Poetas do Batel
Ponto Final, 4:30 da manhã. O ventilador de teto dizia-nos: façam o mundo girar! E nós capotávamos o carro em toda fossa que encontrávamos no caminho. E gritávamos em ônibus circular-centro a nossa sacada: em guaratuba ou em caiobá, de frente para praia, sem fazer nada e achando que se fazia o necessário. Não pegávamos o interbairros I, apenas admirávamos aquele amontoado de estudantes do cefet a suportar o frio intervalo entre a aula e o próximo gole. Comíamos no falecido maionese dogs e jogávamos truco nas mesas do colégio Positivo. Não frequentávamos casas de show, no máximo uma zoninha de família. Não frenquentaríamos mais bares podres, gato preto e espetinhos, mas sim a podre limpeza de querosene dos nossos quartos. Não saberíamos das últimas fofocas da política judia de Curitiba. O ventilador de teto mandava-nos: façam o mundo girar! E nós tomávamos guaraná light na beira da piscina de asfalto da avenida Batel. Nós éramos os poetas do Batel e fazíamos o mundo girar a passos de sandálias havaianas brancas, que passo à passo entrava na moda. Ponto Final, 7:30 da manhã, vazio. De volta pra casa um acidente de carrro. Alguém ronca no banco traseiro. A gente ouve um som bem maneiro do Rio de Janeiro (os de Curitiba a gente ouve uma só vez, por curiosidade). A gente ilumina a avenida 7 de setembro com catarradas e bitucas de cigarro. O mundo começa a girar. Uma só ardência no estômago. A gente não queria que o mundo girasse, ventilador de merda...a gente só não queria era passar calor.