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sábado, março 29, 2008

Claudete Pereira Jorge na leitura de "Final do Mês"


Mãe
- Tem gente que passa anos sem ser reconhecida, levando o passado estampado na cara, levando todos os dias a roupa suja dos filhos e do marido na lavanderia do bom senso. Tem gente que mata o tempo na beirada da varanda, brincando com o salto, brincando com a iminência, brincando com a precariedade. Tem também os que fumam a vida inteira escondidos da família (acende um cigarro), na esperança de que aquela gente tão próxima não descubra o poço de fragilidades e recalques a sufocar o cérebro. Tem gente que não suporta os seus próprios recalques. Tem gente que quebra todos os espelhos da casa antes de sair. Tem homem que bebe escondido da mulher, para que ela não perceba que aquela desenvoltura, aquela sensível violência é fruto de algo engarrafado numa industria onde milhares de garrafas como aquela são engarrafadas. Tem gente que prefere o tédio a uma fotografia feliz. Tem gente que prefere dormir no colo silencioso da solidão. Tem gente que prefere esquecer as contas para pagar no final do mês. Tem gente que prefere esquecer o filho na saída da escola. Tem gente que prefere fugir para qualquer lugar onde não existam pessoas queridas, entes queridos, indivíduos pelos quais você morreria. Tem gente que prefere nunca mais encontrar estas pessoas, para se livrar do restinho de responsabilidade que ainda existe. Tem gente que prefere cães a gatos. Tem gente que se vê num cão sem uma das pernas. Tem gente que vê a sua dependência na dependência deste cão. O ser humano é um animal altamente dependente. É na dependência que se encontra o desespero humano, é na dependência que se encontra a maior concentração de carne humana, é na dependência que se percebe que as coisas são mais fáceis do que se imagina. Tem gente que prefere dar um tiro na boca, a atravessar o centro de carro com o intuito de finalmente voltar para a casa.

terça-feira, março 25, 2008

Assunto Terminado no Festival de Curitiba

Do blog "palavras todas palavras"

luis-felipe-leprevost-foto-assunto_terminado.jpg

Em uma sociedade controlada, o jovem Ivan - funcionário do “Sistema” - passa a questionar a ordem estabelecida e por isso recebe a visita de um inspetor. A partir desse encontro, abordando conteúdos do homem contemporâneo, cria-se um habilidoso jogo de sedução psicológica e de poder.
Para poder interpretar o personagem o jovem poeta, escritor, compositor e ator LUIZ FELIPE LEPREVOST, raspou a cabeça como todo ator profissional o faria. sucesso LEPRE!!


onde:
ACT - Ateliê de Criação Teatral- Rua Paulo Graesser Sobrinho, 305
21/03/2008 - 21:00 -
22/03/2008 - 21:00 -
23/03/2008 - 21:00 -
24/03/2008 - 21:00 -
25/03/2008 - 21:00 -
26/03/2008 - 21:00 -
27/03/2008 - 21:00 -
28/03/2008 - 21:00 -
29/03/2008 - 21:00 -
30/03/2008 - 21:00 -

ingresso: 20,00 e 10,00

Porão Loquax no Festival de Teatro - APAREÇAM

Poetas invadem o festival de curitiba no fringe.

Poetas e poemas de hoje
Projeto idealizado por Mário Domingues e realizado em parceria com
Ieda Godoi no Wonka Bar, o Porão Loquax existe desde 2005 e é
um dos eventos mais importantes de poesia do estado.
Divulgou a produção de poetas locais e permitiu o intercâmbio entre
escritores de várias partes do país, além de ter sido palco para o lançamento
de diversas obras.

Porão Loquax no Uninter: , Hamilton de Lócco, Lindsey Rocha, Bárbara Lia
Luciana Cañete, Ricardo Pozzo e muito mais.
PORÃO LOQUAX - 25 e 26/03, partir das 20h30
END: TEATRO Uninter. RUA DR. MURICY, 1088
INFORMAÇÕES: teatro@grupouninter.com.br

quarta-feira, março 19, 2008

Sarah Kane



- Você fez algum plano?

- Tomar uma overdose, cortar os meus pulsos, depois me enforcar.

- Tudo isso de uma vez?

- De modo que não poderia ser interpretado como um grito de ajuda.

(Silêncio.)

- Não daria certo.

- Claro que daria.

- Não daria certo. Você se sentiria sonolenta por causa da overdose e não teria forças para cortar os pulsos.

(Silêncio.)

- Eu estaria em pé em cima de uma cadeira com uma corda enrolada no pescoço.

(Silêncio.)

- E se você ficasse sozinha acha que poderia fazer mal a você mesma?

- Acho que sim e isso me assusta.

- Pode ser uma espécie de proteção?

- Sim. É o medo que me mantém longe dos trilhos dos trens. Só espero, pelo amor de Deus, que a morte seja a porra do fim. Me sinto com oitenta anos. Estou cansada da vida e a minha mente quer morrer.

- Isso é uma metáfora, não é realidade.

- É como se fosse.

- Isso não é realidade.

- Não é uma metáfora, é como se fosse, mas ainda que fosse uma metáfora, aquilo que define uma metáfora é ela ser real.

(Um longo silêncio.)

- Você não tem oitenta anos.

(Silêncio.)

Tem?

(Silêncio.)

Tem?

(Silêncio.)

Ou tem?

(Um longo silêncio.)

- Você despreza todas as pessoas infelizes ou só especificamente a mim?

- Eu não desprezo você. A culpa não é sua. Você está doente.

- Eu não acho.

- Não?

- Não. Estou deprimida. Depressão é ódio. É o que você fez, você que estava lá e você que é está se culpando.

- E você está culpando a quem?

- A mim mesma.


Sarah Kane - Psicose 4h48

Trad. Marcos Damaceno

segunda-feira, março 17, 2008

Claudete e Helena

Ontem, no último dia do meu ciclo de leituras, me emocionei do começo ao fim com o “Final do Mês” lido pelas minhas queridas amigas Claudete Pereira Jorge e Helena Portela. Eu não imaginava que a coisa fosse funcionar daquela forma. Algo muito louco aconteceu. Apesar da Claudete e da Helena serem mãe e filha na vida real, elas interpretaram uma mãe e uma filha totalmente diferente do que elas realmente são, mas também uma mãe e uma filha totalmente convincente para o meu gosto. E para mim muito mais, já que este texto, que fala sobre a crise financeira de uma mãe que ainda sustenta a sua filha maior de idade, é quase que inteiramente autobiográfico. Eu me vi na filha que a Helena interpretou e vi a minha mãe na mãe que a Claudete deu forma, não só por conta dos diálogos que eu escrevi, mas também pelo talento que esta duplinha dinâmica tem em construir personagens. O mais fácil e óbvio era que as duas interpretassem elas mesmas no teatro (mãe e filha). Mas não. As duas, em pouquíssimo tempo, diga-se de passagem, construíram uma mãe e uma filha únicas e ao mesmo tempo “de todos”. Foi ótimo perceber que a platéia também se comoveu com a peça. Desta vez eu tenho que agradecer as duas pelo ótimo trabalho realizado e pela amizade, que acima de tudo, nos leva sempre à luz.

quinta-feira, março 13, 2008

COMEÇA AMANHÃ!!! APAREÇAM!!!


Depois de uma série de leituras de textos teatrais do escritor Luiz Felipe Leprevost, agora é a vez de Alexandre França mostrar a sua dramaturgia para o público interessado na Casa do Damaceno. O espaço está sendo usado para um ciclo de leituras batizado como "Nova Dramaturgia Curitibana", cuja proposta é promover a nova geração da dramaturgia feita em Curitiba e incentivar o debate e as discussões acerca do tema.

Vários artistas de peso já participaram do ciclo, tais como Regina Bastos, Luthero de Almeida, Márcio Mattana, Michelle Pucci e o próprio Leprevost. Para as leituras dos textos de França, três diretores irão revezar na direção. A primeira leitura, "As Noivas", ficará a encargo de Cleber Braga. A segunda, "O Homem que Conhecia Todo Mundo", com Marcos Damaceno e a última, "Final do Mês", com o próprio dramaturgo
Alexandre França.

Segundo Claudete Pereira Jorge, uma das atrizes que participarão das leituras de um dos textos de França, "esta é uma iniciativa que deveria acontecer mais em Curitiba. A nova geração está aí e precisa ser mostrada". O grupo está aberto a novas propostas de leituras, já que ainda este semestre pretende organizar novas mostras como esta.

As leituras dos três textos de Alexandre França acontecem na Casa do Damaceno
(Rua 13 de Maio, 991 - Tel.: 3223-3809) nos dias 14, 15 e 16 de março, sexta e sábado às 21h00 e domingo às 20h00. Entrada R$ 5,00.
De 14 a 16 de março de 2008, sexta e sábado, às 21h00 e domingo, às 20h00, na Casa do Damaceno - Rua Treze de Maio, 991 - Entrada de cada leitura: R$ 5,00

PROGRAMAÇÃO
Dia 14 de março
"As noivas"Com Helena Portela - Direção da leitura: Cleber Braga
Dia 15 de março "O homem que conhecia todo mundo", Com Márcio Mattana, Michelle Pucci, Alexandre França e Paulo Ugolini. Direção da leitura: Marcos Damaceno
Dia 16 de março "Final do mês", Com Claudete Pereira Jorge e Helena Portela - Direção da leitura: Alexandre França

quinta-feira, março 06, 2008

Ela

Ela

(alexandre frança)


O asfalto reconhece o olhar
e deixa Ela passar
armada e atenta a algum otário
e se Ela reparar
no meu sorriso teatral
fará da minha vida um caos
pois sei que Ela é de cobrar
pela felicidade
no braço um peso de tocar
há horas violão
e se na melodia Ela pedir
eu viro chão e deixo Ela me pisar
o dia inteiro, sem parar
mas sei que o que Ela mais quer
é que eu escreva
escrevo um livro, falo sobre o sol se pôr
esqueço a estética atual e falo sobre o amor
eu monto a arquitetura da cidade
faço história, invento um enredo de novela
e mudo a vida dela pra melhor

Violão e voz - Alexandre França
Piano - Davi Sartori
Clarinete - Sergio Albach
Percussão - Luciano Madalozzo


domingo, março 02, 2008

Billie Holiday

É um patético alívio o que eu sinto pela sua voz.
Finalmente a compreendo
quando durmo e peço a Deus
um sussurro para dormir lentamente
sobre o véu de tristeza que não é mais tristeza,
que já é outra coisa que eu nunca soube explicar,
mas que agora me veio,
como o céu invadindo pela manhã
o seio dos olhos de quem dormiu na rua,
encarcerado
numa prisão de estrelas e nuvens acinzentadas.
É um patético alívio o que eu sinto pela sua voz.
Você percorrendo minha vida,
mesmo em momentos tediosos de tv
e comida congelada,
mesmo em momentos deprimentes
de resignação e culpa,
você percorrendo minha vida,
como um parasita a se alimentar de sangue,
de pureza,
da mais fina e pura tristeza,
pois eu também dôo a minha alma,
nas tardes de domingo,
onde novamente não acho saída
para a minha mediocridade
e recorro ao seu colo de voz,
no clima quente e gelado
que a sua voz consegue atingir,
em suas interpretações de inverno.
É um patético alívio o que eu sinto pela sua voz.
Você que mastiga a pulsação
da minha aflição a cada canção de derrota,
que já não é mais derrota,
mas suavidade,
redenção
e paz,
num pranto único,
que no fundo é aquilo que acredito ser
a trilha sonora da sala de espera
de qualquer paraíso.
Sua voz é o sentido que o apaixonado encontra
no olhar caído de um cão vira-latas,
depois de uma noite de rompimento
entre lágrimas e cigarros.
É alívio o que eu sinto
quando você me põe para dormir.
Quando sonho um sonho em branco
preenchido pela sua voz.

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