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sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Vou sair à tarde abraçado ao sol. Solarei mais tarde mais um solo no quintal. Dançarei as notas do olhar de água e sal, deste passo mole desta lágrima vernal. Flores caem em meus pensamentos. Flores abrem as pálpebras de outros dias.

Flores nascem em minha falta de morte.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

quebranto

Um pombo sussurrou no meu ouvido: "quer que eu cague nele"? Olhei pela janela, somente o desgraçado na rua. "Caga, se quiser" retruquei, "mas não deixa espirrar nos outros". "Não deixa esta merda espirrar no meu olhar, ein". Trinta segundos depois, o rapaz é atropelado pelo expresso. Fecho a janela do meu quarto, desato a escrever cartas para os meus poucos conhecidos: "matei uma pessoa, eu confesso e pago a minha pena". Saio para tomar um cafezinho ali na padaria da esquina. Antes de entrar, acendo um cigarro de filtro amarelo. Mais alguns segundos depois, sinto uma meleca esbranquiçada escorrer pela minha cabeça e um pio pio escancaradamente sarcástico: "ops, desculpe...sabe como é: como o cara morreu...eu não tinha mais onde cagar".

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Coleciono os vazios das caixas de papelão. Vôo ao véu destes vácuos e velo um outro céu de solidão. O que não guardei, o que não ficou algemado a estrelas carentes das carências tolas da compaixão. Coleciono e me apego a este chão. A caminhar sobre o nada, imagino uma esmola da amplidão do mundo. Pessoas querendo o meu corpo, o meu rosto.

Pessoas a espera do milagre pelo simples toque da minha mão.

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Adeus mundo velho de guerra. Deixei na estante esta carta, como quem fala ao comprar um cigarro: “Eu já volto, não precisa deixar esta porta trancada”.

Hoje resolvi dar uma folga a minha tristeza diária. Fiz com que tudo fizesse um sentido absurdo, ou que pelo menos me desse esta sensação de missão de vida cumprida. Almocei uma macarronada, liguei o computador, entrei no orkut e chorei. Chorei as contas, o meu desemprego, minha incompetência artística e toda esta besteira de poesia. Chorei como quem chora para um final feliz. É que o orkut não é um meio e sim um fim, algo definitivo. Os amigos estão ali, concatenados num quadrado. Basta saber que eles existem e pronto: fica-se instantaneamente bem consigo mesmo, como se os chakras das relações sociais já estivessem alinhados. Afinal, eu conheço mais de cento e trinta pessoas neste mundo velho de guerra e neste exato momento não estou falando, ouvindo e nem chorando com ninguém...tudo bem, sei que eles são meus amigos. O orkut não mente. Ou será que mente?

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

NEWS
Descobri um site sensacional sobre música e não vou me furtar a contar esta novidade para vocês. O nome é Gafieiras e quem escreve lá é o Maurício Pereira, outro compositor maluco que eu escutei estes dias. Os textos são de primeira; vale a pena conferir.
Uma noite solitária em Atami (ou como passar um carnaval sem fantasia)
Para Chico Buarque


A noite não é mais uma criança,
mas sim um adulto ranzinza,
cheio de vícios e que ainda sabe
muito pouco sobre a vida.


quarta-feira, fevereiro 02, 2005

era uma noite, na gata comeu...
A cor desta mesa é preta, assim como tudo o que vomita nas bordas de papel da minha poesia é cinza. Rara as vezes em que o vermelho de uma palavra transforma este céu. Difícil um verso transformar a minha vida com uma rima.

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