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terça-feira, dezembro 05, 2006

teclando

Em minhas mãos
Minha mãe me oferece uma bomba
Da confeitaria das famílias
E me oferece um passeio a pé
Pela rua XV
Entre os ciganos da meia-noite
E os hippies com suas poesias
Contendo boas intenções
Em minhas mãos
As mãos de uma velhinha
Nas mãos de um velhinho
No banco da praça Tiradentes
Num dia claro de geada
Exala um suor antigo
Da temporada que nunca chega
Em minhas mãos
A garçonete do instinto Ritz
Toma um gole do café do cliente
E eu sinto o sabor da sua saliva
O sabor da sua maldade
O sabor da sua demissão
Em minhas mãos
O expresso mastiga a cabeça de um ciclista
E são as minhas mãos
Que retiram aquela cabeça
Do estômago da vermelha máquina de guerra
Usada como transporte
Em minhas mãos
Alguém chora baixinho
A incontrolável vontade
De beber um trago num chinês
Do centro
E eu sinto pontadas em minhas mãos
Pontadas no estômago
Pontadas de fúria
Pontadas de lágrimas
Como se eu sentisse em minhas mãos
A tachinha que alguém colocou
Na cadeira do isolado da escola
Como seu eu sentisse em minhas mãos
O congelamento de um membro
Quase necrosado
Como se eu sentisse em minhas mãos
A sensibilidade que há nas pétalas
Quando elas acenam com o vento
Para o outono dos meus olhos

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