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quinta-feira, setembro 07, 2006

Dois clássicos da minha geração: “tudo que eu não sei sobre o amor” e “ode mundana”.

Estes dias reli o grande livro “ode mundana” do meu amigo-de-fé-irmão-camarada Luiz Felipe Leprevost e simplesmente me veio uma estranha conexão com outro livro de um outro amigo-de-fé-irmão-camarada Fernando Koproski. É que um dos melhores retratos da humanidade hoje eu encontrei em “ode mundana”, com toda a sua solarização de elementos escatológicos, sexuais e rancorosos. Como um neo-pessoa, Luiz Felipe se ataca a todo momento, de forma derramada e ao mesmo tempo crua, com estes painéis sombrios, onde o mundo é enrabado sempre; utilizando um “tu” bem lusitano nas colunas sustentadoras da obra. Pois bem, “tudo o que eu não sei sobre o amor” (outro grande livro) é o extremo oposto. É uma espécie de neo-lirismo de sonoridade azul, meio Neruda, onde são utilizados elementos do nosso tempo (como bala halls de cereja, lista telefônica, etc), neste caso, as cores que recobrem a obra não gritam, mas sussurram.

A ligação é a seguinte: é que em ambas as obras eu encontrei um rótulo do tipo “neo-alguma-coisa”, e eu me lembro bem de um papo que eu tive com o Tibério sobre revisitar estilos e épocas (capa polifônica que misturava Nietzsche, Adorno e Taiguara) . Estas revisitas seriam naturais num processo de renovação artística e intelectual, muito embora atualmente isto se de em demasia. Hoje há uma proliferação de manuais e almanaques sobre épocas passadas, vivemos numa nostalgia pasteurizada pela industria cultural. Eu digo que estes dois livros são clássicos da minha geração (como se eu fosse muito velho, tsc, tsc, tsc) por que fogem a um esquema turístico de simplesmente visitar o passado como objeto exótico. Uma coisa sim eu acharia genial (e é bem capaz que um dos dois autores citados tenha um dia esta idéia): um neo-homero, ou um neo-virgilio. Bom, um neo-camões nós podemos encontrar no também grande livro do poeta Marcelo Sandman, “criptógrafo amador”, onde o autor descreve em versos camonianos uma noite frustrada entre drogas, sexo e polícia. Não podemos esquecer também do Glauco Matoso e dos seus sonetos geniais com remela no nariz

No entanto, acredito que estas duas obras específicas (“ode mundana” e “tudo que eu não sei sobre o amor”) encontraram um meio termo entre o frio calculismo acadêmico e a alienação pop. Embora Leprevost carregue em temas mundanos (e às vezes até pornográficos) há uma poética complexa e única, na qual a única saída é a da lúgubre contemplação frente a um retrato caótico e lamacento. Koproski, por sua vez, admite a sua não compreensão: há em “tudo o que eu não sei sobre o amor” um retrato sobre algo que se demonstra um incompreendido, onde todos os nomes do amor morrem em vermelho.

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