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quarta-feira, maio 16, 2007

Lolita Pille





Depois de ler o livro da Lolita Pille (sim, o fenômeno editorial na França) "Hell", voltei a pensar sobre a questão do indivíduo na poesia. Voltei a pensar principalmente na questão do contexto e também da linguagem (mais especificamente na minha). Claro que "Hell" é um romance (Lolita não escreveu um livro de poemas...até aonde eu saiba), mas o que me intriga é a forma como ela se expõe no livro (quer dizer, não sei se o livro é baseado em fatos reais, mas o leitor tende sempre a acreditar que um pouco daquilo é real).

A pegada da moça, neste caso, é meio Bukowski, direta, cortada e sempre tratando sobre um "eu" controvertido (é uma pena que, em alguns poucos momentos, ela perca a mão beirando o piegas ao falar sobre o caso principal do livro, mas fazer o que, né). A grande diferença é que Bukowski falava sobre um desajustado fudido que não consegue se enquadrar no "sonho americano". Lolita fala sobre uma patricinha mega-ultra-rica (tipo, muito rica, topo da elite...daquelas que passam o feriado do dias das mães nas Ilhas Gregas só pra pegar uma cor) que se enquadra perfeitamente no modelo capitalista selvagem que vivemos atualmente. Ela, no livro, explode com a sua metralhadora verbal este modelo, mas não consegue sair dele. Está completamente presa à facilidade e à futilidade que este modelo lhe impõe. É o outro lado da moeda. É como se pegássemos um Chinaski da vida e entulhássemos dinheiro em suas entranhas.

A crítica dos dois, no fundo, incide sobre o ser humano. É neste ponto que eu queria chegar. Notem que são contextos diferentes, mas uma desilusão quanto ao indivíduo muito parecida. "Hell" (personagem do livro da Lolita) continuará se drogando, pois acredita piamente na falta de saída inerente ao ambiente que a rodeia. "Chinaski" continuará bebendo e "mandando ver", pois não aceita o mundinho artificial que a sua sociedade prega como o ideal (e, obviamente, não se submete aos sub-empregos e a subserviência existente neste tipo de sistema - ou seja, "Chinaski" não aceita "o patrão") .

Este paralelo é bem interessante de ser traçado. Ambos falam sobre a falta de saída (ou de entrada...hã, enfim) e, não sei por que, lembrei agora de um clássico da literatura: "Cândido, ou o otimismo" de Voltaire. Neste caso, um ser é idealizado para se expor a fraqueza moral do indivíduo (novamente o indivíduo) que possui uma esperança no amor e nos homens que beira ao absurdo - ah, neste sentido, tem também "O Idiota" do Dostoiévski, com uma potencialização na questão do dinheiro. Na "A Divina Comédia" de Dante, o inferno é idealizado para se expor os defeitos do ser humano (é claro que, no caso do Dante, a coisa ferve justamente por ele ter colocado toda a patota de pessoas que ele não gostava ardendo nas profundezas).

Enfim, escrevi tudo isto para dizer que acho "Hell" um livro completamente pertinente ao nosso tempo, no qual se percebe uma decadência notável no sistema que hoje impera no mundo. Acho que "Hell" segue uma tendência mundial da literatura: a de expor o individuo de uma forma ainda mais crua, sem recalques, sem máscaras, para assim se criticar o mundo em que vivemos.

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