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quinta-feira, janeiro 18, 2007


foto: Mert Alas e Marcus Diggott

Natalie Portman

até pensei em dar um beijo na sua foto
como se fosse a sua testa, ou o pé
de uma santa padroeira de
alguma cidade seca e deserta
onde a coca-cola é vendida a dez reais a lata
e a água, quando vem, deságua através de reza
pensei numa barra de chocolate com
as frutas cítricas arrancadas e o açúcar
cristalizado derretendo na ponta dos meus dedos
pensei em cortar a luz da cidade
para que a procissão de velas nos apartamentos
soprasse a meia-luz que a sua imagem merece
entoando velhas cantigas de ninar
parodiando com o seu nome, com o seu corpo
todo o verso que falasse a respeito de “sonhar com os anjos”
por que os barulhos de pratos raspados, copos cica
e toalhas no piso do banheiro me irritam a medida
que sinto na temperatura elevada do meu corpo
a escuridão que a falta de embriagues provoca
em um homem que sabe, por acordar
sempre após ao meio-dia,
que a beleza de uma mulher só é explícita
quando a maquiagem está nitidamente borrada.

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