neblina
Vou mastigar esta casca de uva como quem mastiga pedras, meu bem. Hoje acordei com uma peça de mármore na circulação ao invés de sangue. Lembrei de quando o guarda-chuva quebrou na avenida da sua casa. O corpo não secava, escorria lembranças. Mas é por isto que recorto a minha cara destas fotos de inverno. Curitiba não dá tréguas: pede um abraço e um beijo no rosto. O que fazer destas pedras mal colocadas na calçada? Curitiba pede um tropeço, um caminho torto. E eu sigo ligando e desligando o interruptor da neblina na aurora. Deixei ligado pra você, meu bem.
.
Blues Curitibano
sexta-feira, abril 30, 2004
quinta-feira, abril 29, 2004
Uma dose à um dia feliz
"(...)quando eu estiver velho, tarado e gagá,
Com um copo de cana eu vou lembrar
do seu gingado e os meus olhos vão brilhar.
Blues é assim, baby
Blues é assim(...)"
(cazuza)
Um brinde querida, pois hoje fui no nosso último lugar, com algumas mimosas guardadas no bolso e um certo lacrimejar no olho. Passei pela igrejinha da ordem, afungentei os pombos como quem assopra a brasa do cigarro para que a cinza se construa celeremente e caia mais rápido. Hoje esperei você de pé, como uma destas estátuas pichadas por aqueles que, não aguentando, falam, esperneiam. Hoje eu lembrei da sua família como quem lembra do quarto bagunçado, ao ver pela janela do avião os pingos luminosos a formarem a cidade de Curitiba. Hoje, querida, lembrei de você e não foi por acaso: armei um boteco em cada lado da sua vida. Um brinde, amor. Um brinde a sua vida.
"(...)quando eu estiver velho, tarado e gagá,
Com um copo de cana eu vou lembrar
do seu gingado e os meus olhos vão brilhar.
Blues é assim, baby
Blues é assim(...)"
(cazuza)
Um brinde querida, pois hoje fui no nosso último lugar, com algumas mimosas guardadas no bolso e um certo lacrimejar no olho. Passei pela igrejinha da ordem, afungentei os pombos como quem assopra a brasa do cigarro para que a cinza se construa celeremente e caia mais rápido. Hoje esperei você de pé, como uma destas estátuas pichadas por aqueles que, não aguentando, falam, esperneiam. Hoje eu lembrei da sua família como quem lembra do quarto bagunçado, ao ver pela janela do avião os pingos luminosos a formarem a cidade de Curitiba. Hoje, querida, lembrei de você e não foi por acaso: armei um boteco em cada lado da sua vida. Um brinde, amor. Um brinde a sua vida.
quarta-feira, abril 28, 2004
segunda-feira, abril 26, 2004
Fluido
Da areia desta construção, respiro as ocasiões jogadas fora. Um pingo de solidão faz este ar, a pasta dura da alma, parecer cimento. O meu caminho é lento e, na estrada desta sonolência, a cidade é mais um camafeu esquecido no fundo do armário. As reminiscências do outro. As picuinhas do outro. Bebo neste copo vazio. Mas o que vale mesmo é o ato. O líquido pouco importa. Já faço parte do fluido pegajoso da sua alma, leitor.
Da areia desta construção, respiro as ocasiões jogadas fora. Um pingo de solidão faz este ar, a pasta dura da alma, parecer cimento. O meu caminho é lento e, na estrada desta sonolência, a cidade é mais um camafeu esquecido no fundo do armário. As reminiscências do outro. As picuinhas do outro. Bebo neste copo vazio. Mas o que vale mesmo é o ato. O líquido pouco importa. Já faço parte do fluido pegajoso da sua alma, leitor.
Inéditos
do livro "um blues em curitiba"
IV
Nas veias do espaço
Escorro seus braços
No morno dos objetos
Um palmo de aflição
Seu rosto queima a matéria dos sistemas
Das mensagens implícitas do céu
Construo a sua forma com estrelas
E o véu da epiderme
Que da língua inflamava solidão,
Brota riscos de álcool
Na pele da retina
A droga destila pedaços de cores
Da íris
O paladar sufoca a respiração
Você surge em fragmentos de sabores novos
Acostumo as pernas a um novo caminho
Você esparrama suas regras pelo papel
E galáxias se formam de acordo com seu orgulho
E o copo de riso parece acabar
A todo nada-de-tocar
Volto aos pelos que rangem
A nota de um limite
Entre o céu e minha angústia
Sinto ela se livrando de seu resto
De seus olhos
O laranja das formas solares
a dar espaço a noite.
do livro "um blues em curitiba"
IV
Nas veias do espaço
Escorro seus braços
No morno dos objetos
Um palmo de aflição
Seu rosto queima a matéria dos sistemas
Das mensagens implícitas do céu
Construo a sua forma com estrelas
E o véu da epiderme
Que da língua inflamava solidão,
Brota riscos de álcool
Na pele da retina
A droga destila pedaços de cores
Da íris
O paladar sufoca a respiração
Você surge em fragmentos de sabores novos
Acostumo as pernas a um novo caminho
Você esparrama suas regras pelo papel
E galáxias se formam de acordo com seu orgulho
E o copo de riso parece acabar
A todo nada-de-tocar
Volto aos pelos que rangem
A nota de um limite
Entre o céu e minha angústia
Sinto ela se livrando de seu resto
De seus olhos
O laranja das formas solares
a dar espaço a noite.
domingo, abril 25, 2004
Verdade de boteco
Um dia no boteco a gente se dá conta: nossos olhos olharam mais, nossos braços abriram mais e a boca secou as lembranças de outros casos. Quando a boca seca e os lábios polvilham a saliva de uma farofa espessa, surge um desejo de esconder a língua da sua verdade. Você não quer falar verdades, acha chato quem as admira. Mas aos poucos você deixa os sistemas do seu corpo o consumir...bem, controle sobre alguma coisa você nunca teve mesmo...talvez controle sobre a verdade, aquela implícita no sonho que teve antes de acordar. Você acorda a sua vida e deixa de cumprimentá-la. Você dorme na mesa do boteco e ninguém teve o interesse de acordá-lo. Até que por um momento a gente pensa: "talvez, se eu falasse a verdade". Você acorda e o sol acorda todas as verdades, que não serão faladas até que o vermelho das formas solares feche os olhos aos primeiros copos de cachaça da noite.
Um dia no boteco a gente se dá conta: nossos olhos olharam mais, nossos braços abriram mais e a boca secou as lembranças de outros casos. Quando a boca seca e os lábios polvilham a saliva de uma farofa espessa, surge um desejo de esconder a língua da sua verdade. Você não quer falar verdades, acha chato quem as admira. Mas aos poucos você deixa os sistemas do seu corpo o consumir...bem, controle sobre alguma coisa você nunca teve mesmo...talvez controle sobre a verdade, aquela implícita no sonho que teve antes de acordar. Você acorda a sua vida e deixa de cumprimentá-la. Você dorme na mesa do boteco e ninguém teve o interesse de acordá-lo. Até que por um momento a gente pensa: "talvez, se eu falasse a verdade". Você acorda e o sol acorda todas as verdades, que não serão faladas até que o vermelho das formas solares feche os olhos aos primeiros copos de cachaça da noite.
Assinar:
Postagens (Atom)
Dezoito Zero Um no Facebook
links
- Dezoito Zero Um - Cia de Teatro
- site - alexandre frança
- Muito azeite, pouco sal - Reka
- Contos da Polpa - Fabiano Vianna
- Leprevost - notas para um livro bonito
- Otávio Linhares
- Fio de Ariadne - Fabiano Vianna
- Crepusculo - Fabz
- Albert Nane
- Curitiba é um copo vazio cheio de frio - Bárbara Kirchner
- Alexandre Nero
- Michelle Pucci
- Sabrina Lopes
- Polaco da Barreirinha
- Solda
- e a sua mãe também - Angélica Rodrigues
- emma is dead
- Ivan Justen
- Atire no dramaturgo
- O cara mais chapéu de todos os tempos
- Foca Cruz
- vaga lumens
- O recalque
- Projeto Aranha
- deusdobrável
- Nexos Desconexos
- Olhar Comum - Gilson Camargo
- Professor Sanches
- Tosco e Ventre - Sara Castillo
- Alta Intimidade - Samantha Abreu
- Sobre o nada
- Luana Vignon
- Sergio Mello
- Douglas Kim
- Tempero Forte - Cris Quinteiro
- juliana hollanda
- cláudio bettega em cena
- erly welton
- becosemsaÃda - bactéria
- máquina do mundo
- harvey pekar
- Edições K
- Marcelo Benvenutti
- Nick Farewell
- Fabiana Vajman
- Ronaldo Ventura
- Xerocs Porcoration
- projeto releituras
- digestivo cultural
- sovaco de cobra
- Página da Música
- lisbon revisited
- hackeando catatau
- Quase terminado
- Meu mosaico
- eloquencia
- acidulante
- Alexandre Soares Silva
- polegar opositor
- O salamandra
- EuSozinhaFutebolClube
- Rancho Carne
- failbetter
- TaxiTramas
- Provocações
- Blog do Tas
- Mario Cezar
- carpinejar
- rascunho
- O legado
- mentiras históricas
- Another (Kind of) Monster
Arquivo do blog
-
▼
2004
(131)
-
▼
abril
(7)
- neblina Vou mastigar esta casca de uva como quem ...
- da série "num quarto de hotel" Esta peça de gesso...
- Uma dose à um dia feliz "(...)quando eu estiver v...
- Da série "num quarto de hotel" I Que ninguém olhe...
- Fluido Da areia desta construção, respiro as ocas...
- Inéditos do livro "um blues em curitiba" IV Nas...
- Verdade de boteco Um dia no boteco a gente se dá ...
-
▼
abril
(7)