.

sexta-feira, junho 03, 2005

a arte brega para reacionários acadêmicos

Estes dias ouvi uma música do Magal que me encantou. Pela despretenção, pelo desprendimento e pela criatividade. Por que geralmente o brega é assim: criativo ao tentar ser compatível com padrões de beleza retrógrados, que eles assim não os consideram (ou fingem não considerar). Acabam escorregando em clichês mal ajambrados, que para um esteta refinado, seria mais uma amostra do mal gosto popular. É parecido com uma coisa Kitch, porém é escrachado, assumido, exótico e principalmente divertido. Não sei se vocês conhecem a canção, mas é uma que sempre toca num clipe da Mtv, na qual aparece a atriz Débora Fallabela. Sorri de uma forma despreocupada quando a ouvi e tentei cantar em voz alta aquela pérola brega...quer dizer, até aparecer um elemento, com a frase "você gosta disto?!" no tambor de sua pistola pseudo-intelectual. Reconheci na hora. Só poderia ser um indivíduo macho de uma raça que nunca foi analisada pelos acadêmicos de plantão e que só agora eu coloco nesta roda de Blues: trata-se dos "reitorias". Como reconhecer um "reitoria", pergunto eu, vestido com as minhas singelas "sandálias da humildade"? Simples, primeiro puxe um papo com o espécime. Se ele o desprezar por no mínimo 10 minutos, há uma boa chance de se tratar de um sujeito reitoria. Muito embora, escritores fracassados estravazem a mesma falta de tato social, com a desculpa esfarrapada de que não podem perder tempo com conversas banais e sem utilidade, já que Virgílio precisará de uma tradução a altura de um mestre da arte de versar (sim, estou falando daqueles que tem como um patuá da sorte falar mal de Paulo Leminski). Insista até ele lhe dar bola. Se no auge da conversa, ele começar a discordar de tudo o que você fala, ops, então as chances são extremamente grandes. Apesar de que, artistas "que estão no começo da carreira" (como Alexandre França, por exemplo) tem a mesma pentelha mania de mostrar serviço intelectual discutindo até o porquê de se ir ao banheiro depois de se tomar um galão de cerveja (como assim porque ir ao banheiro? Por que eu quero porra! Não me encha o saco França) Enfim, se o nosso exemplo, no auge de sua sabedoria e depois de uma hora de conversa, citar alguma frase de um escritor desconhecido, marginal, maltrapilho e mal curado, para encerrar o assunto com chave de ouro, aí sim! Parabéns! Você acaba de conhecer um reitoria. Eles estão em todas as partes, mostrando que você é um alienado, que você tem mal gosto, que você é um pária do capitalismo e que você, apesar de tudo, não tem culpa de nada, mesmo que concorde com o neo-liberalismo norte-americano. Antes nem tivesse ouvido a música do Magal, não é mesmo? Fico pensando se estas pessoas não se divertem, se elas vestem a carapuça do mártir incompreendido quando encontram uma pobre vítima como eu de suas picuinhas e que à noite batem uma punhetinha para a vadia "alienada" (porém gostosa e norte-americana) da Britney Spears, rebolativa e suntuosa, num porche vermelho e conversível. O que estou querendo dizer com tudo isto é: que culpa tenho eu de achar a música do Magal divertida e exótica? Resumo da ópera: fui para casa, com uma culpa filha da puta. Tranquei-me no quarto, peguei o violão, fechei os olhos e toquei o foda-se ao cantar de uma forma gritada "linda, você é muito formosa, você é maravilhosa, lá lá lá lá lá lá lááááááá..."

Dezoito Zero Um no Facebook

Arquivo do blog