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sexta-feira, março 31, 2006

alguém está tramando em meu fígado,
a me oferecer porções de salgadinhos e azeitonas em conserva.
alguém, que avisa pelo telefone que ainda me quer vivo,
pois hoje eu não atormentei os vizinhos, as despedidas de solteiro
e os postos de conveniências.
alguém aqui dentro me acha um vagabundo
e tenta convencer os neurônios que usam bengalas
e longas e proféticas barbas brancas
a não se acostumarem com os cenários e papéis
que alguns atravessadores, criminosos
e vadias de plantão me oferecem com um canivete suíço no punho.
eles estão em grupos de cinco para me pegar
aqui dentro, enquanto eu distraído
relembro a seção de cartas da minha curta trajetória.
eles são esquivos, escapam com facilidade dos dedos do sol
e à noite mordem a lua de sobremesa para na volta
se empanturrarem com a minhas mofadas descobertas.
eles riem da minha cara no escuro do estômago,
eles tomam leite com vodka para sarar a minha gastrite,
eles me chamam de alcoólatra quando não estou bebendo
e de covarde quando já estou bêbado.
alguém dentro de mim
quer que eu pense "me arreguei!"
"me dei bem", "sou foda pra caralho"
enquanto gota por gota, com um sorriso no rosto,
barba por fazer,
depois de apagar um Marlboro vermelho
este alguém friamente me escorre pelo ralo

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