes de cair de coma
consulte a fila de espera
me espera, amor
fila de espera
consulte o tamanho da fila de espera
tinha um amigo nosso
que caiu de coma alcoólica de tanto beber de amor
aí entrou na fila do SUS
a gente não sabe se ele morreu de tanto esperar
ou se morreu de susto mesmo
só que é o seguinte, resolvemos não deixar barato
fomos prum boteco, enchemos os cornos de cachaça
e então compusemos esse blues-sambástico
pro nosso saudoso amigo João Otávio dos Santos
que a gente gostaria que estivesse agora
entre todos seus familiares
isto é, entre todos os Santos
me espera amor
fila de espera
consulte o tamanho da fila de espera
Antonio Thadeu Wojciechowski, Alexandre França, Luiz F. Leprevost
segunda-feira, julho 24, 2006
CONVITE
Quando vocês esperavam um show do Black Maria ou do Relespública, uma peça pop do Felipe Hirsch, uma tarde de chorinho no Beto Batata com o Trio Quintina, uma madrugada poética com o pessoal da Quinta dos Infernos, um livro minimalista do Dalton Trevisan, uma tarde de autógrafos com o Dante e o Solda na Biblioteca Publica do Paraná, uma festa no Largo da Ordem com o folclórico Mundaréu, o novo cd do Grupo Fato, uma polêmica levantada pelo Ricardo Corona, a performance de poetas vanguardistas no Wonka, as estripulias do baixo do Glauco Solter, uma performance comandada pelo Otávio Camargo na Ybakatu, uma estréia do Luis Melo em longa-metragem carioca, um daqueles deliciosos pratos brasileiros do Jacobina, a discussão comunista do Walmor Marcelino, a abordagem na XV do Grupo Epopéia, um evento modernoso na Casa Hoffmann, aquela parceria tão esperada entre a Etel Frota e Waltel Branco, o beijo dos vocalistas do Denorex-80, o batidão do DJ Ilan, uma seleção de atores no ACT, um festival de bandas na Lapa, o sorriso do Batista de Pillar, a nova edição da Agenda Arte, os vocais do Alexandre Nero, uma comédia dirigida pelo Fiani, um bafafá do Maurício Vogue, uma palestra do Tezza sobre o Bakhtin na Universidade Federal, a milésima edição do Prêmio Saul Trumpete, o novíssimo investimento literário da Travessa dos Editores, eis que “com seu humor ótimo” eles surgem:
OS ICONOCLASTINHAS
5ª feira, dia 27 de julho, de 2006 (o ano do cão chupando manga), às 21 horas, no kappelle Pub (rua Saldanha Marinho, nº 670, centro — bem ali na boca do lixo. Fone 3233-4699, 9186-3527)
participações especiais dos ídolos dos Iconoclastinhas:
Poeta da Boca Maldida João Bosco Vidal
Profeta do Largo da Ordem PLÁ
Quando vocês esperavam um show do Black Maria ou do Relespública, uma peça pop do Felipe Hirsch, uma tarde de chorinho no Beto Batata com o Trio Quintina, uma madrugada poética com o pessoal da Quinta dos Infernos, um livro minimalista do Dalton Trevisan, uma tarde de autógrafos com o Dante e o Solda na Biblioteca Publica do Paraná, uma festa no Largo da Ordem com o folclórico Mundaréu, o novo cd do Grupo Fato, uma polêmica levantada pelo Ricardo Corona, a performance de poetas vanguardistas no Wonka, as estripulias do baixo do Glauco Solter, uma performance comandada pelo Otávio Camargo na Ybakatu, uma estréia do Luis Melo em longa-metragem carioca, um daqueles deliciosos pratos brasileiros do Jacobina, a discussão comunista do Walmor Marcelino, a abordagem na XV do Grupo Epopéia, um evento modernoso na Casa Hoffmann, aquela parceria tão esperada entre a Etel Frota e Waltel Branco, o beijo dos vocalistas do Denorex-80, o batidão do DJ Ilan, uma seleção de atores no ACT, um festival de bandas na Lapa, o sorriso do Batista de Pillar, a nova edição da Agenda Arte, os vocais do Alexandre Nero, uma comédia dirigida pelo Fiani, um bafafá do Maurício Vogue, uma palestra do Tezza sobre o Bakhtin na Universidade Federal, a milésima edição do Prêmio Saul Trumpete, o novíssimo investimento literário da Travessa dos Editores, eis que “com seu humor ótimo” eles surgem:
OS ICONOCLASTINHAS
5ª feira, dia 27 de julho, de 2006 (o ano do cão chupando manga), às 21 horas, no kappelle Pub (rua Saldanha Marinho, nº 670, centro — bem ali na boca do lixo. Fone 3233-4699, 9186-3527)
participações especiais dos ídolos dos Iconoclastinhas:
Poeta da Boca Maldida João Bosco Vidal
Profeta do Largo da Ordem PLÁ
domingo, julho 23, 2006
eutanásia
se
quando eu estiver nas últimas,
entregando de vez os pontos,
eu começar a dizer canalhices do tipo:
"a vida é uma dádiva divina"
"a felicidade sempre esteve ao meu lado"
"o amor salva o ser humano"
"solidão é uma palavra que não existe
no meu vocabulário"
é sinal que chegou a hora
de desligar todos os aparelhos.
se
quando eu estiver nas últimas,
entregando de vez os pontos,
eu começar a dizer canalhices do tipo:
"a vida é uma dádiva divina"
"a felicidade sempre esteve ao meu lado"
"o amor salva o ser humano"
"solidão é uma palavra que não existe
no meu vocabulário"
é sinal que chegou a hora
de desligar todos os aparelhos.
sábado, julho 22, 2006
"Os Iconoclastinhas", quinta-feira que vem no Kappele Pub
não marquem nada para quinta que vem: depois de milhares de cartas de fãs e organizações não governamentais, os iconoclastinhas decidiram dar uma colherinha de chá e fazer um show às 21:00 horas na saldanha marinho (uma rua super segura para se andar à noite com as crianças) no Kappele Pub...o número eu não sei, mas em breve saberei. Ah, sempre lembrando a imprensa: os iconoclastinhas não concedem entrevistas.
quarta-feira, julho 19, 2006
pelada sangrenta
agora mesmo
eu quero pisar naquela
cabeça
esmagá-la, só pra sentir o barulhinho
e experimentar o arroto sincero
que o ego faz em situações de emergência.
agora mesmo
eu quero chutar aquela
cabeça
colher espinhos na madrugada do meu medo
e enfeitar com sangue e cuspe
esta testa tão imponente.
agora mesmo
eu quero mastigar aquela
cabeça
e quero lamber todos os comentários
discussões, petis e revoltas
que sempre sobram
no prato de pedra
da inveja.
agora mesmo
eu quero pisar naquela
cabeça
esmagá-la, só pra sentir o barulhinho
e experimentar o arroto sincero
que o ego faz em situações de emergência.
agora mesmo
eu quero chutar aquela
cabeça
colher espinhos na madrugada do meu medo
e enfeitar com sangue e cuspe
esta testa tão imponente.
agora mesmo
eu quero mastigar aquela
cabeça
e quero lamber todos os comentários
discussões, petis e revoltas
que sempre sobram
no prato de pedra
da inveja.
terça-feira, julho 18, 2006
segunda-feira, julho 17, 2006
meu humor continua péssimo
o meu choro
ainda cai quebrando
como estes copos americanos
com restinhos nojentos despencando
aos montes pelas mesas sem calço.
o meu olhar
ainda é duro e manco
como estas ressacas morais
que vem com dor de cabeça
e um paracetamol há anos vencido
no fundo do armário de remédios.
o meu humor
continua péssimo
mas atualmente eu me divirto
com comentários do tipo "seu grosso"
com a inevitável vontade de ir ao banheiro
ou com a briga aos berros
entre os moradores de um prédio
numa reunião para decidir
quem será o próximo
imbecil do síndico.
o meu choro
ainda cai quebrando
como estes copos americanos
com restinhos nojentos despencando
aos montes pelas mesas sem calço.
o meu olhar
ainda é duro e manco
como estas ressacas morais
que vem com dor de cabeça
e um paracetamol há anos vencido
no fundo do armário de remédios.
o meu humor
continua péssimo
mas atualmente eu me divirto
com comentários do tipo "seu grosso"
com a inevitável vontade de ir ao banheiro
ou com a briga aos berros
entre os moradores de um prédio
numa reunião para decidir
quem será o próximo
imbecil do síndico.
domingo, julho 16, 2006
Porão Loquax com Leprevost
18/07 – Monólogos dos analgésicos que não fazem mais efeito – Luiz Felipe Leprevost &. Melina Mulazani. LuFe é ator e poeta, Melina é atriz e cantora (Mundaréu). Juntos, farão performances mesclando canto e fala, dando continuidade à pesquisa que Leprevost vem desenvolvendo no campo da poesia oral desde seu primeiro livro Fôlego. Luiz também dará uma "canja" de alguns trechos de sua peça de teatro Monólogos dos analgésicos que não fazem mais efeito (inédita). O espetáculo conta ainda com a participação do ator Marcelo Melo, do guitarrista Marcos Lírio e do poeta Alexandre França.
Serviço - Porão Loquax - Wonka Bar - Trajano Reis, 326 - 22h - couvert 1,99.
- IMPERDÍVEL!!
- IMPERDÍVEL!!
segunda-feira, julho 10, 2006
um ou dois meses
a cada um
ou dois meses
volto a visitar
uma foto sua e um poema
feito quando ainda
se acreditava no suicídio
da solidão pela tela
do computador
a cada ano
procuro no espelho
e nas vitrines das lojas
de departamento
o que realmente mudou
na minha cara de ingênuo
consumidor
de cidadão comum
que acredita no amor
a cada década
o meu quarto acumula
livros e mais livros
escritos por poetas
que acreditam no amor
de doze em doze horas
eu tento em minha cabeça
desmentir estas pessoas
que acreditam no amor
mas
a cada um
ou dois meses
eles acabam sempre
me convencendo
do contrário
a cada um
ou dois meses
volto a visitar
uma foto sua e um poema
feito quando ainda
se acreditava no suicídio
da solidão pela tela
do computador
a cada ano
procuro no espelho
e nas vitrines das lojas
de departamento
o que realmente mudou
na minha cara de ingênuo
consumidor
de cidadão comum
que acredita no amor
a cada década
o meu quarto acumula
livros e mais livros
escritos por poetas
que acreditam no amor
de doze em doze horas
eu tento em minha cabeça
desmentir estas pessoas
que acreditam no amor
mas
a cada um
ou dois meses
eles acabam sempre
me convencendo
do contrário
sábado, julho 08, 2006
Busca
e o meu amigo Cláudio Bettega lançou semana passada o livro Busca e já nas primeiras páginas nos mostra que tem ainda muita poesia pra dar:
Encontrei certa vez um verso
Todo esfarrapado e sujo
Disse-me não ter passado
E também estar perdido e sem futuro
Pediu-me encarecidamente
Que escrevesse um poema belo
E nele o colocasse
Formando aqui e ali um elo
Prontamente atendi o seu pedido
E dei-lhe vida poética
Aqui esta o poema
Mas não vou revelar o verso
Quem quiser que advinhe
Sem dar significado inverso
(Cláudio Bettega)
e o meu amigo Cláudio Bettega lançou semana passada o livro Busca e já nas primeiras páginas nos mostra que tem ainda muita poesia pra dar:
Encontrei certa vez um verso
Todo esfarrapado e sujo
Disse-me não ter passado
E também estar perdido e sem futuro
Pediu-me encarecidamente
Que escrevesse um poema belo
E nele o colocasse
Formando aqui e ali um elo
Prontamente atendi o seu pedido
E dei-lhe vida poética
Aqui esta o poema
Mas não vou revelar o verso
Quem quiser que advinhe
Sem dar significado inverso
(Cláudio Bettega)
quarta-feira, julho 05, 2006
...mas eis que
entro no blog da Luana Vignon (destaque da poesia da minha lista de links favoritos) e me deparo com esta agulhada na unha do pé:
Um a um eu vou tirando os cacos,
aprendi cedo a rimar as cicatrizes,
aprendi que o sangue nunca coagula na memória,
sei que na sola dos pés a dor é mais aguda.
Sempre entrei arrebentando as portas de emergência,
mijando no contrafluxo,
entrando com os sapatos encharcados de urina na sessão espírita.
A gente caminha sobre farpas.
A gente segue deixando nossos pedaços esparramados por aí,
dentro de xícaras vazias
e travesseiros.
(Luana Vignon)
É, minha gente: nem tudo está perdido.
entro no blog da Luana Vignon (destaque da poesia da minha lista de links favoritos) e me deparo com esta agulhada na unha do pé:
Um a um eu vou tirando os cacos,
aprendi cedo a rimar as cicatrizes,
aprendi que o sangue nunca coagula na memória,
sei que na sola dos pés a dor é mais aguda.
Sempre entrei arrebentando as portas de emergência,
mijando no contrafluxo,
entrando com os sapatos encharcados de urina na sessão espírita.
A gente caminha sobre farpas.
A gente segue deixando nossos pedaços esparramados por aí,
dentro de xícaras vazias
e travesseiros.
(Luana Vignon)
É, minha gente: nem tudo está perdido.
terça-feira, julho 04, 2006
então tá...
eis que recebo um e-mail contendo o seguinte poema da Jussara Salazar:
poema retirado a pedido da autora
_________________________________
assim...não tenho nada contra a tal Jussara Salazar, nem a conheço, mas cá entre nós: alguém entendeu alguma coisa neste poema? Não?! Ah, tá: então é por isto que a poesia aqui no Brasil é vista como algo chato e restrito ao meio acadêmico.
sábado, julho 01, 2006
quinta-feira, junho 29, 2006
pensando bem...
para Mari
rever você
depois de tanto, tanto tempo
é como ler atentamente
uma letra do Chico Buarque e pensar:
"por que não pensei nisto antes?"
saber que agora
você está acompanhada
é ouvir à sós Maysa
se embriagar elegantemente e pensar:
"eu teria pensado nisto"
me lembrar que
você não me dava a mínima
é baixar a cabeça,
fechar os olhos e pensar:
"sim, entendo bem
o velho Lupicínio".
para Mari
rever você
depois de tanto, tanto tempo
é como ler atentamente
uma letra do Chico Buarque e pensar:
"por que não pensei nisto antes?"
saber que agora
você está acompanhada
é ouvir à sós Maysa
se embriagar elegantemente e pensar:
"eu teria pensado nisto"
me lembrar que
você não me dava a mínima
é baixar a cabeça,
fechar os olhos e pensar:
"sim, entendo bem
o velho Lupicínio".
quarta-feira, junho 28, 2006
você sabe
você não sabe o que um tablete de diamante negro
e uma coca light fazem em minha cabeça.
nem imagina por quantos botecos passei
até conseguir uma conta neste.
não tem idéia das idéias que eu tenho
quando você me aborda semi-nua.
não dá à mínima para as latinhas de cerveja pela metade
e nem tem vontade de reclamar deste desperdício que é
tomar os restos de alguém.
é por isto que finjo fumar um cigarro lá fora.
é por isto que acredito que aquilo foi um beijo de tchau
é por isto que construo este castelo de cartas
com um baralho das estrelas da penthouse.
você sabe que eu adoro este seu perfume de sabonete
você sabe que o carro está esperando na garagem
você sabe que eu saio com chuva,
com neve, com o raio que o parta.
e eu sei que você sabe o suficiente
para não me olhar na cara.
você não sabe o que um tablete de diamante negro
e uma coca light fazem em minha cabeça.
nem imagina por quantos botecos passei
até conseguir uma conta neste.
não tem idéia das idéias que eu tenho
quando você me aborda semi-nua.
não dá à mínima para as latinhas de cerveja pela metade
e nem tem vontade de reclamar deste desperdício que é
tomar os restos de alguém.
é por isto que finjo fumar um cigarro lá fora.
é por isto que acredito que aquilo foi um beijo de tchau
é por isto que construo este castelo de cartas
com um baralho das estrelas da penthouse.
você sabe que eu adoro este seu perfume de sabonete
você sabe que o carro está esperando na garagem
você sabe que eu saio com chuva,
com neve, com o raio que o parta.
e eu sei que você sabe o suficiente
para não me olhar na cara.
segunda-feira, junho 19, 2006
masturbe-se
alguns se masturbam
com virtuosos solos de jazz.
alguns, com teorias e suposições
a cerca dos povos que falavam
o indo-europeu.
outros se contentam
com os orgasmos
de certos clássicos lidos
em língua antiga.
outros ainda se masturbam
rindo dos que não entendem
absolutamente nada sobre
estes clássicos lidos
em língua antiga.
há também
os que se masturbam
com filmes eróticos
e eu
que me masturbo
com a mão mesmo.
alguns se masturbam
com virtuosos solos de jazz.
alguns, com teorias e suposições
a cerca dos povos que falavam
o indo-europeu.
outros se contentam
com os orgasmos
de certos clássicos lidos
em língua antiga.
outros ainda se masturbam
rindo dos que não entendem
absolutamente nada sobre
estes clássicos lidos
em língua antiga.
há também
os que se masturbam
com filmes eróticos
e eu
que me masturbo
com a mão mesmo.
sábado, junho 10, 2006
Porão Loquax com Alexandre França
e na próxima terça, às 22:30 (ou seja, bem depois do jogo), vai rolar uma apresentação minha lá no Wonka bar (que fica na trajano reis, entre inácio lustosa e carlos cavalcanti, onde era o birinites) dentro do projeto "porão loquax"organizado pelo Mario Domingues. O nome do espetáculo é "canções e poemas do véio-frança-de-guerra". Apareçam e levem muitos aplausos contidos para o deleite do meu ego de borracha (heheheh).
segunda-feira, junho 05, 2006
poética
É simples:
lembra do "a teus pés" de sebo
que eu dei pra você de aniversário?
você pode dar a desculpa
de que o volume estava mal colado
e arrancar a dedicatória
e acabar com o duplo sentido da situação.
E das correções com caneta vermelha
que eu fazia no seu dia?
você pode abrir a bíblia numa página qualquer
ou tirar no cara ou coroa
se o melhor a se fazer é atirar
na cabeça ou no coração.
Lembra também quando eu beijava a pinta no seu pescoço?
então, você pode começar falando
do quanto você a odeia
neste exato momento.
É simples:
lembra do "a teus pés" de sebo
que eu dei pra você de aniversário?
você pode dar a desculpa
de que o volume estava mal colado
e arrancar a dedicatória
e acabar com o duplo sentido da situação.
E das correções com caneta vermelha
que eu fazia no seu dia?
você pode abrir a bíblia numa página qualquer
ou tirar no cara ou coroa
se o melhor a se fazer é atirar
na cabeça ou no coração.
Lembra também quando eu beijava a pinta no seu pescoço?
então, você pode começar falando
do quanto você a odeia
neste exato momento.
quarta-feira, maio 31, 2006
falando em cinema...
Piñero (2001)
Piñero (2001)
Vi pela segunda vez na HBO e de novo mexeu comigo. Este filme conta a história do poeta e dramaturgo porto-riquenho-criado-em-nova-york Miguel Piñero (1946-1988), que ganhou notoriedade com a peça Short Eyes em 1972. A peça, que foi premiada com o Tony (um dos mais importantes prêmios do teatro norte-americano), relata as experiências que Miguel viveu nas ruas de Nova York em tempos mais difíceis. Piñero fez parte ainda de um movimento artístico/ político chamado Nuyorican, que através da arte buscaria uma identidade porto-riquenha esquecida nas entranhas da cultura americana. Vale a pena conferir
sobre Piñero e Nuyorican
"Piñero e outros poetas Nuyoricanos reivindicaram uma identidade a qual foi definida por eles mesmos, negando rótulos e identidades binárias de branco e preto impostas pela cultura americana. A partir daí, Latinos, que se encontram em uma situação geográfica e/ou cultural de fronteira, passaram a buscar seu próprio espaço e voz". Adriane Ferreira Veras
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