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domingo, março 02, 2008

Billie Holiday

É um patético alívio o que eu sinto pela sua voz.
Finalmente a compreendo
quando durmo e peço a Deus
um sussurro para dormir lentamente
sobre o véu de tristeza que não é mais tristeza,
que já é outra coisa que eu nunca soube explicar,
mas que agora me veio,
como o céu invadindo pela manhã
o seio dos olhos de quem dormiu na rua,
encarcerado
numa prisão de estrelas e nuvens acinzentadas.
É um patético alívio o que eu sinto pela sua voz.
Você percorrendo minha vida,
mesmo em momentos tediosos de tv
e comida congelada,
mesmo em momentos deprimentes
de resignação e culpa,
você percorrendo minha vida,
como um parasita a se alimentar de sangue,
de pureza,
da mais fina e pura tristeza,
pois eu também dôo a minha alma,
nas tardes de domingo,
onde novamente não acho saída
para a minha mediocridade
e recorro ao seu colo de voz,
no clima quente e gelado
que a sua voz consegue atingir,
em suas interpretações de inverno.
É um patético alívio o que eu sinto pela sua voz.
Você que mastiga a pulsação
da minha aflição a cada canção de derrota,
que já não é mais derrota,
mas suavidade,
redenção
e paz,
num pranto único,
que no fundo é aquilo que acredito ser
a trilha sonora da sala de espera
de qualquer paraíso.
Sua voz é o sentido que o apaixonado encontra
no olhar caído de um cão vira-latas,
depois de uma noite de rompimento
entre lágrimas e cigarros.
É alívio o que eu sinto
quando você me põe para dormir.
Quando sonho um sonho em branco
preenchido pela sua voz.

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