Sin City
Finalmente, ontem fui assistir ao Sin City no cinema. Foi a coisa mais genial que eu presenciei nos últimos cinco anos. Não se trata de um filme noir, na minha opinião, ou de uma reprodução infantilizada de algum herói dos gibis, mas sim de um "filme-quadrinho" desenhado através da crua personalidade ultra-realista dos traços de Frank Miller. Está tudo lá: as sombras laterais, as fantásticas mulheres, os renegados como heróis, a redenção como a única e preciosa catarse final. E a grande revolução está justamente aí, por mostrar num universo de gibi a podridão de um mundo cujas regras estão à mercê do mais poderoso. As prostitutas são respeitadas, pois todos sabem do que elas são capazes. Os heróis não têm exatamente super-poderes, mas sim "super-vontades". Eles são aqueles personagens mais velhos, que já se foderam um monte na vida e ainda penam no fogo de alguma doença cardíaca ou coisa que o valha.
Há todo um sistema de moral criado por Frank Miller nesta fascinante cidade do pecado. É como se fosse uma Ilíada moderna, na qual a batalha é o elemento centralizador dos reais problemas do ser-humano. Numa luta, por exemplo, não basta apenas matar e ganhar; tem de mutilar, arrasar e fazer engolir merda. Fazer com que o vilão sinta a dor de suas vítimas em todos os nervos do seu maldito corpo. É uma espécie de toma-lá-dá-cá generalizado.
A grande vantagem e mérito deste filme foram reconstituir o mundo de Miller com uma riqueza de detalhes impressionante. Visualmente, você se sente em outra dimensão, num mundo onde a cor só aparece quando é inevitável aparecer. Num mundo onde o pecado é onipresente, sendo que a única salvação está na vingança. Vamos esperar agora para ver se algum produtor lá de Hollywood tem a grande idéia de fazer um filme do Cavalheiro das Trevas, outra obra prima de Frank Miller.