Do blog do Solda
Flores de Aço com Chiris e Uyara Torrente
Blindness
Devastador. Um filme que atira o espectador a uma verdadeira catarse no final. Durante uma das cenas mais comentadas desta produção, ouvimos uma mulher da platéia gemer ao chorar. Tudo o que foi mostrado na tela foram insinuações sonoras e visuais, nada daquele exotismo erótico típico em filmes brasileiros mais antigos. Nada no filme é óbvio. É uma sacada visual atrás da outra, desde a fotografia pontuada pelo tom esbranquiçado, até a maneira como os “cegos” do filme olham o mundo: tudo por insinuações. A atuação de Mark Rufallo e de Julianne Moore é de um realismo que arrebata (lembrando a linha de direção de atores dos outros filmes de Fernando Meirelles). Quando saímos da sala de projeções, as pessoas que lá estavam limpavam as lágrimas com um olhar brilhante, procurando não comentar mais nada a respeito. “Ensaio Sobre a Cegueira” tem exatamente este efeito, ele nos leva a uma reflexão interna sobre a natureza humana, partindo da constituição de uma nova sociedade cega. Uma cegueira branca, como se o infectado nadasse num mar de leite. A história de Saramago nos impõe esta lógica infernal de “como seria se o mundo ficasse realmente cego”. E, pelo menos nesta história, o mundo acaba bem mal, com a corrupção e o desespero aflorando em diversos setores da nossa organização social. Esta história fala sobre tudo o que tentamos esconder dia após dia com a nossa capa capitalista; sobre aquilo que ninguém quer falar, pois incomoda e muito: o individualismo. O individualismo, hoje vigente em nossa sociedade, acaba nos cegando em vários momentos. Acabamos não vendo o que acontece ao nosso redor, talvez por que há muito nós impomos a nós mesmos esta cegueira individualista (subsidiada principalmente pelo consumismo). Preferimos o nosso conforto a confrontar qualquer espécie de adversidade social. Enfim, um filme necessário sobre uma história necessária. Se “Ensaio Sobre a Cegueira” não é tão bom quanto alguns críticos por aí pregam, pelo menos (o que já é muito) ele propaga uma história genial que ainda vai mexer com a cabeça de muita gente.
quartinho dos fundos
No quartinho dos fundos
Uma montanha de jornais velhos,
Caixas de papelão, malas de viagem rasgadas,
Baús com tralhas e cacarecos,
Brinquedos quebrados,
Bonecos sem pernas, sem braços,
Livros esquecidos,
Enciclopédias.
Será que sou mais antigo
Do que tudo o que é inútil
aqui em casa?
Lá fora cimento, cal, pastilhas
Não mastigáveis,
Insetos verdes, mutantes,
Estranhas espécies do nosso meio
Apodrecido e com os pulmões
Entupidos de fumaça, fumaça, fumaça.
Aqui no meu quarto,
Só a minha cama.
O resto passa batido.
Qual o recorde de tempo
Passado numa cama de molas
Olhando para o teto
Num quarto iluminado apenas
Pela luz da rua?
Nicole Zattoni/ Divulgação
Há quem diga que o que falta à maioria dos dramaturgos brasileiros contemporâneos é a oportunidade de ver como seus textos se comportam sobre o palco – uma etapa fundamental de aprimoramento. O curitibano Alexandre França pode se considerar feliz nesse quesito. Pouco depois de Final do Mês e Um Idiota de Presente, uma terceira peça sua ocupa um teatro da cidade: Habitués – O Longo Caminho de Dois Freqüentadores de Boteco, com sessões aos sábados e domingos, às 21 horas, no Teatro João Luiz Fiani (Shopping Novo Batel).
O texto, um balanço de vida feito por dois amigos alcoolistas, saiu vencedor na categoria drama do 1º Concurso de Dramaturgia realizado pelo Teatro Lala Schneider. Nesta montagem, a direção fica a cargo de Marino Jr., que buscou referências no teatro do absurdo e do cinema noir.
Dinheiro: o grande vilão em “Cinturão Vermelho”