Sombra
Um quadro bordado à mão, um vaso desenhado por algum polaco curitibano, um armário de grades rococós do século 19, um tapete persa, chazinho, bolinho de chuva, tempestades em copos d’água, mas alguém morreu na esquina de baixo.
Sangue misturado com leite, como naquele poema do Drumonnd, luzes e sirenes estridentes, gritos de horror, pessoas fugindo de si mesmas e eu daqui de cima, fumando um cigarro, com medo de ser descoberto pelos meus ou pelo departamento americano de álcool, tabaco e armas de fogo. Alguém morreu aqui em cima.
Templos, procissões, fábulas, mitos e o sussurro de Deus que é um tornado, uma avalanche de ódio e raiva disfarçadas. Deus a descansar em sua poltrona de veludo azul. Alguém se jogou lá de cima.
Rastros de morte, crânios e carniças por sobre um lixão de idéias prontas. Tudo matando a todos, num suicídio coletivo.
Sem sombra de dúvidas
Alguém morreu em algum lugar.